E o comer e beber bem estão incluídos neste pacote de serviços prestados aos turistas, compatriotas ou internacionais. Aí se revela o que o paratiense faz de melhor: a habilidade de destilar uma boa cachaça, com seus famosos alambiques e preparar a culinária marinha, receitas preservadas por séculos, passando de geração em geração.
Walmir Rosário
Gente, não é pra me gabar não, mas essa é uma prova verdadeira de que, em matéria de comes e bebes, eu sempre soube escolher o que há de melhor, por onde passei, passo e ainda irei de passar. E, nesse fim de semana que passou, juntei mais uma prova do que digo, com a Menção Honrosa conferida pela Prefeitura de Paraty ao Quiosque do Lapa, na praia do Pontal.
E essa enobrecedora honraria foi entregue da forma mais solene possível, com o prefeito Luciano Vidal, ao vivo e em cores, com trajes de cheff, colaborando na preparação dos pratos com a família Lapa. Foram três das delícias da culinária paratiense: Paella com Feijão Preto, Macarrão com Frutos do Mar e Camarão Casadinho, este, prato só encontrado em Paraty, além de minha casa.
E a homenagem confere ao Quiosque do Lapa ser Ponto Focal da Arte, Cultura, Turismo e Gastronomia, por apresentar durante longos 60 anos os melhores pratos de Paraty, do Brasil e do mundo, nas palavras do prefeito. A gastronomia do Quiosque do Lapa, um restaurante no qual impera a simplicidade e se come com os olhos, olfato e a beleza plásticas dos pratos servidos.
Digo aqui, sem medo de errar, na qualidade de cliente de mais de 50 anos – pra lá de meio século – alisando bancos e cadeiras do local, comendo do bom e do melhor servido nos melhores restaurantes, bares e botecos paratienses, tudo, degustado com uma boa dose da mais pura cachaça Quero Essa, Coqueiro e outras, com cervejas bem geladas. E garanto que o pecado da Gula não me fez mal.
E explico bem explicadinho, com todos os detalhes que ainda guardo nessa carcomida memória. O Quiosque do Lapa, como toda boa “casa de pasto” deve ser, tem que estar cercada do alto astral. Pelo que aprendi nos bares da vida, esses locais têm que chamar nossa atenção pela simpatia dos proprietários e clientes, elementos altamente estimulantes.
E tudo isso sobrava e sobra no Quiosque do Lapa, ou o Lapinha, como chamávamos o seu fundador, Antônio Lapa, que soube transmitir a boa influência à família, a exemplo do Toninho, Dito, Luiz, Edson (Bijou), Lourdes, Adir e Vera, que colaboravam no dia a dia, além do restante da família. E neste clima agradável, fazíamos do “Lapinha” nossa e dos amigos, a segunda casa.
É bem verdade que há mais de 50 anos Paraty não respirava o turismo como nos dias de hoje e vivíamos em paz na pacata cidade onde a chuva – de vez em quando – nos impedia de sair e até de trabalhar. Melhor ainda, no fim da tarde corríamos para a praia do Pontal jogar o baba (pelada) e discutir a partida e os sambas entre bebidas e tira-gostos. Lembra Paulinho Vidal?
Como àquela época os bancos não possuíam as facilidade de pagamentos de hoje, sem o famoso PIX, transferências digitais ou assinar corriqueiros cheques para pagamento das contas, incumbíamos ao Lapa gerenciar nossas contas. Tudo de um jeito muito simples, sem uso da mais moderna tecnologia, pois bastava um lápis ou caneta e um caderno para anotar as despesas.
Melhor ainda que o velho e bom caderno dos fiados não estipulava o dia do vencimento, o percentual de juros e moras pela inadimplência, muitas das vezes por simples esquecimento. Os tempos eram outros, bem melhores por não exigir o preenchimento de cadastro e ainda pagar por eles. Bastava ter no alto da folha – ou folhas do caderno – seu nome estampado, como bem lembrou em junho passado Toninho Lapa. Estava lá: Walmir da Verdyol. E pronto.
Mas a velha e tradicional Paraty não parou no tempo e no espaço, como o bloco de construções históricas, onde nada pode ser mudado em seus prédios. As antigas residências e comércio local dos velhos casarões deram lugar às modernas pousadas, hotéis luxuosos e restaurantes, que abrigam gente medida pelo PIB de suas contas bancárias.
O turismo floresceu, os moradores do centro históricos cederam suas casas em troca de vultosos recursos e se mudaram para casas construídas em novos bairros, distritos e fazendas. A Paraty periférica se modernizou e hoje abriga gente do Brasil e do mundo, se esmerando para receber os visitantes que deixam reais e dólares em troca de uma excelente recepção, com todos os mimos que têm direito.
E o comer e beber bem estão incluídos neste pacote de serviços prestados aos turistas, compatriotas ou internacionais. Aí se revela o que o paratiense faz de melhor: a habilidade de destilar uma boa cachaça, com seus famosos alambiques e preparar a culinária marinha, receitas preservadas por séculos, passando de geração em geração. Algumas adicionadas com toques dos costumes trazidos pelos portugueses, italianos, franceses e árabes.
Outra grande especialidade do paratiense é o mar. E ele conhece como ninguém cada praia, ilha, ou recanto em que mora um verdadeiro “Papa-goiaba” – hoje também chamado de caiçara –, sempre pronto a receber bem o visitante. Basta escolher o passeio, embarcar numa escuna e esquecer o mundo lá fora. Quem sabe, um passeio pelas trilhas com cachoeiras à sombra da Mata Atlântica? Basta escolher.
E não é por acaso que Paraty faz parte, desde 31 de outubro de 2017, da Rede de Cidades Criativas da Unesco (Unesco Creative Cities Network – UCCN), como cidade da gastronomia. Paraty passou a integrar a Rede na área da gastronomia tanto por sua importância na cultura e história da cidade quanto pelo seu desenvolvimento consistente e continuado nos últimos 15 anos.
Parabéns, Paraty, e me aguarde em muito breve.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.