ENTREVISTA QUE PARECE FRATURA EXPOSTA
Um programa de tevê usou (é literal o termo) uma criança para entrevistar, comprometer e constranger o deputado José Genoíno – criando uma grande polêmica sobre se houve ou não arranhões ao direito da criança, definido em lei. Como este espaço fala de jornalismo, mesmo que ninguém haja pedido minha opinião, dou-a, ainda assim. Deixo a criança ao juizado competente e atenho-me à outra face, o “entrevistado”, para dizer que “arranhão” é muito pouco: o que percebi foi a ética gravemente traumatizada, algo comparável a uma fratura exposta. Genoíno, condenado pelo Supremo Tribunal, não é santo, mas não cabe à mídia fazer-se de carrasco e executar penas.
________________
Chegaremos à tortura de entrevistados?
Diria aos jovens repórteres que o recurso da câmera escondida, comum nas tevês, me cheira a jornalismo policialesco, um segmento que me ocorreu inventar agora, e que nada tem de bom: tapeia-se o entrevistado para lhe “arrancar” o que ele não quer dizer. Se todos os meios são válidos para obter declarações (até explorar a inocência de crianças), daqui a pouco teremos “repórteres” torturando entrevistados, só para saber o que estes têm a declarar. Se o entrevistado não quer falar, precisamos respeitar seu direito (lembrem-se de que os tribunais, que têm a força, respeitam essa prerrogativa). Se Genoíno não quer falar à imprensa, está no direito dele.
______________
A lição que toda mãe pode transmitir
Encerrando, uma observação para os repórteres que ainda raciocinam fora dos padrões em voga: todo entrevistado tem o sagrado direito de, em frente à mídia, saber com quem está falando e a que veículo pertence quem o entrevista. Se esse contato não for feito às claras, estaremos empregando truques e artimanhas que não pertencem à profissão, e tampouco a engrandecem. No mais, se alguém achar que esta coluna defendeu o deputado não terá entendido nada. Aproveitando, uma “lição” sobre ética, que qualquer mãe é capaz de transmitir ao filho (e que serve não só para o jornalismo, mas para a vida): trate os outros da forma como gostaria de ser tratado.
COMENTE! » |
(ENTRE PARÊNTESES)
AUTOR “BRITÂNICA” DIVULGA OBRA DE MARX
WILSON SIMONAL E O TEMPO DAS CINZAS
_______________
Simonal sumiu das paradas, deixou de fazer shows, ninguém queria gravá-lo mais. Seu crime? Divulgou-se que ele era dedo-duro do DOPS, a entidade que investigava, prendia, torturava e matava os inimigos da ditadura militar. A queda foi rápida como a subida: em 1975, na RCA Victor, a todo vapor, em 1980 grava na Copacabana e vende pouco, em seguida o mesmo resultado na Ariola, vai de déu em déu, até seu último registro, na Happy Sound (?) em 1998. Em 2000, esquecido e execrado, morreu de cirrose, provocada pelo alcoolismo em que mergulhou. Calava-se uma das mais esmeradas vozes da MPB. A familiares, o cantor dissera, pouco antes: “Eu não existo na história da música brasileira”. No vídeo, Simonal antes da queda, durante show em Lisboa.
(O.C.)