“Meios de comunicação e sexo” foi o tema do Improviso, Oxente desta quarta-feira (23). Promovida na Casa dos Artistas de Ilhéus, a programação trouxe a assistente social Suede Mayne para o centro da roda de debates mais antenada da Terra da Gabriela.
Já nesta quinta (24), a partir das 19 horas, será exibido na Casa o filme brasileiro “Cidade de Deus”, que retrata a marginalização em uma comunidade carioca. Logo após, haverá um bate-papo com o advogado Sânzio Peixoto. O evento tem entrada franca.
Diogo Pacheco faz uma adaptação belíssima de Comício em Beco Estreito, de Jessier Quirino. Vale a pena conferir até o fim. É garantia certeira de muito riso.
O nosso colunista e crítico de cinema Leandro Afonso fará a primeira exibição pública de seu documentário “Do Goleiro ao Ponta-esquerda”, em sua versão definitiva. Está prevista uma única sessão, na segunda-feira (28), às 19 horas, no Centro de Cultura Adonias Filho.
O filme foi concebido como projeto de conclusão do curso de Comunicação Social, com ênfase em Rádio e TV, na Uesc, e conta histórias dos herois da seleção amadora de futebol, hexa campeã do Intermunicipal, de 1957 a 1966.
Craques como Santinho, os irmãos Fernando e Carlos Riela, Pinga, Tombinho e outros são entrevistados e homenageados nesse que é um dos poucos registros acadêmicos sobre a mitológica seleção amadora de Itabuna. A entrada é franca.
De maneira não premeditada, em menos de uma semana assisti a quatro filmes do gênero – A Profecia (1976), O Príncipe das Sombras (1987), Deixa Ela Entrar (2008) e Arraste-me para o Inferno (2009) –, o que, se por um lado não passou de uma obra do acaso, por outro ajudou a potencializar o caráter específico (“estético” e “cultural”) do sueco Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in – Suécia, 2008), de Tomas Alfredson.
Pouca coisa se tornou tão americana como os filmes de vampiros, e, para não ir tão longe, basta lembrarmos de Entrevista com o Vampiro (1994), Drácula de Bram Stoker (1992) e Martin (1977) – este de ninguém menos que George Romero. E isso para não falar nas séries Buffy – a Caça Vampiros (1997), True Blood (2008) e o recente fenômeno Crepúsculo (2008). Mas Deixa Ela Entrar, curiosa e felizmente (por conseguir uma voz própria em um meio já tão saturado),pouco dialoga com eles além do inevitável.
Como esperado, o clima aqui é frio e mórbido – como o da Pittsburgh tão estimada por Romero. A diferença é que, se a escolha do interior da Pensilvânia por si só representava uma locação propícia para a formação da atmosfera interiorana e relativamente longe de onde a maioria das coisas acontece (inclusive pedidos de socorro), aqui o pano de fundo é a própria metrópole: Estocolmo.
Nela, a distinção vem ainda maior graças a uma bem pessoal construção dos personagens e da maneira pouco usual (mas nem por isso narcisista) de filmar determinadas cenas. Cada morte, por exemplo, não só tem uma função narrativa (o que não acontece com outros filmes marcados pela gratuidade de homicídios) como traz um caráter emocional. Mesmo o mais frio dos assassinatos – o do começo do filme, talvez – é relativizado e visto com um olhar mais generoso com o passar do tempo.
Generoso, sim, porque Deixa Ela Entrar é quase um manifesto de um caráter humano dos vampiros. E talvez o melhor exemplo seja o momento em que Eli (Lina Leandersson), que tem “mais ou menos 12 anos há algum tempo”, diz a Oskar (Kåre Hedebrant) que “mata porque precisa”. Quando uma frase óbvia (dentro do mundo dos vampiros) como esta consegue ganhar uma conotação genuinamente emotiva, fica a certeza de que estamos diante de algo especial.
Como é, por exemplo, a cena da piscina. Alfredson mostra sangue e tensão de um jeito bem peculiar, sem que a inusitada escolha do enquadramento chame uma atenção maior do que o que ele mostra: mais até do que pela sobrevivência, a crueldade justificada pelo amor – com um lirismo que deve tornar a cena indelével para a maioria que assistir.
Embora, é verdade, a trilha sonora às vezes soe invasiva (sublinhando uma sensação já perceptível), ela pouco compromete e não deixa de estar em certa sintonia com o filme. Que consegue terminar de um jeito gratificante e otimista, de forma que o resultado se liga menos a uma concessão do que a uma coerente demonstração da força do relacionamento e do ideal defendido. Muito bom.
Filme: Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in – Suécia, 2008)
Direção: Tomas Alfredson
Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson.
Duração: 115 minutos
8mm
Suécia
Guardadas as devidas proporções (de talento e de quantidade de filmes – ambos ainda em aberto), Alfredson faz com o filme de vampiro o que alguns italianos, e especialmente Sergio Leone, fizeram com o western nos anos 60 – os western spaghetti. Independente de qual caminho o sueco tome (segundo o IMDB, vai pro quinto longa – nenhum em DVD oficial por aqui), que o talento esteja por aí.
Dia 28
Como a coluna fica no ar até o próximo sábado (antevéspera do dia), aproveito para divulgar a primeira exibição pública da versão definitiva de Do Goleiro ao Ponta-esquerda, documentário que dirigi como projeto de conclusão do curso de Rádio e TV na Uesc. A sessão única, ou pelo menos a única com data confirmada até agora, acontece no próximo dia 28, no Centro de Cultura Adonias Filho. A entrada é franca.
Filmes da semana:
Deixa Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson (****)
O Príncipe das Sombras (1987), de John Carpenter (***1/2)
Arraste-me para o Inferno (2009), de Sam Raimi (***1/2)
Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci (***)
Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar (***1/2)
Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”
O ilheense pôde curtir um programa diferente na noite desta sexta-feira, 18. Milhares foram à praça Dom Eduardo – a praça da Catedral de São Sebastião – para assistir à apresentação da Orquestra Sinfônica da Ufba, como parte do programa Concertos Populares.
O concerto emocionou quem foi à praça para ouvir música de qualidade. Regidos pelo maestro Ângelo Rafael, 48 músicos que deram um show para ouvidos atentos que lotaram a praça conhecida por abrigar endereços famosos, como a Catedral de São Sebastião e o Vesúvio.
A Orquestra Sinfônica da Ufba se apresenta na próxima sexta-feira (18), às 20h, na praça Dom Eduardo, em frente à Catedral de São Sebastião, em Ilhéus. O evento integra o projeto Concertos Populares. A orquestra vem com 49 músicos, sendo 22 da sua formação original, 18 bolsistas e nove convidados, regidos pelo maestro Angelo Rafael Fonseca. O concerto tem patrocínio da Coelba, através da Lei Rouanet. A apresentação será ao ar livre e com entrada franca.
As 15 canções do CD “Encantado” – a mais recente produção de Marcelo Ganem – serão conhecidas pelo público nesta sexta-feira (18), a partir das 20 horas, em um show no Centro de Cultura Adonias Filho.
A apresentação, de acordo com a Arteiros Associados, que divulga o trabalho do artista, contará com participações especiais do grupo Clave de Sol, músico Sérgio Ganem e dos bailarinos Aldenor Garcia e Lindamara Braga.
Compõem a banda de Marcelo Ganem Adilson Vieira (teclado e voz), Damião (bateria), Mirailson Silva (guitarra e voz), Conceição Sá (teclado e voz), Carlos Dórea (baixo e voz), Louro (percussão) e Solene Reis (backing vocal). A direção é de Gideon Rosa.
No dia 25, também a partir das 20 horas, Ganem se apresenta no Teatro Municipal de Ilhéus. Depois, segue em turnê por diversas capitais brasileiras.
Biafra tanto cantou Sonho de Ícaro, e com esta canção se tornou famoso, que acabou por receber um ‘convite’ para um voo… Foi durante a gravação do documentário “Alô, alô, Terezinha”, em homenagem ao lendário Chacrinha. A imagem do ‘convite’ para um voo de parapente caiu no Youtube.
O ator norte-americano Patrick Swayze morreu hoje, aos 57 anos, após longa batalha com um câncer de pâncreas diagnosticado pela primeira vez em 2008. Uma porta-voz anunciou que a família estava ao lado dele. O ator se tornou mais conhecido mundialmente como protagonista do filme “Ghost, do outro lado da vida”, de 1990.
“Patrick Swayze nos deixou pacificamente hoje com a família ao seu lado, depois de enfrentar os desafios de sua doença nos últimos 20 meses”, dizia o comunicado divulgado nesta segunda à tarde pela relações públicas do ator, Annett Wolf.
Quando foi diagnosticado o câncer, Swayze continuou trabalhando. Escreveu suas memórias em parceria com a mulher e gravou “The Beast”, série dramática produzida pela A&E para a qual ele havia feito o piloto. Quando foram ao ar nos EUA, no início do ano, os 13 episódios da primeira temporada atraíram respeitáveis 1,3 milhões de espectadores. Mas a emissora decidiu não assinar uma segunda temporada. As informações são do site UOL.
Confira trecho do filme Ghost, do outro lado da vida.
Tentar descrever o que fica de Up – Altas Aventuras (Up – EUA, 2009), de Pete Docter (co-direção de Bob Peterson) é cair em potencialmente irritantes frases de auto-ajuda. O que, se por um lado é sintomático ao explicitar a (suposta) superficialidade do filme, também é injusto, pois ele é muito mais que um resumo de preguiçosos e otimistas lugares-comuns.
Up é, e parece feliz com isto, um filme com perguntas e respostas prontas – certas ou não, independente de sua complexidade –, mas seu grande mérito está no desenvolvimento não só de sua potencialidade como de uma certa exclusividade audiovisual. Aqui, o mundo e as coisas são possíveis e palpáveis não (apenas) no cinema, e sim, mais especificamente, na animação.
Terminada a sessão, o sentimento agridoce do viver a vida e passar o tempo é enxugado em uma esperada alegria final recomendada a produtos com público alvo tão grande. O que deixa claro que ele segue medidas seguras, mas de uma empresa autora – Wall-E, Procurando Nemo, Ratatouille, Toy Story são também filhos da Pixar. Que, infelizmente, não faz parte da regra importada, de um nível um bem mais baixo – mas, felizmente, fala por bem por ela, como exceção.
Filme: Up – Altas Aventuras (Up – EUA, 2009)
Direção: Pete Docter (co-direção de Bob Peterson)
Elenco (vozes de): Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai.
Duração: 96 minutos
8mm
Gran Torino
Não deixa de ser curioso um filme, à priori, para crianças, falar de velhice. Que, em boa parte do tempo, me lembrou o muito-muito bom Gran Torino (2008), de Clint Eastwood. Mas isto talvez não tenha nada além do óbvio superficial e seja apenas viagem de quem está de mudança e não pensou em nada de muito diferente para colocar aqui…
Filmes da semana:
1. Barfly (1987), de Barbet Schroeder (***1/2)
2. Via Crucis (2008), de Monique Alves (curta) (**1/2)
3. A Ilha dos Prazeres Proibidos (1979), de Carlos Reichenbach (***)
4. Whity (1971), de Rainer Werner Fassbinder (***)
5. A Profecia (1976), de Richard Donner (***)
6. Up – Altas Aventuras (2009), de Pete Docter (co-direção de Bob Peterson) (cinema) (***1/2)
7. Os Amores de uma Loira (1965), de Milos Forman (***)
8. Sobre Meninos e Lobos (2003), de Clint Eastwood (****1/2)
Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”
O primeiro show no qual Marcelo Ganem apresentará ao público as canções do seu mais recente CD vai acontecer no Centro de Cultura Adonias Filho, em Itabuna, a partir das 20 horas do dia 18 de setembro. “Encantado”, o título do trabalho, traz 15 músicas inéditas, compostas pelo próprio artista (algumas em parceria com poetas da região) e uma releitura de Serra da Boa Esperança, de Lamartine Babo.
Depois de Itabuna, Ganem se apresenta no Teatro Municipal de Ilhéus, no dia 25, também a partir das 20 horas. Em seguida, o artista parte com o violão debaixo do braço para São Paulo, Salvador e palcos de outras capitais brasileiras.
Filho de Buerarema, Marcelo Ganem lançou seu primeiro disco em 1984, conquistando o público com o sucesso “Serra do Jequitibá”. Ele é considerado um artista refinado e cuidadoso, daqueles que não cedem aos apelos do mercado fonográfico. Em outras palavras, é um músico raro e que merece ser prestigiado.
Um cineasta chama outro para este segundo refazer o próprio filme – de quase 40 anos – cinco vezes, com restrições escolhidas pelo primeiro. Essa é a premissa de As Cinco Obstruções (De fem benspænd – Dinamarca/Suíça/Bélgica/França, 2003), de Lars Von Trier (Dançando no Escuro, Dogville) e Jørgen Leth – o desafiado que aceita refilmar seu The Perfect Human (1967) com as limitações impostas pelo colega. O resultado é especial e simbólico, com o que de melhor e pior Von Trier (não limitado ao “apenas” realizador) pode nos brindar.
Como poucas vezes acontece, o grande mérito de As Cinco Obstruções estána força de se de alcançar o potencial demonstrado já pela superfície do tema – aqui beneficiado por tudo a que, direta ou indiretamente, ele pode se ligar. Você percebe, de um lado ou de outro do debate (às vezes um mero bate-papo), em maior ou menor escala, não só o tesão pelo desafio, como também uma eterna disputa – em que ambos ganham – entre a paixão pelo cinema e pelo fazer filmes.
O mérito em se explorar bem a ideia inicial, contudo, me parece muito menos devido às conversas entre Von Trier e Leth do que graças ao cruzamento entre as sugestões do primeiro e os resultados obtidos pelo segundo em cada curta. Em alguns momentos, o gigantesco ego de Von Trier parece realmente atrapalhar, e os comentários sobre o caviar e o seu gosto por álcool/vodca carregam um óbvio “e daí” que ganha coro quando pensamos que até o ritmo e o dizer algo do filme parece prejudicado.
Ainda assim, As Cinco Obstruções, que pode servir como outra referência para novos debates referentes à metalinguagem dentro da metalinguagem, acerta em cheio quando funciona como tentativa de descobrir até que ponto podem ir as potencialidades do cinema feito (e limitado) por quem tem talento. Primeiro Leth, vez a vez testado, depois Von Trier, que nos leva por uma estrada conflituosa para simplesmente reiterar – aqui de forma contida e um tanto inesperada pelo caminho tomado – seu tom passional não só pelo que faz como por quem admira.
O curioso é que essa explicitação do amor de Von Trier não vem como uma espécie de catarse, como acontece, por exemplo, em Dogville e Dançando no Escuro. Aqui, o diretor parece muito mais contido (pode agradar a uns justamente por isto) e seu prazer parece menos espontâneo do que pré-programado; ele parece se cobrar o dizer que ama mesmo que, naquele momento, necessariamente não ame daquele jeito.
Todavia, essa certa (impressão de) mecanicidade não nos impede de mergulhar profundamente no mundo do discutir e fazer cinema – entre quem sabe. E isto é sempre bom, independente do quanto transborde, na tela, um sentimento que ajude ou não a cativar.
Filme: As Cinco Obstruções (De fem benspænd – Dinamarca/Suíça/Bélgica/França, 2003)
Direção: Lars Von Trier e Jørgen Leth
Elenco: Lars Von Trier, Jørgen Leth, Claus Nissen.
Duração: 90 minutos
8mm
Anticristo
Falei sobre este As Cinco Obstruções, entre outros motivos, porque o novo Von Trier não vai chegar por aqui. Nunca. A menos que alguém acredite na coragem (sempre bem vinda e nunca presente) de o nosso Starplex exibir um filme chamado Anticristo, cujas mutilações de órgãos genitais estão entre as cenas mais leves.
Top-10 de agosto
A menção honrosa vai para curta O Pequeno Caos (1966), de Rainer Werner Fassbinder. Abaixo a lista, que pretendo deixar sempre só com longas mesmo.
10. O Grande Lebowski (1998), de Joel e Ethan Coen (***1/2)
9. Milk (2008), de Gus Van Sant (****)
8. Apocalipse Now Redux (1979), de Francis Ford Coppola (****)
7. O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard (****)
6. O Pagamento Final (1993), de Brian de Palma (****)
5. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), de Michel Gondry (****)
4. Hair (1979), de Milos Forman (****)
3. Kill Bill Vol. 1 (2003), de Quentin Tarantino (****1/2)
2. Underground (1995), de Emir Kusturica (****1/2)
1. A Noite Americana (1973), de François Truffaut (*****)
Obs: Apesar de alguns vistos ainda em agosto, os filmes da semana (abaixo) só entram na “disputa” pela lista do próximo mês.
Filmes da semana:
A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir
Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch
As Cinco Obstruções (2003), de Lars Von Trier e Jørgen Leth
A Última Noite de Boris Grushenko (1975), de Woody Allen
Pocilga (1969), de Pier Paolo Pasolini
Por uma Vida Menos Ordinária (1997), de Danny Boyle
Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”
A grapiúna Anabel Mascarenhas e a paulista Joliane Olschowsky estão dando o que falar no Pelô. Não é pra menos. Fotógrafas de mão cheia, apesar da pouca quilometragem nessa arte, já emplacam uma exposição de um mês no Senac Pelourinho, em Salvador. E olha que essa é a apenas a primeira.
Moças de futuro, sem dúvida, mas que não perdem tempo esperando por ele. Fazem bonito aqui e agora – Anabel é a autora desse primor de foto, de tremendo bom gosto, que ilustra o convite e este post.
Tá em Salvador? Dá uma passadinha na galeria Sérgio Daiha, na praça José de Alencar, no Pelourinho. A exposição fotográfica ‘Rio do Engenho – festas, saberes e sabores’ vai de 9 de setembro a 4 de outubro. É o talento grapiúna ganhando a Bahia e apimentando o mundo.
Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009), de John Hamburg (Quero Ficar com Polly), é o tipo de filme cujo diferencial positivo é potencializado pelo tipo de gênero inserido, e cujos defeitos são esquecíveis quando relativizados. Ou seja, eleé uma interessante anomalia dentro de uma gigantesca massa amorfa, mas também é parte integrante de um grupo de geralmente felizes exceções: as relacionadas a Judd Apatow (Superbad, Ligeiramente Grávidos, O Virgem de 40 anos), influência clara mesmo sem ligação direta com o filme.
Em Eu te Amo, Cara, o humor não é daqueles que busca te amarrar a uma camisa de força enquanto faz cócegas, mas do que se limita a uma discreta sugestão, uma piscadela – até porque a tentativa de ser mais direto é geralmente constrangedora. Aliada a uma espalhafatosa construção de personagens, essa mistura chama a atenção menos pela incompatibilidade do que pelo tom heterogêneo, distinto dentro do modelo de filme a que ele conceitualmente pertence.
No que tange as mulheres, embora elas não passem de fêmeas tolas e chatas, desde o começo já somos informados de que elas só fazem falar e nada dizer de pessoal – além de, no caso específico da “noiva”, ela nem conhecer a banda Rush –, o que pelo menos evita a decepção. Essa quase indiferença com relação ao sexo oposto só reforça um curioso olhar masculino que, se está longe de ser “másculo”, não é puramente gay. É um olhar que, além de fechado e ligado ao mundo do mesmo sexo, é sincero e, o mais importante, com um poder de mostrar um tipo de relacionamento cuja força pode ser sentida. Percebemos a afinidade, a química; acompanhamos a soma, não nos limitamos a ver o resultado.
Essa relação dentro de Eu te Amo, Cara, embora não tão brilhante,pode ser vista como uma hipotética versão de Encontros e Desencontros – de Sofia Coppola – idealizado por Judd Apatow e com um toque gay. Quando sobem os créditos, com um gosto de déjà vu temperado por uma bem vinda ironia, fica claro que a ligação maior é com o segundo. O que, se por um lado “diminui” o filme por sua forma estar próximo a uma fórmula, bom lembrar que, dentro de uma classe mais ampla – do tipo comédia-romântica-exportação-para-Multiplexes –, ele é um bastardo que se sobressai com louvor.
Filme: Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009)
Direção: John Hamburg
Duração: 105 minutos
Elenco: Paul Rudd, Rashilda Jones, Jason Segel, Sarah Burns.
8mm
Absurdo
Sidney Fife (personagem) e Jason Segel (de Ligeiramente Grávidos) são uma das maiores combinações de espontaneidade e carisma num tempo recente do cinemão comercial americano. Ponto.
Halloween
Assistir a Halloween (2007), de Rob Zombie, só potencializou meu desejo de gritar: “deixem o filme quieto”. O adendo é que, se no início a vontade era um pré-conceito baseado na ótima versão original (1978) de John Carpenter, depois ela ganhou coro pelo que fizeram com o coitado do Zombie.
A versão que assistimos não foi editada, e sim decepada – a edição brasileira tem apenas 83 minutos, contra 109 da versão já reeditada nos EUA (a original tinha 121). O “medo” da violência explícita levou a distribuidora a cortar novamente o filme, que tem algumas memoráveis quebras de ritmo – e de nexo. Que os distribuidores podem defender como elipses. É triste.
Seja como for, parece ter sido um castigo: mexeram no que não devia, de alguém que mexeu onde não devia. E embora exista algo de interessante nesse Halloween (alguma tensão, a máscara), ele definitivamente não ficou bom. E, no caso do Brasil, Zombie tem um álibi pra justificá-lo. Uma pena – nos dois casos.
Filmes da semana:
Halloween (2007), de Rob Zombie (cinema)
Born Into This (2003), de John Dullaghan
Nome Próprio (2007), de Murilo Salles
O Pagamento Final (1993), de Brian de Palma
Kafka (1991), de Steven Soderbergh
Eu te Amo, Cara (2009), de John Hamburg
Kill Bill Vol. 1 (2003), de Quentin Tarantino
Leia esta coluna também na página de Cultura. Lembre-se: agora você também pode comentar a coluna lá mesmo, na página onde ela está publicada na íntegra. Bem-vindo às novas páginas dinâmicas do Pimenta. Boa leitura.
O Cineclube Équio Reis apresenta, hoje, na Casa dos Artistas de Ilhéus, a produção nacional Anjos do Sol. O filme conta a história de uma menina de 12 anos que é levada a se prostituir após ser vendida pela família a um recrutador de prostitutas.
Depois de sofrer inúmeros abusos em um prstíbulo na Amazônia e conseguir voltar para o Rio de Janeiro, ela descobre que a prostituição não saiu de sua vida.
A projeção começa às 19 horas, com entrada franca, na Casa dos Artistas.