Além de ser uma desculpa inverossímil para a desídia, a ideia de que as discussões suscitadas por entidades civis atrapalha a tomada de decisão, no exercício do poder, é de uma violência antidemocrática típica do bolsonarismo mais radical, pois o espaço cívico também é uma floresta que o presidente quer desmatar.
Thiago Dias
Quando desistiu de erguer o novo presídio regional na Estrada do Chocolate, em outubro de 2019, a classe dirigente anunciou que a obra seria levada para as margens da Ilhéus-Itabuna. O assunto morreu ali. Agora, quase dois anos depois, nós, os governados, descobrimos que o recurso reservado para a obra, orçada em R$ 40 milhões, vai bancar a construção do presídio de Senhor do Bonfim.
A explicação dos governantes sobre a mudança de destino do dinheiro é genial. Segundo eles, Ilhéus perdeu o investimento por não ter definido logo o terreno do novo presídio. E, veja você, a demora é culpa dos questionamentos levantados, pela sociedade civil, contra as alternativas locacionais que os gestores foram capazes de oferecer.
Isso é dito na terra onde o poder público quer construir estações elevatórias de esgoto no meio de praças, além de um fórum no único espaço amplo de convivência e lazer da região central da cidade.
Isso é dito como se a classe dirigente sempre desse ouvidos aos setores organizados da sociedade, como se não batesse seu martelo, peremptoriamente, na hora de nos impor o que um decreto chama de “interesse público” – esse conceito abertíssimo.