Do PIMENTA
No calor da campanha eleitoral deste ano, três consensos se cristalizaram no debate público de Ilhéus. 1) Bento Lima não tinha chance de ganhar; 2) a vitória seria definida por pequena margem de votos; 3) e o prefeito Mário Alexandre, Marão (PSD), ciente do destino eleitoral de seu correligionário, se quisesse, teria influência para pender a disputa a favor de Adélia Pinheiro (PT) ou de Valderico Junior (UB).
Com a vitória de Valderico pela diferença de 2,75 pontos percentuais (ou 2.639 dos 96.141 votos válidos), a saída de Coronel Resende (PL) do páreo e a conquista do apoio dos que abandonaram o barco de Lima ajudam a explicar a arrancada do candidato do União Brasil na última semana da campanha.
A ultrapassagem de Valderico, tomando de Adélia a liderança nas intenções de voto, foi captada pela última das pesquisas feitas neste ano pelos institutos Sócio Estatística e Gasparetto Pesquisas. O fotógrafo, memorialista e ex-vice-prefeito José Nazal compilou os resultados da série e os publicou em relatório analítico (íntegra). Os últimos números, colhidos até 30 de setembro, mostram Valderico com vantagem de 1,3 ponto percentual a seis dias do pleito.
Conhecida a sentença das urnas, circularam hipóteses sobre os fatores que deram a vitória a Valderico Junior, inclusive a de que o prefeito Mário Alexandre teria favorecido o candidato ligado ao vice-presidente do UB, ACM Neto, líder da oposição ao Governo Jerônimo.
Ao PIMENTA, Marão negou, de forma categórica, que tenha jogado a favor do adversário da base governista e refutou a especulação de que teria preferência pela vitória de Valderico. Para reforçar sua posição, recorreu ao relacionamento político com o ministro da Casa Civil, Rui Costa; citou o gesto recente do governador Jerônimo Rodrigues, que decidiu entregar o Residencial Jardim Salobrinho ainda durante o seu mandato; relembrou que foi vice-prefeito aliado ao PT e disse que sempre votou no Partido dos Trabalhadores.
Na hora de posar para a foto desta entrevista, o prefeito, sorrindo, perguntou se deveria fazer o L – e fez, rapidamente, antes de encolher o indicador e parar o movimento da mão direita num sinal de joia. Leia.
PIMENTA – O senhor e o PT estiveram em lados opostos nas eleições. Houve estremecimento da relação?
MARÃO – De minha parte, nunca. Cada um tem seu destino e resolve o quer. Nunca fui homem de ter estremecimento, até porque quem vota no PT sou eu. Sempre votei no PT, sempre vou votar. Tenho parceria que nunca teve na minha cidade. Sou grato ao ex-governador Rui e ao governador Jerônimo. Acabei de entregar 220 casas antes de vencer meu mandato. Meu legado foi feito nessa parceria, que levei, construí e conquistei a minha referência de lealdade. Com o ministro Rui, nos dois mandatos, tive oportunidade de tê-lo [como aliado] e consegui mais de R$ 1 bilhão de investimentos para Ilhéus e região. Não vou estar mais no mandato, mas continuarei ajudando na parceria que a cidade de Ilhéus construiu através do meu nome, do meu respeito, da minha lealdade. Essas conversas que as pessoas querem falar não têm sentido. O sentido foi sempre de aliar, de juntar e fazer o melhor. Por isso, ganhei duas vezes, mais a eleição de Soane, fui vice-prefeito. Minha política é sempre de fazer o bem. Não quero nunca atrapalhar.
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O que tenho com Rui e a gratidão que tenho a Rui, só se eu fosse muito descarado.
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Circula hipótese de que o senhor teria preferência de perder a eleição para Valderico Junior em vez de Adélia.
Quem está falando isso tem que provar. Nunca tive nenhum tipo de relacionamento [com Valderico]. Pelo contrário, minha relação histórica, desde quando entrei na política, é com a base do governo. O que tenho com Rui e a gratidão que tenho a Rui, só se eu fosse muito descarado. E não é meu perfil. Meu perfil é ganhar junto e perder. Quando ninguém acreditava em Jerônimo, fui o primeiro que levantei a bandeira e falei: o candidato é Jerônimo, porque Rui quis. A gente fez e está aí, hoje, a minha relação de parceria. Ele vem aqui e faz esse gesto todo em relação a mim, por isso agradeço os caras. Mesmo não estando mais prefeito a partir do mês que vem, ele [Jerônimo] fez questão de vir aqui, estar junto com a gente, trazendo e pegando na mão. Tinha muito mais projetos que eu tinha levado. [Dizem:] é o Governo do Estado que faz. Não. O Governo do Estado faz, mas o prefeito leva. Levei e aprovei muitos projetos. Jamais vamos ter uma parceria como essa [com o Governo do Estado], a não ser que uma dia tenha uma Soane ou outro candidato que tenha [boa relação com a base estadual].
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Vou terminar meu mandato para ver a minha vida política.
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O senhor continua no PSD?
Sempre fui do PSD, continuo no PSD. Vou terminar meu mandato para ver a minha vida política. Vou dar uma descansada. Temos o mandato de Soane. Meu momento agora é fechar o mandato. Sou prefeito até dia 31 de dezembro. Aí a gente vai discutir [o futuro].
Deseja ir para a Câmara Federal?
Não. O desejo é do povo. Fui candidato a prefeito [em 2016] para ser candidato a deputado [em 2018], e o povo quis que eu fosse prefeito. Fui reeleito. É o povo que define. A gente vai ver o que eles querem comigo. Eu sou, na verdade, um soldado do nosso governo.