Ainda eram sete horas quando o menino Igor Ângelo Cardoso, de 12 anos, chegou para marcar seu lugar na fila do posto de saúde Alberto Teixeira Barreto, no bairro Califórnia, em Itabuna.
Para o leitor que, como o repórter do Pimenta, achou que eram sete horas da noite, ele esclarece, com impensável bom humor: “Da noite? Fique atrás… Sete horas da manhã”. As fichas para pegar as autorizações de procedimentos serão entregues às sete horas desta segunda-feira.
Claro que ele radicalizou. Mas quem assumiria o segundo lugar chegaria às 10 horas, o que, convenhamos, não muda muito a situação. “Eu queria ser o primeiro. E aqui tem que chegar cedo, pra ser o primeiro”.
A “fixação” para garantir os primeiros lugares não é a toa, nem exagero do garoto Igor. É que, segundo os “moradores” da fila, são distribuídas apenas 40 autorizações de exames na rede pública. Esse número engloba idosos e gestantes.
Por esse motivo a aposentada Antônia Maria Pereira, de 65 anos, também se esforçou para chegar cedo. “Estou aqui desde as 11 horas, sou a terceira”. Ela, assim como o menino Igor e todos que estão na fila, querem autorizações para exames de sangue, fezes e urina.
Apesar do desconforto de passar a noite ao relento, sofrendo antecipadamente com a madrugada fria que se anunciava às 20 horas (horário que essa reportagem foi feita), além da falta de locais para fazer as necessidades fisiológicas, é possível encontrar bom humor entre os candidatos a uma “ficha”. “Eu mesma trouxe cuscuz, café e cobertor. Tem gente que traz até colchão”, afirma dona Antônia.
Certamente ela vai conseguir a autorização para os exames que precisa. Mas seu calvário não terminará aí. “Preciso de autorização para oftalmologista. Mas eles só entregam na quarta-feira. Vou ter que dormir aqui mais uma vez”.