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Andreza Souza é acusada de aplicar golpe em mulheres de várias cidades baianas

As tramas criadas pela estudante de direito Andreza Souza Dias Souza, 22 anos, para envolver mulheres em relacionamentos amorosos e conseguir arrancar-lhes dinheiro são dignas dos famosos romances do escritor Nelson Rodrigues. Ela se passava por homens, atraía as vítimas através de sites de relacionamentos e WhatsApp e ainda se dizia capaz de manter uma ‘canalização’ com um espírito masculino para se relacionar sexualmente com as mulheres.
“Ela criava perfis falsos com fotos de pessoas do sexo masculino com o intuito de obter benefícios financeiros. Depois, quando o relacionamento parecia real, ela se passava por sobrinha do homem e dizia que ele incorporaria nela para manter relações sexuais com as vítimas”, explicou a promotora de Justiça Ana Emanuela Rossi Meira, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco). As fotos dos homens eram pegas de forma aleatória em redes sociais e os nomes eram fictícios.
Conforme a promotora, a estudante conseguia manipular a voz para falar com as vítimas como se fosse o suposto namorado e, durante uma conversa, sugeria que as mulheres conhecessem uma sobrinha, que era a própria suspeita. Ainda de acordo com ela, Andreza dava diversas desculpas para evitar o contato pessoal entre o ‘namorado’ e as vítimas e para conseguir dinheiro.
“Ela sempre dizia que estava viajando a trabalho, que estava com problemas pessoais e que precisava de dinheiro para fazer uma cirurgia. Se apresentava como médicos, agentes da Polícia Federal e outros profissionais”, contou a coordenadora.
APLICAVA GOLPE DESDE 2013
Andreza, que também é funcionária pública com cargo comissionado na prefeitura de Santo Antônio de Jesus – Recôncavo Baiano –, vinha agindo desde 2013, quando ainda era uma adolescente de 17 anos. Nesses mais de cinco anos, ela conseguiu ludibriar mais de 20 mulheres. A promotora não soube informar com quantas vítimas a estudante se relacionou sexualmente.

A maioria das vítimas é de Salvador, mas há casos registrados em Santo Antônio de Jesus e em Nazaré das Farinhas, também no Recôncavo Baiano. Ela escolhia mulheres com perfis bem parecidos, com idades acima dos 30 anos, bem-sucedidas, com bom nível social e cultural e que saíram de relacionamentos conturbados.
A jovem foi presa na manhã desta quinta-feira, 8, em Santo Antônio de Jesus, após quase dois meses de investigação, durante a Operação Perfil Falso, coordenada pelo Ministério Público do Estado (MP/BA). O MP vem acompanhado o caso desde o dia 25 de janeiro último, após uma vítima procurar o órgão em Salvador.
HOMENS REAIS NA SABIAM
Conforme a promotora, apesar dos relacionamentos entre as vítimas e os supostos namorados serem apenas virtuais, Andreza conseguia envolvê-las de tal forma, que participava até de grupos no WhatsApp com membros das famílias das mulheres. Ela também mandava fotos de familiares dos ‘namorados’ para as mulheres conhecerem. Assim com usava as fotos dos homens, ela também pegava as fotografias de parentes deles para auxiliar na manutenção da farsa.
Ana Emanuela Rossi Meira disse que, até o momento, cinco homens foram identificados. Eles são de outros estados e não sabiam que suas imagens estavam sendo usadas de forma criminosa. “Eles têm outros nomes e disseram que não conhece nenhuma das vítimas, que não possuem nenhum vínculo aqui no Estado. Eles já registaram os fatos em delegacias”, completou.
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Durante as investigações, a equipe do Gaeco descobriu que Andreza conseguiu manter alguns relacionamentos por um período de mais de dois anos, inclusive mais de um, simultaneamente. Atualmente, ela estava conversando com algumas vítimas. Os agentes apreenderam quatro celulares, dez chips telefônicos que eram usados na fraude, um caderno com anotações e dois computadores.
Andreza está presa preventivamente e vai responder pelos crimes de estelionato e violação sexual mediante fraude. Ela vai ficar custodiada no Presídio Feminino, no Complexo da Mata Escura. “Ela responderá por violação sexual porque as vítimas se sentiram violadas, disseram que jamais se relacionariam com mulheres, tampouco com a suspeita”, revelou a promotora.
A coordenadora acredita que o número de vítimas da estudante possa ser bem maior. Ela espera que, com a divulgação do caso, outras mulheres procurem o MP para denunciá-la.
Além do Gaeco e dos promotores de Justiça do MP, a operação contou com o apoio da Coordenadoria de Segurança Institucional e Investigação (CSI), do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem), do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAODH) e de policiais militares da Companhia Independente de Policiamento Especializado do Litoral Norte (Cipe/ Litoral Norte). O Gedem é responsável em dar suporte emocional às vítimas. A reportagem é da jornalista Andrezza Moura, de A Tarde.

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