A torcida itabunense lotava o estádio Luiz Viana Filho || Foto Waldyr Gomes
Tempo de leitura: 5 minutos

 

Vem o segundo tempo e Geraldo Santos abre a transmissão com o grito de guerra “Vamos lá Itabuna”, os times se estudam, como no início de jogo, mas ao que tudo indica, os técnicos Paulinho de Almeida, do Vitória, e Tombinho, do Itabuna, pedem para os jogadores apenas tocar a bola. 

 

Walmir Rosário

Guardem bem essa data: 28 de julho de 1973. Dia da Cidade de Itabuna e inauguração do Estádio Luiz Viana Filho. A cidade repleta de autoridades, como o governador Antônio Carlos Magalhães, o secretário do Bem-Estar Social, Bernardo Spector, os presidentes do Vitória, do Bahia, da Federação Bahiana de Futebol, o prefeito José Oduque e o presidente do Itabuna, Charles Henri.

E para inaugurar o estádio, que ficou conhecido como o “Gigante do Itabunão”, dois jogos foram agendados: o primeiro, entre Itabuna Esporte Clube e Vitória, no sábado (28-07-1973), e o segundo, entre Bahia e Cruzeiro, este no domingo (29-07-1973). Uma festa esportiva pra ninguém botar defeito, com público de várias cidades baianas, além da imprensa de diversos estados brasileiros.

Até hoje sinto bastante não estar presente à efeméride esportiva grapiúna, pois à época morava em Paraty (RJ), de onde ouvi resenhas e parte do jogo pela Rádio Sociedade da Bahia. Claro que não lembro exatamente o que ouvi, mas faço escrita das palavras dos colegas radialistas, Geraldo Santos, Yedo Nogueira, Ramiro Aquino, Roberto, Juca e Jota Hage, por meio da Rádio Jornal de Itabuna, cuja gravação ostento com carinho em minha biblioteca.

Geraldo Santos e Yedo Nogueira (com os microfones) || Acervo de Walmir Rosário

Pra começo de conversa, o Itabuna era um time de respeito, com jogadores vindos da vitoriosa Seleção itabunense hexacampeão baiana, bem reforçada com novos jogadores regionais e do Rio de Janeiro. Mas, a bem da verdade, encarar aquele poderoso esquadrão do Vitória era dose pra elefante, como se dizia bem antigamente.

E o jogo entre Itabuna e Vitória valia mais do que o placar de 2X2 anotado ao final da partida. A histórica inauguração do estádio de gramados suspensos, como enaltecia a mídia esportiva, tinha a grandeza do que aconteceria no jogo, como, por exemplo, quem marcasse o primeiro gol seria consagrado para o resto da vida. E esse feito coube ao ponteiro-direito Osny, o endiabrado camisa 7 do Vitória.

Outro aspecto importante dessa inauguração era o privilégio de estar presente no jogo 12 do teste de número 146 da Loteria Esportiva, sob os olhares dos apostadores de todo o Brasil. E ao anunciar o placar, o narrador Geraldo Santos não cansava de enfatizar em qual coluna se encontrava – um, do meio ou a dois, E terminou na coluna do meio, com o placar de 2×2.

E nessa transmissão, a Rádio Jornal ostentava como patrocinador exclusivo o novíssimo Centro Comercial de Itabuna, equipamento urbano considerado o mais moderno do Sul da Bahia. Num dos reclames, Geraldo Santos dizia: “Marque o maior tento de sua vida, compre uma loja no Centro Comercial de Itabuna, a obra do século”, como queria o bom marketing da época.

Após uma parada no jogo para os jogadores baterem uma falta, lateral ou escanteio, Geraldo Santos indicava aos possíveis clientes que poderiam adquirir uma loja na Construtora Fernandes, na avenida Amélia Amado, ou junto ao empreendedor Plínio Assis, na praça Otávio Mangabeira. E o Plínio era aquele mesmo que foi goleiro do Flamengo e da Seleção Amadora de Itabuna.

Enquanto isso, o jogo continuava pegado, com vantagem do Vitória nas jogadas, principalmente de Osny, Mário Sérgio, André e Almiro. Segundo o comentarista Yedo Nogueira, o jogo ainda se encontrava na fase de estudo, reconhecimento do terreno. E o narrador prometia dar um rádio Philips de presente ao jogador que marcasse o primeiro gol no Estádio Luiz Viana, uma gentileza da Loja Rosemblait

Aos sete minutos do primeiro tempo, eis que André, ainda o “Peito de Aço”, invade a área, dribla o goleiro Luiz Carlos, que derruba o centroavante na grande área. Pênalti, marca o árbitro Saul Mendes. O serelepe Osny se prepara para bater a penalidade máxima, chuta com maestria e o resultado foi bola no canto esquerdo e o goleiro caindo no canto direito. Gol do Vitória!

Coluna 2 do jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Em outro lance, enquanto o Itabuna se prepara para bater um escanteio, Geraldo Borges convida os ouvintes de toda a região para assistirem ao super show do cantor Roberto Carlos e Banda RC7 no novíssimo Estádio Luiz Viana Filho, no próximo dia 2 de agosto. Em campo, Reginaldo bate o tiro de canto e a zaga do Vitória rebate para o ataque.

Exatamente aos 16 minutos do primeiro tempo, enquanto o comentarista Yedo Nogueira analisa que o Itabuna está sem qualquer esquema de jogo para entrar na área do Vitória, André volta a receber outra bola e marca o gol. O Segundo do Vitória. Imediatamente os jogadores partem em direção ao bandeirinha Wilson Lopes para reclamar do mais claro e límpido impedimento e são ameaçados de expulsão pelo árbitro Saul Mendes. Só faltou dizer “gol legal”, como Mário Vianna, com dois enes.

E a partida continua na coluna 2 no jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Aos 30 minutos Osny chuta raspando a trave de Luiz Carlos. Aos 33 minutos, Déri invade a grande área e pega o goleiro Agnaldo, do Vitória desprevenido e marca o primeiro gol do Itabuna, fazendo delirar na arquibancada a torcida alvianil.

E o gol deu ânimo aos jogadores do Itabuna e numa jogada de ataque, Rafael passa pelo marcador, a bola é rebatida por Valter (Vitória) cai nos pés de Perivaldo, que passa a pelota a Jaci, que dá o passe para Déri marcar o segundo gol. A torcida, animada pela bateria da Escola de Samba da Mangabinha, comemora pra valer. Itabuna 2, Vitória também 2. Coluna do meio na loteca.

Vem o segundo tempo e Geraldo Santos abre a transmissão com o grito de guerra “Vamos lá Itabuna”, os times se estudam, como no início de jogo, mas, ao que tudo indica, os técnicos Paulinho de Almeida, do Vitória, e Tombinho, do Itabuna, pedem para os jogadores apenas tocar a bola. E assim o placar continuou selado nos 2X2 e Déri também é agraciado com um rádio Philips da Loja Rosemblait.

No dia seguinte o jogo foi entre Cruzeiro e Bahia, e não passou de 1×1.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Walmir Rosário transforma entrevista em aula de jornalismo
Tempo de leitura: 7 minutos

Walmir Rosário é um contador de histórias, no melhor sentido da expressão. Radialista, jornalista, escritor e advogado, faz da palavra instrumento de trabalho. Com cinco décadas na estrada, sua trajetória se confunde com a história recente do jornalismo no sul da Bahia. Tudo começou no rádio. “Por acaso”, recorda Walmir ao PIMENTA. Estreou com participações em programas religiosos da Rádio Sociedade de Feira de Santana, dos Capuchinhos.

Nascido em Ibirataia, em 1950, viveu em Itabuna desde os dois anos. Deixou o município cedo para estudar nos seminários dos Capuchinhos, em Vitória da Conquista e Feira de Santana. Quando a ordem de inspiração franciscana assumiu a Rádio Clube de Itabuna, sob o comando de Frei Hermenegildo, Walmir voltou para a cidade, manteve as participações em programas religiosos e foi contratado pela emissora.

Nos tempos áureos do cacau, integrou a equipe de comunicação da Ceplac. Também apresentou o programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora de Itabuna. Na imprensa escrita, foi editor dos jornais A Região e Agora e repórter do Correio da Bahia – hoje Correio 24h. Prestou serviços, como freelancer, a jornais de Salvador e das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

Ainda na comunicação, atuou em campanhas eleitorais e foi assessor e secretário das prefeituras de Itabuna, Ilhéus, Itajuípe, Floresta Azul e Canavieiras. Com a persona de advogado, militou em Itabuna (inclusive, como procurador do município), Ilhéus e Canavieiras, onde mora atualmente.

Já publicou livros como Josias Miguel – 70 anos de história; Crônicas de Boteco, um guia sem ordem; Como sobreviver à pandemia; Os Grandes craques que eu vi jogar – nos estádios de Itabuna e Canavieiras; O Berimbau, valhacouto de boêmios. Tem mais quatro obras no prelo e escreve crônicas semanais no blog que leva seu nome. e que também é reproduzido por este site.

Nesta entrevista ao PIMENTA, Walmir Rosário recupera os grandes nomes das redações grapiúnas e conta momentos pitorescos e tensos que viveu na cobertura da política. Também analisa o exercício da profissão no sul da Bahia e compara a dinâmica entre a sociedade civil organizada e a imprensa nas cidades de Ilhéus e Itabuna. Leia.

PIMENTA – Quais são as características elementares de uma boa história?

WALMIR ROSÁRIO – Todas as histórias são boas, dependendo de como são contadas. Basta ter começo, meio e fim bem definidos que agradará. Claro que um personagem forte, por si só, se garantirá. É preciso que o comunicador compreenda a mensagem que o personagem carrega e a transmita para o texto. O personagem pode ser político, empresário, médico, engenheiro, policial, infrator, cumprindo pena ou não, padre, pastor, ou o chamado “alguém do povo”. Basta que tenha uma história verdadeira para contar. E todas as histórias são boas, volto a dizer, a depender do ponto de vista, pois pouco se conhece da vida de uma pessoa, desde a mais simples até as que ocupam os altos cargos, os poderosos. Cada um tem o que dizer.

E as de um bom narrador?

Saber ouvir, apurar, ter paciência e senso de desconfiança quando não conhece o personagem. Não pode deixar o personagem correr solto, falar à vontade. É bom interromper a entrevista quando acredita que a fala não tem sentido. Se for verdadeira, ele retomará sem problemas. Um bom narrador tem que ter um bom ouvido, anotar tudo que considere importante e, se possível, gravar. Na gravação dá para sentir a emoção do entrevistado, se fala a verdade ou não, a depender da segurança – não confundir com nervosismo. O comunicador tem que ser um profissional especialista em conhecimentos gerais, saber concatenar a história, ligar um fato a outro, conhecer lógica, mesmo de forma rudimentar, e ter raciocínio rápido. É esse feeling que vai tornar a narrativa agradável, texto simples e de fácil leitura, e, sobretudo, verdadeira. E isso é tudo que agradará a um leitor, não importando o seu nível de escolaridade. Escrever para todos é o ideal e mais inteligente.

É possível comparar a qualidade do jornalismo de 40 anos atrás com a do atual? Evoluiu?

Apesar de saudosista, as comparações nem sempre são verdadeiras, pois é preciso situar o tempo, o espaço, os costumes. No século passado, até o início da década de 1950, boa parte dos jornais eram veículos de propaganda de partidos e governo. Em Itabuna este fato está bem documentado por Ramiro Aquino no seu livro De Taboca a Itabuna, 100 anos de jornalismo. A partir de 1960, houve uma mudança na forma da apresentação dos textos e diagramação. Dessa época pra cá muito se falou em jornalismo com isenção, e até que chegou a ser praticado pela direção dos principais veículos, embora muitos pequenos também tenham feito o dever de casa. Do ano 2000 para cá, a militância política voltou em cheio aos meios de comunicação, só que agora com o engajamento da direção.

Falta isenção?

Briguei muito nos veículos de comunicação para manter a democracia, dividindo os espaços com a sociedade. Muitas vezes, fui incompreendido. Cada um tem sua ideologia, mas não pode ser vendida se sobrepondo aos fatos. Se o jornalista quer expressar opinião, que assine seu pensamento. Não pode é influenciar numa matéria substantiva, adjetivando-a, distorcendo os fatos. Há algum tempo os comunicadores se revestem de policiais, representantes do ministério público, juízes, sem os poderes conferidos. Muitas vezes, causam prejuízos irreparáveis e o mea-culpa não é feito com o destaque do dano. Sempre dei espaço a todos os segmentos. Vez ou outra, no mesmo número do jornal, assinava um artigo contrário àquela posição. Então, posso afirmar, houve uma perda de qualidade, embora tenhamos bons veículos e excelentes profissionais.

Poderia citar profissionais em quem se inspirou no jornalismo?

Minha infância e adolescência foi bastante rica na comunicação, pois ouvíamos e líamos grandes profissionais. Em Itabuna, em frente ao Colégio Estadual, ficava a sede do Intransigente, para onde eu ia ver formatar o texto do jornal em tipos frios, conversar com os redatores. No Diário de Itabuna, ainda na Paulino Vieira, ficava horas conversando com Milton Rosário, o editor da época. Na publicidade, me encantava com as sacadas rápidas de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho (CCCC); o mesmo com Nelito Carvalho, os editoriais do poeta santamarense Plínio de Almeida no rádio e nos jornais; o poder da lábia de Titio Brandão, Germano da Silva, Pedro Lemos, Gonzales Pereira, Orlando Cardoso, Geraldo Santos (Borges), Edson Almeida, Iedo Nogueira. E, nos jornais do sul, Carlos Castelo Branco, Nélson Rodrigues, Waldir Amaral, Rui Porto e tantos outros.

O jornalismo do sul da Bahia conseguiu estabelecer identidade e marcas próprias? Ele tem (teve) expoentes no patamar da nossa literatura, por exemplo?

O poeta e escritor Plínio de Almeida é um deles. Alguns jornais, muitos deles de vida efêmera, trouxeram grandes nomes. Um desses veículos foi o SB – Informações e Negócios, uma maternidade do jornalismo e literatura de Itabuna, capitaneado por Nelito Carvalho. Época de Jorge Araújo, Manoel Lins, Hélio e Célio Nunes, Firmino Rocha, Antônio Lopes, Kleber Torres. Quase esqueci de dois monstros sagrados, Telmo Padilha e Hélio Pólvora.

Qual foi o episódio mais pitoresco que viveu na comunicação política?

Walmir relembra episódio pitoresco ao lado de José Adervan

No jornal Agora, fazíamos constantes matérias sobre os serviços públicos nos bairros. Numa delas, recebemos reclamações da Prefeitura de Itabuna, de que não seriam verdadeiras. Como confiava na repórter, resolvi convidar o diretor José Advervan para ir constatar a veracidade. Quando chegamos lá, a situação era pior do que a narrada. Quando voltávamos, Adervan recebeu uma ligação do prefeito para dizer que era tudo mentira, no que o diretor revela que ele estava justamente vindo de lá e que teria comprovado as denúncias já publicadas e outras várias. E tudo acabou em risadas.

Tem mais?

Eu era editor do jornal A Região e repórter do Correio da Bahia. A Região não era bem-vista pelo governo municipal e eu fui atender a um convite da assessoria para elaborar um caderno especial de 32 páginas para a Prefeitura de Ilhéus. Época de festas juninas, inauguração de obras, apresentação de um novo futuro com a vinda de empreendimentos. Cheguei, fui anunciado e me pediram para aguardar numa antessala, até que fosse encerrada uma reunião com os profissionais. De onde eu estava, ouvia tudo que falavam. De repente, o assunto da reunião deles foi a elaboração de um caderno vibrante sobre Ilhéus, que eles comparavam com uma edição de A Região. Isto até que fui visto, quando passaram a esculhambar o jornal A Região. Tranquilo, continuei sentado, aguardando ser chamado para a pauta do especial do Correio da Bahia.

E o momento mais tenso que já enfrentou?

O jornalismo é sempre tenso, desde a entrevista, a apuração, a redação e o fechamento do jornal – escrito, falado e televisado. Imagine quando alguém se sente contrariado em seus interesses. Já recebi a visita de pessoas que já chegam prometendo bater, matar. Como editor, sempre tinha que comprar a briga, por telefone ou pessoalmente. Nunca me intimidei e, de início, busquei uma conversa franca e educada, o que quase sempre conseguíamos.

Já teve ameaça?

Várias. A primeira no caso da venda da Sulba, em que fiz uma série de reportagens para o Agora; de outra feita prometeram me matar quando estivesse em um bar; que poderia ser preso em flagrante por posse de drogas em meu carro. Nesse caso sugeri que melhor seria colocar litros de whisky ou cachaça, do contrário ninguém acreditaria. Mas continuo vivo.

Os movimentos sociais, as entidades de classe e a imprensa de Itabuna têm mais influência nas disputas eleitorais do que em Ilhéus?

Infelizmente, os jornais perderam espaço em Itabuna e Ilhéus. Os que continuam sobrevivem como podem e bem-feitos. Há uma grande diferença na comunicação entre Itabuna e Ilhéus, e uma distinção é a sede dos canais de TV. De certa forma, em Itabuna, a comunicação sempre foi mais incisiva, e as entidades de classe sempre souberam utilizar os veículos de comunicação em causa própria. Esse poder ficou maior com as mídias sociais, de maior agilidade e sem filtros. Os políticos que sabem interagir com a dita imprensa e as redes sociais levam grande vantagem. Mas, nos últimos anos, Ilhéus avançou no poder da mídia tradicional e da rede social, não só com as notícias corriqueiras, como também das analíticas, influenciando mais eleitores. Desde os anos 1980 que o sociólogo Agenor Gasparetto costuma dizer que a eleição em Ilhéus é decidida um ano antes. Como exemplo mais antigo, a eleição de Valderico Reis, em 2004. Duas cidades, pesos diferentes, mas que passam a ficar com a mesma cara, pelo trabalho de alguns dos comunicadores ilheenses.

Advogado Geraldo Borges apresenta projeto de revitalização do esporte itabunense
Tempo de leitura: 4 minutos

 

A simplicidade do projeto é uma demonstração de sua viabilidade e execução, e que pode ser iniciado com a alocação de poucos recursos, parceria e muita criatividade. Geraldo Borges colocou a bola na marca do pênalti, cabe, agora, ao Executivo chutá-la em gol.

 

Walmir Rosário | [email protected]

Itabuna sempre foi considerada uma grande praça esportiva, tanto pela quantidade e qualidade de seus jogadores, quanto pelos torcedores, apaixonados pelo futebol, voleibol e outras modalidades esportivas. Há décadas, equipes amadoras fascinavam os torcedores no acanhado campo da Desportiva nas tardes de domingo, sem falar na seleção amadora de Itabuna, hexacampeã baiana.

Se praticávamos um futebol de excelência, nos orgulhávamos em receber as grandes equipes brasileiras do passado, que exibiam craques como Mané Garricha, Evaristo de Macedo, Bellini, Zico, Roberto Dinamite, dentre outros astros da constelação do América, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, dentre tantos outros. Mas isso faz parte de um passado constantemente relembrado com carinho pelos itabunenses.

Inconformado com a situação de penúria que chegou o esporte – em suas várias modalidades – o radialista, advogado e mestre em Administração Pública, Geraldo Borges Santos, resolve dar o pontapé inicial na partida de soerguimento do esporte na cidade. E não é a sua primeira iniciativa, pois desde o final dos anos 1960, junto com Ramiro Aquino e Yêdo Nogueira, liderou uma campanha para a construção do Estádio Luiz Viana Filho.

Agora, se empenha em colaborar o escrever um projeto, no sentido de provocar ações da administração pública municipal, para a criação de uma política que possibilite recrutar, selecionar e envolver jovens em todos os bairros de Itabuna para a prática de esportes em suas diversas modalidades. Para tanto, considera fundamental a recuperação da Vila Olímpica de Itabuna, integrando o Ginásio de Esportes ao Estádio Luiz Viana Filho.

O projeto, elaborado em abril de 2021, foi entregue ao vereador Ronaldão, para que seja alvo de debate entre a sociedade, o Legislativo e o Executivo. Acredita Geraldo Borges que, se por um lado a expansão imobiliária acabou com os campos de peladas na periferia da cidade, em muitos bairros foram construídas quadras de esportes, hoje subutilizadas ou destruídas por falta de uma política pública de conservação, o que prejudica o esporte.

Geraldo Borges cita os feitos esportivos de Itabuna, que se destacou no futebol, voleibol, futebol de salão, natação, atletismo e basquetebol, neste, sagrando-se terceiro colocado nos Jogos Abertos de Santo André (SP). No Futebol, foi campeã do Torneio Antônio Balbino, em 1957, por ocasião da inauguração dos refletores do estádio da Fonte Nova, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek, o início ao hexacampeonato.

Ainda no futebol, o Itabuna Esporte Clube foi vice-campeão baiano de profissionais, em 1970. Na mesma balada, os juniores do Itabuna se consagraram campeões baianos em 1971, época em que revelou grandes jogadores, entre eles Perivaldo, convocado posteriormente para a Seleção Brasileira. Tempos depois, por falta de incentivo, o Itabuna caiu para a segunda divisão e permanece inativo como clube de futebol.

Geraldo Borges, o autor do projeto

Para o autor, todos os feitos e conquistas de antes deveu-se ao trabalho empírico de alguns colégios e campinhos de bairros, e hoje a cidade conta com a Universidade Estadual de Santa Cruz, a Unime e a FTC, faculdades de Itabuna e entorno, que dispõem de cursos de educação física. Daí sairão os recursos humanos especializados no preparo de jovens, recorrendo a professores e alunos, estes últimos na condição de estagiários, remunerados ou não, por meio de convênios autorizados pelo Legislativo.

Além da Vila Olímpica, integrada por um grande Estádio de futebol com pista de atletismo (inacabada, é verdade) e estrutura do ginásio de esportes e piscina, a Prefeitura poderá firmar parcerias e convênios com clubes sociais e entidades privadas. Enquanto isso, o município buscará mais recursos junto aos governos federal, estadual e a iniciativa privada para custeio e investimentos.

Conforme especifica o projeto de Geraldo Borges, os recursos para implantar o projeto podem ser alocados no orçamento da Secretaria Municipal de Esportes, que já conta rubricas específicas e técnicos capacitados para empreender as atividades. Para ele, um projeto dessa grandeza encontrará grandes parceiros entre empresas ligadas aos esportes, a exemplo das indústrias de confecção de material esportivo.

Clique e confira aqui o projeto

Conclui-se, portanto, que a cidade tem uma estrutura básica de equipamentos públicos voltados para o esporte, grande contingente de jovens ávidos para envolvimento em atividades esportivas e de atletismo. Tudo isso aliado a uma população que gosta de esportes, com histórica tradição de sucesso, restando ao Executivo e Legislativo estabelecerem uma política pública que possa beneficiar toda a comunidade.

A simplicidade do projeto é uma demonstração de sua viabilidade e execução, e que pode ser iniciado com a alocação de poucos recursos, parceria e muita criatividade. Geraldo Borges colocou a bola na marca do pênalti, cabe, agora, ao Executivo chutá-la em gol.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: < 1 minuto

19 de Agosto é o Dia Mundial da Fotografia. Se a data não é lembrada por muitos, coube a Ed Ferreira uma postagem em seu site lembrando do dia. O profissional traz uma coletânea de belas imagens captadas por ele no sul da Bahia.

19 de Agosto é o Dia Mundial da Fotografia. Se a data não é lembrada por muitos, coube a Ed Ferreira uma postagem em seu site lembrando do dia. O profissional traz uma coletânea de belas imagens captadas por ele no sul da Bahia, região de outros grandes nomes, como José Nazal, Castilho, Zeka, Waldyr Gomes, Clodoaldo Ribeiro, e Geraldo Borges, além de revelações, dentre as quais Cristiano Cruz, Sandro Andrade, Jaque Cerqueira, Vinícius Borges e Gabriel Oliveira. Confira a seleção de imagens feitas por Ed Ferreira (clique aqui).

Tempo de leitura: 2 minutos

rribeiroRicardo Ribeiro | [email protected]

 

Antes do jogo, Borges ouvira de um torcedor do Itabuna que queria vencer o jogo de qualquer jeito, mesmo que fosse com um gol roubado. Para ele, foi rigorosamente o que aconteceu.

 

Sempre gostei de conhecer as velhas histórias da imprensa, seja a itabunense, a baiana ou a brasileira. Não é à toa que li “De Tabocas a Itabuna – 100 anos de imprensa”, com os causos antológicos compilados pelo jornalista Ramiro Aquino. E viajei na leitura de livros como “Cobras Criadas”, de Luiz Maklouf Filho; “Minha Razão de Viver”, autobiografia de Samuel Wainer, e “Chatô, o Rei do Brasil”, biografia de Assis Chateaubriand escrita por Fernando Morais.

Vale a pena gastar tempo em uma roda de veteranos, rememorando eventos que se deram nas redações e sabendo como era o trabalho da imprensa no passado. Em Itabuna, um dos que conhecem e viveram boas histórias é o advogado e professor de direito Geraldo Borges, que durante anos militou no rádio e bem mais tarde na televisão. No rádio, ele era conhecido como Geraldo Santos e atuava na cobertura esportiva.

O ex-radialista conta episódio ocorrido na década de 70, na transmissão de um jogo entre Fluminense de Feira e Itabuna pelo Campeonato Baiano. A partida foi disputada no Estádio Joia da Princesa e o Itabuna venceu com um gol chorado, em pênalti duvidoso. Borges, que narrava o jogo, atento ao lance, não constatou a penalidade. Consultou o comentarista Ramiro Aquino, que também não viu absolutamente nada. Lance normal. Mas o juiz marcou e o Itabuna estufou o filó. Pronto.

Atormentado pela dúvida, sem o auxílio luxuoso do replay, o narrador itabunense procurou a ajuda do colega de uma emissora de Salvador. O sujeito lhe disse: “o resultado favorece meu Vitória, portanto foi pênalti e pronto”. Não adiantou, o cabra da capital era fiel  seguidor da regra de que os fins justificam os meios, ainda que estes sejam indecorosos. Isenção zero.

Geraldo Borges (então Santos) e Ramiro Aquino foram os únicos a duvidar do tal pênalti, o que lhes valeu o epíteto de traíras e outros adjetivos desse naipe. Em Itabuna, só faltou serem recebidos por uma artilharia de caroços de jaca, e o dono da rádio, Hercílio Nunes, mandou divulgar nota de repúdio aos dois radialistas. Na própria emissora em que eles trabalhavam.

Antes do jogo, Borges ouvira de um torcedor do Itabuna que queria vencer de qualquer jeito, mesmo que fosse com um gol roubado. Para ele, foi rigorosamente o que aconteceu. Mas não foi a primeira nem será a última fraude a entrar para a história.

Ricardo Ribeiro é blogueiro e advogado.