Como quase todos os craques daquela época, suas jogadas construíram conceito e não dinheiro. Mas Rosendo nunca se arrependeu por ter tratado a bola com a delicadeza que ela sempre mereceu.
Walmir Rosário
O craque se forma pela habilidade e gosto pela arte de jogar o futebol bonito. Em Itabuna, um jogador, desde cedo adotou como referência Zizinho, do Bangu e Domingos da Guia (do Palmeiras), dois monstros sagrados do futebol nacional. Era Rosendo Costa Antunes, que atuou pelo Vasquinho, Grêmio e Botafogo e fez história nas partidas em que disputou pelo Campeonato Amador de Itabuna.
Rosendo foi um dos jogadores mais expressivos no futebol grapiúna, a exemplo de Santinho, Tombinho e muitos outros que acabaram conquistando o Hexacampeonato Intermunicipal, e consolidou Itabuna como grande força no futebol do interior. Fora de campo, era a simplicidade em pessoa, não parecia aquele craque que encantava a todos pelo futebol clássico que jogava.
No Botafogo do bairro da Conceição, a escalação era Rosendo com a camisa oito e mais outros dez jogadores. Era ele o maestro que articulava as jogadas no meio campo, tendo em vista sua habilidade de chutar com os dois pés, aplicar dribles de deixar seus adversários comendo grama, como se dizia, além de jogar com velocidade para deixar seus adversários baratinados e não sofrer as pesadas faltas.
Jogador de inteligência bem acima da média, Rosendo sabia enrolar a defesa adversária jogando pelas pontas, principalmente a esquerda, e fazer tabelinhas com Pedrinha e lançamentos perfeitos para os atacantes. Formava uma dupla infernal com Tombinho, um artilheiro nato, catimbeiro que fazia gosto, e um excepcional líder em campo.
Mesmo de compleição franzina, Rosendo se inspirava nos jogadores da bola sabida, e essa habilidade lhe proporcionava uma defesa inteligente contra os empurrões de pontapés dos adversários. Ele sempre destacava as boas partidas, e uma em especial, que viu em Ilhéus, quando o Bangu, com Zizinho em campo, aplicou uma goleada de 11 x 1 no Grêmio.
Inegavelmente, tomou e tornou Zizinho como seu ídolo, e mesmo na condição de torcedor do Vasco da Gama idolatrava o jogador do Bangu. E sua paixão pelo futebol arte também o levou a admirar Domingos da Guia, passando a torcer pelo Palmeiras. Para Rosendo, futebol era uma arte e a bola tinha que ser tratada com respeito e meiguice até ela entrar no gol adversário.
Mas todo o futebol praticado por Rosendo e seus colegas lhe deixou consternado por não ter conquistado um título de campeão, apesar de ter jogado com os melhores “cobras” daquela época. Mesmo assim, dizia que o futebol não lhe trouxe dinheiro, mas sim muita alegria, pois jogava por prazer. Embora não tenha conquistado um campeonato, acumulou amigos como troféus valiosos.
Como se diz na gíria, o futebol está no sangue, o que é uma verdade reservada a alguns poucos jogadores, entre eles Rosendo. E o menino que jogava babas com bolas de bexiga de boi conseguidas no matadouro, cresceu no esporte com os amigos da antiga rua do Zinco, Abiezer e Tertu. Como todo o menino bom de bola daquela época, foi para o Vasquinho aprendendo as técnicas com Noca e Gil Néri.
Jogador clássico desde menino, às vezes era barrado pelos técnicos contra os times de fora, para evitar que ele fosse contratado e deixasse o futebol itabunense. Como quase todos os craques daquela época, suas jogadas construíram conceito e não dinheiro. Mas Rosendo nunca se arrependeu por ter tratado a bola com a delicadeza que ela sempre mereceu.
Após deixar o futebol, Rosendo exerceu as atividades de gráfico e vigilante da Prefeitura de Itabuna, com a mesma simplicidade e galhardia que sempre disputava as partidas de futebol entre os jogadores de sua época. Rosendo ocupa um lugar de destaque na história e no pedestal destinado aos grandes craques de todos os tempos de Itabuna.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.