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A IGNORÂNCIA “MADURA” É ESPANTOSA
GENTES SANEADAS E ÍNDIOS SIFILIZADOS
A REPETIÇÃO E SEUS EFEITOS DELETÉRIOS
TODOS PODEM ERRAR, MENOS A ESCOLA
REPOSITÓRIO SAGRADO DO CONHECIMENTO
UM CANTAR PRECOCE, AFINADO E VASTO
Deixo uma reserva surda de dicionário,
Um relicário de enigmas silenciados,
Uma patente do meu novo invento:
Um ovo de amor bem-sucedido.
E algumas orações pra causas sem remédio.
Deixo a aliança sem sentido, de prata, com ferrugem, com asma,
Com disritmia, febre, apatia de fibra, tecelagem de aço morto,
Tédio das promessas passadas, e o meu desgosto de fracasso. Deixo um litro de leite na porta da geladeira, Pra ser fervido amanhã. Um bule preto, um ferro a carvão que meu pai pintou de verde. Uns versos brancos, outros vermelhos, Outros com o azul, que é teu. Outros, ainda, cor de sol: tudo num envelope aéreo (…).
DE GOETHE A MARIA CLARA MACHADO
HÉLIO QUASE DECOROU GRACILIANO RAMOS
JORGE AMADO, AMANTE DE SÔNIA BRAGA
LOBATO ERA BEBEDOR DE BIOTÔNICO
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A POESIA MARGINAL DO NORDESTE
Tenho a poesia popular (que a mídia trata como cordel ou literatura de cordel – sendo chamado de cordelista quem a pratica) como uma manifestação fundamental da cultura nordestina. Minha implicância com cordel (que, felizmente, não e só minha) é que o termo – significando corda, barbante ou coisa parecida – é estranho ao linguajar brasileiro. Além de carregar um quê de preconceituoso, como se quem se dedica a esse gênero de poesia não fosse, a rigor, poeta. Ou poeta marginal, com seus livros (a mídia chama livretos) pendurados em cordões (seriam os tais cordéis, estranhos à nossa fala), nas feiras e praças públicas.
PARA SOUTO MAIOR, POESIA POPULAR
CANTO EUROPEU ACLIMATADO
Trazemos a presença de dois ases dessa manifestação cultural nordestina, com suas violas: João Paraibano e Sebastião Dias. O primeiro, obviamente, é da Paraíba (nascido João Pereira da Luz, em Princesa Isabel); o segundo é de Ouro Branco, região do Seridó, no Rio Grande do Norte. Os dois falam da poesia e sua relação com Deus – mas dá para perceber que eles não se referem a Florbela Espanca (foto), Camões, Cecília Meireles ou Fernando Pessoa, mas àquele canto europeu que tão bem se aclimatou no sertão nordestino – ou seja: a poesia popular em versos, improvisada ao sabor da hora. Clique e entre no clima do repente. __________________________________________________________________________________ (O.C.)