CGU afirma que empresa iniciou prestação de serviço antes da assinatura do contrato; governo Mário Alexandre diz que vai comprovar legalidade do uso dos recursos federais || Foto Clodoaldo Ribeiro
Tempo de leitura: 2 minutos

Ilhéus acordou com a notícia de que a Prefeitura é alvo de mais uma investigação policial por suspeita de desvio de recursos para o combate da Covid-19. Deflagrada nesta quarta-feira (11), pela Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), a Operação Nefanda foi antecedida pela Operação Anóxia, feita no dia 22 de dezembro de 2020 pelas mesmas instituições. Na primeira, os investigadores apontaram superfaturamento de R$ 110 mil no contrato da HSC Serviços Empresariais, contratada pelo município para gerir o Centro Covid.

A segunda operação investiga o contrato da empresa responsável por administrar o abrigo onde pacientes com Covid-19 foram hospedados, em Mamoan, no litoral norte de Ilhéus. Dessa vez, segundo a CGU e a PF, a suspeita de superfaturamento é de R$ 571.656,04, em pagamentos no período de julho a setembro de 2020. Essa quantia  corresponde a 47,8% do valor total pago à contratada (R$ 1.195.756,00).

EMPRESA INICIOU SERVIÇO ANTES DA CONTRATAÇÃO, DIZ CGU

O nome da empresa beneficiária do contrato 163/2020S, da administração do Abrigo de Campanha, é Thaline S Souza Eireli. De acordo com a CGU, que divulgou nota sobre a operação, apesar do contrato ter sido homologado em setembro de 2020, a empresa iniciou a prestação do serviço antes, no final do mês de junho.

Ainda segundo o órgão de controle externo, mesmo sem a cobertura contratual, a Secretaria de Saúde de Ilhéus pagou quase meio milhão de reais à contratada, o que teria sido comprovado por meio da análise de documentos e da visita de membros da CGU ao município.

PREFEITURA EMITE NOTA SOBRE A OPERAÇÃO NEFANDA

Às 12h45min desta quarta-feira, por meio de nota publicada no site da Prefeitura, o governo Mário Alexandre negou as suspeitas levantadas pela CGU e a Polícia Federal. Conforme o texto, a assessoria jurídica e os órgãos de controle interno do município acompanharam as buscas da Operação Nefanda.

A nota diz que a Prefeitura vai comprovar, com documentos, que os serviços – contratados para o funcionamento do Abrigo de Campanha – foram prestados de forma regular.

O governo acrescenta que a prestação de contas do uso dos recursos foi feita, sem atraso, à Controladoria Geral da União.

“A Prefeitura Municipal de Ilhéus preza pelos princípios da publicidade e transparência dos atos públicos e, sobremaneira, pelo princípio da legalidade, a corroborar com a atuação dos órgãos de controle externo, inclusive apurando a responsabilidade de servidores, se for necessário”, conclui a nota.

Agentes da CGU chegam à sede da empresa acusada em Itororó || Foto CGU
Tempo de leitura: 3 minutos

Denominada Operação Anoxia, a operação da Polícia Federal (PF) e Controladoria-Geral da União (CGU) em Ilhéus e Itororó nesta terça-feira (22) apurou que houve superfaturamento de mais de R$ 110 mil em um único mês – junho – passado pela HSC Serviços Empresariais, com sede no pequeno município do médio sudoeste baiano.

“Conforme dados disponibilizados pelo site do Tesouro Nacional Transparente, Ilhéus/BA recebeu, desde o início da pandemia até o momento, mais de R$ 40 milhões, entre auxílio financeiro e despesas adicionais do Ministério da Saúde, para ações de combate à Covid-19″, informa a CGU.

Apesar disso, o cenário epidemiológico em Ilhéus permaneceu desfavorável por muito tempo. “Dados disponibilizados pela Central Covid-19 da Universidade Estadual de Santa Cruz indicam que, atualmente, a cidade apresenta o quarto maior número de óbitos no Estado da Bahia (263) e uma retomada no aumento do número de casos confirmados de Covid-19”, diz nota da CGU.

INVESTIGAÇÕES

Segundo a CGU e a Polícia Federal, as investigações começaram em agosto e apontaram direcionamento, por parte da Secretaria de Saúde de Ilhéus, à empresa responsável pela contratação de mão de obra especializada (médicos, enfermeiros, psicólogos) por dispensa de licitação.

A empresa recebeu mais de R$ 2,5 milhões do Fundo Municipal de Saúde. Ainda segundo a PF, foram constatados também indícios de outros crimes, como o não pagamento de encargos trabalhistas e a apropriação indébita previdenciária, pelo não repasse ao INSS das contribuições descontadas dos contratados.

Os investigados vão responder pelos crimes de fraude a licitação (arts. 89 e 90 da Lei nº 8.666/93); apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do Código Penal); estelionato (art. 171 do Código Penal) peculato (art. 312 do Código Penal) e corrupção passiva (art. 317 do Código Penal). A operação é feita em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU).

DENÚNCIA

A empresa HSC Serviços Empresariais, alvo de mandados de busca e apreensão pela PF e CGU, venceu licitação aberta pela Secretaria de Saúde de Ilhéus em junho e abocanhou contrato de R$ 2.587.955,76.

Pelo contrato, a empresa deveria contratar serviços de terceirização de mão de obra na área de saúde, já contabilizando, dentro de apenas dois anos de funcionamento, nove contratos, contando com o de Ilhéus.

A primeira denúncia contra a empresa HSC Serviços Empresariais foi feita pelo portal de notícia Jornal da Bahia Online, editado em Ilhéus. O furo de reportagem rendeu-lhe alguns inconvenientes, a exemplo da exigência de publicação de “Direito de Resposta”.

No portal, o jornalista tinha advertido que, a poucos meses da eleição, com o prefeito Mário Alexandre Souza candidato à reeleição, a Prefeitura de Ilhéus contrataria prestadores de serviços através de uma empresa terceirizada, escolhida sem necessidade de licitação, por conta da pandemia.

“Segundo o Diário Oficial, a medida visa atender demandas temporárias voltadas para o combate à Covid-19”, diz a reportagem.

No mesmo dia o portal entrou em contato com o secretário Geraldo Magela, responsável pela assinatura do contrato, para saber se uma empresa com pouco tempo de atividade terá a experiência suficiente para gerenciar um contrato superior a R$ 2,5 milhões na contratação de profissionais para atender a Covid-19 em um dos municípios mais atingidos do estado.

Mas, em vez de dar explicações, o secretário preferiu passar o contato do jornalista para a empresa. Mesmo informado que o noticiado era público, já que foi publicado no Diário Oficial do Município e que a matéria em questão não citava nada além mais do que a contratação da empresa, foi pedido “Direito de Resposta” que acabou publicado.

Além de defender sua capacidade técnica, a nota informava que “a Diretoria da HSC e seus colaboradores estão à disposição para esclarecer qualquer imbróglio que, porventura, venha surgir neste contrato de terceirização de mão de obra intermediária para atender demandas temporárias da Secretaria da Pasta de Saúde do Município”.