Dores no tórax e na cabeça levaram Adonai a buscar ajuda médica em um posto de saúde de Uruçuca, no sul da Bahia, onde mora. Naquele dia 6 de novembro, foi identificada uma gastrite leve, mas o exame de sangue indicou que o jovem tinha problemas maiores, com diminuição severa de plaquetas, indicativo de leucemia, câncer que ataca o tecido sanguíneo e devasta o sistema imunológico.
Transferido no mesmo dia para o Hospital Regional Costa do Cacau, em Ilhéus, Adonai Bispo dos Santos, de 29 anos, recebeu a confirmação do diagnóstico na unidade, no último dia 11. Como o Hospital não oferece o tratamento de que ele precisa, desde 12 de novembro, o nome dele está na fila da Central de Regulação da Secretaria da Saúde da Bahia, responsável por otimizar a distribuição das vagas nos leitos dos hospitais do estado ou conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Documento do Hospital Costa do Cacau informa que a necessidade da transferência é urgente.
Adonai é casado com Ane Karoline Barreto Rodrigues, de 32 anos. Ela está grávida, e o primeiro filho do casal vai se chamar Miguel, informa Nadson Bispo dos Santos, irmão mais velho de Adonai, em entrevista ao PIMENTA. Segundo ele, se não há vaga para Adonai nos hospitais da Bahia, é dever da Sesab transferi-lo para outro estado:
– Acho que a vida é o mais importante. O SUS é nacional. Se não tem vaga na Bahia, o estado dá um jeito [de assegurar tratamento em outro estado], que a gente dá um jeito de se locomover. O importante é o tratamento começar. É uma vida que está em risco. Meu irmão tem 29 anos. A mulher dele está grávida de seis meses.
“A GENTE NÃO QUER OUVIR VEIO TARDE“
Nadson tem consciência de que o irmão precisa iniciar o tratamento o mais rápido possível para ter mais chances de sobreviver. Ressalta que o Hospital Costa do Cacau fez o que está ao alcance da unidade. “A assistência correta foi dada. Como descobriu a doença oncológica, agora meu irmão só está sendo hidratado e tomando remédio para dor. Agora a responsabilidade é da Secretaria de Saúde do Estado, é da Regulação”.
O caso de um conhecido da família – que esperou dois meses para iniciar tratamento contra um câncer e morreu – fez Nadson Bispo pensar que o estado não pode entregar Adonai ao mesmo destino. “Com dois meses, já está no final da doença. O médico vai dizer veio tarde. A gente não quer ouvir veio tarde não”.
OUTRO LADO
Ao PIMENTA, o Hospital Regional Costa do Cacau afirmou que, por lei, não tem autorização para divulgar informações sobre o paciente. Também procurada, a Sesab levantou o mesmo argumento, acrescentando que o sigilo tem amparo em determinação do Conselho Federal de Medicina, no Código de Ética Médica e na Lei de Acesso à Informação. Leia a nota da Pasta na íntegra.
Cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual.
Essa medida, que resguarda o paciente e equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, em que é vedado “fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente”. Ainda no Artigo 73, parágrafo único, a divulgação permanece proibida “mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido”.
O respaldo dessa medida de não divulgação também está na Lei de Acesso à Informação (art. 31, & 1º, I da Lei nº 12.527), norma que garante 100 anos de sigilo para informações pessoais relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem.