Tempo de leitura: 3 minutos

Ailton Silva | [email protected]

Até o aeroporto internacional de Salvador teve o nome substituído para homenagear um político que, com todo o respeito aos seus familiares e admiradores, não terá nunca a importância da Independência do nosso estado e do Brasil.

As histórias sobre a independência da Bahia e do Brasil são ricas, embora parte delas recheada de contradições, assim como é contraditório o nosso comportamento com relação aos heróis e ao 2 de Julho de 1823.

Manipulados pelos políticos, permitimos que eles homenageiem a si mesmo com nomes de ruas, praças, hospitais, pontes, viadutos, avenidas e até municípios. Assim aceitamos, também, que os heróis da Independência da Bahia praticamente fiquem esquecidos.

O coronel que assumiu o comando geral do Exército Brasileiro e derrotou os soldados portugueses em 1823, por exemplo, sequer teve a honra de ter o nome cravado em um logradouro público importante. Não cabe aqui discutir os interesses da família dele.

José Joaquim de Lima e Silva assumiu as tropas brasileiras em um momento crucial. Ele substituiu o general Pedro Labatut, que fora capturado pelas tropas inimigas que chegaram a dominar parte da Bahia, principalmente a região de Salvador.

De igual modo, a heroína Maria Quitéria de Jesus (1791-1853) mereceu o esquecimento do povo baiano. Pioneira na luta para expulsar os portugueses do Brasil, a filha de fazendeiro inscreveu-se voluntariamente no Exército para lutar contra os invasores.

Com grande habilidade no manuseio das armas de fogo e ótima em montaria, Quitéria cortou o cabelo, vestiu-se de homem para ingressar no Exército, em 1822, com o nome de José Cordeiro de Medeiros, o seu cunhado. Fez isso escondido do pai, o fazendeiro Gonçalo Alves de Almeida.

Nascida em 27 de julho, no arraial de São José de Itapororocas, hoje município de Feira de Santana, a heroína foi condecorada no Rio de Janeiro com a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. Ela recebeu a medalha das mãos do imperador Dom Pedro I.

Quitéria lutou por mim, por você, caro leitor; por nós, que não erámos nascidos;  pelos filhos dos coronéis que fugiram do alistamento, mas, principalmente, pela verdadeira independência política e administrativa do Brasil. Ela foi integrante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe, conhecido, também, como “Batalhão dos Periquitos”, por causa dos punhos e golas de cores verdes de seu uniforme.

A nossa heroína morreu em Salvador em 1853, praticamente cega e no anonimato. Ao contrário dos nossos “heróis políticos”, que estão com os seus nomes gravados pelos quatro cantos do Brasil, em logradouros construídos com o nosso dinheiro.

Ah, depois de anos no esquecimento, em 28 de junho de 1996, Maria Quitéria passou a ser reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. A história da mulher é admirável e deslumbrante.

Outra heroína brasileira, só lembrada na celebração do 2 de Julho, é a freira Joana Angélica de Jesus. Ela tentou abrigar, no convento em Salvador, os soldados brasileiros que tinham sido cercados, mas foi fuzilada pelas tropas portuguesas. Pouco se fala sobre a brava mulher.

Os políticos reduziram a importância dos nossos heróis para desvalorizar o 2 de Julho,  dia em que os soldados brasileiros conseguiram a separação do país do domínio de Portugal.

Até o aeroporto internacional de Salvador teve o nome substituído para homenagear um político que, com todo o respeito aos seus familiares e admiradores, não terá nunca a importância da Independência do nosso estado e do Brasil.

O 2 de Julho não deveria ser feriado estadual, mas nacional porque foi a verdadeira independência do Brasil. Parabéns aos nossos verdadeiros heróis!

Ailton Silva é repórter de A Região, chefe de jornalismo da Morena FM e assessor de comunicação.