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Depois de falar, parava para escutar e, a depender do que ouvia nos resmungos de Ruy, passava a xingá-lo com todos os impropérios que conhecia.

José Nazal

Em Ilhéus há duas antigas praças, muito próximas. Ambas ficam na avenida beira-mar, onde tudo acontece, denominada de Soares Lopes. As praças são dedicadas a dois ilustres baianos: o poeta Castro Alves e o jurista Ruy Barbosa.

Um velho frequentador das praças, o bancário Coló, apreciador de uma boa pinga e fumante inveterado, era apaixonado pelo “Poeta dos Escravos” e adversário ferrenho do “Águia de Haia”. Coló, no auge dos seus ‘’porres”, era o mensageiro que levava e trazia os recados entre os bustos dos ilustres homenageados. Na maioria das vezes, recados desaforados.

Coló morava próximo da praça de Antônio, nome pelo qual ele se dirigia ao ídolo e amigo íntimo, o poeta baiano Antônio Frederico Castro Alves. Diante do busto, bradava em alto e bom som: “Antônio, vim lhe dizer que o tal do Ruy desafiou você. Disse-me hoje que encontrou erros de português em seus versos! Vim aqui te dizer isso e pedir permissão para voltar lá e dizer uns desaforos a ele. Tá pensando o quê, o tal jurista? Que é mais importante que você? Vou lá e volto já”.

Partia então Coló, calmamente e num equilíbrio perfeito (com a solenidade que apenas os bêbados têm), para a praça de Ruy. Chegando, desancava o jurista com o recado que trazia a resposta de Castro Alves. Depois de falar, parava para escutar e, a depender do que ouvia nos resmungos de Ruy, passava a xingá-lo com todos os impropérios que conhecia.

Assisti a essas cenas diversas vezes. Quem não viu tem o direito de não acreditar.

José Nazal é fotógrafo, memorialista e foi vice-prefeito de Ilhéus (2017-2020).

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Mardes ficou com agentes da PF no cangote por 8 horas.
Mardes ficou com agentes da PF no cangote por 8 horas.

Um dos alvos da Operação Águia de Haia, ontem (13), o ex-prefeito de Buerarema Mardes Monteiro foi acordado por agentes da Polícia Federal às 5 horas da manhã. Na residência dele, os policiais ficaram por mais tempo que em imóveis de outros investigados. Os agentes somente deixaram a mansão do médico, no São Roque, em Itabuna, por volta das 13 horas.

Mardes é investigado por suspeita de fraude em licitações e de receber propina do esquema que desviou, pelo menos, R$ 57 milhões do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

A operação envolveu cerca de 450 policiais federais na Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal e São Paulo. Somente na Bahia, a operação ocorreu em 25 cidades.

O chefe de gabinete de Mardes à época, Frederico Vésper, hoje secretário de Relações Institucionais de Ilhéus, também é investigado. Ele foi conduzido à sede da PF em Ilhéus e saiu por volta do meio-dia.