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O jornalista Ricardo Boechat (Band) comenta a “inocência” levantada pelo ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), o “terceiro turno eleitoral” citado pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e o papel dos advogados dos presos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Confira o vídeo.

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Stédile5O líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, 60, esteve em Salvador no último final de semana, onde participou de uma plenária sobre o Plebiscito por uma Constituinte Exclusiva. Stédile é graduado em economia pela PUC do Rio Grande do Sul e pós-graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México.

Nesta entrevista, ele fala também sobre a Reforma Agrária nos governos FHC, Lula e Dilma e diz que o agronegócio utiliza veneno que está o provocando câncer. Stédile também vê o Congresso Nacional dominado pelas bancadas ruralista e do empresariado e faz uma avaliação sobre as próximas eleições.  Confira a entrevista concedida a Marival Guedes, especialmente para o Pimenta.
BLOG PIMENTA – Vamos começar fazendo uma comparação entre os mandatos de Fernando Henrique, Lula e de Dilma sobre a Reforma Agrária.
JOÃO PEDRO STÉDILE – No Brasil, a rigor, nunca tivemos Reforma Agrária no que ela representa, que é um programa de governo que leve a democratização do acesso à terra a todos. FHC abriu as portas para as grandes empresas internacionais, mas teve um azar: o agronegócio, na sua ganância de tomar conta das terras, cometeu dois grandes massacres que deixaram a população indignada. Teve aquela nossa grande marcha à Brasília que fez com que FHC se obrigasse a um programa de assentamentos que foi até razoável, mas foi fruto dos massacres em Carajás e no Paraná.
PIMENTA – Com Lula, houve uma grande expectativa…
STÉDILE – Nós tínhamos esperança de que o governo Lula pudesse acelerar, mas, infelizmente, ele seguiu apenas a política de assentamentos. Então, onde havia pressão política, houve desapropriações. Nós mantivemos, digamos assim, o mesmo ritmo do governo FHC.

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A reforma agrária praticamente parada. E esta é a nossa bronca com relação ao Governo Dilma.

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PIMENTA – E estes três anos e três meses do governo Dilma?
STÉDILE – Agora, está praticamente parada. E esta é a nossa bronca com relação ao governo Dilma, porque não avançou na Reforma Agrária.
PIMENTA – Quais os motivos?
STÉDILE – A resposta simplista seria que falta vontade política do governo, mas não é bem assim. A nossa avaliação é de que a correlação de forças na luta de classe na agricultura piorou no governo Dilma. Piorou em função da crise do capitalismo internacional, houve uma avalanche de capital internacional que veio se proteger no Brasil. Investiram em usinas, hidrelétricas, praticamente desnacionalizaram todo o setor canavieiro e compraram muita terra. Isso representa a força do capital que chega lá no interior, compra terra, controla o comércio etc.

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O cacau tem o comércio cada vez mais concentrado nas mãos da Dreyfus, Nesttlé e da Cargil. Isso foi de pouco tempo pra cá.

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PIMENTA – Pode citar um exemplo?
STÉDILE – O cacau tem o comércio cada vez mais concentrado nas mãos da Dreyfus, Nesttlé e da Cargil. Isso foi de pouco tempo pra cá. A segunda explicação é que, dentro do governo Dilma, há uma presença maior do agronegócio.  Terceira mudança: o Congresso no governo Dilma é mais ruralista. Aquilo que no governo tava parado – e nos ajudava -, o agronegócio avançou pelo Congresso fazendo chantagem. Esta bancada fazia as mudanças, como foi o episódio do Código Florestal, e impunha ao governo como uma derrota. Estas três circunstâncias levaram o governo Dilma a recuar com relação à Reforma Agrária.
PIMENTA  – O que o MST reivindica a curto, médio e longo prazos?
STÉDILE – De curto prazo, a Carta e a pauta que entregamos na audiência durante nosso congresso, em 13 de fevereiro passado, quando sinalizamos para a presidenta: olha, nós entendemos a correlação de forças, que não depende de vontades pessoais. Mas, ao seu alcance, estão, imediatamente, antes de terminar o governo, algumas medidas concretas de emergência.

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Nós temos 100 mil famílias acampadas, inclusive algumas ao longo das rodovias em Itabuna, Ilhéus e outros municípios do sul da Bahia.

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PIMENTA – E quais seriam?
STÉDILE – Nós temos 100 mil famílias acampadas, inclusive algumas ao longo das rodovias em Itabuna, Ilhéus e outros municípios do sul da Bahia. É um absurdo que nós tenhamos acampamentos com oito anos, pessoas morando debaixo de lona preta. Segunda medida, aqui para Nordeste, nós descobrimos que dentro dos perímetros irrigados, já com tudo pronto, o governo botou água, gastou milhões de reais, existem 80 mil lotes vagos, porque, na política burra do Dnocs e da Codevasf, eles fazem primeiro o perímetro irrigado e depois fazem o edital de licitação em que só o pequeno empresário do sul vem aqui. No caso da Bahia, a região de Juazeiro. E, depois, abandonam.
PIMENTA – Quais as razões para esse abandono?
STÉDILE – Porque eles criam uma ilusão: “vou plantar manga, abacaxi e vou bamburrar de dinheiro.” O mercado mundial de frutas já tá tomado. Não é chegar assim: vou exportar manga pra Europa e vou ganhar dinheiro. Não há mais mercado pra fruta na Europa, nem sequer da uva. Ao contrário, toda a produção do perímetro irrigado no Nordeste, hoje vai para o mercado nacional, porque aumentou a renda do brasileiro. Então, é melhor vender no Brasil que no exterior.
PIMENTA – O que foi feito com estes lotes?

STÉDILE – Estão vagos. Tem 80 mil lotes vagos, tudo pronto com água passando. E nós falamos pra Dilma: pelo amor de Deus, bote sem-terra nestes lotes. Não precisa gastar nada, nem desapropriação, pra eles produzirem alimentos.

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A Polícia Federal, nos últimos 12 anos, identificou 566 fazendas onde havia trabalho escravo. Ora, a Constituição é clara: não cumpriu a função social, desapropria. É só ter coragem.

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PIMENTA – A questão do trabalho escravo também consta na carta. Qual a reivindicação?
STÉDILE – A Polícia Federal, nos últimos 12 anos, identificou 566 fazendas onde havia trabalho escravo. Ora, a Constituição é clara: não cumpriu a função social, desapropria. Não interessa se é produtiva ou improdutiva. É um crime hediondo, primeiro motivo absoluto, o cara que pratica trabalho escravo tem que ter [a área] desapropriada. Então, é só ter coragem e pegar os processos e somente aí já teríamos 566 fazendas.
PIMENTA – Quais as ações do MST a partir de agora?
STÉDILE – Nós temos três inimigos do pobre do campo: o primeiro é o latifúndio atrasado, que ainda é improdutivo ou que paga mal aos trabalhadores e que agride a natureza. O segundo é o agronegócio, que é moderno, mas não gera riqueza para o povo brasileiro. E o terceiro é este sistema geral, mundial, que transformou o Brasil numa economia de exportação de matéria-prima, apenas. E não fica nenhuma riqueza aqui.

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Cargil, Dreyfus e Nestlé controlam as exportações. Elas que ficam com o lucro da riqueza do cacau, não o produtor. Este fica com uma pequena margem.

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PIMENTA – Quem controla as exportações?

STÉDILE – O agronegócio aumenta cada vez mais as exportações, mas Cargil, Dreyfus e Nestlé controlam as exportações. Elas que ficam com o lucro da riqueza do cacau, não o produtor. Este fica com uma pequena margem. Então, se queremos que o cacau seja um produto orgânico para produzir chocolate para o povo brasileiro, temos que derrotar este sistema destas empresas transnacionais. São nossas inimigas.
Para ler a íntegra, clique no link a seguir:Leia Mais

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Há um certo cansaço. Esse cansaço da sociedade se repete no Congresso. Não temos coalizão. O que temos agora é cooptação. Não estão brigando por um projeto. O resultado é o esvaziamento da agenda pública.  

A verdade acima foi dita pelo tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC). Apesar de ter sido acusado de pagar R$ 200 mil a deputados para conseguir aprovar o instituto da reeleição no Brasil e a República daquele período (também) agir “no limite da irresponsabilidade“, o ex-presidente não está falando do seu governo, mas do atual. Quanto às denúncias, elas não foram investigadas, pois o procurador-geral da República na época do tucano preferiu arquivá-las, segundo a mídia.

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Alberto Carlos Almeida, para o Valor
Caso Eduardo Campos venha a ser candidato a presidente em 2014, haverá muitas semelhanças entre sua candidatura e a de Ciro Gomes em 1998. A primeira delas é que tanto 1998 quanto 2014 são disputas com reeleição. Fernando Henrique completava o seu primeiro mandato com a popularidade elevada em função do aumento de consumo da população mais pobre. Ele tinha, pelas pesquisas públicas da época, em torno de 47% na soma de ótimo e bom. O Plano Real havia sido o principal cabo eleitoral de FHC em 1994 e assegurava um caminho sem sustos para uma segunda vitória.
Em 2014, Dilma disputará a reeleição. É impossível prever o cenário econômico do segundo semestre do próximo ano. O fato é que o consumo das famílias vem aumentando acima do crescimento do PIB e o desemprego vem se mantendo em patamares muito baixos, os menores níveis da história deste índice. Isso assegura a Dilma uma popularidade muito elevada: a soma de ótimo e bom está no patamar de 65%. Se Fernando Henrique foi reeleito com 47% de ótimo e bom e Lula com 56%, o que não dizer, então, do favoritismo de Dilma, caso ela venha a manter o atual nível de aprovação? Ocorrendo isto, a candidatura de Campos enfrentará em 2014 a mesma dificuldade que teve Ciro em 1998: um ocupante de cargo muito popular que disputa a reeleição. Por isso Ciro perdeu, também por isso os candidatos de oposição em 2014 tendem a perder.
A segunda semelhança diz respeito à região do candidato: Ciro Gomes e Eduardo Campos são políticos que fizeram toda sua carreira no Nordeste. Ciro foi eleito governador em 1990 e exerceu seu mandato até setembro de 1994, quando deixou o cargo para assumir o posto de ministro da Fazenda de Itamar Franco. Eduardo Campos já foi governador de Pernambuco por quatro anos e agora está em seu segundo mandato. Caso seja candidato, ele deixará o cargo no primeiro semestre do ano que vem.
Como ex-governador de um Estado nordestino, Ciro acabou sendo mais votado no Nordeste do que nas demais regiões do Brasil. O mesmo tende a acontecer com Eduardo Campos.
É interessante recordar que, na eleição de 1998, Fernando Henrique venceu em quase todos os Estados. Ele perdeu para Lula no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro e perdeu para Ciro no Ceará.
Ciro conquistou pouco mais de 34% dos votos válidos em seu Estado. Igualmente importante foi a sua votação em vários Estados do Nordeste: 20,3% em Alagoas; 18,6% no Rio Grande do Norte; 18,5% no Piauí; 16,3% no Maranhão; 16% na Paraíba; e 11,3% em Sergipe. Nesses Estados, Ciro ficou acima de sua média nacional, que foi 10,9%. Na Bahia e em Pernambuco, ele ficou abaixo. Vale mencionar que os três principais estados do Nordeste, que cultivam uma certa rivalidade entre eles, são, além de Bahia e Pernambuco, o próprio Ceará de Ciro.
O desempenho de Ciro no Nordeste disputando uma eleição contra um presidente bem avaliado, tendo Lula como principal oposicionista a Fernando Henrique, sugere que a eventual candidatura de Campos terá no Nordeste uma votação acima de sua média nacional, com destaque para o seu Estado, Pernambuco.
Além disso, Campos corre o risco de ter uma votação menor do que a média nacional no Ceará e na Bahia. Além da rivalidade regional, o atual governador da Bahia é do PT e a família Gomes, Cid e Ciro – que, hoje, lideram politicamente o Ceará – tende a não apoiar Eduardo Campos.
A íntegra do artigo está disponível para assinate clicando aqui.

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13º SALÁRIO É “DÉCIMO”, NA INTIMIDADE

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

“Décimo começa a ser pago em Ilhéus” – proclama em manchete respeitável blog, com um texto que nos inclina a acreditar que este acontecimento, às vésperas do Natal, não se dá devido à solidariedade cristã do prefeito, mas ao bloqueio de recursos municipais para este fim. Sirvo-me menos da ação em si, pois da inépcia de prefeitos regionais já ando cheio (e se coisa pior não digo é por estar, ainda, tomado por inacreditável espírito natalino). Atenhamo-nos, portanto, à questão linguística: o décimo (que bom para os servidores) está garantido. Mas “décimo”? Seria a décima parte de alguma coisa? Seria ainda o salário de outubro (décimo mês do ano)? Seria, por acaso, o “décimo terceiro salário”?

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O homem voltará aos sinais de fumaça

2LibrasA escolha correta é a última – na linha do “se você entendeu, tudo bem”. Não adoto este caminho, mas sei que a linguagem, como a vida, sujeita-se à Lei do Menor Esforço (LME – para nos mantermos moderninhos). Todo mundo sabe que você resulta de vossamecê, vosmecê, essas coisas – ultimamente é vc e, quem sabe, em alguns anos será apenas v. A exagerarmos este estranho processo, o homem perderá, no longo prazo, a faculdade da fala e da escrita, sendo levado a escolher, para comunicar-se, entre sinais de fumaça e Libras. É possível que sejamos as primeiras vítimas, pois algum engraçadinho já disse que essa tal LME foi inventada na Bahia, talvez por Dorival Caymmi, só depois exportada para outros cantos.

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Para falar palavrões, todas as letras

Ela nos sufoca, a LME, pois surge a todo instante. Num desses terríveis ônibus que sacolejam nas ruas esburacadas de Ilhéus e Itabuna, ouço uma indignada senhora reclamar nestes termos: “Ó, motô, vê se vai mais devagar!” Motô, saiba a gentil leitora, é “motorista”, à luz da LME. Na lanchonete, a mocinha, depois de soltar, em conversa cordial com a colega, alguns palavrões cabeludos (estes, sem falta de nenhuma sílaba!) dirige-se ao balconista: “Salta um refri!”, sendo fácil saber que a dona de palavrório tão inadequado estava pedindo um refrigerante. Vá lá que, em nome do dinamismo da língua, aceitemos tais violências, mas só no coloquial. Ao escrever, é bom ficarmos nos limites da chamada norma culta.

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(ENTRE PARÊNTESES)

4CupimO ex-presidente FHC, quando não está elucubrando teorias sobre o futuro do Brasil, é chegado a dar declarações em que emprega termos pouco conhecidos, o que revela originalidade de estilo, se acaso não for isto simples mostra de sua reconhecida erudição. A ele se deve, da época em que foi presidente, definir a oposição como “catastrofista”, chamar aposentados de “vagabundos” e recuperar a expressão “nhém-nhém-nhém”. Mas agora ele se superou. “Temos que descupinizar essa confusão que está havendo entre o interesse público e o interesse privado”, disse, a propósito da corrupção no Brasil (como se falasse de alguma novidade…). Descupinizar a confusão? Meu Deus!

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“TODO MUNDO” LEU MEU PÉ DE LARANJA-LIMA

Opinião que externei sobre best-sellers, recentemente, quase nos faz cair no engodo de que para ser “bom” o autor não pode vender muito, se vender muito é “ruim”. Creio que essa visão encerra um preconceito: os que entendem são poucos, a massa não conta, se o autor vende muito é porque faz “concessões”. Os prosadores Jorge Amado e Rubem Fonseca vendem muito, Paulo Coelho vende muito mais. Também foram best-sellers José Mauro de Vasconcelos (Meu pé de laranja-lima era lido por “todo mundo” que enxergava em 1970, e ganhou adaptações para a tevê e o cinema). Obviamente, uma obra de arte não se faz grande ou pequena apenas devido a efêmeras paixões do público. O tempo, sim, é juiz isento.

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Paulo Coelho: o tempo sabe a resposta

6Meu pé de laranjaHá muitos anos não ouço falar de José Mauro, mas penso que ele tem ainda um bocado de leitores – só isso justificaria a Saraiva ter à venda (soube disso agora, via Google) a 117ª edição de Meu pé…, enquanto Rosinha, minha canoa (outro grande êxito de vendas do autor) já tenha atingido, no mínimo, 44 edições. Apesar desses números, o stablishment  literário se mostra de nariz torcido e retorcido – Zé Mauro não chegou ao patamar de “clássico”. Quanto a Paulo Coelho (publicado em mais de 160 países e lido em 70 e tantos idiomas, ganhador de uma centena de prêmios internacionais e membro da Academia Brasileira de Letras), talvez o maior vendedor de livros do mundo, não se sabe o que o tempo dirá.

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APENAS UMA ESTRANGEIRA CANTANDO BEM

7Quiet nightO baixista Ray Brown se entusiasmou com a voz da pianista Diana Krall e levou a nova promessa a diversos produtores. Ela chegaria ao topo em 1996, com o álbum “All for you”, um tributo a Nat King Cole, que se transformou em grande êxito. Mas só após ganhar o Grammy em 1999 ela viu reconhecido seu talento como vocalista de jazz. É figura fácil no Brasil: além da trilha de dez (!) novelas da Globo, fez por aqui várias apresentações. É fã de Tom Jobim (e quem não é?): Corcovado (Quiet night, na versão dos gringos) dá nome a um de seus discos, gravado em 2009, que contém ainda Garota de Ipanema (The girl etc.) e uma surpreendente Este seu olhar, em português. Nenhuma revolução: apenas mais uma estrangeira cantando (bem) Tom Jobim.

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Tenho absoluto desamor ao lugar-comum

Reza o folclore que uma senhora perguntou a Armstrong o que é jazz (já li outra versão, com Duke Ellington). A resposta: “Se a senhora não sabe até hoje, madame, não adiantaria eu lhe explicar”. Para nosso propósito, digamos que jazz seja um jeito de de tocar, de cantar. Pensando nisso, imaginei que a gentil leitora gostaria de saber como uma canção banal soaria, quando sob o domínio de um grupo de jazz. O tema é Jingle bells, em cujo teste a bela e canadense Diana Krall se sai muito bem, mesmo sendo branca. Corajosa, ela mostra que não é Ella Fitzgerald, mas comete seus scatzinhos. A propósito, pensei num adjetivo para Krall e, como só me ocorreu “estonteante”, desisti, por absoluto desamor ao lugar-comum.

(O.C.)

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sócrates santanaSócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

É como narra o escritor José Saramago no antológico O evangelho segundo Jesus Cristo sobre o maniqueísmo cristão: “Este bem que eu sou não existiria sem esse mal que tu és”.

A metáfora – nuvem de poeira – do governador Jaques Wagner levanta do subterrâneo da política, crônicas de uma guerra particular entre tucanos e petistas. A verborragia de dos dois ex-presidentes, FHC e Lula, reaparece de maneira extenuante com o paulatino crescimento de novas forças e alianças de poder no Brasil. A ascensão do PSD de Gilberto Kassab, bem como o despontar do PSB de Eduardo Campos e o prelúdio de uma rebelião peemedebista orquestrada de dentro do Palácio da Alvorada, reposiciona os mísseis de petistas e tucanos contra si.

A dicotomia entre PSDB e PT vem sendo corroída ao longo dos anos. O próprio jogo sucessório, a repetição dos discursos e a assustadora convergência de interesses entre personagens antes inconciliáveis, a exemplo de ACM e FHC, Paulo Maluf e Lula, diminuiu a distinção ética entre os dois partidos pelo próprio curso da história de quem governa e de quem faz oposição. Ora, é obvio que as diferenças continuam vivas, mas, o esforço argumentativo para estabelecer o antagonismo entre ambos vem sendo o grande desafio das agências de publicidade.

Apesar do freqüente enfoque negativo da opinião publicada, ainda resta aos petistas à vantagem de quem dirige o país. De quem pode cartear, impor regras e criar artifícios para enfraquecer o principal oponente, mas, nunca eliminá-lo. É como narra o escritor José Saramago no antológico O evangelho segundo Jesus Cristo sobre o maniqueísmo cristão: “Este bem que eu sou não existiria sem esse mal que tu és”.

O outro lado da moeda, obviamente, é tucano. Com a permissividade petista, Aécio Neves é inflado a lançar candidatura à presidência. É evidente que os efeitos colaterais são inevitáveis. O arsenal do PSDB vem acompanhado de uma avalanche de ataques e, inclusive, demarcações de projetos e interesses, a exemplo do embate sobre a redução das taxas de energia elétrica no país.

Enclausurados no ninho paulista por uma década, o PSDB insurge de um empoeirado cômodo carioca. O mistério dos bastidores é assistido pela alta cúpula do PT, sem perder de vista a articulação movediça de aliados, cada vez menos confiáveis, cada vez mais arredios. A guerra fria entre PT e PSDB, portanto, interessa a ambos os lados.

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Marco Wense

Como não bastasse um leão desdentado ou, então, com caninos e incisivos inofensivos, o PSDB e o DEM têm que enfrentar uma aprovação recorde do governo Dilma Rousseff.

O oposicionismo ao governo Dilma, tendo na linha de frente o PSDB e o DEM, vibrou com a notícia de que o julgamento do mensalão seria concomitante com o processo sucessório municipal.

Tucanos e democratas comemoraram como se já fosse uma vitória antecipada de seus pré-candidatos a prefeito, principalmente nas grandes capitais, com destaque para São Paulo.

A possibilidade de figuras importantes do PT serem condenadas e, com efeito, massacradas publicamente, como, por exemplo, um José Dirceu, deixou a oposição confiante, embevecida.

Em tempo, a ex-cúpula poderosa do PT, formada por José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, respectivamente ex-ministro da Casa Civil, ex-presidente do partido e ex-tesoureiro da legenda, foi condenada pelo STF por crime de formação de quadrilha.

O escândalo do mensalão seria uma espécie de tábua de salvação para uma oposição fraca e comprovadamente incompetente. Sem falar na arrogância e na soberba dos tucanos da Avenida Paulista.

Ledo engano. O mensalão, não menos e nem mais escandaloso do que a compra de votos para aprovar a PEC da reeleição no então governo FHC, mostrou-se, digamos, como um leão desdentado.

O jornalista Fernando Rodrigues tem razão quando diz que “o PT sairá das urnas como o grande vencedor nas cidades com mais de 200 mil eleitores, podendo levar pela terceira vez a joia da coroa, São Paulo”.

Como não bastasse um leão desdentado ou, então, com caninos e incisivos inofensivos, o PSDB e o DEM têm que enfrentar uma aprovação recorde do governo Dilma Rousseff.

Pois é. Tucanos e democratas estão, como diz o ditado popular, no mato sem cachorro. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É Dilma incorporando o papel de paladina da justiça e Lula com sua capa de teflon.

WAGNER E 2014

A manifestação de vontade do governador Jaques Wagner, querendo deixar o governo para se candidatar a uma vaga na Câmara Federal, foi comemorada, efusivamente, por dois políticos: Otto Alencar e Geddel Vieira Lima.

Para os gedelistas, a atitude de Wagner é a prova inconteste do seu desinteresse pelo governo. Os otistas, por sua vez, vibram com a possibilidade do chefe assumir o comando do Palácio de Ondina.

Geddel, pelo PMDB, e Otto, pelo PSD, são pré-candidatos a governador na eleição de 2014.

O CARA

Nem o senador tucano Aécio Neves e, muito menos, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Para enfrentar Dilma Rousseff, candidatíssima a um segundo mandato, via instituto da reeleição, só Joaquim Barbosa (foto acima), ministro do Supremo Tribunal Federal – STF.

Depois de jogar duro nos mensaleiros, o eminente ministro passou a ser “o cara”. A bola da vez. O cara retado de bom, como diz o nordestino

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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Do Cena Bahiana

O mundo está se tornando um lugar cada vez mais estranho, parafraseando o filósofo Magary Lord. A última notícia a confirmar essa tese foi a de que a figura de Karl Marx, o alemão que inspirou o comunismo, virou estampa de cartão de crédito, símbolo máximo do… capitalismo.

Marx se revirou na catacumba? Não se sabe. Teria se revirado quando Lula apertou efusivamente a mão de Maluf e cortejou a adega do larápio-mor de Brasilis. Também não se sabe. Está tudo tão complicado, complexo e heterodoxo, que provavelmente os espíritos não se revirem mais. Acostumaram-se ao estapafúrdio.

Feahacê, o ex-presidente, sem espanto, diz que os partidos não se parecem mais com coisa alguma. Não passam de letras sem consistência nem identidade. Já vêm assim há muito tempo, inclusive na era Feaha, porém com outros personagens e ainda com alguma dissimulação. Hoje a coisa é mais aberta e, por que não dizer, desavergonhada.

Demóstenes, antigo símbolo da ética no Congresso, deixou-se banhar na cachoeira da corrupção e se tornou o segundo senador cassado em 188 anos de história da Câmara Alta. Na outra casa, também chamada de paraíso do baixo clero, os escândalos se sucedem e um dos últimos foi o da venda de emendas parlamentares, que envolveu nada nobres deputados baianos em um verdadeiro balcão de negócios no legislativo federal.

Os partidos perdem o sentido e os políticos se igualam na lama, sem preconceitos quando a questão é se locupletar. É comum se encontrarem nos restaurantes de Brasília indivíduos dessa espécie, oriundos de todas as siglas, para regozijarem-se após um dia estafante de trabalho. É inevitável perguntar: trabalho, contra quem?

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Amauri Teixeira | dep.amauriteixeira@camara.gov.br

Com mais de 120 mil cópias vendidas, o livro de Amaury investiga as privatizações ocorridas durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

O alvoroço causado pelo impacto do livro A Privataria Tucana foi acompanhado de perto pela grande imprensa, que pouco se manifestou a respeito. Os tucanos optaram pelo mesmo caminho. Mas estava difícil se manter em silêncio por muito tempo: a obra já está no topo do ranking dos mais vendidos do país, ultrapassando best-sellers como a biografia de Steve Jobs e o último livro de Jô Soares. Diante desse quadro, a alta cúpula do tucanato resolveu responder. Não com argumentos sólidos contra as denúncias, mas desqualificando-as utilizando termos como “lixo” e “coleção de calúnias” para definir o trabalho.
Mas afinal, o que os tucanos temem? Terão receio de vir por terra uma suposta “aura de moral” que reveste o partido? Ou será do esfacelamento total de uma direita que há anos está em decadência?
Os sucessivos resultados positivos da economia brasileira vêm sendo abafados com supostas denúncias e escândalos. A direita não debate mais ideias para desenvolver a nação, apenas ataca. É uma pena, já que faz bem a todo grande país uma oposição forte e responsável. O medo levou a oposição a uma verdadeira guerra na imprensa tentando desmoralizar o atual governo.
Aliás, medo é uma palavra que a direita conhece muito bem. Foi inclusive colocada no script de Regina Duarte durante as eleições de 2002. Em um dos piores papéis da sua carreira, a atriz dizia durante propaganda eleitoral temer que o país “perdesse toda a estabilidade conquistada”. Ironicamente, a economia brasileira é hoje uma das mais estáveis do mundo, ao contrário da época em que devíamos bilhões em dívida externa.
A resposta do povo não veio apenas das urnas, mas da própria opinião pública. Basta ver os altos índices de aprovação do governo federal por parte da população. Não bastasse isso, a forte reverberação do trabalho do meu xará Amaury Ribeiro nas redes sociais tem causado pânico na direita brasileira.
Com mais de 120 mil cópias vendidas, o livro de Amaury investiga as privatizações ocorridas durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O autor apresenta documentos que ligam casos de lavagem de dinheiro e propina à Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, respectivamente filha e genro do ex-governador de São Paulo, José Serra. A obra é uma das maiores reportagens investigativas do país, contendo 140 páginas com documentos sobre o caso.
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Dilma: aprovação recorde.

A edição dominical da Folha apresenta números da mais recente pesquisa Datafolha sobre a aprovação ao governo da presidenta Dilma Rousseff.
O instituto dos Frias foi às ruas e ouviu 2.575 eleitores nos dias 18 e 19. Para 59% deles, a petista faz um gestão ótima ou boa, 33% a classificam como regular e apenas 6% a consideram ruim ou péssima. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Nem mesmo o ex-presidente Lula obteve feito semelhante. Após um ano de governo, em janeiro de 2004, a gestão de Lula era aprovada por 42% dos brasileiros.
Depois de um ano de gestão, Fernando Henrique Cardoso obteve 41%, início de 1996. Fernando Collor registrava 23% ao final do primeiro ano, em 1992 – exatamente o ano em que sofreu impeachment.

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Cláudio Rodrigues | formandus@formandus.com.br
 

Grande parte de nossos impostos vai para os bolsos de gestores corruptos.

 
Há 16 anos uma quadrilha se instalou no Ministério dos Transportes sob as bençãos dos ex-presidentes FHC e Lula. Nesse período, bilhões de reais foram drenados para os bolsos dessa quadrilha, uma facção criminosa que inicialmente usou a sigla PL (Partido Liberal ou Partido dos Ladrões) e depois passou para PR (partido da República ou partido da Roubalheira). Sempre chefiado pelo deputado Valdemar da Costa Neto e pelo ex-ministro e senador Alfredo Nascimento, esse bando não só nos roubou dinheiro, como também o desenvolvimento do Brasil e vidas, milhares de vidas.
Sabemos que boa parte dos acidentes que exterminam seres humanos nas rodovias brasileiras são fruto do péssimo estado de conservação dessas estradas. Para se ter uma ideia, no trecho da BR 101, entre os municípios de Eunápolis e Teixeira de Freitas, no extremo-sul do Estado, o condutor de qualquer veículo, além de habilidade e prudência, precisa contar com a proteção divina. Nesse trecho, o acostamento é dominado por imensos buracos e mato, que está prestes a tomar a pista. As placas de sinalização também estão cobertas pelo mato.
Na mesma rodovia, já em Itabuna, existem buracos capazes de engolir a roda de uma carreta. Nesse ponto da 101, há pouco mais de um ano o Dnit, um dos braços do esquema da ladroagem, fez uma “total recuperação”, mas o asfalto aplicado foi tipo Sonrisal e na primeira chuva derreteu.
O Brasil é formado por pessoas de bem, honestas e que ganham o pão de cada dia com o fruto do suor que escorre do rosto. Pagamos a maior carga tributária do mundo, e não temos os serviços básicos como saúde, educação, transporte público de qualidade e segurança. Grande parte de nossos impostos vai para os bolsos de gestores corruptos. Temos que dar um basta a essa situação, não podemos ver ladrões de colarinho branco se dar bem e achar que é assim mesmo, esperando que um novo escândalo apareça e apague o último.
Hoje ninguém fala mais das traquinagens de Eunice Guerra e seus filhos Metralhas, das consultorias milionárias de Palocci e dos atos secretos de Sarney no Senado, só para ficar nas pilantragens recentes. Vamos juntos criar o Dia Nacional de Mobilização Contra a Corrupção, mobilizar os homens e mulheres de bem dos quatro cantos do País, através dos veículos de comunicação e das redes sociais, para dedicar um dia a protestar e malhar esses políticos ladrões. Colher assinaturas para mudar o Código Penal e alterar a Constituição para acabar com o foro privilegiado dessa gente, mandar para a cadeia esses safados e tomar tudo o que eles nos roubaram.
Um povo que enfrentou as baionetas da Ditadura Militar, que foi às ruas exigir eleições diretas, que se uniu para expulsar um presidente ladrão, não pode ser permissivo com a atual situação que estamos vivendo. Está na hora de dar um basta.
Cláudio Rodrigues é empresário, sócio da Formandus Eventos.

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Gerson Menezes | publixcriativo1987@hotmail.com

Dilma dá um freio nas ambições desmedidas da sua base aliada, inclusive o PT e o PMDB.

O ex-presidente Lula dizia uma coisa certa: “Dilma após eleita irá demonstrar que é uma grande administradora.” Em pouco mais de seis meses na presidência, a presidente Dilma Rousseff tem demonstrado não querer transigir com a corrupção no seu governo.
Diferentemente de Lula, que tentava negar de pronto as denúncias (nunca definitivamente apuradas) no seu governo, denominando-as “tentativas de golpe da oposição”, Dilma vai, aos poucos, mostrando o seu perfil, modo de governar o país, livrando-se sem cerimônia da “herança maldita” deixada por Lula, na forma de “penduricalhos políticos” instalados nos ministérios e nas estatais.
Ao contrário do que dizem os seus “companheiros”, de que a Presidenta Dilma Rousseff é uma “boa gerente” e uma má política, ela vem demonstrando, mineiramente, o seu desacordo com o modus operandi de fazer política em nome da governabilidade, até então estabelecido no poder.
Ao se aproximar do PSDB, ao promover gestos claros de cortesia para com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda hoje um dos principais ícones da atual oposição, Dilma dá um freio nas ambições desmedidas da sua base aliada, inclusive o PT e o PMDB.
Assim, emite sinais claros de que poderá estabelecer uma relação ética de governo com os partidos de oposição liderados pelo PSDB, reequilibrando suas forças sem a necessidade de ter que aceitar imposições e negociações que vão além dos seus princípios éticos de governar.
Os comentários ganharam força nesse sentido quando, no dia de ontem, o atual presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, foi recebido no Palácio do Planalto pela ministra Ideli Salvatti, coordenadora política de Dilma Rousseff.
Membros insatisfeitos da base aliada do governo dão sinais evidentes de frustração, ao alimentarem o ego do ex-presidente Lula, pregando a sua “re-reeleição” em 2014, em substituição a Dilma.
Gerson Menezes é publicitário e marqueteiro político.

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Dilma, que recepciona Obama: aprovada por 47% dos brasileiros (Foto Roberto Stuckert Filho).

A pesquisa Datafolha feita nos últimos dias 15 e 16 aponta que a presidenta Dilma Rousseff (PT) é dona de aprovação maior até do que a obtida por Lula em início de mandato, embora aí haja um empate técnico (a pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais).

Lula iniciou o primeiro mandato, em 2003, com 43% de aprovação. Dilma registra agora 47%, segundo o instituto de pesquisa do grupo Folha. Até mesmo no segundo mandato, Lula apresentou 48% de aprovação nos primeiros meses.

A pesquisa Datafolha que afere a aprovação do governo central começou a ser feita em 1990, quando Fernando Collor de Melo obteve 36% de aprovação. Itamar iniciou o governo com 34% e FHC registrou 39% de aprovação em 1995, seguido de apenas 21% no segundo mandato, em 1999.

Além dos 47% de brasileiros ouvidos que consideram o governo Dilma “ótimo ou bom”, ela obteve ainda 34% de “regular” e 7% de ruim ou péssimo. Dos 3.767 eleitores ouvidos em 179 municípios, 12% não souberam opinar sobre como vai o governo da presidenta.

ACM NETO ELOGIA DILMA

A pesquisa é publicada em um momento em que Dilma Rousseff recebe, pela primeira vez, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O primeiro dia teve almoço no Itamaraty e a mandatária brasileira foi elogiada pela postura na recepção a Obama.

Os elogios foram colhidos até na oposição, especialmente em relação ao discurso da presidenta. O líder do DEM na Câmara Federal, ACM Neto. Via Twitter, ele disse que “a presidente Dilma fez um discurso preciso, à altura da importância da visita do presidente Obama”. Do Pimenta.

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Fred Cabala | fredericocabala@gmail.com

Para além dos óbvios paralelos e resguardadas as proporções, as realidades do município itabunense e da nação brasileira possuem como perceptível semelhança o fato de há tempos ambas se encontrarem enclausuradas e reféns de um sistema de polarização do campo político que a poucos satisfaz.

Enquanto o Brasil assiste ao jogo de forças entre PT e PSDB desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso levou a cabo o plano antiinflacionário Real, a terra grapiúna se destaca por ser solo fértil para o conveniente passa-repassa entre petistas e democratas desde que Geraldo Simões emergiu nas eleições de 1992.

Com o passar de quase duas décadas, a perspectiva de um diferente cenário político minguou a cada eleição e se transformou na naturalização do atual dualismo partidário. Todas as tentativas de caminho alternativo e implementação de uma terceira via acabaram sempre fracassando.

Em síntese, pode-se atribuir o fiasco da terceira via, tanto no Brasil quanto em Itabuna, ao fato de nenhuma alternativa e novidade substanciais terem sido verdadeiramente discutidas e apresentadas com clareza aos cidadãos. Para desespero do ideólogo do conceito, o cientista social britânico Anthony Giddens, que pensava o terceiro setor como um “centro radical” com traços que chamassem atenção pelo aspecto diferencial e cujo objetivo seria uma completa reforma do Estado.

Ora, o que tem se visto nos âmbitos municipal e nacional é a via alternativa promovendo o próprio funeral exatamente por confundir-se com os dois blocos ao invés de delimitar firme posição. A ausência de um discurso original que deveria se sobrepor aos polos já desgastados cedeu lugar à ideia do continuísmo e revela falta de personalidade política.

Em uma análise séria, é certo afirmar que esse transtorno bipolar da política muito contribui para que grande parte das pessoas sinta náuseas quando o assunto eleições se aproxima. O mal é grave.

Fred Cabala é itabunense e estuda jornalismo na Universidade Federal de Viçosa.

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Marco Wense
A onda contrária ao retorno da CPMF é alimentada pela dúvida em relação aos milhões de reais que serão arrecadados, já que existe a “promessa” de que todo o din-din é para o sistema de saúde.
Se houvesse a certeza (100%) de que a contribuição seria direcionada para a melhora da saúde pública, com uma implacável fiscalização, punindo severamente os responsáveis por qualquer desvio, a defesa da CPMF seria inabalável.
Ninguém, pelo menos em sã consciência, seja capitalista, comunista, socialista, direita, esquerda, iria questionar uma iniciativa do governo para amenizar o sofrimento dos mais pobres.
Quanto ao aspecto político, mais especificamente da política partidária, os tucanos, exercendo o democrático exercício oposicionista, criticam a presidenta eleita Dilma Rousseff, que na campanha era contra qualquer tipo de imposto e, agora, defende a volta da CPMF.
Vale lembrar que o mais árduo defensor da ressurreição do imposto sobre o cheque é o governador eleito de Minas, o tucano Antonio Anastasia, que não tomaria essa posição sem antes consultar Aécio Neves, seu criador e principal liderança do PSDB (2).
Geraldo Alckmin, eleito governador de São Paulo, figura de destaque do PSDB (1), só é contra a CPMF quando é questionado por jornalistas. Mas, nos bastidores, longe dos holofotes, é também um entusiasmado defensor.
Para acabar com o disse-me disse, que fulano é contra ou favor, fica a seguinte sugestão: quem é contra, diz logo de público e não aceita um tostão. Quem é favor, assume um eventual desgaste.
O que não pode é essa demagogia, essa tapeação assentada em posições dúbias, sendo, concomitantemente, a favor e contra a CPMF. Pela manhã, CPMF mais nunca. Na calada da noite, CPMF já.
METAMORFOSE
Os tucanos, tanto do PSDB (1) como do PSDB (2), estão sobressaltados com o Lula pós-eleição. Os petistas, por sua vez, estão espantados com o José Serra depois do término da campanha eleitoral.
Durante a campanha presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva pregava o “extermínio” da oposição. Os oposicionistas ficaram tiriricas da vida com o petista-mor. Agora, Lula defende que a oposição e o governo “respeitem-se mutuamente e divirjam de forma madura e civilizada”.
Já José Serra, que segundo FHC tem uns demônios que nem ele mesmo consegue controlar, diz agora que Lula “pratica um populismo cambial”, “o governo é populista de direita na área econômica” e o país vive um “processo claro de desindustrialização”.
O José Serra de ontem, além de colocar a imagem de Lula no seu programa no horário eleitoral gratuito, dizia com todas as letras, em alto e bom som, que “Lula estava acima do bem e do mal”.
Lula, como uma espécie de Deus na terra, não partiu da então candidata e companheira Dilma Rousseff. O tucano José Serra, assombrado com a popularidade do petista, se encarregou de colocá-lo acima do bem e do mal.
Marco Wense é articulista do Diário Bahia.