Tempo de leitura: 3 minutos

Por achar que não conseguimos.
Porque achamos que não somos bons o suficiente.
Porque as pessoas não acreditam na gente.
Porque é difícil.
Porque crescemos ouvindo que isso era Ímpossível.
Porque não nos sentimos merecedores.
Por que desistimos?
São tantos os porquês…

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

Certa vez, quando havia desenvolvido a depressão e fui clinicamente diagnosticada, falei para a terapeuta que estava sentindo muita raiva da vida e assustada com as pessoas e com o mundo. Essa sensação me causava o questionamento: PARA QUE E POR QUE ESTOU VIVA?

Era uma sensação que desencadeava várias outras, e eu fugia das pessoas. Além de reclamar delas, reclamava da vida, reclamava do governo, da sociedade, dos vizinhos, da família…

“A última pessoa que imaginei que passasse por isso seria você, Rava”, falou mainha, olhando para mim. Era mesmo difícil acreditar, principalmente porque sempre me senti alegre, para cima, com vontade de vida! Mas a depressão chegou à minha vida. E eu estava ali, derretendo em um buraco sem fundo. Eu realmente estava desistindo de mim, não no sentido de tirar minha própria vida, mas desistindo da vida em vida, tornando-me apática, fria, sem brilho nos olhos. Mas, aos poucos, com tempo, paciência e, sobretudo, com decisão e dedicação, felizmente fui resgatada pela minha família e pela espiritualidade.

Não que hoje eu esteja isenta dos problemas e dificuldades da vida, ou que eu não me sinta confusa em algumas situações ou que nunca desanime diante das demandas e responsabilidades. Sim, faço, sinto! Sou humana! Mas hoje me conheço melhor e tenho ferramentas para encontrar de solução para tudo. Sim, eu disse, tudo! Para tudo há caminhos de solução, basta que a pessoa queira e comprometa-se com o seu processo. Não é fácil. Mas é possível e vale a vida!

Cura é jornada! Autoconhecimento é processo! Não desista. Não desista de você. Resgate quem você é e vá retirando todas as máscaras que te levaram a esquecer.

Respeite a sua história e tudo que te trouxe até aqui.

E lembre-se: quando você começa a questionar o sentindo da sua vida, é porque sua jornada no autoconhecimento iniciou. Por isso busque apoio, busque profissionais que te ajudem nesse processo. Não é fácil seguir sozinha.

Muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo. A energia está intensa e tensa no mundo. Estamos em um momento em que, se a pessoa não tem um apoio emocional, alguém para auxiliar, escutar, receber ferramentas, caminhos de soluções, a pessoa não consegue sozinha.

Quando você recebe o auxílio, a mão de alguém para ajudar você nos seus processos, você recebe uma força de vida que te resgata, te impulsiona, te eleva para o seu melhor. E quando você se alinha no seu lugar de força vital, começa a se relacionar com a intensidade do mundo de forma diferente: mais confiança, menos controle.

Eu não me tornei terapeuta sistêmica só lendo livros ou assistindo 500 horas de aula, eu sirvo aquilo que eu conheço. Ou seja, eu já estive do outro lado. Eu passei meses olhando para o fundo do poço. Eu sei como é estar perdida diante à vida, sem sentido, sem bússola, sem noção do que fazer e qual caminho seguir.

Então lhe digo, sente que precisa de ajuda? Busque! Agarre com unha e dentes e faça disso sua prioridade. Não se deixe para depois. Não há tempo a perder! É preciso trazer para o consciente aquilo que está inconsciente, e por isso, sem entendimento. Identifique e trabalhe nisso. Trabalhe nisso para que se torne uma FORÇA e não uma FUGA!

Nunca é tarde para se perguntar ” Estou pronta(o) para mudar a minha vida, estou pronta(o) para fazer diferente a partir de agora?

Eu passei por um processo que eu precisava para encontrar o meu propósito, uma vida que fizesse sentido ao meu coração e a minha alma. Sigo encontrando todo dia. E você também pode encontrar esse lugar. Não desista!

Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica e consteladora familiar especialista em Psicologia do Nascimento.

Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (1452-1519)
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Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto.

 

 

 

 

 

Julio Gomes

Chama a atenção um fenômeno cada vez mais recorrente entre pessoas da atualidade, quanto à vivência da religiosidade no âmbito do cristianismo: a substituição, cada vez em maior quantidade, das narrativas diretamente relacionadas a Jesus contidas no Novo Testamento por referências diretas aos textos e passagens que vão do Livro do Gênesis até o Livro de Malaquias, todos do Antigo Testamento.

Essa percepção é fruto de uma convivência religiosa que procura ser o mais livre de preconceitos possível, escutando nas ruas, junto à juventude e às pessoas maduras, nos locais de trabalho, nas atividades esportivas e em família, quando das preces que abrem ou encerram eventos, as orações de pessoas de diversas religiões cristãs: católicos, espíritas e, sobretudo, evangélicos.

A referência ao Antigo Testamento é, sim, bem-vinda, pois o próprio Jesus, pilar e origem do Cristianismo, vem de uma sociedade e família de religião judaica. Fundamentada, portanto, na Torá ou Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, e nos demais livros e tradições que o compõem.

Porém, o que causa estranheza não é a presença de referências à Lei Antiga, mas a ausência, por vezes quase total, de citações, trechos e passagens relacionadas a Jesus, aos atos de seus apóstolos e à expansão da fé cristã após o assassinato de Jesus.

Embora sejam vibrantes e sinceras em suas crenças, dotadas de fervor por vezes admirável, essas pessoas, ao usar a palavra nos momentos de oração, quase nunca se reportam a Jesus senão para abrir a oratória e, por vezes, para fechá-la, mas fixam-se durante sua preleção em Profetas, Reis, Salmos, Êxodo e outras referências do Antigo Testamento, mesmo se considerando inteiramente cristãs.

Ora, por definição lógica e etimológica, cristão é quem segue ao Cristo, a Jesus.

Obviamente que isso não exclui outras influências, atualizações ou reflexões quanto à origem do Cristianismo, mas Jesus tem de ser, obrigatoriamente, o centro, o fulcro, o cerne da doutrinação, dos exemplos e da vivência de cada cristão!

Não ouço referência aos milagres realizados por Jesus. Nem ao perdão que livra da morte, como ocorreu com a mulher flagrada em adultério que seria apedrejada em praça pública. Nem à cura de enfermidades que até a presente data são, muitas delas, simplesmente incuráveis. Também não vejo referência aos questionamentos que Jesus fazia quanto à sociedade e à conduta das pessoas de seu tempo, erros e vícios que quase todos nós continuamos a reproduzir em nossas condutas até hoje.

Não vejo a exaltação do papel social de Jesus, chamando a todos de irmãos em um tempo em que existia escravidão, em que uma pessoa podia ser literalmente dona de outra. Nem constato a exemplificação ou mesmo menção ao relevo, respeito e igualdade em que Jesus colocou as mulheres com relação aos homens, mesmo estando em uma sociedade extremamente machista e misógina, como a judaica de dois mil anos atrás, em que a mulher, na prática, sequer era reconhecida como cidadã.

Necessitamos, desesperadamente e cada vez mais, de Jesus e sua doutrina, de Jesus e sua essência. Para isso, temos de desapegar do Antigo Testamento, sem desmerecê-lo ou desprezá-lo, mas colocando as coisas em seu devido lugar. Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto. Sejamos, pois, cristãos com o Cristo, pois é Dele que o mundo de hoje precisa!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Sílabas nas camisas dos motociclistas formam pergunta: "casa comigo?"
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A Ponte Jorge Amado, em Ilhéus, foi o cenário escolhido por Márcio Minervino para pedir a mão da namorada, Maria Luiza Messias, em casamento. Ao invés de faixa ou cartaz, ele contou com a ajuda de amigos motociclistas para formar uma espécie de outdoor móvel, com a pergunta “casa comigo?”.

Márcio, Luiza e o momento do sim

Márcio e Luiza moram em Itabuna. Para levar a namorada a Ilhéus sem gerar desconfiança, ele inventou que iria vender a moto, mas queria fazer fotos de despedida. Sem desconfiar, Luiza embarcou na história.

O ponto de encontro foi o Centro Histórico de Ilhéus. Márcio combinou com os amigos para que os esperassem na região da Catedral São Sebastião e os seguissem pelo acesso à Ponte Jorge Amado. Os seis motociclistas ultrapassaram o casal e se puseram lado a lado, formando a pergunta com as sílabas (ca-sa-co-mi-go) e a interrogação estampadas nas camisas.

Márcio e Luiza com amigos diante da Baía do Pontal || Reprodução/Instagram

Luiza conta que demorou de entender o que estava escrito nas camisas. No primeiro momento, pensou que estava no meio de uma propaganda de crédito consignado, segundo disse ao G1. Convite aceito, o casal deixou a moto um pouco de lado e fez a foto clássica do pedido de casamento, com Márcio ajoelhado diante de companheira, dos amigos do motoclube e da Baía do Pontal.

A produção teve apoio fundamental de outros amigos de Márcio e Luiza, que, dentro de um carro, filmaram o movimento coordenado das motos. Assista ao vídeo publicado nas redes sociais.

O comandante Tedesco em sua cadeira de alumínio e titânio
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O que mais me chama a atenção é que esses generosos amigos sabem tudo a meu respeito, como o número do telefone (é claro, não a operadora), o endereço, o tal do CPF, carteira de identidade e até o banco por onde recebo minha parca aposentadoria. Pelo que me lembro, nunca repassei esse tipo de informação, nem mesmo numa boa farra. Mas, para nos ajudar, os verdadeiros amigos fazem de tudo.

Walmir Rosário

Já faz um bom tempo que venho matutando sobre a minha participação nas ditas redes sociais. Esse é um incômodo que vem me atormentando terrivelmente e, às vezes, me sinto devassado, a ponto de não saber mais se sou eu quem me domino ou os chamados amigos e seguidores. Volta e meia acredito que as pessoas sabem mais ao meu respeito do que eu mesmo.

De um certo tempo pra cá passei a ser mais seletivo ao atender ao telefone celular. Não sei como, todo o mundo sabe de cor e salteado o número do meu aparelho e tentam falar comigo. Não sou uma pessoa mal-educada, isso é fato, mas não tenho condições de atendê-los a qualquer hora do dia ou da noite. E o que é pior, atendo amigos que nem sei quem são e como os tornei do meu ciclo de amizades digitais.

Constrange-me viver a dizer não a essa legião de amigos, que entram em contato comigo com a finalidade de me servir. E bem, diga-se de passagem. Oferecem-me de tudo, desde dinheiro emprestado, cartões de crédito com recursos consideráveis liberados para que eu compre até o que não preciso. Sinto-me lisonjeado com a bondade de amigos que nem conheço e a confiança que em mim depositam.

Não raro me oferecem condições especiais para conhecer o mundo inteiro em moderno e maravilhosos transatlânticos, em viagens temáticas onde me sentiria um rei. Por vezes fico balançado em singrar os mares gozando do luxo disponível, mas nem sempre me sinto corajoso a ponto de me tornar um Pedro Álvares Cabral, um Américo Vespúcio, a descobrir terras desconhecidas. Minhas combalidas finanças não aguentam essas aventuras.

Bobagem, me dizem ao telefone. Você terá um prazo de parto de égua para pagar e em módicas prestações. Recebo uma aula das vantagens e do custo-benefício, das mordomias em terra e além-mar, do luxo das cabines, das quase 10 refeições diárias, da festa de gala com o comandante. E sem mais nem menos arrematam, basta apresentar seu cartão de crédito internacional que terá uma banda do mundo à disposição. Mas é aí que a porca torce o rabo.

Há algum tempo descobriram que sou uma pessoa religiosa e a partir de então minha caixa de Correios vive abarrotada. Recebo, regularmente, envelopes com terços, escapulários, fotos de santos, todas devidamente acompanhadas de um boleto com código de barras, onde descubro o preço dos mimos santificados a mim ofertados, desde que repasse uma contrapartida financeira.

O que mais me chama a atenção é que esses generosos amigos sabem tudo a meu respeito, como o número do telefone (é claro, não a operadora), o endereço, o tal do CPF, carteira de identidade e até o banco por onde recebo minha parca aposentadoria. Pelo que me lembro, nunca repassei esse tipo de informação, nem mesmo numa boa farra. Mas, para nos ajudar, os verdadeiros amigos fazem de tudo.

Num passado bem recente cheguei a receber – via e-mail – uma tentadora proposta de um corretor para adquirir uma linda e promissora fazenda no Mato Grosso, na qual poderia desfrutar de todos os prazeres da terra na casa mansão cercada de piscina, bares e churrasqueiras e áreas de esportes, enquanto administrava a propriedade. Aptidões não faltavam para plantar soja, algodão e criar milhares de bovinos. Esse, sim, realmente é um amigo que quer o meu bem.

De vez em quando me pego pensando não ser uma pessoa sociável, pois nada faço para retribuir a amizade e generosidade quem têm para comigo. Sou incapaz de convidá-los para um fim de semana em casa, um almoço ou até uma chegada num bar para desfrutarmos umas cervejas com um belo torresmo mineiro. Juro a mim mesmo que mudarei essa minha personalidade individualíssima.

Mas, confesso a vocês que nas redes sociais nem tudo são flores e já estou organizando uma lista para promover um corte na relação dos amigos de grupos de Whatsapp, que enchem nossa paciência e a memória do celular. Esses, sim, são mais individualistas que eu, pois chegam ao cúmulo de firmar uma série de obrigações e, além de não cumprirem, ainda exijam que eu faça por eles.

Todos os santos dias recebo mensagens e mais mensagens com cartões onde fazem promessas aos seus santos padroeiros e nos ameaçam caso não rezemos a quantidade de Pai Nosso e Ave Maria estipuladas. E é do tipo dá ou desce: se rezar sua conta no banco se encherá de dinheiro, mas, caso despreze as recomendações, todos os malefícios cairão sobre nossa descoberta cabeça. Fazem promessas e querem que eu pague. Porreta!

Prometo que deixarei as redes sociais e me aliarei ao capitão Miguel Fróes, ao comandante de longo curso Tedesco e ao artista plástico Eliomar Tesbita no estudo semanal das ilhas e barras canavieirenses. Singraremos da Barra Velha à Barra do Albino, com paradas para estudos e lazer, sem qualquer compromisso com redes sociais. Falta-me apenas adquirir uma cadeira reforçada como a de Tedesco, feita de alumínio e titânio, para instalar na lancha, um reforçado isopor para as cervejas e zarpar na próxima viagem.

Sem qualquer sinal de internet!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Quem vive como se tudo soubesse ou possuísse perde uma grande oportunidade de ser mais. De viver mais!

 

Manu Berbert 

Tenho resgatado uma das coisas que as responsabilidades do empreendedorismo me furtou, que é o prazer pela leitura e pela escrita. Devagarinho, porque não é todo dia que a gente acorda muito inspirado e talvez seja o excesso de informações (muitas desnecessárias) que as redes sociais nos trazem logo cedo, mas essa pauta eu vou deixar para outro texto…

Tenho seguido sem estabelecer dia, tema ou qualquer outra dinâmica para a escrita, mas, às vezes, já acordo com vontade de abrir o computador e soltar umas palavrinhas ao vento. Experiências, observações sobre o cotidiano e, por vezes, contos enriquecidos com a imaginação fértil desta escritora adormecida são as minhas prioridades. Hoje, por exemplo, abri o computador disposta. Na sequência, como que num chamado sobrenatural, apitou o meu whatsapp e fui dar uma olhadinha. Era um amigo, enviando uma foto de um caminhão de mudança à sua frente, desabafando: “Minha gente, olha como a gente não é nada: minha vida em um caminhão-baú! Depois o corpo vai em outra caixa! E a vida é assim, né?!” Fantástico! Vou escrever sobre isso!

O medo que as mudanças acarreta é altamente proporcional à imprevisibilidade da vida, e a gente nem se dá conta. Não sabemos se estaremos sequer vivos amanhã, mas vivemos como se tudo fosse eterno, apegados a coisas, pessoas e situações por vezes desesperadamente. Lembrei, automaticamente, da minha saída da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna. Foram oito longos anos no Marketing da instituição até me perceber não mais lá, embora estivesse presente todos os dias. Queria realizar eventos, ser livre para ousar em outras áreas, mas o medo do novo me impedia de avançar. O famoso medo da troca do “certo pelo duvidoso”, que a gente aprende bem pequenininho sem nem saber quem criou!

Um dia acordei cheia de coragem, sentei de frente para o então diretor, André Wermann, e pedi o meu desligamento. Ele pediu que retornasse à minha sala e encaminhasse o pedido via e-mail, com os demais em cópia. Assim o fiz, abri as minhas gavetas e, atônita, decidi não levar nada. Saí, cheguei em casa e chorei muito com uma sensação de “aquilo ali vai funcionar sem mim!”. Um vazio devastador que durou até o anoitecer. No outro dia, quando acordei, sorri do meu próprio sofrimento e segui. Alguns anos se passaram e até hoje tento lembrar quais foram os objetos pessoais que abandonei naquelas gavetas. Mas, claramente, nunca me fizeram falta!

A vida não permite ensaios e o destino não erra de endereço. Quando ele quer que algo aconteça na sua vida, ele vai te encontrar esteja você onde estiver. Porém, ele não entra em portas emocionais fechadas! As mudanças nos trazem novas oportunidades, experiências, pessoas e, claro, lembranças. Quem vive como se tudo soubesse ou possuísse perde uma grande oportunidade de ser mais. De viver mais! E escrevo esse texto para que eu mesma também me recorde disso tudo nos momentos de apego excessivo ao que de fato carece de ir. O que a vida quer da gente, sem sombra de dúvidas, é sempre coragem para seguir!

Manu Berbert é publicitária!
Réveillon na Praia da Costa, em Canavieiras || Foto Walmir Rosário/Arquivo
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Cá pra nós, não sei qual o defeito de minhas vestes, que além de não atrair o vil metal aos meus bolsos, ainda me deixam desprovidos dos valorosos reais, haja vista os altos preços cobrados nessas festas.

Walmir Rosário

Todo fim de ano me embaraço com o dilema da escolha da roupa que vestirei no Réveillon, seja num evento externo, que merece uma apresentação de razoável para cima, ou em casa, quando não chega a tanto, mas nem por isso tampouco. Pra começo de conversa, não sou daqueles que sabe a combinação ideal das peças de roupas, como os desenhos verticais e horizontais, as cores dissonantes, e por aí afora.

É sempre assim! Por mais que tente, não consigo me conscientizar suficientemente sobre a harmonia de cores e tons, muito menos as mais apropriadas para cada ocasião. É uma lástima! Mas nem me incomodo, embora não possa dizer o mesmo em relação ao que pensa a minha mulher, sempre a dar pitacos sobre o caimento e as disparidades. Não adianta, não consigo fazer essas aulas entrarem em minha cabeça.

Se hoje incorro, constantemente, nos mesmos erros, com um guarda-roupas pra lá de sóbrio, imaginem no século passado, a partir das décadas de 1960/70 e mais um pouco, com as roupas extravagantes que ditavam a moda. Ainda lembro das camisas estampadas, nas quais as cores fortes formavam desenhos de caracóis e outras figuras fractais, bastantes chamativas.

As calças bocas de sino do mais legítimo brim americano índigo, das marcas Levi’s, Lee, ou as nacionais, mais modestas, a exemplo da far-west da Alpargatas, Topeka ou Calhambeque. Sempre mudávamos o visual usando as calças coloridas, imitando os grandes artistas do Rock internacional ou da Jovem Guarda brasileira. Uma noitada ou uma domingueira nos clubes mereciam trajes escolhidos com esmero.

Com o tempo, os ditadores internacionais da moda entraram num clima de relax e nos fizeram mudar o guarda-roupa, com tons mais amenos, no máximo, tons sobre tons, o que perdura até hoje, guardadas as devidas proporções. Mas então volto a me complicar com as vestimentas para o dia e para a noite, os eventos sóbrios e os alegres, os complementos como os blêizeres.

Confesso que acho muito complicado se apresentar nesses eventos do dia a dia, quanto mais nos temáticos. E o pior de tudo é ser visto por um colunista social desafeto de redação ou de outros imbróglios corriqueiros. No dia seguinte estará estampada na página assinada pelo dito cujo, com as comparações maldosas sobre o meu modo brega de me vestir numa apresentação da sociedade. Ninguém merece!

Juro, pelo que há de mais sagrado neste mundo e além, que essa preocupação não é coisa de minha cabeça, pois garanto que existe há décadas e foi até cantada nos anos 50 do século passado em diante. Ainda lembro do grande cantor Miltinho, que interpretava sambas e boleros, muitos dos quais de Noel Rosa, entre eles, Com que roupa, de sucesso garantido em todo o Brasil.

Na voz estridente, porém afinada e modulada, Miltinho cantava e encantava. “…Pois esta vida não está sopa/ E eu pergunto: Com que roupa?/ Com que roupa que eu vou/ Pro samba que você me convidou?/ Com que roupa que eu vou/ Pro samba que você me convidou?”. E olhe que o excelente compositor Noel Rosa se vestia nos trinques: terno e gravata borboleta, isso para frequentar os cafés e cabarés cariocas.

Como se não bastasse, em 1967, o cantor e compositor Wilson Simonal, no seu álbum Alegria, Alegria, trouxe a canção Vesti azul, garantindo que se deu bem ao aceitar o conselho de um broto para que vestisse azul: “Dizendo que eu devia vestir azul/ Que azul é cor do céu e seu olhar também/ Então o seu pedido me incentivou/. Vesti Azul!/ (Popopopó!)/ Minha sorte então mudou/ (Popopopopó!).

Do meu singelo conhecimento, não posso garantir o que disse Simonal, mas o certo é que azul é a cor mais utilizada no mundo, mas nem por isso é a cor predileta das festas de Réveillon. Pelo que tenho visto, se vestir de branco pode trazer a paz por um ano inteiro, já os trajes nas cores dourada e amarela é batata! Garante muito dinheiro no bolso, além de paz de espírito no ano seguinte.

Cá pra nós, não sei qual o defeito de minhas vestes, que além de não atrair o vil metal aos meus bolsos, ainda me deixam desprovidos dos valorosos reais, haja vista os altos preços cobrados nessas festas. Daí que já decidi ficar em casa na passagem de 2022 para 2023, num evento bastante módico, com comes e bebes relativos ao meu baixo poder aquisitivo, mas com promessas de melhoras no ano vindouro.

Se tento economizar nas comidas e bebidas, minha mulher já decretou: “Com roupa usada, nem pensar!” e receitou minha passada numa boa loja para organizar meus trajes, dignos de um promissor Réveillon. Na lista, camisa, bermuda, meias e tênis novos, nas cores amarela, branca e azul, respectivamente. Pelo que li num site de modos e etiqueta de comportamento, não basta simplesmente seguir os manuais, mas, sobretudo, ter fé, confiança, pensar positivo.

No ano que vem informo se funcionou.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
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Então, vamos começar usando como fio condutor o congraçamento desse momento de encerramento do ano. Façamos isso a partir da nossa casa e família.

 

Rosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br

Estamos encerrando mais um ano. Celebrando o Natal e o Ano Novo. Dois mil e vinte e dois nos aproximou da vida novamente. Com a cobertura vacinal, aos poucos, fomos voltando à rotina, mas, inevitavelmente, temos que exercer protocolos e cuidados, porque temos entre nós a presença do vírus da covid e as suas mutações, além de outras ameaças em permanente circulação.

Todos esses fatores de risco estão ligados ao nosso estilo de vida.

O planeta, há muito, exige mudança no comportamento humano e as consequências estão largamente registradas: enchentes, secas, queimadas, deslizamentos de encostas, novos vírus etc. Todas essas consequências exigem imediata reflexão e urgem por melhores hábitos e consumo consciente.

E o que, então, devemos celebrar nesse período em que as nossas sensibilidades estão mais afloradas?

Respondo: a vida!

Termos sobrevivido à covid e às demais circunstâncias adversas é motivo para celebração e agradecimentos.

Quase sempre, na celeridade dos dias, a gente não tem a percepção do alcance dessa graça e do quão fomos protegidos. Escapamos da estatística da morte por covid e de outras fatalidades. Sobrevivemos ao descaso, às questões básicas de saúde coletiva e da ciência, de políticas públicas que ajudassem as famílias naquele momento de grande desilusão e incertezas.

Um período que levaremos tempo pra superamos, e que não deixará de permanecer vivo em nossas memórias. Um momento em que a sensibilidade, fraternidade, solidariedade e respeito à ciência eram artigos de luxo, e estavam fora da pauta de algumas autoridades com maior responsabilidade nesse nível de governança. Um tempo para ser absorvido pedagogicamente e que crie em nós consciência para jamais praticarmos novamente.

Que esse período sirva apenas de referência de como não devemos aceitar a naturalidade com que as milhares de vidas ceifadas por esse período de ignorância foram tratadas.

Vamos esperançar! Sabendo-se que a cada novo dia estamos vivendo um dia a menos, e justamente por isso devemos valorizar cada minuto sobrevivido e vivido, e termos a gratidão necessária e a devida noção da construção do por vir para a nossa longevidade e das futuras gerações.

No próximo ano, iniciaremos um novo ciclo de governança, e na esperança de que tenhamos a recuperação da unidade na sociedade brasileira. Que o sentimento de ódio seja retirado das prateleiras emocionais e que o amor seja celebrado sem medida. Esse esforço é pra já. Então, vamos começar usando como fio condutor o congraçamento desse momento de encerramento do ano. Façamos isso a partir da nossa casa e família. É por essas ações que podemos exercer a comunhão entre irmãos e fortalecer o valor de nação. Que a paz possa alcançar os nossos corações.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
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A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

 

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Hoje, compartilho com vocês a minha volta ao gramado, numa terça-feira à noite, num baba disputado. No meu pensamento, 12 anos depois de ter parado, estava de volta a uma rotina que imaginei ter cessado.

Parei de jogar aos 42 anos, um recorde se a CBF tivesse registrado. Bom, agora aos 54, os cabelos brancos já são logo notados, trazendo com eles um apelido colado, alguém diz, sonoramente: “olha o coroa do lado”.

A minha volta era resultado do clima da copa e do incentivo da turma do trabalho. Além dessas duas verdades, o desejo de pisar pra jogar numa das areninhas que viraram febre, fruto da parceria da gestão municipal com a gestão do estado. Todas essas coisinhas me passavam energia e me deixavam empolgado.

Pronto, a hora chegou e, com tudo novo, a reestreia enfim tinha chegado. Calma! Explico o tudo novo falado, antes que alguém questione querendo ser engraçado: os itens esportivos (materiais de trabalho) – chuteira, caneleira, meião, short, camisa, bola e gramado e o cinquentão aqui ainda conservado.

O jogo começou, a bola correu de canto a canto, e eu passeava por conhecer os atalhos. Usava da sabedoria e tocava de lado, deixando a turma mais nova correr até ficar cansada. Eles têm mais afinco, afinal, estou com 54 e logo mais 55.

Os lances aconteciam, o pensamento estava em dia, as jogadas saíam mesmo que o físico não atendesse plenamente o drible e o lance idealizados.

Terminei a primeira partida. Suado, meio extenuado. Por um momento pensei: por hoje, estou realizado.

Saí um pouco, 15 minutos depois já me achei recuperado, e pedi pra ser novamente escalado. O ‘Rosi’ fominha já estava atualizado.

Voltei, a essa altura achando tudo engraçado. Na sequência vos conto porque acabei engessado. Já antecipo o final antes que alguém se intrometa e mude a verdade dos fatos.

Pedi a bola, falei em tom de provocação: “joga em mim, não estou marcado!”. Olhei de relance e vi o marcador com a expressão de zangado. A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

Ainda tentei caminhar, mas só me restou deitar, de imediato gritar e me contorcer no chão, e escutar a zoação: caiu sozinho, tropeçou nas próprias pernas e outras contrariedades. Mas sempre tem a turma que presta solidariedade. Resumo do lance: amparado para fora do campo de jogo, o atleta foi transportado e o jogo continuado.

Saí dali com uma imaginação: era apenas um machucado. Ao chegar em casa, olhei e percebi que o pé, o tornozelo e a panturrilha estavam todos inchados. Esperei por uma semana para estar recuperado. Sem melhora e aconselhado, fui ao médico que, ao examinar o local, disse: “Tem jeito não. Rompimento de tendão, mas vamos fazer uma imagem pra compreender a extensão”.

Logo após o raio-X, manteve a impressão e pediu ultrassom para ter certeza da tomada de decisão. Procedimento feito e ele novamente, com especial atenção, disse: “você fará cirurgia de tendão, uns dias com limitação, depois, fisioterapia e estará na ativa pra contar a ocorrência de um atleta cinquentão”.

Aqui, encerro a narrativa do retorno do atleta bem-humorado, que com graça provocou o marcador e terminou engessado. Por fim, essa história teve dor, mas eu conto com humor porque sei que não vale a pena guardar nenhum rancor. Já com a página virada, assisti à Seleção, que também foi eliminada. Assim é a vida, e seguimos a nossa jornada.

Vou ficando por aqui. Até o próximo texto, a próxima copa e a próxima jogada. Um abraço, cambada.

Rosivaldo Pinheiro, atleta cinquentão, é economista e especialista em Planejamento de Cidades.

Antônio Fagundes e Wagner Moura em cena de "Deus é brasileiro"
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Hoje está tudo tão exposto, tão mecânico e “ostentação caça-likes” que perdeu parte do encanto.

 

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Se você acha que esse texto é sobre política, sinto muito te desapontar, mas ele não é. Ou talvez seja! Tá tudo tão intimamente conectado que, por vezes, a gente até duvida! Ou não! Mas o fato é que ontem à noite, Bruna Dantas, uma amiga virtual de longas datas, hoje gerente de Produção, Inovação e Conteúdo da LC Barreto Produções, postou uma foto com Antônio Fagundes, ambos rumo à última gravação do filme Deus Ainda é Brasileiro.

As gravações estão acontecendo aqui no Nordeste, em Alagoas, e eu já vinha acompanhando umas coisinhas através dos posts de Bruneca, como é carinhosamente chamada a amiga dos primórdios da internet. É corriqueira a frase que chegamos “por aqui” quando tudo era mato, e ajudamos a desbravar.

Lembro, com saudades, do tempo em que pontos, virgulas e muita imaginação faziam parte do cotidiano das blogguers (Bruna era uma delas), que narravam suas rotinas e aguçavam a imaginação dos leitores. Hoje está tudo tão exposto, tão mecânico e “ostentação caça-likes” que perdeu parte do encanto. E eu escrevo esse texto no lugar de fala de quem tem as redes como ambiente profissional e também como seguidora/telespectadora/leitora de alguns.

A imagem de Fagundes – que virou Fafá nas gravações do novo longa! Ahhh, o Nordeste! – caminhando e sorrindo, rumo ao set de gravação, mexeu comigo. O filme é uma espécie de continuação de Deus é Brasileiro, estrelado por ele e Wagner Moura há alguns anos. Foi um grande sucesso, como vinha sendo o cinema nacional e do nada, ploft, ladeira abaixo também. Não em qualidade, mas em quantidade, talvez. Em incentivo, em movimento, especialmente com a extinção do Ministério da Cultura. Com a reimplantação dele (e eu nem sei se é correto usar essa palavra para descrevê-lo), a cantora, atriz e ativista social Margareth Menezes assume. A minha vontade foi de sentar naquele barquinho famoso do filme, onde “Deus” (vivido por Antônio Fagundes) reflete sobre a vida, e perguntar: “Mas, e aí, Deus ainda é brasileiro?! A gente vai voltar a sorrir?!”.

Manuela Berbert é publicitária.

Julio Gomes recupera memórias afetivas nas vozes de Moraes, Gal e Erasmo
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“Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram”.

 

Julio Gomes

Primeiro foi Moraes Moreira. Senti o golpe ao saber que aquele que cantava Pombo Correio e que sacudia a praça, seja a Castro Alves, em Salvador, ou qualquer outra pelo Brasil afora, quando embalava Tem que dançar a dança / Balança o chão da praça, ao som de quem tanto dancei e pulei carnaval, havia partido repentinamente após um infarto. Doeu, deixou um sabor de nunca mais misturado com muitas saudades.

Há bem pouco tempo, outra perda significativa: aquela Gal que docemente cantava Baby, eu sei que é assim e que eletrizava dizendo que é preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte também se foi muito de repente, sem aviso prévio e sem adeus, fazendo ecoar por dias seguidos em minha mente as músicas que ouvia minha mãe colocar na vitrola no tempo em que eu ainda era criança.

Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram, pais e mães que, com seu amor e seus defeitos, nos formaram como seres humanos que somos.

Agora, ainda não refeitos da ida de Gal, recebemos a notícia da partida de Erasmo Carlos, sempre mais ousado do que seu parceiro Roberto Carlos, que fez mais sucesso e vendeu mais discos, mas não tinha o charme rebelde do Tremendão, apelido de Erasmo, que tão bem encarnava a Jovem Guarda e o espírito inovador e inquieto dos anos de 1960.

Perder pessoas que nos anos 60 tinham em torno de 20 anos e que, naquela época, mudaram o mundo com a força de sua juventude e rebeldia é, sem dúvida, um duro golpe para nós que crescemos escutando suas músicas, namorando apaixonadamente ao som de seus acordes, que dançamos os seus ritmos e que sonhávamos acordados com as letras das músicas que falavam de um mundo novo, ressignificado e em busca de paz e amor, como se as revoluções e o movimento Hippie nunca mais fossem acabar, como se a nossa juventude também pudesse ser eterna.

Erasmo, Gal e Moraes Moreira se juntaram àqueles da sua geração que partiram precocemente, como Gonzaguinha e Elis Regina, e nos deixaram com esse sentimento de estarmos órfãos, de perder as referências sentimentais e culturais que nos fizeram ser quem somos, pensar como pensamos, gostar do que gostamos.

Fica a vontade de ouvir novamente suas maravilhosas canções, originais como o mundo que desejavam criar, como os sonhos que ousaram viver.

Eles se foram, mas cumpriram sua missão: enfrentaram a caretice, a repressão sexual, as ditaduras, criticaram a Guerra do Vietnã e todas as outras guerras, ousaram se vestir de forma colorida e diferente, usar cabelos longos e desprezar a sociedade de consumo que trata o dinheiro e o mercado como se fossem deuses absolutos.

Acima de tudo, penso que a geração dos jovens nos anos 60 – a geração de meus pais – tentou aprender a amar e a viver ardentemente, errando e acertando, quebrando a cara e recomeçando, criando novos estilos musicais e novas formas de convivência entre as pessoas, acreditando que toda a forma de amor vale a pena.

Que todos nós possamos ser um pouco como eles, sobretudo em seus acertos, para sermos mais ousados, mais inovadores e amarmos ainda mais intensamente do que eles conseguiram amar.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz).

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E o Metaverso está chegando, Prepare-se para ele. Pode parecer até assustador, mas ele não será só um jogo ou um lugar, ele poderá ser a sua próxima vida. Ou não. Esperamos que seja opcional

 

Afonso Dantas

“O Metaverso vem aí”, “Empresa X acaba de entrar no Metaverso”, “O Metaverso tem futuro?”.

Já faz algum tempo que as notícias sobre o Metaverso pululam na mídia, principalmente na internet e, de modo um pouco confuso, nas redes sociais. Afinal, o que é Metaverso e qual seu impacto em nossas vidas?

Vamos lá!

Pra início de conversa, o Metaverso é ainda uma incógnita, um novo mundo, ainda em formação, do qual muitos falam, mas poucos ainda têm a real noção do que ele possa ser de fato.

Alguns o imaginam como um jogo, um local onde você vai passar um tempo, usando alguns equipamentos como um visor e fones, e logo voltará para vida real. Outros o imaginam como no filme Matrix, onde, ao você escolher a pílula vermelha ou a pílula azul, você escolherá entre esse mundo real e o mundo virtual.

Mas, afinal, quem tem razão?

A resposta pode ser surpreendente, pois todos podem ter razão e vou tentar explicar o porquê, pois eu admito que ainda tenho muitos questionamentos sobre esse novo mundo e com certeza esses questionamentos aumentarão com o tempo.

Pensemos na vida como ela é, hoje. Você acorda, olha pro espelho, vê quem você é, ou seja, um humano, e vai fazer suas coisas. Vai trabalhar, namorar, estudar, praticar esportes, fazer compras, passear, ler um livro ou ficar horas na frente de um computador ou teclando um celular. Você faz isso em um mundo real, mesmo na hora do computador e/ou celular.

No Metaverso, segundo alguns, a coisa já começa a mudar na forma em que você se vê – e que outros que estarão lá, o verão também. Você pode ser homem e lá ser uma mulher, ou um camelo, um coelho, um lagarto, um peixe, um dinossauro louro. Lá você pode ser o que você quiser. Pode ser, por exemplo, um elefante verde, que voa.

Mas não para por aí. Você vai fazer as coisas como você faz aqui, lá no Metaverso. Vai trabalhar – lá. Vai estudar, passear, namorar e fazer outras atividades, lá também.

Mas como? Vou colocar o visor e vou fazer essas coisas lá ao invés de fazê-las aqui? Mas a experiência será a mesma? As sensações serão as mesmas?

Aí é que a coisa começa a mudar de figura.

Com as novas tecnologias, o 5G, por exemplo, que é a internet das coisas, podemos imaginar que teremos a internet “das pessoas”. E já se fala no 6G.

E como será isso?

A primeira coisa que mudará será o fim da necessidade de se usar equipamentos para acessar o Metaverso. Nada de celular, nada de visor, nada de coisas que lembrem que você precisa “ter” alguma para acessar o Metaverso. Você terá equipamentos, mas serão implantes de chips ou nanotecnologia dentro do corpo (olhos, cérebro, músculo, pele etc.) que farão você “ser” um equipamento para acessar o Metaverso.

E aí, a evolução dos gráficos, que farão o ambiente do Metaverso parar de parecer um videogame para se parecer com a vida real com todas as suas experiências que virão do virtual para parecerem reais com seus cinco sentidos, visão, audição, olfato, tato e paladar.

Aí, se criará realmente um novo mundo.

Temos uma superfície terrestre com uma dimensão muito grande, mas pense que esse espaço poderá ser multiplicado no Metaverso, e teremos mais espaço para andar, viajar, construir e até morar. Já pensou em morar em Marte, Urano, no Sol ou no fundo do mar?

E já começaremos a ter existências plenas nesse novo mundo, e nossa consciência estará nesse espaço, tendo ou não a capacidade de distinguir se está na vida real ou no Metaverso que também acabará sendo uma vida real.

E aí já começam outras questões, muitas bastante polêmicas e delicadas.

Se a consciência poderá ser “transportada” de um ambiente real para um ambiente virtual, e a consciência de quem está morrendo?

Já se fala nisso, que, ao invés de morrer, faremos um upload de sua consciência para o Metaverso, e você, mesmo morrendo na vida real, viverá nesse novo mundo. (Já tem uma série na Netflix, UPLOAD, que é sobre isso, e existe outro, mais de aventura, juvenil, que é o “Jogador número 1”, que mostra uma alternância entre o mundo real e virtual. E ainda tem o badalado filme “AVATAR”, dentre muitos outros exemplos de filmes que exploram essas possibilidades futurísticas.).

Aí já teremos questões filosóficas, religiosas e até jurídicas, pois se a consciência está ativa e no Metaverso é preciso ter renda, a herança do corpo ficará com os herdeiros ou o “novo ser” o levará com ele? E se ele se casar nesse universo paralelo, valerá para a vida real?

E se a consciência se rebelar contra “o dono” e resolver eliminá-lo na vida real? Se ela “criar vida” independente por algum erro no sistema como um “bug” ou um vírus ou até interferência de hackers? E se a pessoa tiver algum tipo de esquizofrenia e esse ambiente for perfeito para abrigar essas novas personalidades? E se minha vida for melhor na vida virtual do que na real e eu resolver ficar “de vez”?

E pensando nas questões religiosas, a alma é uma coisa e a consciência é outra? A imortalidade será alcançada com a tecnologia? O corpo acabará e a consciência continuará?

A tecnologia – pensando no futuro, nas possibilidades que poderão existir – proporcionará que o corpo do mundo real receba alimentação, líquidos e que faça suas necessidades, sem que tenha que sair do Metaverso. Para isso existirão cabos, tubos, aparelhos etc. (Lembram de Matrix, do corpo com vários tubos conectados?). Será que isso é possível? Não sei. Mas será que isso é impossível? Tem muita coisa que era impossível até a tecnologia mostrar que não era.

Um vento (ou um carinho) que o avatar virtual receber no Metaverso será sentido pelo corpo real, físico. (Pra quem não sabe, avatar no caso do Metaverso é o seu “eu” virtual, quem você será no Metaverso).

Um tetraplégico na vida real poderá ser um triatleta no Metaverso, porque não?

E a economia? Os países ou reinos ou o que for existir no Metaverso? As configurações atuais, como União Europeia, ONU, OPEP, OTAN e outras organizações existirão dessa maneira? Quem os controlará? E as empresas como a META (antigo Facebook), Twitter e Google, terão poder de países? Poderão criar leis próprias? O “cancelamento” que existe hoje nas redes sociais, poderá ser feito no Metaverso, simplesmente deletando a pessoa virtual?

E vamos continuar? Se existe crime no mundo real, é claro que existirá no Metaverso também. E as guerras? As intolerâncias? Serão levadas junto?

Pedofilia, racismo, estelionato, tráfico de drogas virtuais (Sim, essas drogas poderão existir), sequestro de avatares, assassinato, chantagem e todo tipo de coisa ilegal que possa existir e as que ainda poderão ser criadas.

E se for criado um “deep Metaverso”, assim como já existe uma “deep web”, onde todo tipo de gente frequenta, às vezes com as piores das intenções?

Lembro aqui que no Metaverso há economia e que os recursos adquiridos em um universo, poderão ser usado para gastos no outro.

E com tudo isso, uma das perguntas que pode ser feita é: – E por que eu iria para esse tal Metaverso?

As motivações são diversas, desde fazer negócios (Isso já está acontecendo e em grande velocidade, se sua empresa ainda não está lá, pense que a concorrente poderá estar), buscar diversão (imagine ir ao Rock in Rio e assistir ao show como se estivesse na plateia, ou mesmo como se estivesse na banda?) e até nas possibilidades de ser lá o único ambiente onde você possa se sentir à vontade ou que possa realizar coisas que não conseguiria no mundo real. Quer ver um exemplo?

Adolescentes e adultos que já vivem isolados em casa (Seriam os novos náufragos?) e que se sentem à vontade nos ambientes virtuais, seja por causa da timidez, ou por não se enquadrarem no “mundo real” ou por se sentirem inseguros por causa das suas aparências em um mundo que faz pressão para que se siga os padrões estéticos. No Metaverso, como já escrevi, ele ou ela pode ser o que quiser, literalmente.

Pense nas já programadas viagens espaciais que levarão anos, onde os tripulantes fiquem em hibernação, que tal viverem esse tempo em universos virtuais onde estarão (conscientemente ou não) vivendo suas vidas normalmente.

Outro motivo que pode te levar ao Metaverso será o financeiro, onde uma empresa poderá ter preços e serviços diferenciados no Metaverso, como já ocorre hoje nas lojas virtuais que têm preços mais em conta dos que nas lojas físicas, mesmo sendo da mesma empresa. (E já pensou nas experiência que seriam possíveis, como um test-drive de um carro, uma moto ou de uma lancha com sensações reais?)

Então são vários motivos para estar no Metaverso, desde conhecer um novo mundo e suas possibilidades até de mudar a forma de se viver a vida, com várias possibilidades que acontecerão ou não, de acordo com o avanço da tecnologia. Mas que o futuro chegará e o novo sempre virá junto, disso não tenho dúvida. E o Metaverso está chegando, Prepare-se para ele. Pode parecer até assustador, mas ele não será só um jogo ou um lugar, ele poderá ser a sua próxima vida. Ou não. Esperamos que seja opcional.

Afonso Dantas é publicitário, administrador de empresas, especialista em marketing e em gestão cultural, sócio e diretor de criação da Camará Comunicação Total e sócio criativo da Lá ele! Camisas e coisas.

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A sociedade moderna passou, na maioria das vezes, a olhar o livro pela capa e a alimentar uma espécie de corrida, a de quem mais rápido opina.

 

Rosivaldo Pinheiro

Sempre que posso, pinta uma inspiração ou por pura inquietação, venho aqui dividir (com aqueles que gostam), um pouco do meus olhares, vivências e curiosidades. No último texto, falei sobre amenidades, trouxe à discussão o fato de não mais fazermos escolhas nos ambientes virtuais, especialmente nas redes sociais, dado o direcionamento que recebemos através do algoritmo.

Hoje, quero falar sobre outro comportamento, que vem sendo apresentado e facilmente observamos se massificar a cada novo dia: pessoas que só leem o enunciado das notícias, o cabeçalho, e, imediatamente, já passam adiante ou, instantaneamente, pautam uma discussão no Whatsapp ou travam um diálogo presencialmente sobre determinado assunto.

Essa celeridade aponta uma espécie de ansiedade e motiva exaustivos diálogos, com uma caraterística marcante: “muita informação e pouco conhecimento”. A sociedade moderna passou, na maioria das vezes, a olhar o livro pela capa e a alimentar uma espécie de corrida, a de quem mais rápido opina.

A marca desse tipo de comportamento é uma discussão desconexa e sem fundamentação ou conexão com o texto que serviu de base ao título. Por essa razão, percebemos que a maioria das conversas se perde da linha de diálogo e segue na direção de uma disputa de egos, não ajudando na formação e evolução do conhecimento. Torna-se um debate improdutivo.

Aqui não é uma crítica direcionada, mas um chamamento, a cada um de nós, para um agir permanente e não sermos tragados por esse comportamento, nos transformando em mais um nessa multidão. Vamos precisar de todo mundo nessa direção, a de refletir sobre o texto, seu contexto e fazer uma corrente oposta ao imediatismo. Esse é um tema que vem sendo estudado em todo o mundo. A gente precisa superar, em plena era moderna, os novos “Mitos da Caverna”. Não sermos rasos, nem chatos, nem permanentemente profundos, apenas fazermos uma troca: imediatismo por algo mais fecundo.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

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Um viva à vida. Que deixemos que as amenidades nos invadam e nos ajudem a viver com maior humanidade.

 

Rosivaldo Pinheiro

Hoje, resolvi escrever sobre amenidades, às vezes, tão necessárias para a convivência com a intensidade que a vida moderna se impõe.

Estamos numa era em que as informações nos atropelam Sim! No mundo do algoritmo, somos literalmente induzidos e conduzidos. Não selecionamos mais o que queremos nas redes sociais. As notícias, por exemplo, chegam a partir dos nossos movimentos e comportamentos captados a cada vez que visitamos o ambiente virtual.

Por isso, precisamos fazer filtros permanentes e até desligarmo-nos um pouco desse mundo em ebulição para ouvirmos a voz que ecoa do silêncio das nossas consciências. Deixar, como diz a música de Jota Quest, “ouvir a voz do próprio coração”.

Nesse mundo de hostilidades e nessa nação de culto à barbárie, faz-se necessária uma permanente vigília para não repetir atos e produzir fatos que estabeleçam vínculos com tiranos corações.

A nossa nação precisa de justiça social e um sistema jurídico eficiente. A gente precisa se sentir gente, urgentemente!

Os lares precisam de pais, a consequência será um país de paz. Cada ser precisa de Deus, independentemente de religião. Busquemos, portanto, os nossos encontros, fortalecendo os pontos para construirmos uma nação, onde possamos ser indivíduos com paz no coração.

Um viva à vida. Que deixemos que as amenidades nos invadam e nos ajudem a viver com maior humanidade.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

Câmera flagra personal espancando mendigo que transou com missionária
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A esposa de um personal trainer que foi flagrada traindo-o com um morador de rua em Planatina, no Distrito Federal, afirmou a polícia que a relação foi consensual. Em áudios, a esposa disse que viu as “imagens do marido e de Deus” no rosto do homem e por isso fez sexo.

O marido de 31 anos flagrou-a tendo relações sexuais com o homem dentro do carro. Após o flagrante, o rapaz agrediu o desconhecido.

A mulher falou ao G1 que foi abordada pelo sem-teto, que pedia dinheiro. Como ela não tinha, ele pediu para ver a bíblia que a moça havia ganhado do marido.

Logo depois, o ‘mendigo’ pediu um abraço e os dois entraram no carro e trocaram caricias. Após isso, os dois se encontraram em um local combinado e tiveram práticas sexuais. Do Correio24h e TV Globo.