A Bamin promoveu, nesta quinta-feira (24), uma jornada de apresentação do Complexo Intermodal Porto Sul a veículos de imprensa do sul da Bahia. O objetivo da iniciativa, segundo a multinacional, foi oferecer uma visão abrangente do empreendimento, do canteiro de obras às medidas compensatórias e de redução dos impactos socioambientais do projeto, que também envolve o trecho 1 da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e a mina Pedra de Ferro, em Caetité.
Diante de uma maquete, o engenheiro Alberto Vieira, diretor-geral de implantação da Bamin, explicou como o porto e a ferrovia formarão o corredor logístico para escoar o minério de ferro extraído a mais de 500 quilômetros do litoral de Ilhéus. Atualmente, segundo ele, as três frentes de trabalho empregam 1.818 pessoas, com 69% de mão de obra local.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
No auge da mobilização das forças produtivas, em 2025, os empreendimentos vão gerar 15 mil empregos, acrescentou Alberto, com sotaque mineiro. Na fase de operação, com início previsto para agosto de 2027, esse número cairá para 1.400 postos de trabalho.
A Bahia Mineração S/A é uma subsidiária do Eurasian Group Resources (ERG), conglomerado de origem cazaque. Na fase de estudos, licenciamento e início da implantação dos negócios em solo baiano, o grupo afirma ter investido R$ 10 bilhões. Outros R$ 20 bilhões serão empregados nos próximos cinco anos, com o propósito de transformar a Bahia no terceiro maior produtor de minério de ferro do País.
PROGRAMAS SOCIOAMBIENTAIS
Coube ao engenheiro agrônomo Marcelo Dutra a explanação sobre os aspectos mais delicados dos empreendimentos, ligados aos danos socioambientais de sua implantação. Segundo ele, a empresa está em dia com todas as condicionantes do licenciamento ambiental. Com seu estilo insurgente, o radialista Marinho Santos, da Gabriela FM, convidou o representante da Bamin a visitar uma fazenda no distrito de Aritaguá onde, conforme o proprietário, os impactos do Porto Sul mataram uma nascente.
Marcelo aceitou o convite, mas ponderou que, muitas vezes, problemas alheios às intervenções do Porto Sul são atribuídos, indevidamente, ao empreendimento. Presente na visita, a reportagem do PIMENTA questionou o engenheiro agrônomo sobre o número de nascentes na zona de influência direta do complexo intermodal. Ele respondeu que não tinha essa informação de cabeça.
O licenciamento do complexo autorizou a supressão da vegetação de 687 hectares. Desse total, segundo a Bamin, 148 hectares já tiveram sua cobertura vegetal suprimida. O programa de compensação ambiental do empreendimento prevê o replantio de árvores nativas.
REABILITAÇÃO DE ANIMAIS
Além da flora, a devastação de um hotspot da biodiversidade, como o do litoral norte de Ilhéus, é um terror para a fauna. A Bamin informa que já resgatou mais de 69 mil animais, com a soltura de 67 mil deles. O bichos feridos são levados para o centro veterinário montado pela empresa na Ponta da Tulha.
Os jornalistas também visitaram o local. Conforme a equipe da Bamin, a unidade também reabilita animais resgatados fora da área de influência do complexo. Num dos abrigos, a coordenadora de Meio Ambiente do projeto, Ananda Marson Silva, pediu que os visitantes falassem baixo para não perturbar o sossego dos bichos. Ali se recuperavam uma jiboia, um carcará e uma linda coruja.
Ao lado do centro cirúrgico, diante de equipamentos de ponta, a bióloga Bárbara Buss, analista ambiental da empresa, informou que até sete animais podem ser operados em apenas um dia, se necessário. Nesse momento, um repórter afirmou que, naquele espaço, os bichos têm acesso a recursos de saúde que boa parte da população humana da região peleja para obter. Meio desconcertada, a funcionária da Bamin respondeu que já ouviu isso centenas de vezes.
Há dez dias, o governo estadual publicou decreto no qual declara como de utilidade pública uma área de 979 hectares entre a Ceplac e a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus.
Com base nas coordenadas presentes no decreto, o analista Wallace Anderson de Souza e o engenheiro agrimensor Pablo Cardoso, ambos do Incra, elaboraram em especial para o PIMENTA a plotagem que permite visualizar a área que será impactada pelo decreto.
O novo aeroporto faz parte do plano de investimentos logísticos Complexo Intermodal Porto Sul, executado pelos governos federal e estadual com a participação da iniciativa privada. O projeto prevê construção de porto e aeroporto em Ilhéus, além da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). O aeroporto ainda não tem previsão de início de construção. A obra demandará, segundo o secretário da Casa Civil da Bahia, Rui Costa, investimentos da ordem de R$ 270 milhões.
O resultado é danoso para Ilhéus, que perde um grande investimento. Para a Bahia, nem tanto, pois a empresa poderá utiliza o Porto de Aratu, como sempre desejaram quase todos os interessados do contra.
Já não são tão cordiais as relações entre as altas cúpulas do Governo do Estado da Bahia e da Bahia Mineração (Bamin). O motivo é um só: a omissão do governo em relação ao cronograma de implantação do Projeto do Complexo Intermodal do Porto Sul.
Desde o ano passado que a Bamin vem revelando impaciência com o certo descaso do Governo do Estado em relação à entrega da área para que as obras do Porto Sul sejam iniciadas. Os prazos concedidos são vencidos e nenhuma – ou quase nenhuma – ação é feita.
De novo – apesar dos desmentidos do prefeito de Ilhéus – a Bamin promete “enfiar a viola no saco” e ir tocar em outra freguesia, apesar dos grandes investimentos feitos. E os recursos foram poucos, investidos em estudos, ações de comunicação pública e social.
Essa apreensão gerada com a possível saída da Bamin do Complexo Intermodal do Porto Sul, o que inviabilizaria o projeto, resultou numa reunião de emergência entre empresários, instituições e o Governo do Estado. Por certo, novas promessas serão feitas, embora sem a certeza do cumprimento.
Outro grande dispêndio da Bamin foi efetivado para capacitar a população do entorno do empreendimento, preparando-os para o exercício de novas atividades, o que representa uma evolução no cumprimento das compensações sociais.
Pelo que vi durante as campanhas eleitorais dos anos de 2010 e 2012, candidatos faziam questão – principalmente os do Partido dos Trabalhadores (PT) – de externar o seu apoio ao Porto Sul. Essas ações, geralmente, são uma recíproca pelo apoio recebido.
Mas é preciso fazer uma ressalva quanto ao apoio aos políticos, pois tudo deve ter sido feito dentro da lei, já que uma empresa desse porte não se daria ao luxo de desprezar a lei vigente. Ainda mais quando tem pela frente uma série de “inimigos” ao seu projeto.
Esses inimigos, diga-se de passagem, são de alto coturno e estão espalhados em diversas atividades econômicas, que vão desde os interesses na privatização dos portos até os “conservacionistas”, proprietários de muitas áreas no litoral norte de Ilhéus e sul de Itacaré.
São megaempresários que construíram suas mansões de luxo e não querem ser importunados com um porto por perto. Há, ainda, os que possuem grandes “áreas de engorda”, destinadas à implantação de condomínios superluxuosos, camuflados com um marketing pesado sob o paradigma da defesa da ecologia.
Entre os pós e os contras, dentro da própria estrutura dos governos do Estado da Bahia e Federal estão os “amigos e inimigos” do Porto Sul. É o PT contra o próprio PT; é o PCdoB contra o próprio PCdoB. Além de outros menos votados. Ou seja, esses partidos dão uma no cravo e outra na ferradura.
Como expectador de luxo, assisti a grande parte dessas ações empreendias para a concretização dos estudos de implantação do Complexo Intermodal do Porto Sul. Diante disso, posso assegurar a constante falta de um diálogo – por parte do Governo do Estado, o que é inerente aos petistas – com as comunidades envolvidas.
Essa temeridade era vista por parte das pessoas que compunham o Governo do Município de Ilhéus e pela própria Bamin (mas nunca dita em público) que, ao contrário, mantinha um diálogo constante com toda a comunidade, seja ela diretamente ou indiretamente envolvida no projeto. Leia Mais
A voz pausada e o perfil conciliador do prefeito de Ibicaraí, Lenildo Santana (PT), levaram à construção de candidatura única à presidência da Associação dos Municípios do Sul, Extremo-Sul e Sudoeste da Bahia (Amurc). Mas foi a proposta de uma entidade “sem partidarização e personalismo” que fortaleceu a candidatura do petista. A postura equilibrada e de consenso do prefeito é elogiada pelo governador Jaques Wagner. “Lenildo se revelou grande prefeito e a sua reeleição demonstra isso”, disse o governador, que escolheu Ibicaraí como primeiro município do sul da Bahia a ser visitado em 2013, quando entregou as obras de reforma da BR-415. Lenildo assume mais um desafio. É o candidato de consenso à presidência da Amurc. O pleito ocorrerá no dia 31. Atualmente, o prefeito de Ibicaraí é tesoureiro da entidade. O candidato à presidência da Amurc conversou com o PIMENTA na redação do blog e falou de projetos e como os municípios podem se beneficiar dos projetos estruturantes e da chegada da Universidade Federal do Sul da Bahia.
BLOG PIMENTA – Quais são os projetos e metas mais importantes da sua campanha? Lenildo Santana – Temos que incorporar, de forma muito clara e segura, os projetos macros mais importantes para a nossa região: o Complexo Intermodal Porto Sul e a Universidade Federal do Sul da Bahia (Ufsba). Eles estão na linha de frente do debate. BP – E nas questões “macro”, que dizem respeito à situação dos municípios? LS – Temos que batalhar pela melhoria das receitas dos municípios. E aí a gente tem algo importante que é a redistribuição dos royalties, além da reposição do IPI [Imposto sobre Produto Industrializado] e das perdas do FPM [Fundo de Participação dos Municípios]. Outro ponto importante é a capacitação dos servidores e gestores municipais. BP – Qual dimensão dessas perdas com redução de IPI e queda do FPM? LS – A Amurc participou do debate na CNM [Confederação Nacional dos Municípios], em Brasília, em quatro encontros, e tratou destes assuntos e o consequente encaminhamento deles. As perdas com redução de IPI e queda do FPM em Itabuna, Ilhéus e região ultrapassam R$ 10 milhões. BP – Como interferir para que os municípios tenham gestões com melhor qualidade? LS – A qualificação dos servidores dos municípios associados está entre as nossas metas. Há um outro fator interessante que é o trabalho articulado de comunicação, divulgando as ações positivas dos municípios. Existe hoje uma marginalização do gestor. Virou prefeito, já é ladrão. Nem todo mundo possui esse perfil. E isso [a estigmatização] é ruim por que pode desestimular quem entra na política buscando fazer o correto.
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Nossa ideia é desenvolver diagnósticos, identificar as necessidades de cada município e montar os projetos.
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BP – Como a Amurc pode fazer o papel de articulação com os municípios? LS – Nossa ideia é desenvolver diagnósticos, identificar as necessidades de cada município e montar projetos. O gestor fará o acompanhamento na Amurc. Vamos trabalhar para garantir captação de projetos de R$ 300 mil a R$ 500 mil, como exemplo, permitindo soluções para cada município. Não são 20, 30 projetos para cada cidade. Por isso, define-se as prioridades. Algumas cidades não puderam ter acesso a dinheiro dos governos federal e estadual nem puderam apresentar projetos. A ideia é trabalhar com projetos para atender a quem também está, por questões judiciais, de certidões, excluído deste momento. Para quê isso? Os prefeitos estão distantes da entidade por que eles param para pensar e questionam: o que é que eu ganho com a Amurc? Hoje a gente já tem uma realidade muito melhor. As reuniões acontecem. Prefeito vai lá. A gente trabalha, auxilia. A gente mostra que a entidade pode, tem potencial para auxiliar, intervir. BP – O senhor pertence a uma corrente política. Como conciliar interesses numa entidade suprapartidária? LS – Localmente, temos o exemplo de Floresta Azul. A prefeita Sandra Cardoso é do DEM e possuímos ótimo relacionamento Floresta Azul-Ibicaraí. Fazemos cooperação em saúde, infraestrutura, assistência social. Quando a demanda ocorre e a solução pode ser feita, de forma legal, pelo município vizinho, é feita. Isso independe da bandeira partidária. Eu tenho isso com Jackson [Bonfim], que é do PP. Nós queremos fortalecer esse trabalho articulado, levar essa proposta para a Amurc. Ou seja, queremos administrar a Amurc sem partidarizá-la e sem personalismo. Isso fortalecerá a entidade.
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E A Ufsba vai proporcionar qualificação diferenciada que vai acabar alterando os ambientes onde esses alunos estão inseridos.
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BP – Como os pequenos municípios poderão se beneficiar do Complexo Intermodal e da Ufsba? LS – No caso da Ufsba, tenho o exemplo de Santa Cruz da Vitória. Talvez não chegue a dez o número de pessoas do município formadas em uma universidade federal. Agora, isso muda com a seleção de estudantes por meio dos colégios universitários da Ufsba. É um modelo altamente inclusivo. E A Ufsba vai proporcionar qualificação diferenciada que vai acabar alterando os ambientes onde esses alunos estão inseridos. Leia Mais
Três empresas anunciaram interesse em investir no Complexo Intermodal Porto Sul, a Rongxin Capital-Bahari Still, a Bohai Steel Group e a Bio Gold. As empresas atuam na área de mineração e estudam a viabilidade de construir siderúrgica numa área próxima ao porto, segundo o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa.
Os representantes das empresas estão de olho nas oportunidades criadas a partir da entrega das obras do Porto Sul, em Ilhéus, e do primeiro trecho da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol). Ontem, houve rodada de conversação entre empresas e governo, em Salvador.
O promotor público e coordenador do Núcleo de Defesa da Mata Atlântica, Yuri Lopes de Mello, disse ao PIMENTA que o arquivamento da denúncia de plágio no estudo do Porto Sul não significa o fim da investigação (entenda clicando aqui). O arquivamento se deu apenas na promotoria em Itabuna devido a controle obrigatório do Conselho Superior do MP. O caso continuará sendo acompanhado pela promotoria de Ilhéus.
Segundo Yuri Lopes, a promotoria em Itabuna “não abriu, diretamente, investigação” do caso, mas, como solução técnica, recomendou ao Ibama apurar o suposto plágio. “A equipe técnica do Ibama possui as condições mais adequadas para avaliar a existência de plágio e o eventual impacto na estrutura do estudo”. O MP, completa, aguarda posicionamento do Ibama quanto à denúncia.
Cópia do procedimento foi enviada ao MP em Ilhéus para que seja anexada ao inquérito civil público que analisa o Complexo Porto Sul. O inquérito é conduzido em parceria com o Ministério Público Federal, que também acompanha a denúncia de plágio no estudo. Yuri Lopes diz que o MP tem procurado analisar o projeto Porto Sul de forma técnica e profissional, sem vinculação a posicionamento ideológico.
Na briga das emissoras de tevê, ontem a Band exibiu no seu jornalístico de início de noite uma reportagem sobre o Complexo Intermodal Porto Sul. E frisou que um lobby ameaça uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O complexo está orçado em aproximadamente R$ 6 bilhões. A reportagem ouviu moradores da Ponta da Tulha, no litoral norte de Ilhéus, o governador Jaques Wagner, o ambientalista Rui Rocha e o vice-presidente da Bamin, Clovis Torres.
O ator ilheensee Fábio Lago chegou a Ilhéus na última quinta-feira, 10, com dois objetivos. Um deles foi comemorar o aniversário de 41 anos em companhia de sua família. O outro foi conversar com lideranças locais sobre o projeto do Complexo Intermodal Porto Sul.
Em uma reunião na sede do Sindicato dos Estivadores de Ilhéus, Lago ouviu diversas opiniões tanto sobre o Intermodal quanto acerca do terminal privativo da empresa Bahia Mineração. Particularmente, o artista inclina-se favoravelmente ao empreendimento, defendendo, porém, que ele seja implantado de uma forma que minimize os impactos ao meio ambiente.
Lago disse acreditar na importância dos investimentos que estão chegando a Ilhéus, como forma de dar novas perspectivas à comunidade local. Ele também pretende incentivar um projeto de reflorestamento em áreas degradadas da Mata Atlântica na região.
Sobre esses e outros assuntos (como o engajamento de colegas seus da Rede Globo em uma campanha contra o Porto Sul), Fábio Lago falou em entrevista concedida ao PIMENTA e ao site JORNAL BAHIA ONLINE.
Há quem afirme que você esteja na contramão do que pensam os artistas da Rede Globo. Muitos já se posicionaram contrários ao Complexo Intermodal Porto Sul, alegando que o investimento traria sérios prejuízos às causas ambientais da região. Por que você decidiu defender o Complexo?
Primeiro não estou na contramão do que pensam os artistas da Rede Globo, porque não sei o que eles pensam, não parei para conversar sobre o Complexo Intermodal Porto Sul. E, segundo, te confesso que acho até normal que atores se engajem em campanhas que dizem respeito ao meio ambiente. O que me incomodou ao ver a campanha, inclusive eu estava presente no dia que ela foi lançada, é que eles não conhecem profundamente a região em questão, nem o povo envolvido. Como sou filho apaixonado pela minha terra e sendo hoje o único artista que tem uma projeção em nível de imagem no contexto nacional, me senti na obrigação de pelo menos esclarecer o equívoco que a campanha “Porto Sul, não” representa.
Você deixa claro que não pretende ser um protagonista desta discussão, mas que será um ator importante no trabalho de consciência popular. Como você pretende se engajar nesta luta?
Quando digo que não quero ser um protagonista dessa discussão, tenho alguns motivos claros: Não sou ambientalista, não sou um político partidário, não sou técnico em construção de portos, rodovias e aeroportos, sou simplesmente um ator. Um ator popular. Além disso, tenho um dever como cidadão ilheense de me posicionar a respeito de um tema tão importante. Acredito numa nova cultura, numa cultura em que não há um único protagonista. No caso em questão, pretendo, com a minha popularidade, abrir os olhos (que estão fechados em alguns ilheenses) para uma das mais importantes oportunidades de crescimento, não só econômico e cultural, mas humano. Esse é meu maior interesse: o desenvolvimento do ser humano ilheense, elevando sua auto-estima e tentando criar uma consciência de que um indivíduo, mais outro indivíduo, mais um outro terceiro indivíduo, pode formar uma força agregadora que supera qualquer apatia do velho e caquético poder público. Mas para isso é preciso que a sociedade se organize e entenda que só existe um protagonista nessa história: ela mesma.
Achei, no caso da propaganda da Bamin, uma oportunidade incrível de investimento na minha região. Fazia pelo menos 25 anos que nada tão substancial acontecia por aqui.
Há algum tempo você apareceu numa propaganda da Bamin, uma das principais interessadas na consolidação deste projeto. Você não tem receio de te acusarem de estar a serviço da empresa?
Quando decidi ser ator eu tinha 16 anos, e o meu maior mestre, que se chamava Pedro Mattos, um dos maiores ativistas culturais que essa cidade já teve, era homossexual e não escondia isso de ninguém. Alguns amigos, alguns familiares e muita gente em Ilhéus torceu o nariz (preconceito puro) achando que eu era gay, porque eu fazia teatro com ele. Só tive o apoio, como sempre, da minha santa Mainha. Se tivesse parado para ouvir o que as pessoas pensavam de mim, eu não estaria aqui dando essa entrevista para você. Não me importo muito com o que as pessoas pensam sobre o que faço. Achei, no caso da propaganda da Bamin, uma oportunidade incrível de investimento na minha região. Fazia pelo menos 25 anos que nada tão substancial acontecia por aqui. Sou um ator. Faço teatro, cinema, TV e campanhas publicitárias em vários lugares do Brasil, mas essa campanha da Bamin era especial porque trazia a oportunidade de uma retomada da auto-estima do meu povo com os investimentos que a empresa prometia. Podia ser a Bamin, podia ser a Bavocê, Baeles, não me importava mesmo qual a empresa em questão. Sentia como artista, que deveria usar a minha imagem para me comunicar com meu povo, mesmo que ela sofresse críticas ou algum desgaste. Não me importo! O que me importa é essa discussão que estamos tendo agora, exercendo o que considero ser a maior conquista da nossa geração: a democracia. A Mata Atlântica nós podemos reflorestar.
O que você acha do movimento dos artistas contrários ao Porto Sul?
Acho um movimento perigoso e, ao mesmo tempo, necessário para essa discussão. Aprendi que, dependendo do ponto de vista, uma única árvore pode esconder uma floresta inteira. Você imagine alguém dizer para você que, num lugarzinho, ali no sul da Bahia, tem uma Mata Atlântica e uns corais que vão ser “destruídos” para construção de um porto que vai transportar minério de ferro. Talvez ouvindo uma afirmativa dessa, sem nenhum conhecimento de causa, cairia no mesmo erro e apoiaria um tipo de campanha como essa. Talvez se fosse para transportar passageiros para Itacaré e baía de Camamu, eles nem fossem contra, porque quando falaram em desmatar a mesma Mata Atlântica para fazer o Aeroporto Internacional de Ilhéus, não ouvi, nem li, nem vi nenhum ambientalista, nenhum artista de projeção nacional vestindo camisa, nem levantando a bandeira contra a construção de tal obra. Com isso, pretendo convidar os meus colegas e ambientalistas que encabeçam a campanha contra esse empreendimento, inclusive Caetano Veloso, que fez críticas ao Porto em sua coluna em um jornal, a virem conhecer a realidade da nossa região, ouvir o meu povo e debater sobre esse assunto aqui dentro da nossa terra, para que eles vejam a calamidade em que esse povo tão generoso se encontra, e ouvir a frase chocante de um jovem ilheense que me disse: “Estudar pra quê?”.
Serei a favor desse empreendimento e lutarei não só com unhas e dentes, mas com o coração e minha alma pelo nosso desenvolvimento humano.
Você acha que te diferencia deles o fato de ser daqui e conhecer como nenhum outro a realidade sócio-econômica da região?
Não tenho nenhuma dúvida disso. E até que meu povo me prove o contrário, serei a favor desse empreendimento e lutarei não só com unhas e dentes, mas com o coração e minha alma pelo nosso desenvolvimento humano.
Você tem um projeto de conscientização ambiental, de reflorestamento de áreas no sul da Bahia. Como pretende desenvolver esta sua proposta? E como engajar a sociedade nela?
É o que vim fazer aqui. Aglutinar. Encontrar atores que se comprometam junto comigo, com você, com toda sociedade para formalizarmos um projeto que visa o desenvolvimento humano. Tentando sensibilizar os empresários, o velho poder público, os líderes comunitários, estudantes, artistas e principalmente as crianças. O reflorestamento de áreas do sul da Bahia, limpeza de praias e manguezais, podem parecer apenas pequenas ações. Mas, meu amigo, eu aprendi a plantar uma árvore e te garanto, é estimulante e revitalizante. Espero que a sociedade entenda que é preciso o desenvolvimento, mas junto com esse vem a responsabilidade e comprometimento de cada cidadão.
A Rede Globo dá sinais bastante claros de que, talvez por interesse de alguns dos seus diretores, é contrária ao empreendimento. Aliás, é rotineiro matéria mostrando o lado negativo do Porto Sul. Você é funcionário da empresa. Não teme nenhum tipo de represália por estar contra ao que ela defende?
Não.
Não tenho interesse, nem autorização do meu povo para ser o defensor público número um de causa alguma. Ao contrário, quero ouvi-los.
Qual o sentimento de Fábio Lago, ilheense, ao abraçar esta causa?
Sentimento de responsabilidade com minha cidade e com o meu povo. Agora, quero deixar bem claro que não sou o único a defender essa causa. Não tenho interesse, nem autorização do meu povo para ser o defensor público número um de causa alguma. Ao contrário, quero ouvi-los. Porque se não for do interesse do povo ilheense o desenvolvimento, serei o primeiro a tirar o meu time de campo, com uma tristeza profunda no peito, mas respeitando o desejo da sociedade.
Que proposta você faria hoje aos artistas, colegas seus, para debater esse tema com mais profundidade e mais conhecimento sobre os dois lados da moeda?
Tive a impressão que alguns dos meus colegas de profissão que aderiram a campanha, não sabiam nem do que se tratava o projeto intermodal Porto Sul, pois, por acaso, estava presente no dia em que a campanha “Porto Sul, não”, foi lançada. E eu questionei a um deles: Você conhece Ilhéus? A resposta foi clara: Não! Então, a proposta que faço é que venham debater sobre o tema e conhecer o povo mais acolhedor que eu conheço. O povo mais “boa praça” que eu conheço e muitas vezes, numa grande maioria, até apático. Esse último me incomoda profundamente. Acho que eles esqueceram de como eram corajosos e aguerridos nossos antepassados, quando expulsaram daqui os holandeses e os corsários franceses que queriam usurpar nossos bens e nossas riquezas. E é nessa força que estou apostando minha reputação, meu empenho e meu entusiasmo. Juntem-se a nós.
Essa é a maior ou talvez a última oportunidade de esperança de desenvolvimento humano que essa geração poderá ter nos próximos anos.
Em uma pequena frase, gostaria que você definisse o que representam estes investimentos para o povo daqui da região.
Quero deixar claro também que isso não será a salvação da lavoura, mas com o aumento da arrecadação, possivelmente surgirão novos empregos, aumentarão as perspectivas e auto-estima dos jovens, diminuirá a violência desenfreada, aumentará a qualidade de vida da população. Essa é a maior ou talvez a última oportunidade de esperança de desenvolvimento humano que essa geração poderá ter nos próximos anos.
Apesar de ainda não estar autorizada, a implantação do Complexo Intermodal Porto Sul preocupa moradores dos condomínios localizados na Ponta da Tulha. De acordo com relatório do Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), foram cadastradas 269 construções para desapropriação em quatro condomínios: 155 casas no Paraíso do Atlântico; 78 edificações e lotes sem construções no Barramares; 33 casas e lotes sem construções no Loteamento Vilage da Barra e três casas no Barra Nova.
Os proprietários das casas reclamam da falta de transparência e comunicação do Derba, autarquia responsável pelo processo de desapropriação. E questionam o tratamento dado aos moradores pelo órgão: “Quando os funcionários vieram fazer o cadastramento dos moradores para desapropriação, eles falavam : ‘Pode curtir o verão e o Carnaval que em abril estaremos aqui. Se não sair, o trator derruba’. Foi uma falta de respeito”, disse a professora Maria D´Ajuda.
O diretor do Derba, Saulo Pontes, explica que a intenção do Estado é evitar conflitos sociais que porventura possam ocorrer no futuro. E afirma que, apesar de a área ter sido declarada como de interesse público, ainda não é possível informar quantos imóveis serão desapropriados.
De acordo com ele, a medida vai depender da abertura de processo licitatório para contratação de uma consultoria que vai acompanhar o projeto do porto público. “É possível que nenhuma casa seja atingida. Tudo vai depender do resultado do estudo”, disse ele.
Prefeitos de diversos municípios da região e até do sudoeste baiano não faltaram à audiência pública da Ferrovia Oeste-Leste, no centro de convenções de Ilhéus.
Quase 900 pessoas participaram do encontro para dirimir dúvidas sobre o projeto que investirá até R$ 4 bilhões na Bahia e estados do Centro-Oeste brasileiro. Mas uma ausência foi notada: a do prefeito de Ilhéus, Newton Lima.