Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com
Já se falou basicamente tudo sobre Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, EUA/Reino Unido, 2010), de Tim Burton (Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, Sweeney Todd). O problema é que tudo falado sobre parece vir muito mais da expectativa criada (3-D pós Avatar + clássico da literatura + Johnny Depp + Tim Burton) que pela execução – e muito do falado a favor do filme parece mais boa vontade de tietes de Burton-maníacos que real crença no que está projetado.
Lógico que é possível gostar de Alice sem condescendência do autor, até porque o que o filme tem de bom não é o que ligamos necessária e imediatamente a Tim Burton. Pode-se falar do investimento no visual fantástico (no sentido literal), mas ele é menos Tim Burton e mais extravagância auto-importante.
Fascina assistir a tudo aquilo, mas o deslumbre é puramente visual; você fica de boca aberta, sorriso nos dentes, mas com mente vazia e distraída. O que não quer dizer que um filme obrigatoriamente bom é o que obrigatoriamente faz pensar (não temos mais 10 anos), mas sim que a junção entre imagens marcantes e maneira insossa de contar a história aumenta o contraste e potencializa o que há de ruim no filme. Helena Bonham-Carter está sensacional em cada momento, mas temos um restante – inevitavelmente relevante – genérico.
Pode-se falar em feminismo (Alice quer independência, escolher o que faz e com quem casa), em mescla de obras de Lewis Carroll (entre No País das Maravilhas – 1865 e Do Outro Lado do Espelho – 1871), mas sensação é de forte maquiagem que tenta se bastar e não consegue. Em uma história tão narrativa (independente do cânone original, temos aqui o roteiro de um filme narrativo), o deleite com ela não é suficiente.
Visto, em 3D, no Cinemark – Salvador, maio de 2010
Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, EUA/Reino Unido, 2010)
Direção: Tim Burton
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway
Duração: 108 minutos
Projeção: 1.85:1
8mm
Léa
O Robin Hood de Ridley Scott é (extra)ordinário a ponto não só de me deixar sem palavras, como de me fazer esquecer uma das poucas coisas boas dele. Subexplorada, é verdade, mas está lá. Excelente em A Bela Junie (2008) e com ponta (uma das filhas assassinadas no início) em Bastardos Inglórios (2009), todo o desconforto passado por Léa Seydoux ao interpretar uma francesa em meio inglês – sem saber se por limitação dela ou de Ridley Scott – deixa a impressão de que ela é fraquinha que só. Que ela não é nada além de um belo rosto francês, que remete a ninguém menos que Anna Karina. Por favor, ela não é só isso.
Filmes da semana
- O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962), de Robert Aldrich (DVDRip) (***)
- Jards Macalé – Um Morcego na Porta Principal (2008), de Marco Abujamra e João Pimental (Cine XIV) (**)
- Traição em Hong Kong (2007), de Olivier Assayas (DVD) (***1/2)
- O Leopardo (1963), de Luchino Visconti (DVD) (**1/2)
- Minha Bela Dama (1964), de George Cukor (DVD) (**1/2)
- Um Longo Caminho (2005), de Zhang Yimou (DVD) (*1/2)
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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.