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CHET BAKER: ENTRE A MÚSICA E O CHORO

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Um jovem carteiro encontra uma bela mulher bêbada, caída num beco, e a leva para casa. Sob o chuveiro, a inusitada visita tenta espantar a carraspana, ao tempo em que solta “a voz mais linda do mundo” e, para a palidez de espanto do jovem, sai do banheiro para a sala nuinha dos pés à cabeça. A mulher, creiam, é Billie Holiday; Chet Baker, emocionado com sua própria música, confessa que quase encerra o show antes da hora, pois “ou bem a gente toca ou bem a gente chora”: era abril de 1988, a última apresentação do trompetista; um fã sai do show de John Coltrane assoviando Naima e, sozinho na rua, ao alongar a última nota da melodia, ouve aplausos entusiasmados, curva-se em agradecimento e entra em casa, sentindo-se “um homem feliz, totalmente realizado”.

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Contos de jazz, fúria dor e alegria

São ficções do jornalista mineiro Paulo Vilara no livro Jazz! Interpretações – Pequenas histórias de fúria, dor e alegria (Artes Gráficas Formato/2011), uma preciosa coleção de oito contos, tendo por tema o jazz. Vilara é o guia de um encontro emocionante, pondo-nos cara a cara com John Coltrane, Chet Baker, Thelonious Monk, Miles Davis, Lennie Tristano, Roland Kirk, Charles Mingus e Billie Holiday (nesta ordem), em textos literários de extraordinária economia de linguagem. A tendência ao minimalismo, entretanto, não nos deixa em falta: ele se dá ao luxo de acrescentar, a cada conto, valiosas notas sobre o artista, a canção e os lugares citados. Como apêndice, a discografia básica dos oito músicos. Livro raro, para ler e ler.

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Apresentação que paga o livro inteiro

Ao ler a introdução de Paulo Vilara para Jazz! Interpretações, ocorreu-me antiga expressão repetida nas arquibancadas após um cada vez mais raro lance de futebol arte: é preciso sair do estádio, comprar outro ingresso e entrar novamente, pois aquela jogada já pagara a entrada. No caso deste livro, fica o sentimento de que as 4,5 páginas da introdução justificam o preço da obra. No todo, uma emocionante celebração do jazz, vinda de um apaixonado cultor do gênero, mas, afora gostos musicais, uma obra literária com lugar em qualquer biblioteca. Faltou dizer que o livro (com prefácio de James Gavin, biógrafo de Chet Baker) é dedicado ao maestro Moacir Santos e à cantora Alaíde Costa, homenageados por esta coluna.

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NÓS SOMOS, MAS NÃO SABEMOS O QUE SOMOS

Gentil leitora, presa de curiosidade, pergunta quem é Ousarme Citoaian. Esta é uma angústia metafísica que nos pressiona, mais cedo ou mais tarde. Mesmo pensando que já tinha explicado a questão, eis que não sou poupado. A dúvida é tão velha quanto o homem, mas resiste ao tempo e às explicações. Shakespeare colocou a dicotomia do ser e do não ser como eterna indagação da humanidade: ser ou não ser é, no teatro, vingar-se ou não vingar-se, matar ou não matar – e para sair dessa prisão da dúvida, precisamos nos conhecer. Parece inquestionável ser. Nós somos. Mas o que somos e quem somos é a incógnita, ou, como queria Noel Rosa, filósofo, o “x” do problema.

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O que sou: reflexo, miragem, paisagem?

Nem só em Shakespeare vislumbramos essa fragilidade humana. Outras literaturas também oferecem instigantes exemplos da aflição que nos corrói. Conta o filólogo carioca Sérgio Pachá, da Academia Brasileira de Letras (não “imortal”, mas funcionário), que Antero de Quental (1842-1891), já noite velha, foi à casa de um amigo, com quem, certamente, pretendia dividir o sofrimento metafísico de que estava possuído. Ao bater à porta e ouvir a indagação “Quem é?”, teria retrucado, do fundo de sua angústia: “E eu lá sei quem sou?!” Florbela Espanca (1894-1930), num poema, meio século depois, diz algo parecido: “Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem/ Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem…/

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“Quem cresce em saber, cresce em dor”

Sou um reflexo… um canto de paisagem/ Ou apenas cenário!  Um vaivém/ Como a sorte: hoje aqui, depois além!” José Régio (1901-1969), “brinca” com o poema de Florbela, acrescentando dois tercetos em que mostra a antiga questão: procuramos o saber como forma de libertação, mas será que o conhecer nos liberta dessa dúvida existencial? Parece que não: “Sei que sou a paródia de mim mesmo/ Sei tudo… E para quê? Por que sabê-lo?/ Viver é entrar no rol dos que não o sabem”, diz José Régio a Florbela Espanca. Resta ainda que o conhecimento parece uma condenação, se aceitarmos o que está no Eclesiastes: “Aquele que cresce em saber, cresce em dor”. O espaço acabou e não respondi à leitora…

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A CANÇÃO QUE REUNIU CINCO DIVAS DO JAZZ

Tenderly, de 1946, está entre as canções mais gravadas do mundo, registrada por, pelo menos, 80 artistas e grupos, de nomes consagrados a desconhecidos (por mim). Cito alguns que todo ouvinte de jazz conhece, começando pelas cinco divas negras (Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Nina Simone, Carmen McRae), seguidas de Armstrong, Tony Bennett, George Benson, Ray Anthony, Chet Baker, Clifford Brown, Pat Boone, Nat King Cole, Natalie Cole, Miles Davis, Billy Eckstine, Frank Sinatra, Duke Ellington, Percy Faith, Johnny Mathis, Errol Garner, Woody Herman, Etta James, Henri Mancine, Anita O´Day, Oscar Petterson, Buddy Powell e Artie Shaw.

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História que vem da alvorada dos tempos

Trata-se de um tema pop, de que o jazz se apropriou, como tantas vezes aconteceu. A letra não faz inveja aos autores românticos brasileiros: nas preliminares, a brisa da noite acaricia as árvores e as árvores abraçam a brisa com ternura, até que, nos finalmentes, “você tomou meus lábios, você tomou meu amor tão ternamente” (You took my lips/ you took my love so tenderly). História da alvorada dos tempos, já se vê, mas que funcionou até agora – e já lá se vão 66 anos. O brasileiro Dick Farney foi quem primeiro deu voz a  Tenderly (em junho de 1947), levando a canção ao topo das paradas americanas. Depois, vieram Sarah Vaughan, Nat King Cole e todo mundo.

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Sarah em estado de graça: a deusa canta

Creio que o show é de 1985, não aposto nisso. Aposto em que Sarah Vaughan (1924-1990) se encontra em absoluto estado de graça, em plena forma, alegre, fazendo caras e bocas para a plateia. Tenderly já foi cantada por ela (quase sai um trocadilho!) de várias formas diferentes, cada gravação com uma marca própria, a marca Divina Sarah (basta lembrar que este foi o primeiro sucesso da diva, em 1954). Aqui, ela “erra” o tempo da entrada e, em seguida, entra triunfalmente, com seu timbre inconfundível de diva do jazz que é. O público, é claro, se curva: uma deusa negra canta.

(O.C.)

Tempo de leitura: 7 minutos

A PAIXÃO, SEGUNDO MARIA LUIZA NORA

Ousarme Citoaian

Muitos se acham tocados pela força da poesia e, em função de tal canto de sereia, afoitamente se atiram nas águas revoltas desse gênero, às vezes com resultados funestos. Maria Luiza (Baísa) Nora, que acaba de lançar A ética da paixão, recusou-se à aventura a que tantos imprudentes se lançam e escolheu o caminho “clássico”: antes de escrever, leu. Talvez seja importante dizer isto, como forma de entendermos o porquê de A ética… não parecer artigo de principiante. É que Baísa (foto) se mantém distante da sintaxe tatibitate de uns que impunemente (quem sabe, impudentemente) se dizem poetas; ela sequer tangencia o ridículo em que mergulham os incautos “bafejados” pelas musas.

POÉTICA QUE ABRE AS PORTAS DA ALMA

“Vítima” de uma autora com refinadas leituras de prosa e verso, seria impossível a A ética da paixão não refletir Fernando Pessoa, Neruda e (destacados por Patrícia Pina, em parecer acostado ao livro) Camões, Vinícius, Chico Buarque, Cartola, Álvares de Azevedo. Pessoalmente, imagino Baísa Nora assemelhando-se a Florbela Espanca: poética confessional, corajosa, ousada, de uma ousadia tal que abre as portas da alma e escancara um misto de desenfreado sofrimento e intenso gozo. Um espectro que abrange a angústia e a paz, o “ridículo” das revelações íntimas (à Álvaro de Campos) e a tragédia inevitável das rupturas afetivas, sempre portadoras dores lancinantes.

O CORPO PARA DIVIDIR, NÃO PARA DOAR

Baísa Nora revela a plena mulher ocidental do seu tempo, em oposição àquele antigo objeto de prazer do outro, mas nula em si mesma. Seu cantar é erótico, afetivo, protetor, possessivo, provocador, provocante, às vezes de mãe, muitas de amante, atrevido sempre. É a voz da mulher-cidadã, que se reconhece dona do seu corpo e pronta a dividi-lo, nunca a doá-lo. A ética… não é  o cometimento de versos piegas que o tema motiva, mas grito universal e maduro sobre a paixonite aguda e outras moléstias do ser humano, “versos tintos do rubro da paixão, do roxo das saudades e nostalgias, do rosa de ardentes crepúsculos, do amarelo de outonos desfolhados”, na leitura permanentemente lúcida da ensaísta Margarida Fahel.

ALGUÉM DIZ “MINISTÉRIO DE SAÚDE”?

“O secretário de Saúde está em dificuldades”, diz o jornal.  Ou seria “O secretário da Saúde está em dificuldades”? O correto é “de” ou “da”? Ambas as formas, afirmam os filólogos, são bem-vindas. O “da” tem sabor mais clássico, mais purista, enquanto o “de” é consagrado pelo uso. Minha preferência, nem precisava dizer, é pela primeira alternativa – coerente com expressões análogas. Ninguém em juízo perfeito diz “ministro de Saúde” ou “Ministério de Saúde”, e sim “da Saúde”, “da Agricultura”, “da Fazenda”. Logo, a primeira das duas escolhas está mais para a teoria do “se você entendeu, está bom”, defendida por certos (ou errados?) linguistas.

BELOS EFEITOS DA PREPOSIÇÃO “DE”

É mesmo curiosa essa preposição “de”. Surge em expressões que geram som e sabor agradáveis ao combinar palavras aparentemente inconciliáveis. Vejam esse efeito em alguns títulos de livros, lembrados ao acaso: Chão de meninos (Zélia Gattai), Girassol do espanto (Telmo Padilha), Sangue de coca-cola (Roberto Drummond), Flores do caos (Ulisses Goes), Amor de perdição (Camilo Castelo Branco). Fico surpreso ao saber que está no ar, ou esteve (não afirmo, pois não vejo novela nem sob tortura!) uma coisa chamada Canavial de paixões. Aí, tenham dó deste pobre e hebdomático escriba e o esclareçam: que diabos vem a ser um… canavial de paixões?
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O AUTOR E SEU NAMORO COM O TEXTO

Creio que a maioria dos autores seja enamorada do próprio trabalho, num estanho narcisismo, tendo o texto como o espelho em que o autor se reflete e se admira. Aventuro-me a afirmar: ainda que o leitor não se sensibilize com esse esforço, o autor se sente recompensado, quando é atingido pelo próprio produto. “Sou meu melhor leitor”, diz, com variações, esse narcisista. Escreve para ele, em primeiro lugar; se for possível, também para o leitor. Profissional a soldo, que escreve para sobreviver, não sou exceção a esta regra: estou pronto a defender o que escrevo, pois só vai a público o que é aprovado pela minha rígida autocensura.

PROVOCAR LEITOR É FUNÇÃO DO AUTOR

O que me emociona talvez não emocione o leitor; o que não me emociona, certamente não o emocionará. Logo, não será publicado. Outra questão fundamental da escrita: não há de faltar quem a deseje pura de ideologias – um produto sem fecundidade, sem calor, sem alento, banal, estéril, um fruto peco. Penso que o texto precisa ter claros e escuros, luzes e sombras, caminhos e sugestões. Se a gente entra e sai dele sem que algo se mexa dentro de nós, tal leitura não terá passado de inútil gasto de tempo. A função do autor é comunicar (talvez “provocar” seja o termo justo), daí ser indispensável que ele tenha algo a dizer – e diga.

ENTRE A NOITE ESCURA E O DIA LUMINOSO

Imagino que o texto há de ser a cara do autor, ter suas digitais, marca e estilo, no sentido dado pelo Conde de Buffon (foto), de que “o estilo é o homem” (Le style cest lhomme même). Vai-lhe bem uma pitada de ideologia, representação, teatralidade, coração, fantasmas, experiências, ritmos e cores – que passeiam entre a noite escura e o dia luminoso, entre o alfa e o ômega – digamos. O texto é tudo isso, disso tudo se alimenta, mas a tudo isso se sobrepõe. O leitor não precisa concordar com o autor, e muitas vezes é preferível que não o faça. A discordância, se praticada com honestidade de princípios, é ótimo caldo de cultura para o crescimento das ideias.

QUEM ESCREVE HÁ DE SER CRÍTICO E LEITOR

Na juventude (que longe vai), fruí de autores cuja ideologia abominava, mas que escreviam com alta qualidade – e todos contribuíram para formar este resultado que diante de vós se apresenta: o panfleto de David Nasser (foto), a eloqüência de Carlos Lacerda, a crônica de Nelson Rodrigues. Os três aspergiram em seu discurso as sombras da ideologia, do compromisso pessoal, às vezes até do interesse inconfesso – mas sempre com o condão de proporcionar um prazer intenso ao leitor e, aposto, a eles mesmos. Se, de faca na garganta, eu fosse forçado a ditar uma regra de escrita, diria: seja seu leitor e seu crítico; agrade a você mesmo – e o depois virá.

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ENTRE BALANÇAR O CORPO E O GOVERNO

I will survive (literalmente, “Eu sobreviverei”) andava no topo da lista naqueles anos setenta, a era disco (ou dance), com  os adultos jovens divididos em dois grandes grupos: um tentava balançar os milicos no poder usurpado, enquanto o outro queria apenas balançar o corpo, de preferência aquela parte que o bom Deus houve por bem fazer a mais carnuda do corpo humano. Talvez seja o caso de se dizer que entre mortos e feridos salvaram-se (quase) todos. A exceção é para os esqueletos danificados pelo pau-de-arara, os choques elétricos, o telefone e outros malefícios da ditadura.

DE GRANDE HIT DAS MULHERES A HINO GAY

É relevante dizer que I will survive, sabe-se lá por que cargas dágua, transformou-se no hino gay, e assim é conhecida hoje.  Dizem os entendidos (ops!) que o fenômeno se deu devido à fantástica quantidade de execuções que a música teve nos ambientes homossexuais. Eu nada vi, de nada sei, não afirmo nem nego, pois não estava lá. Estava, modestamente, procurando derrubar o governo, o que (me dói afirmar) não conseguimos. Ele só caiu de podre. Mas preciso ser justo: minha escoliose não foi provocada pelos militares, e sim pela má postura. Voltemos à canção, que é menos penosa.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

CARAS E BOCAS DE VIRA-LATA ABANDONADO

Em I will survive (Dino Fekaris e Freddie Perren), uma mulher bem resolvida é procurada pelo sujeito que a deixara de maneira vil e que, de repente, está ali na sala de visitas, dando uma de vira-lata abandonado. Diante do cara “Com aquele ar tristonho no rosto” (With that sad look upon your face), ela relembra as injúrias do passado e joga duro, bem ao estilo do lateral Felipe Melo: “Vá embora agora! Saia por aquela porta!” (Well, now go! Walk out the door!). Embora não seja suficiente para ganhar o Nobel de Literatura, é uma letra forte, apropriada para mandar homem pastar.

O PRECONCEITO E A MORTE AOS 36 ANOS

Ao descobrir que Vanusa (foto) teria a audácia de gravar I will survive, o reduto entrou em parafuso: depois do hino nacional, o que ela faria com o hino gay? Ouvi relato de que numa dessas paradas GLBT ela entoou Eu sobrevivo (versão de Paulo Coelho, ex-parceiro de Raul Seixas e maior vendedor de livros do mundo) e não reeditou o desempenho obtido com a canção de Osório Duque Estrada e Francisco Manuel da Silva, quer dizer, sob o ataque vanusiano, a música fez o que faz nos últimos trinta anos: sobreviveu. Afaste os móveis, aperte o play e solte a fran…, isto é, mande ver (escolhemos Gloria Gaynor, para prevenir acidentes com o “hino”).

(O.C.)

Tempo de leitura: 7 minutos

HAVERIA SOLIDARIEDADE NO PALEOLÍTICO

Ousarme Citoaian

A literatura, em seus diferentes formatos, é uma das mais antigas manifestações do homem. Gosto de pensar que, mesmo em tempos imemoriais, quando começa a se comunicar, ao perceber-se apreendendo o ambiente, aquele ser ainda meio curvado registrou sentimentos de crítica aos costumes, contou bravatas sobre suas caçadas (os caçadores já eram exagerados no paleolítico?) e, principalmente (esta é minha grande esperança nunca perdida), deu sinais de solidariedade com seus semelhantes. Talvez, num dia ruim do seu vizinho, esse meu irmão antigo tenha lhe oferecido um pedaço de caça para o jantar. E que os historiadores, antropólogos, sociólogos e pessimistas em geral não desfaçam minha ilusão.

A POESIA SE FAZ PRESENTE NO INFORTÚNIO

Na tevê, numa matéria sobre enchente em Santana do Mundaú/AL, uma menina de sete anos, olhos tristes mas sem lágrimas, registra, com tocante poesia, a desgraça que a acometeu: “A casa caiu. A alegria toda foi embora”. Nenhuma queixa, só a mera constatação de que a cheia lhe tirou, com o abrigo, a alegria, que por certo não era muita. Essa menina que perdeu tudo e ainda resiste em chorar me desperta para a inutilidade do que faço, um trabalho que se mostra incapaz de atenuar tristezas. Um pedreiro sabe, no fim da jornada, quantos metros de parede ergueu; quem escreve, nunca sabe se produziu uma frase sequer que valha alguma coisa – creio que Graham Greene disse isto, com outras palavras.

FAMOSA FRASE RUIM DE UM BOM AUTOR

A solidariedade no sofrimento talvez seja a mais importante característica do ser humano. Pedras e árvores não se comovem, nenhuma notícia ruim as faz chorar, pois entre as criaturas do planeta só o homem é capaz de sofrer com a desdita do outro. A má frase do bom autor (mineiro, por sinal) Otto Lara Resende (“O mineiro só é solidário no câncer”) reflete apenas um instante de humor azedo: ao que me consta, a maioria dos brasileiros é capaz de gestos da mais cabal, definitiva e piegas emoção. Essa menina de olhar triste, por exemplo, tem, com minhas lágrimas, minha solidariedade. Isto não vai aliviar sua dor, mas me deixa a quase certeza de que sou algo mais do que uma árvore ou uma pedra.

A PARTE DO HINO QUE NOS TIRARAM

Recebi (e li) interessante informação sobre o Hino Nacional Brasileiro, demonstrando quão pouco ainda conheço da minha pátria. Fico sabendo que o hino, cuja letra é considerada difícil, a ponto de muita gente errar ao cantá-lo (incluindo a cantora Vanusa e o ex-presidente FHC), já foi pior – isto é, maior: lá pelo ano de 1831, a introdução (hoje apenas instrumental) também tinha versos – e versos que, certamente, deixariam em má situação os nossos descuidados cantores, sejam oficiais, oficiosos, amadores ou profissionais: “Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever”, o verso inicial, nos dá uma ideia do que vem a seguir.

GRAVADO A BURIL NOS PÁTRIOS ANAIS

Essa parte da letra foi retirada, ao que tudo indica, devido à dificuldade que se tinha para cantá-la. Em nossos dias, quando a linguagem tende a sepultar rapidamente qualquer termo menos corriqueiro, seria temeroso manter na letra da introdução do hino coisas como “Gravai com buril nos pátrios anais do vosso poder” – isto no caso de que essa intervenção a buril nos nossos pátrios anais não viesse a despertar risinhos à socapa, suficientes para tirar a austeridade de qualquer cerimônia. Mesmo que não saibamos os motivos reais da supressão, ela parece justificada para nossos tempos, costumes e  ouvidos.

“AVANTE, BRASILEIROS, SEMPRE AVANTE”

Para atender aos mais curiosos, aqui está a parte da letra que foi retirada: “Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever/ Eia! Avante, brasileiros, sempre avante!/ Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder/ Eia! Avante, brasileiros, sempre avante!/ Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz/ Cumpri o dever na guerra e na paz/ À sombra da lei, à brisa gentil/ O lábaro erguei do belo Brasil/ Eia, sus, oh sus!”. Claro que o autor desta parte (certo Américo de Moura, de Pindamonhangaba/SP) não quis antecipar nenhum elogio ou censura ao nosso sistema de saúde pública: sus é uma interjeição, significando “avante”, “para cima” – qualquer coisa assim. No vídeo, o introdução cantada.

NO BRASIL, UMA COLEÇÃO DE EXÓTICOS

A questão dos nomes estranhos registrados no Brasil entrou na coluna e parece não querer mais sair. Esse tema que muito me encanta foi tratado há tempos pelo autor de um de meus livros de cabeceira, O coronel e o lobisomem/1964. Refiro-me a José Cândido de Carvalho (foto), criador de nomes exóticos (no que se aproxima de Guimarães Rosa), e que se valeu da lista de segurados do INPS (espécie de SUS daquela época) para demonstrar que a realidade surpreende mais do que a ficção. Nomes que constam de listas públicas farão o leitor menos informado pensar que são invenções para divertir as pessoas com o ridículo alheio. Veja abaixo algumas curiosidades.

QUANDO O RIDÍCULO É LEVADO AO EXTREMO

Jotacá Dois Mil e Um, Juana Mula, Jovelina Ó Rosa Cheirosa, Lança Perfume Rodometálico de Andrade, Leda Prazeres Amante, Magnésia Bisurada do Patrocínio, Manganês Manganésfero Nacional, Manuel Sola de Sá Pato, Maria da Segunda Distração, Maria Passa Cantando, Maria Privada de Jesus, Naída Navinda Navolta Pereira, Napoleão Sem Medo e Sem Mácula, Necrotério Pereira da Silva, Oceano Atlântico Linhares, Otávio Bundasseca, Pacífico Armando Guerra, Padre Filho do Espírito Santo Amém, Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto, Pedrinha Bonitinha da Silva, Percilina Pretextata Predileta Protestante,Voltaire Rebelado de França.

OS NOMES QUE SÃO NÚMEROS EM FRANCÊS

Por falar em França, em Mossoró/RN, o farmacêutico Jerônimo Rosado se cansou de procurar nomes para seus muitos filhos e, a partir do sexto, passou a numerá-los, primeiro em português, depois em francês. A prole ficou famosa: existe uma cidade chamada Dix-Sept Rosado (homenagem ao décimo sétimo filho de seu Jerônimo), que foi prefeito de Mossoró e governador do estado. Outros irmãos muito conhecidos foram Dix-Huit Rosado (ex-prefeito), Vingt Rosado (ex-deputado federal) e Ving-Un Rosado (foto) que escreveu vários livros e editou outros 3 mil títulos históricos, a “Coleção Mossoroense”. A lista de seu Jerônimo já chegou a Dix-Sept Rosado Sobrinho e Vingt-Un Rosado Neto.

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A PORTUGUESA QUE ENTROU PARA A MPB

São tantos os grandes compositores românticos do Brasil que citá-los seria tarefa impossível. E a arte que, como a vida, nos espreita em cada esquina, traria ainda uma surpresa à lista, com a inclusão de uma autora portuguesa, quem diria. Pois lhes digo e provo que a rapariga, levada pelo braço por um tal Raimundo Fagner Cândido Lopes (foto), empurrou a porta, arrastou a cadeira e aboletou-se ao lado de Vinícius, Noel, Orestes Barbosa, Chico Buarque, Antônio Maria, Dolores Duran e outros bambambãs, sem pedir licença. Nem precisava, pois seu soneto “Fanatismo” tem lugar reservado em qualquer roda de bambas. Ah, sim, o nome da cachopa: Florbela Espanca.

UM SONETO QUE EMOCIONOU GERAÇÕES

No primeiro quarteto, “Minh´alma, de sonhar-te, anda perdida/ Meus olhos andam cegos de te ver”, uma declaração de arrepiar qualquer ser humano. Depois, um fecho de ouro: “Ah! Podem voar mundos, morrer astros,/ Que tu és como Deus: princípio e fim”. Publicado em 1923, “Fanatismo” ganhou a eternidade das grandes obras: emocionou muitas gerações e vai emocionar outras tantas, pois nos seus 87 anos está ainda quente, como se fora feito na tarde de ontem. No Brasil, foi popularizado por Fagner, que tomou Florbela (foto) como parceira e a levou aos mais diversos palcos. Um trabalho meritório, mesmo que muitos ouvintes não façam diferença entre cantores e autores.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

POETA “ALMA IRMÃ GÊMEA DA MINHA”

A escritora portuguesa Natália Correia, ao comentar Diário do último ano, só publicado em 1981, bate sem dó nem piedade, quase colocando Florbela Espanca na lista de poetas menores: fala em “coquetismo patético” e em “poesia maquilhada com langores de estrela de cinema mudo, carregada de pó de arroz”. Também se disse que ela era “uma escrava de harém”, uma poeta “de lábios literariamente manchados” e outras expressões igualmente denunciadoras de como a crítica parecia mais interessada na autora do que na sua produção literária. Mas Fernando Pessoa (na caricatura) a chamou de “alma irmã gêmea da minha” – e isto parece compensatório de todos os preconceitos.

O PRECONCEITO E A MORTE AOS 36 ANOS

Se a sociedade brasileira no século XXI ainda é preconceituosa, conservadora e moralista, imagine-se como Portugal dos anos vinte do século passado olharia para uma rapariga ousada como Florbela Espanca. Certamente como um ser fora do lugar, dizendo coisas que não deviam ser ditas, escancarando desejos e vontades que a moral vigente mandava calar. Mulher de vida conturbada e curta (suicidou-se no dia do 36º aniversário, em 8 de dezembro de 1930), Florbela teve pequena parte do público a cobri-la de elogios, enquanto a outra a envolvia em opróbrios. Mas assegurou seu lugar na história da poesia. No vídeo, a versão cantada de “Fanatismo”, com Fagner.

(O.C.)
Tempo de leitura: 8 minutos

A IGNORÂNCIA “MADURA” É ESPANTOSA

Ousarme Citoaian
Entre os que costumam se divertir com o lixo recolhido das provas escolares não me incluo. Não creio que “a ignorância da juventude é um espanto”, como dizia o bordão de um humorístico de tevê em tempos passados, pois mais me espanta a ignorância dos maduros, os que tiveram tempo e oportunidade. Entendo que a juventude de hoje (a minha já se foi, ai de mim!) é muitíssimo mais preparada, em vários segmentos do saber, do que foi a minha geração – com as regras e exceções de praxe. Mesmo assim, em qualquer tempo se produzem pérolas, como estas que recebi (não sei se pérolas verdadeiras ou falsas), colhidas no vestibular da PUC-Rio.

GENTES SANEADAS E ÍNDIOS SIFILIZADOS

As respostas formam um paradoxo tão grande que quase toca a sabedoria, como se vê nos exemplos seguintes: 1) “Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta”; 2) “É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas, de nível municipal, estadual e federal”; 3) “No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando; 4) “A História se divide em quatro: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta, a dos nossos dias”. É mesmo urgente tirar as fendas dos olhos, sanear as gentes e reduzir o número de famigerados. E que os índios foram sifilizados, duvidar quem há-de?

A REPETIÇÃO E SEUS EFEITOS DELETÉRIOS

Corre-se o risco de ter esta coluna classificada como “ranzina”, em matéria de língua portuguesa, mas o ar anda impregnado de erros tão primários que não há “generosidade” capaz de desculpá-los. Temos comentado, com incômoda insistência, os malefícios de uma técnica nascida, dizem alguns filólogos, na indolência das redações das mídias em geral. Certo dia, um publicitário escreveu, ao fim de um anúncio, a expressão “Está esperando o quê?” – e isto foi o suficiente para, desse dia em diante, bombardearem nossos ouvidos com uma epidemia de “Está esperando o quê?”, como se isso fosse indispensável a todo texto publicitário. É técnica da repetição, com seus efeitos deletérios.

TODOS PODEM ERRAR, MENOS A ESCOLA

Parece incrível, mas existe advogado para esse inquietante pastiche – afinal, ninguém pode ser condenado sem ampla defesa. Mas há caso em que a defesa é ociosa, por exemplo, quando o erro de linguagem vem da escola. Só o ser humano erra, pois a outros animais (camundongos, baratas, muriçocas, borboleta, vacas, bois e traficantes) não foi dada a faculdade de decidir entre o certo o errado. Errare humanum est, diz o brocardo latino. E como toda regra comporta exceção, creio que, nesta regra, a exceção é a escola. Escolas não podem errar, porque a função delas é ensinar – o que se confunde com o combate aos erros. Escola que erra se equipara a cachorro que morde o dono.

REPOSITÓRIO SAGRADO DO CONHECIMENTO

Em rápida passagem pela tevê, me surpreendo com o anúncio de uma escola (que tem nome de entidade mitológica grega que renascia das cinzas), a alardear seu “récorde de aprovação”. Ora, qualquer indivíduo que alisou a carteira escolar, ainda que por tempo exíguo, sabe que a palavra é recorde (paroxítona), de sorte que o anúncio da escola não tem o direito de render-se a esse modismo que tanto ofende a prosódia culta. A forma proparoxítona (récorde) não é, em geral, mencionada pelos bons dicionários. Ao que se saiba, é tão somente uma invenção da TV Globo, seguida por pessoas desinformadas e novidadeiras. Escolas (sagrados repositórios do conhecimento) não se podem dar ao luxo de integrar esse grupo .

UM CANTAR PRECOCE, AFINADO E VASTO

Deixo aqui minhas vontades.
Deixo uma reserva surda de dicionário,
Um relicário de enigmas silenciados,
Uma patente do meu novo invento:
Um ovo de amor bem-sucedido.
E algumas orações pra causas sem remédio.
Deixo a aliança sem sentido, de prata, com ferrugem, com asma,
Com disritmia, febre, apatia de fibra, tecelagem de aço morto,
Tédio das promessas passadas, e o meu desgosto de fracasso.
Deixo um litro de leite na porta da geladeira,
Pra ser fervido amanhã.
Um bule preto, um ferro a carvão que meu pai pintou de verde.
Uns versos brancos, outros vermelhos,
Outros com o azul, que é teu.
Outros, ainda, cor de sol: tudo num envelope aéreo (…).

DE GOETHE A MARIA CLARA MACHADO

Dizer que a ilheense Rita Santana (autora de “Abandono”, excerto acima) é precoce seria uma forma de justificar seu vasto currículo, que inclui a publicação dos livros Tramela (contos/2004) e Tratado das veias (poemas/2006). Só uma criadora precoce teria, apenas recém-passada dos 40 anos (nasceu em 1969), percorrido tantos caminhos. Além das letras, sua lista de criações tem ainda trabalhos em televisão (novela Renascer, da Globo, por exemplo), teatro (do infantil de Maria Clara Machado ao clássico adulto de Goethe) e cinema (Tïeta do Agreste, Eu me lembro e outros). Além dos dois livros publicados (na gaveta está, esperando editor, Alforrias – poemas), a poética de Rita Santana está em antologias várias como Mão cheia e a recente Diálogos (Via Litterarum/2009).

HÉLIO QUASE DECOROU GRACILIANO RAMOS

Mais algumas curiosidades sobre escritores: Hélio Pólvora, gosta tanto de Graciliano Ramos que, na juventude, quase decorou os clássicos do escritor alagoano. Chegou até a fumar a mesma marca de cigarros que o autor de São Bernardo – mas, ao que consta, não virou comunista; João Guimarães Rosa atendia a pacientes nos confins rurais de Minas e se sentia culpado cada vez que algum morria (Agnes, filha do escritor, diz que ele não tinha vocação, e até “quase desmaiava ao ver sangue”);  José Lins do Rego quebrou uma regra fundamental da Academia Brasileira de Letras, quando ali tomou posse, em 1955: em vez de elogiar o antecessor, Ataulfo de Paiva, disse que ele não tinha qualidades para ter ocupado a cadeira.

JORGE AMADO, AMANTE DE SÔNIA BRAGA

Nelson Rodrigues, famoso pó-de-arroz, ao ver (sob pressão) o videoteipe que confirmava um pênalti não marcado contra o Fluminense, gritou, apoplético: “Se o videoteipe diz que foi pênalti, pior para ele. O videoteipe é burro!”; Jorge Amado, ao autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal fosse de Sônia Braga. “Por quê?”, perguntavam os repórteres, ao que o escritor respondeu que ele e a atriz eram amantes, deixando todo mundo boquiaberto. O clima ficou mais pesado ainda quando Sônia apareceu, mas ele resolveu tudo, ao levantar-se e, formal, dizer: “Muito prazer, estou encantado”. Era tudo uma piada de Jorge, pois os dois nem se conheciam.

LOBATO ERA BEBEDOR DE BIOTÔNICO

Mário de Andrade deixava o antropólogo Lévi-Strauss com ciúmes, por ser amigo de Dina, a mulher dele. Só depois da morte de Mário, o francês soube que se preocupava em vão, pois Mário era homossexual; Jorge Araujo, ao contrário do que aparenta, é muito disciplinado: no trabalho, não permite interrupções nem por telefone; Clarice Lispector (foto), com insônia, ligava para os amigos em horas mortas e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, algumas vezes, convidada para jantar, foi embora antes de a comida ser servida; Monteiro Lobato adorava Biotônico Fontoura, que bebia como se fosse licor, e tinha mania de fazer consertos (“Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra”, conta Joyce, sua neta).
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A POESIA MARGINAL DO NORDESTE

Tenho a poesia popular (que a mídia trata como cordel ou literatura de cordel – sendo chamado de cordelista quem a pratica) como uma manifestação fundamental da cultura nordestina. Minha implicância com cordel (que, felizmente, não e só minha) é que o termo – significando corda, barbante ou coisa parecida – é estranho ao linguajar brasileiro. Além de carregar um quê de preconceituoso, como se quem se dedica a esse gênero de poesia não fosse, a rigor, poeta. Ou poeta marginal, com seus livros (a mídia chama livretos) pendurados em cordões (seriam os tais cordéis, estranhos à nossa fala), nas feiras e praças públicas.

PARA SOUTO MAIOR, POESIA POPULAR

Ouço (e aprovo) o folclorista, advogado e poeta Mário Souto Maior, para quem essa produção “devia ser chamada de literatura popular ou poesia nordestina, menos literatura de cordel”. O poeta paraibano Manoel d´Almeida Filho, um dos grandes do gênero, em várias ocasiões se mostrou avesso ao verbete cordel, dizendo que literatura popular é o nome mais indicado. De qualquer maneira, cordel pegou, e os poetas em geral aceitam o rótulo de cordelistas – e até os congressos, festivais e afins dessa arte utilizam, impunemente, o termo cordel. A esta altura, minha posição é a de quem tem o pouco saudável hábito de dar murro em ponta de faca.

</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

CANTO EUROPEU ACLIMATADO

Trazemos a presença de dois ases dessa manifestação cultural nordestina, com suas violas: João Paraibano e Sebastião Dias. O primeiro, obviamente, é da Paraíba (nascido João Pereira da Luz, em Princesa Isabel); o segundo é de Ouro Branco, região do Seridó, no Rio Grande do Norte. Os dois falam da poesia e sua relação com Deus – mas dá para perceber que eles não se referem a Florbela Espanca (foto), Camões, Cecília Meireles ou Fernando Pessoa, mas àquele canto europeu que tão bem se aclimatou no sertão nordestino – ou seja: a poesia popular em versos, improvisada ao sabor da hora. Clique e entre no clima do repente. __________________________________________________________________________________ (O.C.)