A crise hídrica tornou a Emasa inviável, segundo disse o prefeito Claudevane Leite (Vane do Renascer) em entrevista exclusiva ao PIMENTA. O baque financeiro provocado pela falta d´água e a forte queda na arrecadação da empresa seriam os motivos para decidir passá-la à iniciativa privada por meio de concessão.
Durante a entrevista, o prefeito rejeita especulações que ligam o interesse na privatização à campanha eleitoral e disse que medidas serão tomadas para garantir tarifa de água justa, mesmo diante da necessidade de investimentos de R$ 500 milhões no sistema. De acordo com ele, haverá reajuste, mas não aumento da conta de água.
Vane também explica porque considerou inviável repassar a Emasa para o comando do governo estadual, via Embasa. Conforme disse na entrevista, a empresa estadual não teria, neste momento, como assegurar a manutenção dos empregos e os investimentos necessários. Confira a íntegra da entrevista abaixo.
Blog Pimenta – O senhor disse em artigo que não privatizaria a empresa. Acabou optando pela concessão. Por que não devolvê-la à Embasa?
Vane do Renascer – Desde 2013, o governo estadual solicitava que nós repassássemos os serviços de água e esgoto para a Embasa. Quando a unidade estava com o Estado, era a terceira da Bahia. Só perdia [em arrecadação] para as unidades de Feira de Santana e de Salvador. Em 2013, quando assumimos, a Emasa devia R$ 85 milhões. A cidade tinha zero por cento de esgoto tratado. Mesmo assim, não desistimos dela. Fizemos investimentos, reduzimos gastos e o número de comissionados para 60%. A crise hídrica inviabilizou a empresa.
A situação está muito difícil. O sindicato [Sindae] é contrário. Mas, como prefeito, tenho que pensar nos funcionários e na cidade também, no que é melhor para o município.
Pimenta – Inviabilizou de que forma?
Vane – Com a água salobra, muitos [consumidores] deixaram de pagar a conta de água. A empresa ficou fragilizada financeiramente. Arrecadávamos R$ 3,8 milhões por mês. Hoje, não passa de R$ 2,6 milhões. Porém, os gastos aumentaram demais. Decretamos situação de emergência, mas esse decreto leva algum tempo para ser reconhecido. Os primeiros meses da crise nós tivemos que assumir sozinhos.
Pimenta – Quais as garantias de que a concessão vai melhorar o sistema de abastecimento e como ficam os funcionários da Emasa?
Vane – Conversamos com o servidor hoje. Para fazer a concessão, primeiro queremos a garantia de que a nova empresa vai absorver esse pessoal. Se a empresa [que ganhar a licitação] não assumir, [parte dos funcionários] ficará com a Emasa, que não deixará de existir. Vai atuar como agência [de saneamento]. A empresa vencedora terá que investir R$ 500 milhões e isso estará no edital. A situação da cidade está muito difícil. O sindicato [Sindae] é contrário. Mas, como prefeito, tenho que pensar nos funcionários e e na cidade também, no que é melhor para o município.
Não houve garantia [da Embasa] para os funcionários nem para os investimentos necessários. A cidade não pode continuar nessa crise [de falta de água].
Pimenta – Voltando à questão Embasa. Devolver o sistema para o estado não seria a melhor solução?
Vane – Não, pois não houve garantia para os funcionários nem para os investimentos necessários. A cidade não pode continuar nessa crise [de falta de água].
Pimenta – Quais são os prazos com os quais o senhor trabalha para esta licitação?
Vane – A empresa será conhecida 90 ou, no máximo, 120 dias. Precisaremos de aprovação da Câmara. A cidade não está pensando em outra coisa que não seja a água.
Pimenta – Quais são as interessadas?
Vane – Participarão da PMI (Proposta de Manifestação de Interesse) quatro empresas. A Embasa, a Cana Nova, Águas do Brasil e a Odebrecht. A licitação é aberta. Outras empresas poderão participar.
Pimenta – Hoje, a questão é de onde captar, de onde virá a água. A empresa vencedora participará da construção e captação de água da Barragem do Colônia?
Vane – O processo da barragem é outro. A gente não vai poder esperar três, quatro anos até a barragem encher. A previsão é que a barragem fique pronta em novembro do ano que vem. Mas tem a captação de água, o desvio da estrada e das redes de transmissão. O governador [Rui Costa] está trabalhando muito por isso.
Para dessalinizar 200 litros por segundo, gasta R$ 2 milhões por mês. Itabuna precisa de 800 litros por segundos. Então, a gente não tem esse dinheiro.
Pimenta – Então, de onde virá a água até lá?
Vane – A empresa que ganhar vai poder investir em dessalinização, captar em outros mananciais. Para dessalinizar 200 litros por segundo, gasta R$ 2 milhões por mês. Itabuna precisa de 800 litros por segundos. Então, a gente não tem esse dinheiro. A empresa que ganhar a licitação terá que fazer isso. Vamos colocar no edital.
Pimenta – Estamos em período de pré-campanha, justamente quando é anunciada a concessão do sistema. As especulações são de toda ordem, inclusive de que essa concessão poderá bancar campanhas. Como o senhor vê estes comentários?
Vane – Como prefeito, pensamos na cidade. Quando assumi a prefeitura, fizemos uma cerimônia modesta. Gastamos só R$ 1,2 mil com água. Disseram que eu tinha gastado R$ 40 mil. Então, a gente já se acostumou [com as especulações e boatos]. O que tenho que pensar é que, com a concessão, a mudança será imediata, com a dessalinização, pequenas barragens, novos mananciais.
Itabuna tem potencial. Já foi a terceira em arrecadação. O que precisamos é ganhar eficiência, reduzir as perdas de água. Hoje, a gente perde de 55% a 60% da água captada.
Pimenta – Qual o custo estimado para estas obras iniciais?
Vane – Será feito um estudo e isso estará no edital. É muito recurso.
Itabuna é atrativa para um empresa investir os R$ 500 milhões da concessão? Quais são as garantias de execução [das obras]?
Vane – Itabuna tem potencial. Já foi a terceira em arrecadação. O que precisamos é ganhar eficiência, reduzir as perdas de água. Hoje, a gente perde de 55% a 60% da água captada. A Emasa é uma empresa viável, desde que tenha investimento. Não conseguimos por causa dessa crise hídrica.