Rádio, por anos a magia da comunicação
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Com a chegada da internet, mais uma vez o rádio foi jurado de morte. E o povo do rádio nem deu a mínima. Mais que depressa, tomou para si as facilidades dessa nova tecnologia e ampliou seu espectro social com as ferramentas da rede.

 

Walmir Rosário

Desde que fui iniciado no rádio me acostumei a ouvir a derrocada desse meio de comunicação instantâneo, antes calcado no tripé: música, esporte e notícia. Com a chegada da TV, sua morte foi decretada solenemente, mas o rádio se recusou a morrer de morte matada. Fosse hoje, diríamos que a notícia circulante se tratava apenas de uma fake news e não deveria ser levada a sério, como não deve até hoje.

De lá pra cá, essas mentirinhas continuaram a ser ditas assim que anunciada uma nova tecnologia. E o rádio, sorrateiramente, continuou firme e forte, ampliando sua área de atuação e o tripé de sustentação de antes passou a implantar novos “pés”, e se encontra mais sólido que nunca. Por um tempo esteve segmentada, principalmente com a aquisição de emissoras pelas igrejas de várias denominações.

Quem manteve a segmentação pura e simples deu com os burros n’água e foi obrigado a promover uma profunda mudança. Os segmentos católicos e protestantes não eram capazes de manter uma estrutura vibrante sem os comunicadores; apenas locutores de programas religiosos não bastavam. Daí que hoje algumas delas promovem debates ecumênicos com representantes de várias religiões, espíritas, ateus e que mais valham.

Fora desses horários, os comunicadores disputam a audiência com muita inteligência, buscando a cumplicidade dos ouvintes. E a MPB, o samba, o romantismo, o rock estão presentes em suas programações na mesma intensidade dos programas de autoajuda, de apoio às donas de casa, do apoio providencial aos motoristas nas grande cidades, ao homem do campo pelas manhãs, e aos notívagos, madrugadores, boêmios ou no batente.

Eu entrei no rádio por acaso, ao participar da equipe do seminário nos programas religiosos transmitidos pela Rádio Sociedade de Feira de Santana, lá pelos idos de 1963. Algum tempo depois – 1965 –, em Itabuna, o empresário Carlito Barreto compra a Rádio Clube e doa aos frades capuchinhos. E quem vem dirigir a emissora é justamente Frei Hermenegildo de Castorano, ex-diretor da emissora coirmã em Feira de Santana.

E mais uma vez lá vai eu em direção ao rádio, inicialmente na programação religiosa, depois em outras atividades como a mesa de som, técnica em transmissão externa, locução, e por aí afora. Por um tempo me dediquei à atividade e outros tantos fora dela. Volta e meia retornava, na redação, reportagem, apresentação, e convivi com várias “feras” da comunicação e em diversos horários, inclusive nas madrugadas.

No programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora, produzido e apresentado pela Ceplac, estive no comando por anos e presenciei o que era a verdadeira interação com os ouvintes da cidade e, principalmente da área rural. Em determinados momentos chegamos a receber uma montanha de cartas, mais de 600 delas entregues nos diversos escritórios da Ceplac na cidades irradiadas. Muitas quais escritas por pessoas de pouca ou quase nenhuma alfabetização.

Só quem trabalhou na reportagem sabe a dificuldade de passar um flash ao vivo da rua quando ainda não existia entre nós o aparelho de telefonia celular. Era preciso disputar uma fila num orelhão e introduzir diversas fichas metálicas para que a ligação não caísse, fosse cortada, enquanto passava a informação. Do contrário, bastava ter a cara de pau de pedir para usar o telefone fixo em uma casa comercial ou residencial.

Sem esses auxílios providenciais, só após chegar à emissora algum tempo depois com a fita gravada. Para isso teria que contar com a sorte e não tomar o furo de outra emissora. De vez em quando um ouvinte ligava passando a informação e torcíamos que não fosse um trote. Não posso falar em gravar uma entrevista sem comentar o tamanho e o peso dos jurássicos gravadores e suas fitas cassetes que cismavam não gravar em momentos importantes.

Outra atividade radiofônica que sempre gostei de trabalhar era o horário gratuito nas campanhas eleitorais. Somente quem milita nesse segmento sabe da importância do rádio numa eleição. Numa oportunidade, fui convidado a coordenar a campanha de rádio de um candidato em Itabuna. E a missão que recebi do coordenador geral de comunicação da campanha, jornalista Sérgio Gomes, foi a de produzir um programa totalmente independente da veiculada na televisão.

Contratamos um excelente comunicador, Paulo Vicente, na edição de áudio, Luiz Barroso (meu operador por anos), eu na direção, redação e locução de editoriais, e contamos com a participação de uma dupla pra lá de especial: os radialistas Paulo Leonardo e Florentina Jerimum, estes na apresentação de humor. Nesta editoria eu escrevia apenas um roteiro e os dois se encarregavam de finalizá-lo na gravação, sem qualquer texto prévio.

Resultado, todos os dias eu era surpreendido nos bares, esquinas e demais locais públicos com as discussões dos quadros do programa e muitas das expressões viraram memes e bordões no boca a boca dos ouvintes e eleitores. Desta vez, o programa de rádio influenciou o programa de TV, que passou a abordar os temas apresentados no programa radiofônico do candidato, vencedor da eleição (não apenas e tão somente por isso).

Com a chegada da internet, mais uma vez o rádio foi jurado de morte. E o povo do rádio nem deu a mínima. Mais que depressa, tomou para si as facilidades dessa nova tecnologia e ampliou seu espectro social com as ferramentas da rede mundial de computadores. Na minha humilde concepção, com a internet, o rádio perdeu apenas seu glamour ao expor seus apresentadores nos canais das redes sociais, ganhando em intimidade.

O rádio continuará firme e forte, desde que não queiram inventar a roda quadrada.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.