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VELHINHOS SERELEPES QUE FAZEM “DE TUDO”
Numa dessas matérias corriqueiras em que a tevê discorre sobre as inegáveis vantagens da senilidade (quando aparecem uns velhinhos serelepes dizendo que se sentem como se tivessem dezoito anos ou menos!) recolho uma pérola, da boca de repórter experiente, famoso e festejado. Depois de ver uma idosa escapar ilesa de uma série de perigosos contorcionismos a que chamam alongamento, o profissional televisivo (com um sorriso que parecia de decepção) afirmou: “Atualmente, esses velhinhos fazem de tudo”. Esse “de tudo” é, via de regra, mais um abuso dos que tanto se perpetram em nome da linguagem moderna e bonitinha, mas ordinária.
ATAQUES FRONTAIS E REPÓRTERES IMPUNES

PLEONASMO, MAS SEM PERDER A ELEGÂNCIA

EXPRESSÃO ENRAIZADA E COM DEFENSORES

LÍNGUA RICA, RICA, RICA /DE MARRÉ DECI
“Eu sou pobre, pobre, pobre/ De marré, marré, marré/ Eu sou pobre, pobre, pobre/ de marré deci” é cantiga de roda com uma palavra que não tem registro na linguagem escrita. De tempos imemoriais, guardo uma explicação, que não tenho feito pública por falta de auditório interessado. E se não digo sua origem é por não me lembrar em que ostra colhi esta pérola: o texto viria do francês Je suis pauvre, pauvre, pauvre,/ je me vais, me vais, me vais/ je suis pauvre, pauvre, pauvre/ je me vais d´ici. Para quem nada manja da língua de Danton e Robespierre, vai minha tradução, sujeita a chuvas e trovoadas: ”Eu sou pobre, pobre, pobre/ vou-me embora, vou-me embora/ eu sou pobre, pobre, pobre/ vou-me embora daqui”.
EM PERNAMBUCO, O “FOR ALL” VIROU FORRÓ

HERANÇA DAS RELAÇÕES FEUDAIS EUROPEIAS

EMOÇÕES QUE NOS PRESSIONAM NO DIA-A-DIA

A IRA QUE NASCE DO NEGRO VENTRE DO MEDO
Mira y Lopez (foto) trata de carências e fantasmas submersos, de fragilidades e de como precisamos uns dos outros, de como somos conduzidos pelas emoções e de como estas são tão poderosas que nos sacodem e atiram de um lado para outro, “com a mesma aparente simplicidade com que uma onda altera o rumo de um barco, o vento brinca com as folhas ou um terremoto faz desmoronar uma casa”. O texto é muito atraente, como neste exemplo: “Na noite dos tempos, do negro ventre do medo, brotaram as rubras faces da ira. Esta rapidamente cresceu e se converteu no segundo dos quatro gigantes que atenazam o homem e fazem de sua vida um perpétuo drama”.
NÃO QUEREMOS SER UM PAÍS DE VIRA-LATAS
Procuro estar longe dos que tratam o Brasil como um sub-país, nosso povo como uma sub-raça, e paro aqui, antes que me venham as lembranças, igualmente calhordas, da sub-nação, do sub-povo – e, de braço dado com elas, uns puxões de orelhas sobre o emprego inadequado do hífen. Mas o que nos interessa é festejar o fim do espírito anti-Brasil. O povo mostra (nas ruas, nos becos, na internet e nas urnas) que somos uma Nação com identidade própria e que não mais teme o chicote com que os poderosos, vestidos de paramentos universitários e décadas de preconceito e conservadorismo, tentam submetê-lo. Livre em suas escolhas, o Brasil se recusa a ser uma nação de vira-latas.
TAMBÉM TEMOS DOSTOIÉVSKIS E BETHOVENS

GLORINHA GADELHA, SIVUCA E CLARA NUNES

(O.C.)