Carlos Barbosa é dos mais experientes repórteres de polícia de Itabuna. Já trabalhou nas redações dos principais jornais do sul da Bahia cobrindo esta área e hoje aparece na TV Cabrália.
Apesar dos anos de estrada, “Espigão”, porém, diz ter ficado surpreso ontem com uma cena. Ao chegar ao local onde foram encontrados os corpos do casal Leonard Primitivo e Heide Bonfim, na Volta da Cobra, deparou-se com um empresário bem-sucedido de Itabuna.
O comerciante estava ali, naquele lugar ermo, apavorante, para consumir pedras de crack. O espanto foi duplo. De Barbosa e, claro, do usuário de drogas. Ele reconheceu o repórter e confidenciou ser mesmo dependente químico. E usava o seu vício ali, longe dos olhos da família. Livrou-se de um flagrante porque já havia consumido tudo quando a polícia chegou.
Em tempo: a polícia voltou ao local das mortes de Heide e Leonard, mas, novamente, não encontrou a arma do crime. O revólver é considerado essencial para esclarecer o que ocorreu na tarde de quinta-feira, 17, quando os corpos do casal foram encontrados naquele ponto de desova, na Volta da Cobra, a menos de um quilômetro do Hospital de Base de Itabuna.
A epidemia do crack fez mais uma vítima em Itabuna. Tiago Dantas dos Santos tinha apenas 16 anos anos, mas um longo histórico como usuário da droga, além de já ter passagens pela polícia.
Normalmente, quem fuma crack passa a roubar para sustentar o vício. Torna-se bandido e precisa fugir tanto da polícia como dos traficantes com os quais acumula dívidas. Um dia, quase sempre, acaba tendo uma morte cruel.
Foi o caso de Tiago, assassinado ontem à noite, no bairro Santa Inês. Com vários tiros, todos nas costas.
O Brasil vai investir R$ 410 milhões até o final deste ano no combate ao crack. Os recursos estão previstos no Plano Integrado para Enfrentamento do Crack, lançado recentemente pelo presidente Lula. O dinheiro será investido em treinamento de profissionais de saúde e assistência social para acompanharem usuários e famílias. É o advento de um luta longa, contra uma droga nova, devastadora, que por ser barata alcança muitos usuários e que o governo precisará do apoio de estados, municípios e da sociedade para enfrentar o problema.
É um ledo engano pensar, contudo, que a idéia surgiu de dentro do gabinete do presidente. Apesar da hipersensibilidade do companheiro Lula, coube a igreja católica, ao longo dos anos, o papel de conduzir a opinião pública até o cerne desta problemática: a família. Ao convocar, todos os anos, a sociedade a refletir através das Campanhas da Fraternidade, a igreja católica assumiu o seu papel pastoril, soerguendo a instituição familiar a sua condição suprema, de núcleo da sociedade.
Quem também defende esta tese é o governador Jaques Wagner. Enfadonho e repetitivo para alguns, o chefe do executivo baiano convoca, rotineiramente, independente do muxoxo deste ou daquele, como se fosse um rabino, pastor ou padre, principalmente no interior do estado, os pais e as mães desta Bahia afora a acompanharem o dia a dia dos seus filhos.
Assim como a igreja católica, Lula e Wagner assumem o papel dos verdadeiros líderes, dando o exemplo de cima, compartilhando responsabilidades, sem fáceis promessas, nem tão pouco palavras ao vento. Fazem isso porque sabem que é uma discussão que extrapola as capilaridades dos governos, adentrando necessariamente no bojo das famílias brasileiras. É uma luta de todos.
Por outro lado, o governo não deixa de cumprir o seu papel. Planejamos uma ação dividida em áreas como saúde, segurança e assistência social aos ex-consumidores de crack, além de uma campanha nacional de prevenção e conscientização sobre o risco da droga. Já estão sendo instalados 11 postos de fronteira que ajudarão no combate ao tráfico de crack no país.
Arregaçar as mangas significa reavivar as conversas familiares, dispondo de mais tempo para os entes.
Na área da saúde, até o final deste ano, será dobrado o número de leitos para receber dependentes químicos. Hoje são 2,5 mil leitos que devem ser ampliados para 5 mil. Iremos ampliar os Consultórios de Rua, postos que levam equipes de saúde – assistentes sociais, auxiliares de enfermagem e profissionais de saúde mental – até os locais onde os usuários de drogas se reúnem. Vamos desarticular as cracolândias.
Para o êxito dessas tarefas é preciso unificar a sociedade. Mas, especialmente, rediscutir de maneira sistemática o papel da família e da religião para combater o crack. Neste sentido, arregaçar as mangas significa reavivar as conversas familiares, dispondo de mais tempo para os entes. Tornar os templos religiosos em locais propícios para conversar, sem discriminações, sem amarras, abertos para o diálogo com as pessoas e os seus problemas.
Infelizmente, vão surgir neste período eleitoral candidatos com soluções mágicas, munidos por varas de condão encontradas numa esquina qualquer chamada “oportunismo”. Mas, como diria Santo Agostinho, “o orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios”. E sabemos que não será com o orgulho que iremos vencer a luta contra o crack no Brasil.
Yulo Oiticica é deputado estadual (PT) e presidente das frentes parlamentares da Juventude e da Assistência Social na Assembléia Legislativa da Bahia.
Um jovem de 17 anos morto na porta da escola. Quatro tiros. Não era necessariamente um estudante, mas alguém que estava ali disputando espaço para venda de drogas. Morreu na guerra do tráfico, do crack, que tantas vítimas invisíveis têm feito em Itabuna.
Ouço o rádio no dia seguinte ao crime. Reflexões sobre a violência crescente, a juventude que se perde, a epidemia do crack. Um taxista é entrevistado e defende a ditadura, pena de morte. Fala-se da violência como se ela fosse um fantasma, como se as causas não estivessem ligadas diretamente ao modo de vida da própria sociedade, como se fosse uma elocubração de algum inferno longínquo e não do inferno em que muitos têm transformado as próprias vidas, as próprias casas…
Pais imaturos, inseguros, incompetentes para a responsabilidade de colocar um ser humano no mundo e prepará-lo para o mundo. Pais que não ensinam valores, não orientam, não dão exemplo e não percebem a lenta e progressiva deformação do caráter dos filhos, consequência direta de uma criação absurda.
O crime e o crack não são fantasmas nem surgem do nada. São produtos diretos do que nossa sociedade tem feito ou deixado de fazer. De uma sociedade que idolatra o consumo, o imediato, a futilidade e não pensa no que virá depois. Culpa-se a falta de emprego e oportunidades, mas não é isso. É na família corrompida e deformada que está a raiz de todo o mal.
O crescimento da violência no meio escolar obrigou a Secretaria de Educação de Itabuna a recorrer a uma medida extrema: vai instalar sistema de videomonitoramento nas unidades de ensino, para coibir os desvios de comportamento dos alunos. O motivo assusta e se dá até mesmo em cidades pequenas, no entorno de Itabuna.
Professora de uma escola pública de São José da Vitória afirma que 80% de seus alunos, numa turma de 6ª série, fazem uso de crack. Outro professor, de um colégio itabunense, diz que não reúne seus alunos em grupo para a realização de trabalhos escolares. Teme uma possível formação de quadrilha.
A polícia militar apreendeu, ontem, por volta do meio-dia e meia, no colégio Imeam, o menor K. F., residente no Monte Cristo. Ele portava 15 pedras de crack, as quais iria vender a alunos daquela escola municipal.
Segundo contou à polícia, a responsável pela droga seria uma menina, aluna do Imeam, identificada por G. P. de J., moradora do Fátima. Junto com K. F., foi conduzida a diretora Lídia Bonfim, que acompanhou o menor.
A pequena chefe, G. P., de acordo com o menor apreendido, teria lhe passado a droga camuflada no interior de uma embalagem plástica de tintol.
O Imeam é a mesma escola de onde sete menores foram levados ao Complexo Policial de Itabuna, após agressão verbal e ameaças a uma professora de matemática.
Trecho de entrevista com o atacante Jobson (ex-Botafogo), concedida ao site Lance!Net:
LNET! Você usou crack mesmo?
(Jobson para de falar por alguns segundos, mas faz sinal de positivo com a cabeça). Crack é f… Eu consegui sair. Quando não tinha dinheiro cheguei a vender meu celular. Ele (o crack) faz você fazer coisas que jamais faria.
LNET! Mas como você conseguia jogar depois de consumir droga?
Não usava drogas todos os dias. Era quando ia em festinhas. Eu dava uns tapinhas. Lá no Rio era a mesma coisa. Essa droga acaba com seus neurônios. Você fica louco, com medo das pessoas. Hoje, vejo que isso não combina comigo.
LNET! Viu então que era o momento para dar uma virada na vida e na carreira?
Eu não queria aquilo para mim, de ser chamado de drogado e cachaceiro. Cheguei ao Botafogo desacreditado e consegui ir bem. De repente, consegui dar a volta por cima e caí em outra coisa pior.
Conhecidos no submundo do crime pelo atuação no tráfico de drogas, Shirley dos Santos Jácome e Marcos dos Santos Jácome contavam com a sorte e uma boa rede de “colaboradores” para sempre escapar das batidas policiais na 2ª Travessa Senhor do Bonfim, no Fátima, em Itabuna. Mas o esquema caiu, ontem, numa ação da PM.
Na residência dos traficantes, usada como ‘boca de fumo’, segundo a polícia, foram encontradas 12 pedras de crack, devidamente embaladas para o ávido mercado, além de pedra de 92 gramas da droga, sacos plásticos para acondicionar a “mercadoria” e balança.
A polícia militar apreendeu cerca de 450 pedras de crack numa operação na rua São Leopoldo, 884, na Califórnia, em Itabuna. Quatro pessoas foram presas no ponto de venda de drogas. A apreensão das pedras de crack e material para refino ocorreu por volta das 22h.
De acordo com o comando do 15º Batalhão da PM, a maior apreensão de entorpecentes deste ano foi possível devido às investigações do serviço de inteligência. A polícia prendeu Roberto Cardoso, Josemar Ribeiro, Paulo Sérgio Santos e o menor A.F.S. Josemar estava em liberdade há dois anos e cursa Educação Física na Unime. Com informações do Xilindroweb.