Atayne comemora os resultados obtidos com o modelo de crédito rural || Foto Patrícia Cançado/Divulgação
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Lívia Cabral

Os resultados positivos colhidos após o primeiro ano de implantação do CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) Sustentável no Sul da Bahia vêm chamando a atenção da mídia em todo o país. Veículos de abrangência nacional como o programa Globo Rural, da TV Globo, os jornal Estadão e Valor Econômico, a revista Globo Rural On-line e o site especializado Capital Reset destacaram o incremento de quase 40% na renda dos pequenos agricultores que já acessaram o crédito, além da taxa de inadimplência próxima a zero e incentivo a práticas sustentáveis na cadeia do cacau.

Modelo inédito no Brasil, o CRA Sustentável combina capital de mercado com filantropia e foi concebido em parceria pela ONG Tabôa, os institutos Arapyaú e humanize e o Grupo Gaia. Em sua primeira rodada, o CRA beneficiou 184 famílias – 578 pessoas – que trabalham com cacau associado a outros cultivos em sistema agroflorestal no Sul da Bahia, como a agricultora Atayne Santos, de 21 anos.

Nos quatro hectares no Assentamento Dois Riachões, município de Ibirapitanga, Atayne investiu o valor obtido através do CRA na produção de cacau, hortaliças, banana da terra e da prata, mandioca, cravo e na criação de galinhas. Ao todo, sua produção gerou 240% de aumento de renda no último ano. “A diversidade do que produzo no campo primeiro abastece a mesa da minha família, garantindo alimentação de qualidade”, explica a jovem. O excedente é comercializado e, assim, as produções de ciclo curto geram renda durante todo o ano, enquanto o cacau não fica pronto para venda.

Modelo de crédito foi destaque na edição do Estadão desta quinta-feira (15) || Reprodução

CRÉDITO E FORMAÇÃO

Boa parte dos que acessaram os recursos nunca havia tomado crédito antes. “O CRA não foi feito para substituir as políticas públicas de financiamento rural, mas, sim como uma demonstração de que é possível criar processos mais inclusivos e simplificados de acesso ao crédito e ao mesmo tempo garantir baixa inadimplência”, afirma Roberto Vilela, diretor-executivo da Tabôa, que oferece crédito e formação a pequenos empreendedores e agricultores, fortalecimento de organizações de base comunitária e apoio a projetos socioambientais.

O objetivo da criação do CRA Sustentável é justamente melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares por meio do aumento de renda e do incentivo à adoção de métodos de agricultura de baixo impacto ambiental, a exemplo das práticas agroecológicas. Para isso, a Tabôa oferece, junto com o crédito, assistência técnica especializada (1 técnico para cada 60 agricultores), que permite o acompanhamento próximo para o uso correto dos recursos.

Para acessar o crédito, os produtores se comprometeram a não ter trabalho infantil e a preservar áreas de proteção permanente, como beira de rios e córregos, encostas e nascentes. Todos os agricultores produzem o cacau no sistema cabruca, em que o fruto é cultivado à sombra das árvores, mantendo a Mata Atlântica em pé.

CABRUCA E CARBONO

Estudo recente, resultado de uma parceria entre Arapyaú, Dengo Chocolates, World Resources Institute (WRI) e Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), mostrou que a cabruca é capaz de estocar, em média, 66 toneladas de carbono por hectare. Além do estoque de carbono, as cabrucas contribuem para a manutenção da biodiversidade e a oferta de água.

Os excelentes resultados da primeira etapa do CRA Sustentável confirmam que a combinação de crédito e assistência técnica pode transformar a realidade da agricultura familiar, resultando em mais prosperidade e bem-estar com manutenção dos recursos naturais. “Esse resultado surpreendeu o mercado financeiro, demonstrando condições de atingir escala”, diz Roberto Vilela.

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O Banco do Brasil decidiu reabilitar 40 mil produtores até agora impedidos de contratar novos empréstimos de crédito rural em razão de haver renegociado dívidas antigas em programas de investimento.
Ao anunciar a destinação de R$ 45,7 bilhões ao setor na nova safra (2011/2012), o vice-presidente de Agronegócios do BB, Osmar Dias, informou ontem que a medida não seguiu nenhuma resolução oficial ou orientação do governo, mas foi uma decisão interna do banco. “Esses 40 mil não podiam contratar por ter renegociado investimentos. Tiramos esse impedimento e isso é uma forma de desburocratização”, afirmou.
A barreira foi imposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) à época da última grande repactuação dos débitos. Mas os pagamentos antecipados de boa parte dessas dívidas, cujo volume aumentou de forma significativa nos últimos meses, deu segurança ao BB para ousar.
A decisão do banco cria um “potencial” de R$ 3 bilhões de negócios com esse grupo de produtores, informou o diretor de Agronegócios do BB, Ives Fülber. “Antes de decidir isso, fizemos avaliações das condições financeiras de cada um. Isso não implica em riscos. Haverá garantia real e limites de crédito em cada operação dessa”, afirmou. Informações do Valor Econômico.