Marival Guedes | [email protected]
O anfitrião se distraiu e só retornou ao entardecer. Quando abriu a marmita, encontrou apenas os ossos da penosa.
O advogado e político Raimundo Lima (19/12/1908-20/11/1987), que foi presidente da câmara e prefeito de Itabuna, gostava de pescar. Num domingo, convidou alguns amigos para seu sítio na Lagoa Encantada, Ilhéus. Cada um levou a própria marmita. Raimundo Lima preparou galinha caipira ao molho pardo. Ao meio-dia, os amigos interromperam a pescaria e foram comer.
O anfitrião se distraiu e só retornou ao entardecer. Quando abriu a marmita, encontrou apenas os ossos da penosa. Os visitantes riram, o “velho comuna” nada disse. Enfrentou as gozações, a fome e a vontade de comer com decência e serenidade.
Dias depois, convidou o grupo para a mesma programação e novamente levou a marmita com galinha caipira ao molho pardo. Foi pescar e só retornou no final da tarde. Tomou mais uma “branquinha” e abriu a marmita. Nova sacanagem, só havia os ossos.
Raimundo Lima encarou o grupo e perguntou gritando: “quem comeu o meu urubu? Quem foi o filho da égua que comeu o meu urubu?”. Berrava, encenando como se tivesse no Tribunal do Júri, onde se destacava pelo brilhantismo.
Os amigos não levaram a sério. Então ele foi ao quintal, cavou a terra e retirou os “documentos de prova”: na mão direita, as penas, na esquerda. a cabeça do bicho, exibida como se fosse um troféu.
Os companheiros ficaram perplexos, estáticos por alguns segundos. Quando conseguiram se locomover, correram ao sanitário pra “chamar raul”. O anfitrião gargalhava e tossia.
Durante algum tempo a turma deixou de cumprimentar o “cozinheiro”. Mas depois concluíram que não deveriam perder tão boa companhia.
Marival Guedes é jornalista e escreve no PIMENTA às sextas.