Neste recorte de foto do memorialista José Nazal, o Obelisco de Dois de Julho disputa atenção com a nova ponte de Ilhéus
Tempo de leitura: 2 minutos

Alheio à história, o mato cresce aos pés do obelisco, e o monumento fálico, com sua indiferença de pedra, ignora tudo ao redor.

Thiago Dias

Foi no seu primeiro governo (1924-1927) que o intendente Mário Pessoa construiu o Obelisco Dois de Julho. Erguido diante do mar, quando o porto de Ilhéus ainda era na foz do rio Cachoeira, o monumento homenageia a luta pela independência do Brasil no território baiano, cujo marco histórico é o dia 2 de julho de 1823. Dois sítios históricos próximos, os morros de Pernambuco e do Outeiro, de onde canhões miravam a boca da barra, reforçam no obelisco o sentido de homenagem a uma conquista bélica.

Quase cem anos nos separam da época da sua construção. A paisagem em volta mudou muito. Encravado num mirante, cujas fundações ainda eram açoitadas por ondas fortes no início do século 20, o obelisco, por não ter olhos, não viu a areia se acumulando à sua frente, de forma incessante, após a construção do Porto do Malhado, concluída em 1971.

Também não viu o surgimento da nova ponte. Faz um ano que os carros cruzam as pistas ali perto, mas o monumento não sabe – talvez por causa do limo dos anos encobrindo os olhos que ele não tem.

O limo, no entanto, foi notado em artigo da professora Janille da Costa Pinto, publicado em 2020 na Revista Estudos, do Instituto Anísio Teixeira (IAT), sob o título A Princesinha do Sul da Bahia: Ilhéus e sua relação com o 02 de Julho.

Uma das conclusões da autora, mestre em Educação, é a de que a participação de Ilhéus na luta pela independência do país deve ser divulgada ao mundo, inclusive nas escolas da cidade, fazendo valer a Lei Orgânica do Município, que determina a inclusão da história local no nosso currículo escolar. A conclusão parte da premissa de que conhecer os episódios históricos e símbolos da cidade é um meio de aprofundamento dos vínculos das pessoas com seu território, algo evidenciado em cada ato político do povo tupinambá, por exemplo, que faz da luta pela demarcação da terra seu Dois de Julho diário.

Por fim, destaco uma das questões apresentadas no artigo de Janille, objeto de informações controversas, que trata do envio de homens recrutados nas roças ilheenses para a luta da independência em Cachoeira, fato sobre o qual não se tem registro no Arquivo Público do Estado, conforme atesta João da Silva Campos no livro Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Eis um bom tema a ser investigado para um novo capítulo sobre a contribuição ilheense para a libertação do país.

Enquanto isso, alheio à história, o mato cresce aos pés do obelisco, e o monumento fálico, com sua indiferença de pedra, ignora tudo ao redor.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.

Tempo de leitura: 2 minutos

ricardo artigosRicardo Ribeiro | [email protected]

 

No momento histórico vivido pelo Brasil, os do poder estão assustados, dão respostas atabalhoadas, veem as reações equivocadas se traduzir em queda na aprovação popular, pois são os que mais têm a perder. Os que estão fora do poder gralham e gargalham, torcendo pelo pior cenário. São os que mais têm a ganhar.

 

Amanhã é 2 de Julho, data máxima do espírito cívico baiano, símbolo de luta e resistência de um povo que, apesar de injusta fama de passivo, teve que brigar para livrar-se das garras do colonizador. Um povo que também está nas ruas hoje, exigindo seus direitos, cobrando mais da política, exercendo plenamente sua cidadania.

O povo baiano, assim como o do restante do país, estabeleceu que a rua passa a ser definitivamente o seu espaço de manifestação. Um grito difuso que a casa grande ainda não entendeu, por não ser de sua praxe dialogar seriamente com a senzala e por ignorar que as demandas desta vão além de uma passagem de ônibus, benesses pontuais ou uma reforma política cosmética.

A passagem que o povo exige é para a plena dignidade que o ordenamento jurídico prevê, mas é negada pelo dia a dia nas filas dos postos de saúde, no atendimento precário dos hospitais, nas escolas sem estrutura onde pouco se aprende, nas cidades entupidas de carros, barulho e fumaça, mas sem espaços de lazer e esporte. Cidades não sustentáveis, asfixiadas, hipertensas, moribundas.

Amanhã, no 2 de Julho, como se comportarão os políticos? Desfilarão cínicos, como se nada tivesse acontecido? Passarão sóbrios e circunspectos, procurando demonstrar atenção e preocupação? Deverão ausentar-se das ruas, reconhecendo que o momento é de imersão reflexiva?

É preciso esperar para ver qual será a postura na data festiva. Porém, o mais importante é esperar para saber o que acontecerá de agora em diante. Há quem aposte na vitória do futebol como lenitivo das dores do povo; outros, certamente mais sensatos e responsáveis, creem que o caráter inédito, espontâneo e “epidêmico” das manifestações torna o esmorecer pouco provável. Há um reconhecimento geral de que não é mais possível à política continuar como uma ineficiente ilha de mordomias, esgotada em si mesma, ignorante dos anseios da sociedade.

No cortejo do 2 de Julho, os políticos têm uma rara oportunidade de andar na mesma direção. No momento histórico vivido pelo Brasil, os do poder estão assustados, dão respostas atabalhoadas, veem as reações equivocadas se traduzir em queda na aprovação popular, pois são os que mais têm a perder. Os que estão fora do poder gralham e gargalham, torcendo pelo pior cenário. São os que mais têm a ganhar.

Em meio a esses dois grupos, que o povo tenha sabedoria e mantenha o foco. Que compreenda a dimensão de seu poder quando exerce a cidadania que a Constituição lhe confere e não abra mão do direito de ser protagonista na busca de um futuro melhor.

Esse espírito iluminou os baianos a 2 de Julho de 1823. Que ilumine todos os brasileiros hoje, amanhã e sempre!

Ricardo Ribeiro é advogado.

Tempo de leitura: < 1 minuto

Samuel Celestino | Bahia Notícias
O governador Jaques Wagner disse que não vai mudar a sua agenda para o Dois de Julho, e não deve mudar mesmo, nem o prefeito ACM Neto, na medida em que são, pelos cargos que ocupam, presenças obrigatórias no festejo da Independência, que, há pouco, por decisão da presidente Dilma, se tornou uma data nacional. Até lá, se o pacote anunciado pela presidente na noite de ontem tiver boa acolhida dos manifestantes e da população de maneira geral, como é muito provável que tenha porque, em cinco itens, o pacote abrange todas as reivindicações das ruas, não há o que temer. Caso contrário, o Dois de Julho será magro de políticos que estão na berlinda, de rabo entre as pernas, tanto eles quanto seus partidos que são desdenhados pela população de maneira geral, conforme revelaram as pesquisas.
Leia mais

Tempo de leitura: 2 minutos

Marival Guedes, de Salvador

O movimento intitulado Levante Popular da Juventude promoveu na tarde desta sexta-feira, 7, protesto reivindicando o retorno do nome Dois de Julho ao aeroporto internacional de Salvador. Cerca de 300 jovens ocuparam o local, portando faixas, bandeiras e gritando palavras de ordem que incluíam versos do Hino ao Dois de Julho. Em pedaços de pano bordaram as palavras “justiça”,”igualdade” e “solidariedade”.

Os manifestantes colocaram uma faixa com 30 metros de comprimento com o nome “Aeroporto 2 de Julho” no muro em frente ao letreiro de metal que indica “Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães”. Fizeram discursos e distribuíram panfletos afirmando que ACM passou por cima da história do povo baiano. “Apagar o Dois de Julho é querer apagar a nossa história”, declaravam. O grupo atraiu a atenção dos turistas, que não paravam de tirar fotos.

O aeroporto foi fundado em 1925 e reconstruído em 1941 com o nome Santo Amaro do Ipitanga. Em 1955 mudou para Dois de Julho, data mais importante para o povo baiano, quando ocorreu o desfecho da independência, em 1823. Segundo historiadores, a luta na Bahia começou antes de outros Estados e terminou depois. Custou milhares de vidas.

Em 1998, com a morte do deputado Luís Eduardo, vítima de ataque cardíaco aos 43 anos , o senador Antonio Carlos Magalhães pediu a mudança em homenagem ao filho. Os deputados atenderam ao emocional apelo. No entanto, manifestações populares contrárias vêm sendo realizadas nas datas cívicas e nos carnavais.

PROJETO TEM DEZ ANOS

O projeto para devolver o antigo nome do aeroporto tramita na Câmara há dez anos. De autoria do deputado Luiz Alberto (PT-BA), a proposta, que está na Comissão de Educação, vem enfrentando manobras regimentais do DEM.

Em julho deste ano, por exemplo, a deputada Dorinha Seabra (DEM-TO) pediu vistas do projeto. Em agosto derrubou o quórum de votação. No entanto, não impediu a leitura do relatório do deputado Valdenor Pereira (PT-BA), fato considerado um avanço pelo parlamentar.Vale lembrar que o líder da bancada do DEM é o deputado ACM Neto,prefeito eleito de Salvador, sobrinho do homenageado.

Tempo de leitura: < 1 minuto

A cerimônia que comemora o Dois de Julho em Salvador, dado o seu significado histórico e por tudo o que simboliza para a Bahia, é mais  um momento que os políticos aproveitam para aparecer. Outros, porém, estão mais preocupados em se esconder, já que estão obrigados – em virtude das alianças fechadas pelos seus partidos – a estar onde onde não gostariam.
Esse é o caso, por exemplo, da deputada estadual Ângela Sousa (PSC), que pessoalmente apoia Wagner, mas partidariamente tem que perfilar-se ao lado de Geddel. Além de Ângela, há outros deputados na mesma situação, mas todos eles deram muita sorte hoje. É que chove razoavelmente em Salvador nesta manhã e quem participa da cerimônia teve que providenciar capas e guarda-chuvas.
Assim, ficou mais fácil se esconder.