O livro foi lançado em 2016 quando estava com 69 anos de idade. Num trecho ela aborda uma questão que muita gente se recusa, a morte. A própria morte. Irônica, escreve: “quando eu morrer imagino as palavras de carinho de quem me detesta”. E alfineta emissoras: “rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá”.
Marival Guedes | [email protected]
Não costumo ler autobiografia. Prefiro as biografias – de preferência, não autorizadas. Entendo que é difícil a pessoa expor fatos constrangedores ou, no mínimo, condenáveis sobre si mesma. É do humano.
Decidi ler Rita Lee e me surpreendi com a honestidade, a coragem da artista. Além disso, o texto é bom e bem-humorado. Ela se desnuda, faz autocríticas das composições, fala sobre relações familiares, amorosas, shows e os caminhos tortuosos: drogas, internações etc.
Conta a história da prisão quando policiais civis invadiram a casa dela. Afirma que não havia drogas, pois estava grávida. Mas a droga “apareceu” e ela foi levada. Vingança da corporação por causa de uma atitude da cantora.
Sobre a coragem de se expor, Rita escreve que “numa auto que se preze, contar o côté podrêra de próprio punho é coisa de quem, como eu, não se importa de perder o que resta de sua pouca reputação. E acrescenta que “se quisesse babação de ovo, bastava contratar um ghost-writer para escrever uma autorizada”.
Quanto à relação arte e drogas, avalia que suas “melhores obras foram compostas em estado alterado. As piores também”.
O livro foi lançado em 2016 quando estava com 69 anos de idade. Num trecho ela aborda uma questão que muita gente se recusa, a morte. A própria morte. Irônica, escreve que “quando eu morrer imagino as palavras de carinho de quem me detesta” e alfineta emissoras dizendo que “rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá”.
Sobre fãs, “esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão Ovelha Negra. As tevês já devem ter na manga um resumo da minha trajetória”. Volta a ironizar afirmando que nas redes sociais dirão: “Ué, pensei que a véia já tivesse morrido.”
Rita Lee é uma das principais artistas do cenário musical. Em 2008 a revista Rolling Stone promoveu a lista de cem maiores artistas da MPB, ela ficou em 15º lugar.
Também se destacou na vendagem de discos. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos, Rita Lee vendeu durante sua trajetória 55 milhões de cópias, ocupando um honroso terceiro lugar nacionalmente.
Marival Guedes é jornalista.