Walmir Rosário transforma entrevista em aula de jornalismo
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Walmir Rosário é um contador de histórias, no melhor sentido da expressão. Radialista, jornalista, escritor e advogado, faz da palavra instrumento de trabalho. Com cinco décadas na estrada, sua trajetória se confunde com a história recente do jornalismo no sul da Bahia. Tudo começou no rádio. “Por acaso”, recorda Walmir ao PIMENTA. Estreou com participações em programas religiosos da Rádio Sociedade de Feira de Santana, dos Capuchinhos.

Nascido em Ibirataia, em 1950, viveu em Itabuna desde os dois anos. Deixou o município cedo para estudar nos seminários dos Capuchinhos, em Vitória da Conquista e Feira de Santana. Quando a ordem de inspiração franciscana assumiu a Rádio Clube de Itabuna, sob o comando de Frei Hermenegildo, Walmir voltou para a cidade, manteve as participações em programas religiosos e foi contratado pela emissora.

Nos tempos áureos do cacau, integrou a equipe de comunicação da Ceplac. Também apresentou o programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora de Itabuna. Na imprensa escrita, foi editor dos jornais A Região e Agora e repórter do Correio da Bahia – hoje Correio 24h. Prestou serviços, como freelancer, a jornais de Salvador e das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

Ainda na comunicação, atuou em campanhas eleitorais e foi assessor e secretário das prefeituras de Itabuna, Ilhéus, Itajuípe, Floresta Azul e Canavieiras. Com a persona de advogado, militou em Itabuna (inclusive, como procurador do município), Ilhéus e Canavieiras, onde mora atualmente.

Já publicou livros como Josias Miguel – 70 anos de história; Crônicas de Boteco, um guia sem ordem; Como sobreviver à pandemia; Os Grandes craques que eu vi jogar – nos estádios de Itabuna e Canavieiras; O Berimbau, valhacouto de boêmios. Tem mais quatro obras no prelo e escreve crônicas semanais no blog que leva seu nome. e que também é reproduzido por este site.

Nesta entrevista ao PIMENTA, Walmir Rosário recupera os grandes nomes das redações grapiúnas e conta momentos pitorescos e tensos que viveu na cobertura da política. Também analisa o exercício da profissão no sul da Bahia e compara a dinâmica entre a sociedade civil organizada e a imprensa nas cidades de Ilhéus e Itabuna. Leia.

PIMENTA – Quais são as características elementares de uma boa história?

WALMIR ROSÁRIO – Todas as histórias são boas, dependendo de como são contadas. Basta ter começo, meio e fim bem definidos que agradará. Claro que um personagem forte, por si só, se garantirá. É preciso que o comunicador compreenda a mensagem que o personagem carrega e a transmita para o texto. O personagem pode ser político, empresário, médico, engenheiro, policial, infrator, cumprindo pena ou não, padre, pastor, ou o chamado “alguém do povo”. Basta que tenha uma história verdadeira para contar. E todas as histórias são boas, volto a dizer, a depender do ponto de vista, pois pouco se conhece da vida de uma pessoa, desde a mais simples até as que ocupam os altos cargos, os poderosos. Cada um tem o que dizer.

E as de um bom narrador?

Saber ouvir, apurar, ter paciência e senso de desconfiança quando não conhece o personagem. Não pode deixar o personagem correr solto, falar à vontade. É bom interromper a entrevista quando acredita que a fala não tem sentido. Se for verdadeira, ele retomará sem problemas. Um bom narrador tem que ter um bom ouvido, anotar tudo que considere importante e, se possível, gravar. Na gravação dá para sentir a emoção do entrevistado, se fala a verdade ou não, a depender da segurança – não confundir com nervosismo. O comunicador tem que ser um profissional especialista em conhecimentos gerais, saber concatenar a história, ligar um fato a outro, conhecer lógica, mesmo de forma rudimentar, e ter raciocínio rápido. É esse feeling que vai tornar a narrativa agradável, texto simples e de fácil leitura, e, sobretudo, verdadeira. E isso é tudo que agradará a um leitor, não importando o seu nível de escolaridade. Escrever para todos é o ideal e mais inteligente.

É possível comparar a qualidade do jornalismo de 40 anos atrás com a do atual? Evoluiu?

Apesar de saudosista, as comparações nem sempre são verdadeiras, pois é preciso situar o tempo, o espaço, os costumes. No século passado, até o início da década de 1950, boa parte dos jornais eram veículos de propaganda de partidos e governo. Em Itabuna este fato está bem documentado por Ramiro Aquino no seu livro De Taboca a Itabuna, 100 anos de jornalismo. A partir de 1960, houve uma mudança na forma da apresentação dos textos e diagramação. Dessa época pra cá muito se falou em jornalismo com isenção, e até que chegou a ser praticado pela direção dos principais veículos, embora muitos pequenos também tenham feito o dever de casa. Do ano 2000 para cá, a militância política voltou em cheio aos meios de comunicação, só que agora com o engajamento da direção.

Falta isenção?

Briguei muito nos veículos de comunicação para manter a democracia, dividindo os espaços com a sociedade. Muitas vezes, fui incompreendido. Cada um tem sua ideologia, mas não pode ser vendida se sobrepondo aos fatos. Se o jornalista quer expressar opinião, que assine seu pensamento. Não pode é influenciar numa matéria substantiva, adjetivando-a, distorcendo os fatos. Há algum tempo os comunicadores se revestem de policiais, representantes do ministério público, juízes, sem os poderes conferidos. Muitas vezes, causam prejuízos irreparáveis e o mea-culpa não é feito com o destaque do dano. Sempre dei espaço a todos os segmentos. Vez ou outra, no mesmo número do jornal, assinava um artigo contrário àquela posição. Então, posso afirmar, houve uma perda de qualidade, embora tenhamos bons veículos e excelentes profissionais.

Poderia citar profissionais em quem se inspirou no jornalismo?

Minha infância e adolescência foi bastante rica na comunicação, pois ouvíamos e líamos grandes profissionais. Em Itabuna, em frente ao Colégio Estadual, ficava a sede do Intransigente, para onde eu ia ver formatar o texto do jornal em tipos frios, conversar com os redatores. No Diário de Itabuna, ainda na Paulino Vieira, ficava horas conversando com Milton Rosário, o editor da época. Na publicidade, me encantava com as sacadas rápidas de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho (CCCC); o mesmo com Nelito Carvalho, os editoriais do poeta santamarense Plínio de Almeida no rádio e nos jornais; o poder da lábia de Titio Brandão, Germano da Silva, Pedro Lemos, Gonzales Pereira, Orlando Cardoso, Geraldo Santos (Borges), Edson Almeida, Iedo Nogueira. E, nos jornais do sul, Carlos Castelo Branco, Nélson Rodrigues, Waldir Amaral, Rui Porto e tantos outros.

O jornalismo do sul da Bahia conseguiu estabelecer identidade e marcas próprias? Ele tem (teve) expoentes no patamar da nossa literatura, por exemplo?

O poeta e escritor Plínio de Almeida é um deles. Alguns jornais, muitos deles de vida efêmera, trouxeram grandes nomes. Um desses veículos foi o SB – Informações e Negócios, uma maternidade do jornalismo e literatura de Itabuna, capitaneado por Nelito Carvalho. Época de Jorge Araújo, Manoel Lins, Hélio e Célio Nunes, Firmino Rocha, Antônio Lopes, Kleber Torres. Quase esqueci de dois monstros sagrados, Telmo Padilha e Hélio Pólvora.

Qual foi o episódio mais pitoresco que viveu na comunicação política?

Walmir relembra episódio pitoresco ao lado de José Adervan

No jornal Agora, fazíamos constantes matérias sobre os serviços públicos nos bairros. Numa delas, recebemos reclamações da Prefeitura de Itabuna, de que não seriam verdadeiras. Como confiava na repórter, resolvi convidar o diretor José Advervan para ir constatar a veracidade. Quando chegamos lá, a situação era pior do que a narrada. Quando voltávamos, Adervan recebeu uma ligação do prefeito para dizer que era tudo mentira, no que o diretor revela que ele estava justamente vindo de lá e que teria comprovado as denúncias já publicadas e outras várias. E tudo acabou em risadas.

Tem mais?

Eu era editor do jornal A Região e repórter do Correio da Bahia. A Região não era bem-vista pelo governo municipal e eu fui atender a um convite da assessoria para elaborar um caderno especial de 32 páginas para a Prefeitura de Ilhéus. Época de festas juninas, inauguração de obras, apresentação de um novo futuro com a vinda de empreendimentos. Cheguei, fui anunciado e me pediram para aguardar numa antessala, até que fosse encerrada uma reunião com os profissionais. De onde eu estava, ouvia tudo que falavam. De repente, o assunto da reunião deles foi a elaboração de um caderno vibrante sobre Ilhéus, que eles comparavam com uma edição de A Região. Isto até que fui visto, quando passaram a esculhambar o jornal A Região. Tranquilo, continuei sentado, aguardando ser chamado para a pauta do especial do Correio da Bahia.

E o momento mais tenso que já enfrentou?

O jornalismo é sempre tenso, desde a entrevista, a apuração, a redação e o fechamento do jornal – escrito, falado e televisado. Imagine quando alguém se sente contrariado em seus interesses. Já recebi a visita de pessoas que já chegam prometendo bater, matar. Como editor, sempre tinha que comprar a briga, por telefone ou pessoalmente. Nunca me intimidei e, de início, busquei uma conversa franca e educada, o que quase sempre conseguíamos.

Já teve ameaça?

Várias. A primeira no caso da venda da Sulba, em que fiz uma série de reportagens para o Agora; de outra feita prometeram me matar quando estivesse em um bar; que poderia ser preso em flagrante por posse de drogas em meu carro. Nesse caso sugeri que melhor seria colocar litros de whisky ou cachaça, do contrário ninguém acreditaria. Mas continuo vivo.

Os movimentos sociais, as entidades de classe e a imprensa de Itabuna têm mais influência nas disputas eleitorais do que em Ilhéus?

Infelizmente, os jornais perderam espaço em Itabuna e Ilhéus. Os que continuam sobrevivem como podem e bem-feitos. Há uma grande diferença na comunicação entre Itabuna e Ilhéus, e uma distinção é a sede dos canais de TV. De certa forma, em Itabuna, a comunicação sempre foi mais incisiva, e as entidades de classe sempre souberam utilizar os veículos de comunicação em causa própria. Esse poder ficou maior com as mídias sociais, de maior agilidade e sem filtros. Os políticos que sabem interagir com a dita imprensa e as redes sociais levam grande vantagem. Mas, nos últimos anos, Ilhéus avançou no poder da mídia tradicional e da rede social, não só com as notícias corriqueiras, como também das analíticas, influenciando mais eleitores. Desde os anos 1980 que o sociólogo Agenor Gasparetto costuma dizer que a eleição em Ilhéus é decidida um ano antes. Como exemplo mais antigo, a eleição de Valderico Reis, em 2004. Duas cidades, pesos diferentes, mas que passam a ficar com a mesma cara, pelo trabalho de alguns dos comunicadores ilheenses.

Em entrevista, Jerberson explica decisão política
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O ativista político Jerberson Josué, filiado ao PT há 26 anos, decidiu apoiar a pré-candidatura de Bento Lima (PSD) a prefeito de Ilhéus. Na cidade, o PT apresentou a pré-candidatura da professora Adélia Pinheiro, ex-secretária da Educação da Bahia. Os dois nomes disputam espaço na base do Governo Jerônimo Rodrigues, e o de Bento tem o apoio do prefeito Mário Alexandre, Marão.

Para Jerberson, sua decisão não balança o tabuleiro político. “É apenas um movimento pessoal, de apoio ao secretário Bento, acreditando que ele pode ser uma opção virtuosa para a nossa cidade, para Ilhéus seguir avançando e melhorando, com a parceria fundamental do Governo do Estado”, declarou nesta entrevista ao PIMENTA. Leia.

PIMENTA – Você deixa o Partido dos Trabalhadores?

Jerberson Josué – Não pedi desfiliação. Mas, é aquela coisa. Normalmente, quando alguém discorda do pessoal, eles tendem a querer expulsar. Particularmente, não estou preocupado com isso. Quero o melhor para Ilhéus e sempre quis ajudar a nossa cidade da melhor maneira possível. Meu foco é esse.

Houve desentendimento com a direção do PT?

Não. Fiz uma grande reflexão sobre o processo de construção política, nesses anos, sobre quem eu sou e como as pessoas se comportam, como sou tratado. A gente tem que ter um semancol. Sempre analisei que fui subaproveitado, enquanto outros grupos políticos sempre me convidaram para compor. Quando você não é valorizado em um time, tem que buscar sua melhora. É assim que as coisas fluem.

Vai entrar no Governo Marão?

Estou conversando sobre minhas contribuições, como posso contribuir com minha visão de mundo e a experiência política. Não tem nada definido.

Para deixar claro, você não pretende se desfiliar do PT?

Não. É o Partido do meu coração. Estou filiado desde os 18 anos e militei, ativamente, desde os 13, 14 anos. São mais de 30 anos nessa luta. É apenas uma opção pontual, dentro da base do Governo do Estado, mas com a possibilidade de contribuir de forma mais ativa no processo.

Como foi o diálogo com Bento?

Tivemos uma conversa rápida. Ele gostou muito [da minha adesão à pré-campanha]. A gente já tinha uma boa relação. Na verdade, foi um convite feito por João Rocha, que me levou até o prefeito Mário Alexandre para adiantar as conversas.

De Adélia sobre Marão: "é o articulador da base em Ilhéus"
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A secretária da Educação da Bahia, Adélia Pinheiro, manifestou ao prefeito Mário Alexandre o desejo de ser candidata a prefeita de Ilhéus nas eleições deste ano. “Tive a oportunidade de conversar [com Marão] e de, respeitosamente, reconhecer que ele é o prefeito dessa cidade. É a pessoa que articula a base local que dá apoio ao Governo [Jerônimo Rodrigues]”, revelou a pré-candidata em entrevista ao PIMENTA.

“Respeitando a posição política do prefeito, disse a ele: ‘estou colocando meu nome à disposição, com todo o respeito’”, acrescentou.

Na avaliação da pré-candidata, a interlocução respeitosa, considerando e ouvindo os demais pré-candidatos, é o caminho para a unidade governista. “Com diálogo, vamos construir esse processo e tenho a firme convicção – é importante ressaltar – de que nós, da base, seremos capazes de, com respaldo na boa política, encontrar a situação de ter uma única chapa que reúna e represente os nossos anseios”.

PRESENÇA X REPRESENTAÇÃO

Marão e Adélia fazem o “L” na Festa de Iemanjá em Ilhéus || Foto Redes Sociais

Reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) por dois mandatos, Adélia deixou o cargo em 2019 para assumir a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. Antes da Educação, também comandou a Saúde da Bahia. Quando anunciou a intenção de se candidatar a prefeita, passou a ser questionada, publicamente, sobre a ausência no cotidiano de Ilhéus. Para a secretária, esse questionamento desvaloriza o fato de que representa a cidade e a região no Governo do Estado.

“Tenho 59 anos e morei em Ilhéus por 54. […] Estou há cinco anos em Salvador por força de representação do Litoral Sul e do meu município. Sou uma agente política que ocupa um lugar importante numa Secretaria que é pilar do Governo do Estado. Com isso, colho não o reconhecimento da importância do lugar que ocupo e da experiência que tenho, mas colho um sinal de desvalorização velada em razão de não estar aqui e estar lá. Pois, estou lá representando aqui. Esse é o meu território de compromisso primeiro”.

Ressaltou que, quando o exercício dos cargos lhe permitiu, sempre esteve Ilhéus, como no início deste mês. “Vim cumprir agenda institucional da Educação, acompanhando jornadas pedagógicas nas nossas escolas. Mas, também, representando o nosso Governo, estive reunida com o nosso prefeito de Ilhéus para tratar dos impactos das chuvas”, exemplificou.

DESAFIOS DO MUNICÍPIO

A pedido do site, Adélia Pinheiro traçou panorama sobre os desafios prioritários do município, ressalvando que a definição de prioridades passa, necessariamente, pelo diálogo com a sociedade. “Mas, preciso reconhecer, é claro, algumas dimensões que já me colocam em alerta”.

Ela mencionou a necessidade de integração da extensa zona rural do município, com investimentos em mobilidade; a requalificação das áreas mais afetadas por deslizamentos de terra e alagamentos nos períodos de chuva; o norteamento do uso responsável e adequado do espaço urbano; e discorreu sobre os segmentos econômicos de Ilhéus, a exemplo do turismo, indústria e serviços de saúde e educação.

“É importante trazer as novas possibilidades que a Fiol e o Porto Sul nos dão, fazendo despontar o município em um novo cenário, que é o cenário de um grande porto, de outros produtos que não aqueles tradicionalmente embarcados aqui pelo Porto de Ilhéus”, apontou.

PARTIDO

Uma vitória de Adélia Pinheiro em outubro, caso seja candidata a prefeita, quebraria dois tabus da política ilheense. Seria a primeira mulher eleita para o comando do Executivo e, ao mesmo tempo, representaria o primeiro mandato conquistado pelo PT na Prefeitura de Ilhéus (o ex-prefeito Newton Lima se filiou ao partido já no final do segundo mandato, em 2011).

Questionada sobre a resistência de parte da sociedade ao PT, a secretária saiu em defesa do partido. “Faço parte de um grupo político liderado pelo PT, que fez os grandes investimentos em Ilhéus. Vou citar alguns, não todos: a ponte Jorge Amado; Hospital Materno-Infantil; Hospital Costa do Cacau; investimento nas escolas públicas da rede estadual; nova estrada que liga Ilhéus e Itabuna, pelo outro lado do rio; duplicação dos primeiros quilômetros da BA-001 em direção a Olivença; investimentos em saneamento da zona sul da cidade; policlínica regional; e a ponte sobre o Rio Almada para apoio à Fiol e ao Porto Sul”.

Também afirmou que, no Governo Federal, o PT lidera projeto que dá estabilidade interna e respeito internacional ao País. “É isso que trago e represento. A política que trabalha pela sustentabilidade ambiental e para todos os setores produtivos. São políticas que se voltam para o grande setor, mas também dão conta da economia circular e solidária, do empreendedorismo. Ao mesmo tempo que acolhe a população de idosos, cuida da juventude e das crianças. É desse partido que estou falando. É com muito orgulho que digo que a gente cuida de Ilhéus”, concluiu.

Secretário Marcos Japu faz balanço do Festival Sabores de Itacaré e revela novidades do verão 2024
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O secretário municipal de Cultura e Turismo, Marcos Souza (Japu), avalia de forma positiva a décima edição do Festival Gastronômico Sabores de Itacaré, que teve seu ponto alto de 30 de novembro a 2 de dezembro, mas segue até o próximo dia 20 nos bares e restaurantes da cidade. Pela primeira vez, o evento tem a curadoria do Instituto Capim Santo.

Nesta entrevista ao PIMENTA, o secretário assegura a continuidade da parceria nas próximas edições do Festival e apresenta um balanço da atual. Também revela resultados obtidos pela cidade após a investida na última exposição da Associação Brasileira de Agências de Viagens, Abav Expo 2023, em novembro, no Rio de Janeiro. Entre as novidades, o destaque para Itacaré na matéria de capa da revista de bordo das aeronaves da Azul Linhas Aéreas, em janeiro de 2024. Leia. 

PIMENTA – Como a Secretaria de Turismo e Cultura avalia a décima edição do Festival Sabores de Itacaré?
Marcos ‘Japu’ Souza – A avaliação é super positiva. O evento foi um sucesso: gastronomia em alto padrão, cultura popular, agricultura familiar e música. Estamos muito satisfeitos. Ainda faremos uma checklist de pontos positivos e negativos. Já planejando o próximo evento, vamos observar os detalhes que faltaram para corrigir no futuro.

Quais foram as iniciativas tocadas pelo Instituto Capim Santo na curadoria do evento?

O Instituto organizou o tema e os convidados para palestras e aulas shows. Selecionou pesquisadores, chefs, bartenders e educadores da área de gastronomia para trazer os conceitos de origens, ancestralidade, família e essências baianas, com respeito às tradições locais. A equipe também alinhou os pratos apresentados dentro do tema, com os ingredientes locais e regionais.

Festival teve curadoria do Instituto Capim Santo

O Instituto continua à frente da curadoria nas próximas edições?

Com certeza. Queremos ampliar a parceria, juntando o Capim Santo, o Barco Itacarezinho e a Prefeitura de Itacaré. A ideia é criar um programa de TV, com a comunidade ribeirinha do Rio de Contas, chefs de cozinha da cidade e convidados. Nesse formato piloto, queremos uma troca de experiências. Os visitantes vão cozinhar para a comunidade e vice-versa. Tudo com itens da agricultura familiar e pescados regionais.

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O impacto para a nossa gastronomia é grande e reflete na economia da cidade.

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É possível fazer um balanço dos impactos do Festival para a cultura gastronômica da cidade ao longo desses dez anos?

O impacto para a nossa gastronomia é grande e reflete na economia da cidade. Outro ponto muito positivo foi a presença das manifestações culturais, com a nossa tradicional puxada da Praça das Mangueiras até a Praça São Miguel, evolvendo o circuito Pituba-Passarela-Orla. Neste ano, a gente conseguiu inserir estandes de comida de rua no Festival, com o mesmo padrão dos grandes estabelecimentos. São empreendedores que trabalham duro nas ruas da cidade. Nada mais justo do que incluir e prestigiar empreendedores, que trabalham duro e um dia vão conquistar seus estabelecimentos.

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“O trade tem papel fundamental, assim como a comunidade. Essa relação nos traz a certeza de que o caminho está bem pavimentado”.

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Qual é o nível de integração do trade, comunidade e das outras secretarias municipais com o evento?

O trade tem papel fundamental, assim como a comunidade. Essa relação nos traz a certeza de que o caminho está bem pavimentado. Falamos do trade, mas também do comerciante e empresário local, que, mesmo não estando dentro do evento, forneceram itens para o consumo e produção de tudo que foi exposto. O agricultor familiar, a cadeia produtiva do cacau, artesãos, charcutarias etc. O Festival envolveu todas as secretarias, mas destaco o apoio total do prefeito Antônio de Anízio e o trabalho da equipe da Setur: Marcelinho, Patrícia, Erasmo, Gabriela, Kikiu, Dudu, Ronara e Miguel.

Banda Filhos de Jorge se apresenta no Festival Sabores de Itacaré

Itacaré fez grande ofensiva de divulgação na Abav Expo 2023, no Rio. A cidade já colhe frutos desse trabalho?

A cidade já colhe um hortifruti inteiro. Depois da Abav, mantivemos um fluxo satisfatório, com lotação acima do esperado na maioria dos feriados. O empresário Luís Paulo, do Restaurante Casa de Taipa, nos apresentou balanço das suas vendas, com os melhores resultados em 15 anos. Diversos hotéis e cabanas de praia sinalizam no mesmo sentido. No Road Show com a Azul Viagens, percorremos cinco cidades em três estados. Apresentamos Itacaré para cerca de 500 operadoras. Trouxemos o jornalismo da Azul Viagens, e Itacaré vai ser a capa da edição de janeiro da revista de bordo de todas as suas aeronaves. Neste mês, a CVC chega com um Fantour em Itacaré. Sem dúvida, nossa presença na Abav abriu muitos caminhos.

Em entrevista, Lúcio Vieira Lima fala sobre o MDB nas eleições de 2024 || Foto Reprodução
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O ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima gosta de analogias. Foi com uma que ele explicou por que o tempo urge pela definição do nome da base estadual para a disputa de Salvador em 2024. Nas eleições e no futebol, os grandes times fazem pré-temporada, lembrou o presidente de honra do MDB-BA, em entrevista ao PIMENTA.

Depois, referindo-se ao cenário de Ilhéus, recorreu ao automobilismo para traduzir a situação em que o postulante a uma candidatura não consegue viabilizá-la. “Isso é igual à Fórmula 1. Quando tem pouco espaço, na primeira curva, um carro sobra”.

Nas cidades com propaganda eleitoral de rádio e TV, os emedebistas têm peso no tempo de exposição. Esse é um dos trunfos do partido em Itabuna, por exemplo, onde o MDB iniciou conversa com o pré-candidato Geraldo Simões (PT) e deve dialogar com o prefeito e candidato à reeleição, Augusto Castro (PSD). Leia. 

PIMENTA – O vice-governador Geraldo Júnior é o melhor nome para unificar a base em uma eventual candidatura a prefeito de Salvador?

Lúcio Vieira Lima – Na opinião do MDB, é. Foi vereador da capital, presidente da Câmara e fez uma bela campanha com o governador Jerônimo. Hoje, é o mais conhecido e reconhecido por todos. Não vejo, no momento, nome melhor do que Geraldo Júnior para unificar a base e, principalmente, ganhar a eleição.

O senador Jaques Wagner alertou que não há muito tempo para a apresentação da pré-candidatura da base em Salvador. Qual avaliação o senhor faz desse timing e o que falta para a definição?

Não sei o que falta e concordo com o senador Jaques Wagner. Está demorando, porque ninguém pode negar que a candidatura de Bruno Reis [atual prefeito de Salvador] é favorita. É igual no futebol. O grande time faz pré-temporada para chegar 100% no campeonato. É o que temos que fazer. Botar o pré-candidato do Governo nas ruas, para que fature com os avanços da gestão. Se a candidatura só for apresentada lá adiante, não vai ocorrer nada disso. Até para, se for o caso, cicatrizar eventuais feridas na base do governador, por ser uma candidatura disputada.

Já tem alguma ferida?

Se você tem uma disputa, logicamente, vai abrir ferida. O tamanho da ferida – se é apenas uma fissurazinha ou não – só depois, mas o tempo é responsável por curar eventuais feridas. Por isso, digo eventuais.

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Converso com qualquer um. Quero o melhor para Itabuna.

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Como está a relação do MDB com o Governo Augusto Castro e a pretensão do prefeito de Itabuna de ser reeleito?

Na eleição passada, o MDB já não apoiou Augusto. Lançamos a candidatura de Charliane Sousa. Então, não vejo por que tanta estranheza. Converso com Augusto, converso com qualquer um. Quero o melhor para Itabuna. As conversas do MDB com Augusto ainda não se iniciaram. Estou conversando com o ex-prefeito Geraldo Simões, mas não me nego a conversar com nenhum outro pré-candidato.

Dos nomes colocados, é possível dizer qual seria o melhor para Itabuna?

Se vou conversar com todos, só poderei falar qual é o melhor nome depois de concluir essas conversas, porque não é pelo nome, mas pelo projeto que vai capitanear. Logicamente, Geraldo tem larga experiência. Foi deputado [federal], secretário de Estado, prefeito de Itabuna. Já o apoiamos em 2000, se não me engano, quando ele foi eleito. Geraldo tem todas as condições para capitanear um projeto para a cidade. Conhece Itabuna como poucos. Sem dúvida, é um fortíssimo candidato. É um forte candidato, também, a receber o apoio do MDB.

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Em Ilhéus, fala-se muito da secretária da Educação da Bahia, Adélia Pinheiro. 

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Qual será o papel do MDB nas eleições de Ilhéus?

O MDB sempre tem um papel de grande importância, decisivo, por sua grandeza, pelo que acrescenta em tempo de rádio e nas cidades que têm TV. Em Ilhéus, fala-se muito da secretária da Educação da Bahia, Adélia Pinheiro. Tem a pré-candidatura do ex-presidente da Câmara [Jerbson Moraes]. Para uma conversa sobre apoio, a primeira coisa é saber quais são os nomes. Em Ilhéus, você não sabe. Ninguém sabe ainda qual é o candidato de Marão. Se perguntar se a secretária Adélia confirma que vai ser candidata, ainda não confirma. Sobre o ex-presidente da Câmara, tem uma questão partidária. Isso é igual à Fórmula 1. Quando tem pouco espaço, na primeira curva, um carro sobra. Alguém tem que sobrar, porque não vai ficar um candidato de Marão e outro do ex-presidente da Câmara.

Marão e sua mãe, a ex-deputada Ângela Sousa, no Chocolat Festival || Foto PIMENTA
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O prefeito Mário Alexandre (PSD) comentou, em entrevista exclusiva ao PIMENTA, o Anuário de Segurança Pública. Segundo o levantamento, em 2022, Ilhéus teve a 14ª maior proporção de mortes violentas do País. Marão também falou da demanda de prefeitos do sul da Bahia pela retomada do projeto do aeroporto internacional, assim como pela conclusão da reforma do Aeroporto Jorge Amado, que se arrasta há anos.

Outro assunto abordado é a queda do ritmo do segundo trecho da duplicação da BA-001, na zona sul da cidade, que será complementado pela requalificação da orla. Parte delicada do projeto é a padronização das cabanas de praia. Marão fala, ainda, sobre a importância econômica do Chocolat Festival, que movimentou Ilhéus nos últimos dias. Leia.

PIMENTA – Como o Governo Municipal recebeu os dados do Anuário de Segurança Pública?

MARÃO Nós fortalecemos e capacitamos a Guarda Municipal. A grande maioria [das mortes violentas] tem relação com o tráfico de drogas. A Polícia Militar, junto com a Polícia Civil, tem procurado fazer movimentos estratégicos para combater esse crime organizado.

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Vamos nos reunir com o ministro Flávio Dino para angariar recursos.

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O assunto é discutido com o Estado?

Estamos em constante diálogo. Conversamos com o governador sobre a ampliação dos serviços. A nova delegacia, na Avenida Esperança, vai ser entregue neste mês. Tem o concurso público da PM e buscamos a conscientização da comunidade. Ilhéus, hoje, é muito mais iluminada do que a cidade que peguei há 7 anos. Você andava na Soares Lopes, por exemplo, e não tinha luz. Hoje, você tem lâmpadas de led em quase toda a cidade. São coisas importantes para evitar a violência, um problema de todo o País. Nesta terça-feira [25], estou indo ao Ministério da Justiça, em Brasília, nessa parceria [das três esferas de governo] do Pronasci 2. Vamos nos reunir com o ministro Flávio Dino para angariar recursos para fortalecer a segurança e promover a paz na nossa cidade.

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A gente não pode deixar o nosso aeroporto de lado.

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A Prefeitura de Ilhéus se articula com o Estado e o Governo Federal para a retomada do projeto do aeroporto internacional?

No segundo governo Lula, na época de Wagner [governador], o projeto do aeroporto era na Ilhéus-Serra Grande, inclusive com áreas desapropriadas. Estamos retomando. Lula disse que precisamos fazer o projeto. Conversamos com a Seinfra, na Amurc, no Consórcio [do Litoral Sul]. É uma união. Não é só o prefeito de Ilhéus. O prefeito de Ilhéus ajuda, colabora, mas tem que ter uma força conjunta dos prefeitos da região, porque o aeroporto fortalece a região, a cidade de Ilhéus, o turismo, a economia, os polos industriais, o Porto Sul.

E a reforma do Aeroporto Jorge Amado?

A gente não pode deixar o nosso aeroporto de lado. Se você olhar, a pista do Santos Dumont é menor do que a nossa. Então, enquanto não sai o aeroporto internacional, estamos cobrando o fim da reforma [do saguão do Jorge Amado].

O ritmo da duplicação na zona sul caiu. O que houve?

Estamos indo pra SPU [Secretaria do Patrimônio da União] para concluir a questão das cabanas de praia, das barracas, pra gente poder negociar, vendo como é que a gente vai padronizar. As pessoas, às vezes, querem denegrir a imagem [da gestão]. A gente não vai derrubar as barracas. Vamos padronizar as barracas. A imprensa, às vezes maldosa, fala em “derrubada de barraca”. Não tem derrubada de barraca.

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A gente trabalha para que a SPU entenda que ali é um projeto orla e que a gente vai respeitar a padronização, o meio ambiente, a linha de marinha.

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Não vai ter demolição?

Isso é assegurado por liminar. Tem uma liminar que, até então, não foi derrubada. Mas, se for derrubada a liminar, aí existe demolição. O que o município tem feito? A gente trabalha para que a SPU entenda que ali é um projeto orla e que a gente vai respeitar a padronização, o meio ambiente, a linha de marinha. Tudo isso é discutido com a SPU. Já demos o primeiro projeto. Estamos indo lá pra ver se precisa de ajuste. Então, eles reduziram [o ritmo da duplicação] um pouco, pra gente poder concluir. Ali vai ser a orla mais bonita do Brasil. Estamos indo no Desenbahia por um empréstimo com juros baixíssimos e uma carência de quatro anos [para que os cabaneiros padronizem seus estabelecimentos].

Marão é tietado por estudantes no Chocolat Festival || Foto PIMENTA

Qual é a importância do Chocolat Festival para a economia da cidade?

É o maior evento de cacau e chocolate da América Latina, parceria muito forte do Governo da Bahia e da Prefeitura de Ilhéus com os empresários, a economia solidária, a agricultura familiar, o Sebrae, as organizações não governamentais. É um conjunto de forças produzindo e inovando o cacau. Estive com Walter Pinheiro, do Cimatec, estamos pensando em construir uma refinaria do cacau. Um espaço para aproveitar não só a amêndoa, mas também a casca, o que sobra do cacau, o miolo. Agora, você sabe que não é mais cachaça, é cauchaça [risos]. Ou seja, isso vende, você agrega o valor.

Com o Governo do Estado, vamos levar o destino sul da Bahia para a França, Portugal e Bélgica. Isso fortalece a nossa cidade e aquece a economia. São quase R$ 15 milhões que rodam na nossa cidade, com mais de 170 empresas ligadas a cacau e chocolate. Há sete anos, eram apenas oito ou dez empresas.

Domilene Borges fala sobre conquistas e planos do Hospital Materno-Infantil de Ilhéus || Foto PIMENTA
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No final de 2021, o Governo da Bahia inaugurou o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, na área do antigo Hospital Geral Luiz Viana Filho, na Conquista, em Ilhéus. Segundo o plano original, caberia à Prefeitura de Ilhéus administrar o novo equipamento, mas a ideia não foi à frente.

Desde sua abertura, a unidade é administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família (Fesf-SUS). Nos dezoito meses em atividade, foram mais de 4.800 partos, 6.487 internações (sendo 353 de recém-nascidos que precisaram da UTI), 160 mil atendimentos e 204 visitas guiadas, segundo balanço da assessoria da instituição.

Nesta entrevista ao PIMENTA, a enfermeira Domilene Borges, que assumiu a direção-geral do Materno-Infantil em dezembro de 2022, fala sobre o desempenho do Hospital nos serviços prestados desde a inauguração; comenta iniciativas adotadas após a abertura da unidade; aborda desafios da gestão; e antecipa projetos que serão implementados nos próximos meses, com direito à ampliação do rol de cirurgias. Leia.

PIMENTA – O Hospital Materno-Infantil acaba de completar um ano e meio. Qual avaliação a senhora faz do trabalho desenvolvido até aqui?

DOMILENE BORGES – O Hospital nasceu para atender vinte municípios, oito da microrregião de saúde de Ilhéus e doze de Valença. Seguimos numa crescente de atendimentos e de demandas. Hoje, o Materno já é referência para toda a macrorregião sul da Bahia, englobando as regiões de Itabuna e Jequié, além de extremo-sul e sudoeste.

Se a gente pudesse dar nota objetiva ao desempenho da unidade, de zero a dez, qual seria?

A gente não pode falar nota dez, porque sempre existe alguma pendência. Somos uma unidade de média e alta complexidade, mas, para alguns serviços, ainda precisamos de referência em Salvador. Às vezes, acionamos a regulação para transferir a criança. Por isso, não falo que o Materno merece nota dez. Mas, dentro do que o Hospital pode ofertar e pela forma da assistência prestada aqui, eu dou dez, tranquilamente.

Mais de 4.800 mulheres já deram à luz no Hospital || Foto Maurício Maron

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Estamos adequando a unidade para acolher os povos originários.

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Quais serviços o Hospital oferece desde a abertura e quais foram implementados depois?

Desde a abertura, a obstetrícia e a pediatria de média e alta complexidade, com a UTI Neonatal e a UTI Pediátrica. Atendemos do nascimento aos 15 anos. Temos propostas perto da concretização, como a ortopedia pediátrica; o tratamento da fenda palatina, que é o lábio leporino; e a parte de cirurgia pediátrica, demanda enorme da região. Buscamos credenciamento da Sesab para as ligaduras eletivas. O Hospital já faz laqueadura, mas só quando o procedimento é associado à cesariana e a gestante manifesta interesse. Com a mudança da legislação, a gente passou a ter mulheres procurando a unidade em busca desse serviço. Também estamos adequando a unidade para acolher os povos originários.

Domilene: ouvimos a população

Como vai funcionar o projeto das doulas comunitárias?

A doula é uma figura muito forte para as mulheres na gestação e no parto. A ideia é ofertar esse serviço para todas as mulheres. O que a gente tem hoje? Há mulheres que podem pagar às doulas e são acompanhadas. A gente propõe que elas trabalhem voluntariamente no Hospital e possam dar atenção a todas as mulheres que venham parir aqui no Materno.

Hospitais públicos costumam ser sobrecarregados por demandas que deveriam ser atendidas nos postos de saúde ou em unidade de pronto-atendimento. Como a direção do Materno-Infantil lida com essa realidade?

Quando a criança chega na unidade, é acolhida e passa por uma triagem, que determina o grau de risco. Crianças com o perfil verde ou azul [de risco], que deveriam ser atendidas em unidades básicas de saúde ou de pronto-atendimento, são avaliadas duas vezes. Confirmado o perfil verde ou azul, encaminhamos à UPA, porta de entrada do município. Se não for [caso para unidade básica], a criança é atendida aqui. Tivemos reunião com o município e formatamos um fluxo para que essas pessoas não fiquem soltas na rede nem sem atendimento. Hoje, temos um ambiente mais tranquilo na entrada do Hospital.

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Ser mulher conta bastante, por conhecer os pontos mais sensíveis, as necessidades que as mulheres têm na gravidez e no parto.

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O que significa ser mulher no comando de uma instituição que se relaciona de modo específico com as mulheres e num momento da vida em que costumam estar mais sensíveis e, às vezes, vulneráveis?

Ser mulher conta bastante, por conhecer os pontos mais sensíveis, as necessidades que as mulheres têm na gravidez e no parto. Não que um homem não possa assumir uma unidade materno-infantil, claro que pode, mas a mulher vai ter esse olhar mais sensível e direcionado às necessidades do público feminino. A gente consegue pegar detalhes – coisas pequenas, mas necessárias para a mulher nesse momento – e trazer resposta em forma de serviço.

Como é a relação do Hospital com a comunidade?

Não consigo visualizar o Hospital só dentro do Hospital. A gente precisa do trabalho extramuro, estar presente na comunidade e mostrar o que oferecemos à população. Muitas pessoas não sabem o que o Materno-Infantil oferece. Trabalhamos com o Ministério Público, Defensoria Pública, Câmara de Vereadores. Recebemos secretários municipais da região para que eles conheçam o equipamento para o qual encaminham seus pacientes e como eles devem fazer isso. Trabalhamos com associações de moradores para irmos aos bairros. Ouvindo a população, obtemos retorno da qualidade do atendimento, sabemos quais são as demandas e vemos em que o Materno pode ajudar. Começamos a fazer essa escuta em Ilhéus. A intenção é levar aos vinte municípios da área de referência.

Quais são as demandas mais recorrentes que o Hospital ainda não atende?

Cirurgias pediátricas, de fimose e de hérnia e a parte de ortopedia pediátrica, uma fragilidade do SUS em Ilhéus. Escutamos isso em todos os lugares. Acredito que, dentro de 30 a 60 dias, a gente já comece a ofertar alguns desses serviços.

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Aparecerão novas demandas, mas a gente precisará avaliar. Não adianta ampliar muito e não ter como acolher a população.

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O que a gestão do Hospital tem como objetivo para o próximo ano?

A gente espera que o serviço de ortopedia e as cirurgias já estejam disponíveis para toda a região. Queremos implantar as cirurgias na parte de otorrino e a parte de laqueadura. São projetos que a gente quer implantar ainda neste ano, mas que, a partir do próximo ano, estarão rodando melhor. Aparecerão novas demandas, mas a gente precisará avaliar. Não adianta ampliar muito e não ter como acolher a população. A gente precisa continuar ofertando nosso serviço com a qualidade de hoje. Não quero macas nos corredores e crianças do lado de fora esperando atendimento. Temos o cuidado de planejar a ampliação do serviço dentro da capacidade de oferta.

Abraço coletivo em visita da comunidade LGBTIAPN+ || Foto Maurício Maron

Como vai o diálogo da instituição com a comunidade LGBTIAPN+?

A gente está começando a conversar para ver como o Hospital pode se inserir nesse universo e ajudar nas demandas por saúde, principalmente da população trans. Realizamos um seminário para nossos trabalhadores, para que eles consigam entender a necessidade de estarmos preparados para acolher esse público.

Gurita: fiquei dividido entre a Secretaria e o mandato || Foto CMI
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Durou um mês a passagem do vereador Alzimário Belmonte, Professor Gurita, pela Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer de Ilhéus. Ele assumiu a Pasta no final de maio e saiu no dia 30 de junho. Ao PIMENTA, o parlamentar explicou que a possibilidade de ficar pouco tempo no cargo foi antecipada ao prefeito Mário Alexandre, Marão, de quem é correligionário no PSD.

– Quando o prefeito me convidou a assumir a Pasta, conversei com ele que faria uma experiência de trinta dias. Se, nesses 30 dias, eu percebesse que daria para fazer o que já fiz no passado pelo esporte, para poder colocar o esporte de Ilhéus em destaque na Bahia, eu ficaria e fui [para a Secretaria] – disse o vereador por telefone.

Gurita conta que, na rotina do Governo, percebeu que não seria possível se desconectar totalmente das demandas ao vereador, mesmo licenciado. “Acabei ficando dividido entre o esporte e a minha agenda da Câmara”. Segundo ele, essa divisão o incomodou, pois identificou que a Secretaria precisa de alguém capaz de se dedicar exclusivamente ao cargo. “Conversei com o prefeito e pedi exoneração, dizendo que preferia retornar à Câmara, porque minha pauta lá é muito ampla e forte”.

Então, o motivo da saída não foi nenhum problema com as condições de trabalho na Secretaria? “Não, zero. Para ser sincero, recebi condições importantes para trabalhar. Fizemos a etapa do Circuito Baiano de Judô, com a Federação Baiana de Judô; e o Festival Ilhéus, 50 anos de Surf, com a Associação Ilheense de Surf. Em trinta dias, consegui fazer essas duas grandes atividades. Então, foram me dadas as condições. Sair foi opção minha, porque estava dividido entre a agenda da Câmara, mesmo licenciado, e o esporte, sem dedicação exclusiva. Foi apenas isso”, reafirmou Gurita.

Com a volta do titular ao cargo, Luiz Carlos Escuta deixa a Câmara e retorna à primeira suplência do PSD.

Presidente Abraão Santos: "tempestade passou" || Foto PIMENTA
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A judicialização da disputa pela Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de Ilhéus lançou o presidente Abraão Oliveira dos Santos (PDT) em uma tormenta. Com a legitimidade de sua vitória contestada, viu-se na iminência de ser preso e, por duas vezes, foi afastado da presidência e conseguiu reverter as decisões. Também enfrentou o desafio de manter o Legislativo em funcionamento durante a interdição judicial do Palácio Teodolindo Ferreira, reaberto nesta semana. Foi lá que recebeu o PIMENTA para entrevista exclusiva e falou das intempéries dos últimos meses. Ao site, disse ter bom relacionamento com o Governo Mário Alexandre, falou sobre discussões do plenário e defendeu união entre os vereadores. Leia.

PIMENTA – O que o senhor sentiu quando recebeu a notícia de que, segundo a Justiça, poderia ser preso?

ABRAÃO OLIVEIRA DOS SANTOS – É inexplicável o sentimento. Acho que houve um equívoco [do judiciário], eu entendo, acho que errar é humano, mas foi corrigido. Graças a Deus, essa tempestade passou. A gente vai tentar manter a administração da Casa do Povo.

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É normal a luta pelo poder, e que vença o melhor.

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Houve certa animosidade na Câmara contra o senhor, especialmente naquele discurso do vereador César Porto (PSB). Depois, ele se colocou ao seu lado. Ficou alguma rixa?

Não, de maneira alguma. César Porto é um parceiro desde o início do primeiro mandato [2017-2020], que a gente era do mesmo partido, o PDT. Temos uma relação muito próxima, de ele me regular, me dá bronca, de eu falar com ele também, um corrigindo o outro. Existe respeito. Dentro de um parlamento, é normal esse tipo de guerra, de intrigas, um vereador contra o outro, é normal em qualquer parlamento do mundo. Os nervos ficam à flor da pele. Talvez saia coisa da boca de alguns sem pensar, no momento da ira, mas, no geral, é normal a luta pelo poder, e que vença o melhor. Cada um busca a melhor posição dentro de um poder.

O ex-vereador Cosme Araújo saiu do PDT. O senhor continuará filiado ao partido?

O PDT é o partido que namorei, foi o próprio Cosme Araújo que me colocou no PDT. Continuo filiado, mas não sentei com Cosme Araújo ainda, eterno presidente do PDT, que tenho muita gratidão pelos meus dois mandatos. Não tive uma conversa com ele para saber o motivo [da saída] e como vai ficar o PDT [em Ilhéus], um partido de grande importância, do eterno Leonel Brizola, que lutava pela educação.

Há uma investida do Governo Marão para isolar o senhor no PDT?

Não, não. Minha relação com o Governo é muito boa, inclusive o próprio Cosme tem uma relação ótima com o Governo. Talvez seja uma questão da [direção] estadual, não sei explicar, vou me aprofundar para dar uma resposta à sociedade. Agora, o PDT é um partido que amo e vou fazer o que puder para continuar nele. Vou procurar os deputados, o próprio Cosme Araújo, o próprio Félix Mendonça Júnior, que tem uma relação de irmão com Cosme.

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É ano de pré-eleição. Não vale a pena ficar brigando. A gente briga aqui, e quem tá lá fora quer entrar.

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O senhor declarou independência em relação ao Governo, mas diz ter boa relação. Como avalia essa reta final do segundo mandato do prefeito Mário Alexandre?

Independência não é ser oposição, é julgar o melhor pra população. Se tem em mente que [uma proposta] vai prejudicar a população, você não acata. Fora isso, minha relação com alguns secretários é boa, não posso negar. [Agora], é retomar os vínculos na Câmara, [para] os vereadores entenderem que a gente não pode mais continuar com essa guerra. É ano de pré-eleição. Não vale a pena ficar brigando. A gente briga aqui, e quem tá lá fora quer entrar. A gente perde tempo de buscar lideranças, fazer nosso trabalho na comunidade, por conta de brigas pequenas. Tem que reconhecer a eleição, foi limpa, e manter o trabalho, porque a cidade precisa da gente, nós somos os representantes legais. Se a gente brigar, a cidade vai ver isso como uma coisa ruim. Reflete na população.

É um objetivo do senhor pacificar a relação com os pares?

Ela é pacífica, sempre foi, há algumas desavenças, o que acontece no cotidiano da vida, até nas nossas casas. Estou tentando o máximo para trazer a união pra Casa. É o meu perfil, sou um cara de muita paz. Busco sempre o laço de amizade, ainda mais dentro de um Colegiado de tanta importância para Ilhéus e a nossa Bahia.

Radiovaldo Costa durante ato dos petroleiros em Salvador || Arquivo/Sindipetro-BA
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O diretor de Comunicação do Sindipetro-BA, Radiovaldo Costa, defende a reestatização da antiga Refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador. A Rlam foi vendida pela Petrobras, em dezembro de 2021, ao Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos. Rebatizada Mataripe, a refinaria passou ao controle de uma empresa do grupo estrangeiro, a Acelen. Segundo Radiovaldo, mais do que a Rlam, os árabes compraram o mercado baiano inteiro, que saiu do monopólio estatal para o privado.

Na avaliação dele, quando a nova política de preços da Petrobras aumentar a diferença dos valores praticados na maior parte do mercado nacional em relação aos do estado, a sociedade baiana vai reagir, de forma generalizada, colocando a reestatização da refinaria na agenda do Planalto. “Acredito que esse clamor virá com muita força e espero que isso entre, efetivamente, na pauta política e econômica do Governo [Lula]”, vaticinou o dirigente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), em entrevista ao PIMENTA

Segundo levantamento da Petrobras, feito de 21 a 27 de maio, o preço médio da gasolina no Brasil bateu R$ 5,26 nas bombas. No sul da Bahia, cidades como Ilhéus e Itabuna registraram, nesta semana, aumento médio de R$ 0,50 no litro da gasolina, passando de R$ 5,60 em vários postos. A disparada sucedeu reajuste de 5% do combustível vendido pela Acelen. Para Radiovaldo, esse descolamento tende a se intensificar. “Vai ficar pior, porque a distância do preço que vai ser praticado no Brasil e o que vai ser praticado na Bahia vai aumentar. Com isso, a população vai perceber como foi prejudicial a privatização da Rlam”.

FIM DO PPI

Na definição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o fim do Preço por Paridade de Importação (PPI), a Petrobras voltou a “abraliseirar” seus preços, pois é das maiores produtoras de petróleo do mundo e não depende da importação de óleo bruto, cotado em dólar e acrescido do custo do frete, para abastecer suas refinarias. Já a Acelen, conforme Radiovaldo, não tem condições de fazer o mesmo.

“Por que a Petrobras pode acabar com o PPI e a Acelen não? Por um motivo simples. A Acelen não produz, no Brasil, um único litro de petróleo, apenas refina. A Petrobras produz 3 milhões de barris por dia e refina, mais ou menos, 2,2 milhões por dia. O custo de extração desse petróleo no Brasil é na casa dos quinze dólares. A Acelen não consegue reduzir os preços, porque depende do preço do barril de petróleo no mercado internacional, sem contar a variação do dólar [em relação ao real]”, afirmou o dirigente, técnico de operações da Petrobras desde 1987.

“DECISÃO POLÍTICA”

Correligionário de Lula no Partido dos Trabalhadores, Radiovaldo Costa disse ao PIMENTA que o atual presidente demonstrou que Bolsonaro mentia quando afirmava não poder intervir nos preços da Petrobras. Do mesmo modo, acrescentou, Lula pode requisitar a recompra da Rlam.

– A decisão de Lula mostra que Bolsonaro mentiu pro povo. Lula foi lá e disse: “quero o fim do PPI”. O que foi que a Petrobras fez? Acabou com o PPI. Agora, o presidente da República pode dizer: “Petrobras, quero que vocês comprem a Rlam”. A Petrobras vai fazer o quê? Chamar o Mubadala para discutir a compra da Rlam. Por isso que eu digo: [reestatizar ou não a refinaria] é uma decisão política, não é meramente empresarial – concluiu.

Lucio: "inconcebível Bahia não ter monitoramento costeiro" || Foto Pimenta
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Quem mora em Ilhéus acostumou-se a ver imagens dos estragos causados pelo avanço do mar no litoral norte, especialmente nos bairros São Miguel e São Domingos. Agora, há evidências de que o mar também ganha espaço na zona sul da cidade, afirma o oceanógrafo Lucio Figueiredo de Rezende, doutor em Física pela Universidade de Aveiro e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Os sinais da subida do mar também ao sul, explica Lucio, estão na erosão dos bancos de areia que não desaparecem com as mudanças sazonais do território litorâneo. São essas formações que dão base à vegetação de restinga e funcionam como barreiras naturais ao avanço do mar, acrescenta o oceanógrafo.

Sem instrumentos de exame dos fenômenos, continua Lucio, a observação humana não consegue determinar, por exemplo, as causas do aumento do nível do mar nem sua taxa de elevação. Acontece que esse é o tipo de informação básica para o planejamento da ocupação da costa. Na entrevista a seguir, o pesquisador afirma que, neste momento, Ilhéus e toda a Bahia estão numa situação de “cegueira” sobre os fatores que atuam na dinâmica dos processos costeiros. Leia.

PIMENTA Professor, o que mudou na sua percepção da costa de Ilhéus desde aquela primeira entrevista?

Lucio Figueiredo de Rezende – De forma geral, há um acirramento dos processos erosivos ao sul e ao norte. Tínhamos feições deposicionais de longo prazo, as chamadas bermas de praia, dunas embrionárias, que são formações de longo prazo, cobertas por vegetação de restinga. Agora, você observa que essas feições estão erosivas. O mar está solapando, como se fosse um processo de mesoescala.

O que é um processo de mesoescala?

É um processo com extensão espacial grande. Não é de causa local. Possivelmente, não é só o efeito de um porto ou de uma ponte. Mudanças climáticas e aquecimento dos oceanos podem intensificar processos locais. Esses fatores atuam em conjunto na natureza. Você tem processos de pequena, média e larga escala. Provavelmente, os processos de larga escala atuam de forma mais intensa aqui, neste momento, causando processos erosivos que a gente não observava com a mesma intensidade de agora.

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 São processos lentos. O olho humano não capta. Você só observa quando cai um coqueiro centenário.

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Quando esses fenômenos se tornaram mais visíveis em Ilhéus?

É difícil dizer quando começou a acontecer, porque são processos lentos. O olho humano não capta. Você só observa quando cai um coqueiro centenário. Quando você observa que uma duna grande da região desapareceu. Quando você anda muito pelo litoral, encontra diversas evidências desses processos erosivos.

Quais consequências podem advir da erosão das dunas costeiras?

As dunas funcionam como depositórios de sedimentos de outro momento, de um momento de mais construção. Se você começa a ter sempre o predomínio de processos erosivos, você começa a ver o mar invadindo. Sem as dunas, as zonas de costa ficam mais desprotegidas. É por isso, por exemplo, que a tal faixa de marinha deve ser protegida. Você também observa em Ilhéus as pessoas ocupando a faixa de marinha, inclusive no sul da cidade, mas não deveriam fazer isso. A faixa de marinha é uma zona de preservação para a biota, o ser humano e as construções humanas.

Quais são as evidências de que esse processo erosivo se intensificou na zona sul?

Depósito de areia erodido pelo mar na Praia da Renascer || Foto Lúcio Rezende

Se você andar nas praias da zona sul, vai ver as escarpas, que sempre foram comuns no inverno, mas se recompunham no verão. Agora, você vê escarpas ao longo do ano todo. Quer dizer, esse sedimento não está sendo novamente depositado. É óbvio que, na praia do norte, você teve o impacto do porto. Agora, a gente está falando de processos naturais que a gente não sabe exatamente quais são. Falta-nos uma rede de marégrafos, com registro contínuos, para monitorar a costa da Bahia.

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A Bahia, com uma economia que depende tanto do mar, deveria estar mais preocupada com isso.

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Como esse monitoramento pode ajudar na gestão costeira?

O marégrafo é um instrumento simples. Basicamente, ele registra o nível do mar. Nesse registro, você tem a maré propriamente dita e todos os outros fenômenos associados ao nível do mar, mas que não são maré. Por exemplo, a elevação causada pela dilatação da água nos períodos de aquecimento do mar, as variações de cada estação, as entradas de tempestade. Alguns desses fenômenos são chamados de maré meteorológica. Com os dados do marégrafo, o cientista separa a maré astronômica, que não tem variações significativas de seus padrões, e fica com a elevação do nível do mar. Assim, ele estuda a causa desses fenômenos e obtém a taxa de elevação. A Bahia, com uma economia que depende tanto do mar, deveria estar mais preocupada com isso. A economia marítima é um componente muito forte do estado, além da questão cultural, porque a Bahia é um estado voltado para o mar.

Qual tipo de medida poderia ser orientada pela taxa de elevação do mar?

Você vai saber se é conveniente ou não autorizar a ocupação de áreas litorâneas, permitir grandes ocupações, prédios, estabelecer a distância para a construção de prédios fora da zona de costa. Se vamos ter processos erosivos [com o aumento do nível do mar], vale a pena construir esses espigões tão altos próximos da linha de costa? Ou seja, poderemos tomar decisões com ciência do que está acontecendo. Esse monitoramento também é a única forma de saber qual é o tempo de resposta que a gente tem para construir proteção costeira. Se a taxa de elevação for elevada, temos que planejar a proteção desde já.

Qual é o status da nossa capacidade de planejamento costeiro?

Estamos numa situação de cegueira. Olhamos o litoral, observamos que o mar está avançando, mas não temos dados de monitoramento para determinar a taxa de elevação. Nós não sabemos se é um fenômeno devido ao aquecimento; se é sazonal, mas em escala maior; ou se é uma isostasia. Precisamos definir isso cientificamente e, com base nessa resposta científica, planejarmos nossa ocupação litorânea. É inconcebível que a Bahia não tenha planejamento pra sua linha de costa.

O que é isostasia?

Quando uma região reage ao peso de uma construção. É muito difícil determinar, mas não é prudente construir um bloco de edifícios numa faixa costeira. Pode haver abaixamento relativo ou elevação [do solo] em outra faixa. Santos sofre com isso. Por mais estranho que seja, não é magia, ocorre mesmo. Estamos sobre uma placa continental, isso significa que os impactos dessa reação não é, necessariamente, local. Outro exemplo é Camboriú. Aqueles prédios todos. Uma inconsequência. Afeta o equilíbrio dinâmico das massas, a circulação do vento, calor, brisas, iluminação – tudo o que devemos evitar em Ilhéus. Isso apaga o relevo. Cidade alta e baixa desaparecem. Ilhéus já está difícil. Salvador é impossível: você está no Jardim Apipema, um vale, e não tem mais a percepção de vale.

Everaldo Anunciação contemporiza notícia de que Lula não volta à Bahia antes do dia 2 || Foto Erick Salles/A Tarde
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Membro do Diretório Nacional do PT e da coordenação da campanha de Jerônimo Rodrigues ao Governo da Bahia, Everaldo Anunciação contemporizou a notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não voltará ao Nordeste antes de 2 de outubro.

Havia a expectativa, no petismo baiano, de que Lula voltasse à Boa Terra para turbinar a candidatura do correligionário, mas a prioridade – enfatiza Everaldo – é mesmo a Presidência da República. “Temos que ser estratégicos”, explicou o dirigente ao PIMENTA, nesta quinta-feira (22), por telefone.

Para o ex-presidente estadual do PT, ainda que o partido busque a vitória de Jerônimo na primeira rodada, o cenário que se desenha na Bahia é o de eleição em dois turnos. Por isso, acrescenta, o fim da disputa nacional daqui a 10 dias, com Lula eleito, pode vir a ser decisivo e favorável ao petista baiano.

Na entrevista a seguir, Everaldo Anunciação também fala da agenda e do desempenho de Jerônimo Rodrigues no sul do estado e rechaça a interpretação segundo a qual o candidato a governador pelo União Brasil, ACM Neto, seria um adversário muito mais forte do que os enfrentados pelos petistas nas últimas quatro eleições estaduais. Leia.

PIMENTAComo o PT baiano recebeu a notícia de que Lula não voltará ao Nordeste antes de 2 de outubro?

Everaldo Anunciação – Trabalhamos para eleger Lula no primeiro turno. Há um clima nesse sentido. A gente precisa melhorar a votação no Sudeste e no Sul. Temos índices extraordinários no Nordeste. Então, nada mais justo. Temos que ser estratégicos. No caso de Jerônimo, as pessoas começaram a vincular o voto [com a eleição presidencial], por isso o crescimento dele. Em qualquer estado, para qualquer candidato, a presença de Lula é uma contribuição extraordinária, mas a vinda anterior dele já nos deu essa condição.

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“Não vamos tensionar para mudar a estratégia. A contribuição que Lula deu para a arrancada de Jerônimo foi extraordinária”.

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Isso significa que não haverá insistência em trazê-lo?

Não vamos tensionar para mudar a estratégia. A contribuição que Lula deu para a arrancada de Jerônimo foi extraordinária. A presença no lançamento [da pré-campanha, em março], a presença no 2 de Julho, nas manifestações, nas mídias, nos programas eleitorais, tudo isso contribui muito. Como o cenário de hoje [indica] uma eleição de dois turnos na Bahia, para a gente, a eleição de Lula no primeiro turno é fundamental para a vitória de Jerônimo, mas trabalhamos para eleger os dois no primeiro.

Jerônimo abriu a campanha de rua em Itabuna. Ele volta ao sul da Bahia antes do dia 2?

Temos uma agenda na região para o dia 28. Já estão confirmadas Ilhéus e Camacã. Há um pleito dos partidos para um retorno a Itabuna e pedidos de cidades daquela região de Camacã, Santa Luzia, Una. A coordenação está discutindo.

Há preocupação com o desempenho de Jerônimo em Ilhéus?

Eu vi que existiria uma pesquisa apontando que o desempenho estaria aquém da expectativa das lideranças. Essa atividade do dia 28 já estava marcada. Nessa reta final, a campanha vai ganhando força. A gente tem informações muito positivas do crescimento em Itabuna. Como foi a vitória de Wagner, como foi a vitória de Rui, acredito que Jerônimo também será vitorioso.

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“Não vejo essa força na candidatura do ex-prefeito [ACM Neto]. Claro que é outro momento, outra história”.

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Entusiastas da campanha de ACM Neto dizem que ele chega muito mais forte hoje do que Paulo Souto chegou em 2014 contra o quase desconhecido Rui Costa. O senhor vê a campanha de Neto com essa força a mais?

Não vejo assim. Se a gente pegar os números das pesquisas, coincidentemente, eles apresentam os mesmos cenários das eleições de 2006 e 2014. Paulo Souto bastante conhecido, ACM Neto bastante conhecido e Wagner e Rui desconhecidos. As eleições, nesse período de setembro, apresentam números parecidos. Jerônimo é quem tá apresentando 31% no Datafolha, enquanto Rui aparecia no Ibope com 28% [em 2014]. Não vejo essa força na candidatura do ex-prefeito. Claro que é outro momento, outra história. Não se pode negar isso, mas nós estamos discutindo uma eleição que se nacionaliza, naturalmente, pelas características da conjuntura atual.

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Presidente de honra do MDB baiano e ex-deputado federal, Lúcio Vieira Lima afirma que o discurso acalorado do seu irmão, Geddel Vieira Lima, durante ato nesta sexta (1º), não pode ser interpretado como declaração de guerra ao pré-candidato do União Brasil ao Governo da Bahia, ACM Neto.

Com a mão esquerda apoiada numa muleta e a direita ao microfone, Geddel disse aos militantes e pré-candidatos do MDB que não terá sua atuação política cerceada para além das limitações que já o impedem de exercê-la plenamente. Na sequência, o ex-ministro subiu o tom e referiu-se a Neto e ao prefeito de Salvador, Bruno Reis (UB).

– Vamos deixar claro. Vamos, por exemplo, falar do adversário nosso tido como mais forte, o ex-prefeito e seu menino, o prefeito. Para ficar bem claro, não reconheço na Bahia e não reconheço no Brasil ninguém com autoridade política ou moral para apontar o dedo para o calvário que tenho enfrentado, e com coragem!

Nesta entrevista ao PIMENTA, além de classificar o discurso do irmão como desabafo, Lúcio Vieira Lima analisa a disputa pelo Governo do Estado e aposta no crescimento da chapa do pré-candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, que tem o emedebista Geraldo Júnior na vice.

Também revela o cálculo de ACM Neto sobre a pré-campanha e, com uma tirada, explica o posicionamento do MDB baiano na eleição presidencial. “Como vou eleger deputado e fazer campanha contra Lula na Bahia?”. Leia.

PIMENTA- O cenário atual é de renascimento do MDB?

Lúcio Vieira Lima – Não. [Em 2020], o MDB mostrou que não estava morto. Saiu das urnas como o quinto partido em número absoluto de votos, reelegendo os prefeitos das duas maiores cidades do interior [Feira de Santana e Vitória da Conquista]. Elegeu dois vereadores e fez o presidente da Câmara de Salvador. Neste ano, foi desejado por todos os candidatos a governador. Indicamos o [pré-candidato a] vice-governador da chapa do PT na Bahia, que é o quarto colégio eleitoral do Brasil. Portanto, o MDB não morreu. Só renasce quem morre. A história da política mostrou isso.

Não falo apenas do MDB da Bahia, mas de toda a estrutura política. Há poucos anos, o mundo sofreu uma revolução de internet, onde se mudava presidente porque o povo ia às ruas. Teve partido na França que foi criado pra uma eleição e ganhou. O próprio PSL, à época [2018], se aliou a Bolsonaro, saiu com a segunda maior bancada da Câmara Federal e o presidente da República. Além disso, o MDB é a costela de Adão [do sistema partidário brasileiro]. Não foi o MDB que diminuiu, outros partidos surgiram e cresceram.

O senhor descreve uma onda de fora para dentro da política, dos chamados outsiders? Essa onda refluiu? 

Como toda onda, ela vem e vai. Se ela vem mais forte, o surfista pega, marca ponto e é campeão. Ele depende da onda. Essa onda ocorre desde o tempo de Fernando Collor. Ele foi um outsider que se aproveitou daquele momento de descontentamento do povo, em cima [da imagem] do caçador de marajás, e chegou à vitória. Bolsonaro foi outro caso. [São] como eclipses, ocorrem te tantos e tantos anos.

 

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Com a decepção com esse governo que você chama de outsider, a política tradicional, partidária, começa a ocupar novamente os espaços.

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E o que temos neste ano?

Com a decepção com esse governo que você chama de outsider, a política tradicional, partidária, começa a ocupar novamente os espaços. Na verdade, como a política está com a fama tão ruim, os partidos perdem quadros, [enquanto] quadros que poderiam entrar na política por competência terminam sem estímulo. É um terreno fértil – e mais ainda com a internet – para que candidaturas de oportunidade, esporádicas e populistas vendam um discurso fácil à população. Não há renovação do sistema político. Você vê a dificuldade de se encontrar uma terceira via [na eleição presidencial].

Quais são as expectativas para as eleições proporcionais no estado?

Vamos fazer de dois a três [deputados] federais. Os favoritos seriam, não pela ordem, Ricardo Maia, ex-prefeito de Ribeira do Pombal; Uldurico Pinto, atual deputado, da família dos Pinto, do extremo-sul; e Fábio Vilas-Boas, ex-secretário de Saúde do Estado. [Na Alba], queremos fazer três, mas chegaremos a quatro, com certeza. Temos Rogério Andrade; Lúcia Rocha; Matheus; Geraldinho; Ana Clara, mulher do ex-prefeito de Paulo Afonso; Joelson Martins, de Santa Luz, filho do ex-prefeito e ex-deputado Joelson Martins; e Lú de Ronny, de Feira de Santana. São nomes que terão de 30 a 40 mil votos.

 

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[ACM Neto] está em campanha ao governo há dez anos. Inclusive, chegou a fazer uma pré-campanha toda na eleição passada.

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E o cenário da eleição majoritária?

Só vai ter posição concreta quando começar a campanha de televisão e rádio. O pré-candidato do União Brasil está em campanha ao governo há dez anos. Inclusive, chegou a fazer uma pré-campanha toda na eleição passada e, na prorrogação, desistiu, mas está sempre candidato, candidato, candidato.

É lógico que, nesse momento, [Neto] pode aparecer na dianteira das pesquisas, porque Jerônimo é totalmente desconhecido. Foi secretário e, dentro das esquerdas, por exemplo, é um nome levíssimo pelo trabalho que fez junto aos movimentos sociais, cooperativas, a turma do interior, da agricultura familiar. Terminou sendo um nome melhor que o de Wagner e o de Otto. A força de Otto ou Wagner é ser candidato de Lula. Isso Jerônimo é. Wagner tem desgaste, não poderia ir para a campanha pra dizer vou fazer isso. Nego ia pergunta por que não fez. Jerônimo pode dizer o que vai fazer, nunca foi governador, mas isso implica na parte ruim do desconhecimento [do eleitorado].

 

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[Jerônimo] vai crescer. A eleição de Jerônimo é a mesma que foi de Wagner, de Rui e Dilma: é Lula.

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Dá tempo de superar essa dificuldade?

Quando se tornar mais conhecido, com a campanha, ele [Jerônimo] vai crescer. A eleição de Jerônimo é a mesma que foi de Wagner, de Rui e Dilma: é Lula. O grande desafio de Neto é colocar na cabeça da militância que a eleição não será nacionalizada, dizer que Lula não transfere votos como transferia antigamente e dizer que o pessoal de Lula vai votar nele, e que inclusive ele vota em Lula. É o tripé que ele montou pra segurar a pré-candidatura dele na frente das pesquisas o maior tempo possível, pra tentar tornar um fenômeno irreversível. Só que você tem João Roma, que Neto apostava que não cresceria e que não tiraria voto dele, porque o eleitorado de João Roma é carlista e continuaria votando em Neto.

É uma avaliação correta?

Não é isso o que está se observando. O que se observa é ACM Neto perdendo muito voto para João Roma, não vice e versa, porque é em função de Bolsonaro. Neto diz que quer o palanque aberto e apoia Bivar, Ciro, apoia todo mundo que aparecer como candidato. O bolsonarista, quando Neto diz que vai votar em Lula, isso implica em insatisfação da parte de Bolsonaro e do eleitor dele. Nego começa a querer votar em Roma.

Neto sempre me disse – não só a mim, mas a muitos interlocutores, que, para ele ganhar a eleição [no primeiro turno], Lula não poderia chegar a 60% [da preferência do eleitorado baiano] e João Roma não poderia chegar a 10%. As duas coisas já ocorreram. Pela própria análise dele, ele já não ganha em primeiro turno.

 

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Se tenho que eleger deputado e estão me cobrando, como vou ficar contra Lula na Bahia?

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O MDB lançou a pré-candidatura de Simone Tebet. Como observa esse movimento?

A Simone veio pro 2 de Julho, mas trazida pelo Cidadania. Sempre coloquei que o MDB respeitaria as peculiaridade locais. Por exemplo, o prefeito de Itapetinga, Rodrigo [Hage]. Como o PT é o adversário dele lá, ele não tinha condições de apoiar o PT. Tenho que respeitar, até porque a estrutura partidária brasileira e a legislação eleitoral não permitem esse grau de fidelidade, não tem nenhum tipo de punição que possa se tomar.

É a mesma coisa nos estados. Seria um contrassenso. Você tem as direções nacionais dos partidos e, no caso, do MDB, pressionando pra se fazer deputado federal, porque é deputado federal que dá o tempo de televisão e o fundo eleitoral. Ora, se eu tenho que eleger deputado e estão me cobrando, como vou ficar contra Lula na Bahia? Aí não consigo atender. Ou atendo a direção nacional, ficando com Simone, ou atendo a direção nacional, ficando com Lula e elegendo deputado.

Do ponto de vista pragmático, o caminho é Lula?

O caminho é Lula, mas os delegados [do MDB] da Bahia, quando chegarem na convenção [nacional do partido], vão apoiar a candidatura de Simone. Vão votar pela candidatura de Simone.

Geddel fez um discurso forte. Foi uma declaração de guerra ao grupo de ACM Neto?

De forma nenhuma, não tem nada a ver. Foi uma fala de improviso, fez o desabafo dele. Não foi direcionado para A, B ou C, apenas exemplificou. O que ele disse – e você deve ter ouvido também – é que ele não tem que ser patrulhado por ninguém, quer exercer a cidadania dele, que não tem ninguém que tenha condição de patrulhar e, principalmente, porque todos ficaram atrás dele [em busca de aliança]. Também disse que o adversário mais importante é o pré-candidato do União Brasil, que foi citado como exemplo. [Geddel] falou que não aceitaria [provocação] de anônimo, de internet, forças ocultas, adversários.

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Quando a família de Bernadete deixou Estância (SE), no final dos anos 1970, repetiu o caminho percorrido por milhares de pessoas que buscaram vida melhor no sul da Bahia. Na época, a região ainda ostentava a riqueza do cacau e atraía muitos moradores de Sergipe e outros estados. O destino da família foi o Alto do Basílio, em Ilhéus.

Bernadete tinha 9 anos e descobriu que a Princesinha do Sul escondia, nas suas margens, a pobreza omitida nos postais. No início da adolescência, participou de manifestações por melhorias para a comunidade periférica, que em nada lembrava o urbanismo suntuoso do Centro Histórico da cidade. Ali, nos protestos em frente ao Palácio Paranaguá, iniciou-se na política.

Hoje, aos 54 anos, Bernadete Souza Ferreira considera-se mais baiana que sergipana. Ialorixá, liderança camponesa e ex-candidata a prefeita de Ilhéus, vive no Assentamento Dom Helder Câmara, na região de Banco do Pedro, zona rural ilheense. Foi de lá que conversou com o PIMENTA, em chamada de vídeo. Na entrevista a seguir, ela confirma sua pré-candidatura a deputada estadual pelo PSOL, fala sobre representatividade, explica por que deixou o PT, critica a política de segurança da Bahia e relembra o episódio em que foi agredida física e verbalmente por policiais militares. Leia.

PIMENTAComo a militância política entrou na vida da senhora?

Bernadete Souza – Comecei a militar com 13 anos, no Alto do Basílio. Não tínhamos saneamento básico, energia e água potável. Começamos a fazer um processo, na própria comunidade, atuando nas manifestações. Na adolescência, ia para a porta da Prefeitura, na época de Antonio Olímpio, naquele primeiro governo dele [1977-1982], para protestar, dizer que a gente precisava de água, energia, estrada, escola. Com 18 anos, fui eleita presidente da Associação de Moradores e me filiei ao Partido dos Trabalhadores. Fui do PT até 2015. Hoje sou do PSOL e do Movimento Negro Unificado (MNU), da luta no combate ao racismo e também à intolerância religiosa. Dentro dessa luta, movimento social é o que a gente come, bebe, veste, dorme e acorda.

Por que trocou o PT pelo PSOL?

Continuo respeitando o Partido dos Trabalhadores. Não é à toa que o PSOL apoia Lula para presidente da República. As questões que me moveram para o Partido Socialismo e Liberdade são fundamentais para mim, enquanto mulher negra e camponesa. Somos protagonistas desse movimento, e o partido também é um movimento. Quando chega o momento da disputa pelo espaço de poder político, no período eleitoral, geralmente, percebemos que não somos priorizadas dentro do partido [PT]. [No PSOL], em 2018, fui candidata a co-senadora. Em 2020, a gente colocou o nosso nome para a Prefeitura de Ilhéus. No PT, isso não seria viável. De 1986 a 2015, o PT também construiu, junto comigo, o que sou hoje. Agradeço ao Partido dos Trabalhadores por me conduzir dentro desse processo da luta coletiva. Sou grata ao PT por estar aqui hoje.

A pré-candidatura a deputada estadual já foi lançada oficialmente?

Na conferência do PSOL, a maioria escolheu o companheiro Kleber Rosa para a disputa do Governo do Estado [Bernadete perdeu as prévias partidárias]. A pré-candidatura à Alba foi lançada no encontro de mulheres do PSOL na Bahia. No próximo dia 30, vamos fazer um novo ato, com apoio da Coalizão Negra por Direitos.

O governo Bolsonaro ensinou, com o exemplo de Sérgio Camargo na Fundação Palmares, que não basta ser negro para ser antirracista, do mesmo jeito que não basta ser mulher para defender as pautas das mulheres. Como assegurar uma representação substantiva das mulheres negras?

Isso é fundamental para nós. De fato, não é qualquer homem ou mulher negra que nos representa no debate racial e em outros temas que a gente defende. Infelizmente, no nosso país, tentam nos invisibilizar e nos impedir de defender o que acreditamos, como o próprio combate ao racismo em suas várias formas. Essa política de invisibilização não ocorre só nos partidos de direita. Nos partidos de esquerda também existe esse processo. É por isso que, no PSOL, a gente diz que é preciso se aquilombar. A gente precisa aquilombar o parlamento para que as nossas causas tenham, de fato, representação e sejam defendidas pelas mulheres. Você traz o exemplo de Sérgio Camargo na Fundação Palmares. Ele veio para destruir tudo aquilo que foi construído durante anos a partir dos movimentos negros. Ele vem com a política genocida, que é a política do governo que ele defende. Não basta ser só mulher ou só negra. É preciso defender as pautas que a gente defende. Eu sou uma mulher da periferia, que tem o feminismo no cotidiano.

Como parar o extermínio da população negra?

A Bahia é o estado mais letal do Nordeste. Em Salvador, segundo pesquisa publicada no G1, 100% dos mortos pela polícia são negros. Ou seja, a juventude negra está sendo executada. E os policiais também estão morrendo por conta de uma política que não é para salvar vidas. Quando a gente fala de segurança, me pergunto: qual é o tipo de segurança que nós temos? Essa política não começou nesse governo [estadual]. Lógico que gostaríamos que esses números nem existissem, principalmente nos governos de esquerda, no governo do PT, de Jaques Wagner e Rui Costa, mas a política que está aí não é para salvar vidas, é para matar. Dizem que a política é de combate às drogas, mas o combate é contra o povo negro. Isso não quer dizer que não foi assim nos governos anteriores, porque houve genocídio também. E isso só tem se intensificado. A gente defende uma política de investigação [criminal], mas a política atual é de assassinato da juventude negra.

O uso de câmeras nos uniformes policiais pode atenuar esse problema?

Acredito que sim. Qualquer tentativa de evitar que se ceife vidas é plausível. Qualquer tentativa de evitar a violência policial é válida. A gente viu o caso de Sergipe, onde um homem, que tinha problemas psicológicos, foi assassinado dentro de uma viatura [da Polícia Rodoviária Federal]. A gente sabe quem estimula esse tipo de crime. Existem, dentro da própria polícia, aqueles que seguem esse tipo de apelo. O uso da câmera nos coletes é uma tentativa de diminuir esse problema. A gente sabe de perto o que é a violência policial. Eu sei o que é a violência policial.

A senhora pode falar da violência que sofreu no assentamento?

Sim. Foi em 2010. Os policiais estavam fazendo rondas em Banco do Pedro e trouxeram um jovem negro ensanguentado. Eu era coordenadora-geral do assentamento e fui questionar a forma como eles estavam conduzindo o rapaz. Eles não tinham ordem judicial para estar na comunidade. Eles vieram pra cima de mim, dizendo que eu estava desacatando a autoridade. Me algemaram. Houve também um ato de racismo religioso, porque, no momento que me pegaram, meu orixá se manifestou, e eles disseram que Satanás ia sair do meu corpo. Me jogaram num formigueiro, botaram arma na minha cabeça, pisaram no meu pescoço e me conduziram para a delegacia de Ilhéus. Isso ganhou repercussão no país e no exterior. O caso está sub judice até hoje, uma ação civil pública que nunca foi julgada.

A senhora é a favor da abertura de capital da Embasa?

Somos contra privatizações. Esse debate é caríssimo, porque, quando se fala em privatizar a Embasa, a gente falando em privatizar a água. Qual é o debate que está sendo feito com a população da Bahia para que ela seja ouvida? A gente vendo o governo federal privatizando tudo, e esse debate da Embasa é para entregar a água nas mãos dos estrangeiros. Independente de estarmos eleitas ou não, vamos travar uma luta contra a privatização da Embasa. Hoje, 20% da população baiana não têm água potável em suas casas. Em pleno século 21, no ano de 2022, só agora a Embasa está trazendo água para o nosso assentamento. Por quê? Porque a gente não é prioridade para o governo. Falar em água potável é falar de saúde. A gente não tem um dentista, porque não tem água potável. Se privatizar a água, vai ser pior, as populações periféricas continuarão de fora.

Câmara aprova título de cidadão honorário para o promotor de Justiça Frank Monteiro Ferrari
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Após dois anos sem festas públicas devido à pandemia, Itabuna e Ilhéus anunciaram o Ita Pedro e o Viva Ilhéus 488 anos. Os eventos terão shows de artistas que arrastam multidões e cobram bem por isso.

A Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC) divulgou os cachês dos artistas contratados pelo município para o Ita Pedro. O mais robusto é o do cantor e compositor João Gomes: R$ 360 mil. A Prefeitura de Ilhéus ainda não detalhou o orçamento da festa, mas, para se ter ideia, o cachê de Wesley Safadão, um dos artistas confirmados no Viva Ilhéus, chegou a R$ 600 mil em outros eventos.

Os dois maiores municípios do sul da Bahia têm receitas vultosas. Enquanto Itabuna espera arrecadar quase R$ 700 milhões em 2022, a estimativa de receita ilheense para o mesmo ano passa de R$ 510 milhões. Esses valores são relevantes para que se possa avaliar, por exemplo, a proporcionalidade de despesas com festas públicas, tema que atraiu holofotes do país inteiro neste ano.

Caso emblemático foi o da Festa da Banana, em Teolândia, no baixo-sul da Bahia, orçada em R$ 2,3 milhões, segundo o Ministério Público do Estado (MP-BA). A estimativa da arrecadação do município em 2022 é de R$ 65 milhões. A promotora de Justiça Rita de Cássia Pires Bezerra Cavalcanti considerou a despesa desproporcional e pediu o cancelamento da festa à Justiça, que, após decisões em três instâncias, acatou o pedido.

Nesta entrevista ao PIMENTA, o promotor de Justiça Frank Monteiro Ferrari, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção à Moralidade Administrativa (Caopam/MP-BA), defende a atuação da colega no caso de Teolândia e responde pergunta sobre as festas de Itabuna e Ilhéus, complementando a resposta com apelo aos gestores das vizinhas sul-baianas. Também discute críticas feitas à atuação do MP-BA  e afirma que a instituição tem se esforçado para agir mais de forma colaborativa do que sancionatória. Confira.

PIMENTA – O que chamou a atenção do Ministério Público para as despesas com as festas juninas na Bahia?

Frank Ferrari – O São João é uma festa tradicional da Bahia. Tradicionalmente, os entes públicos realizam eventos, e já faz parte da própria cultura institucional do Ministério Público acompanhar os gastos com os eventos juninos. Isso voltou a acontecer agora, depois de 2 anos sem festas por conta da pandemia.

O caso de Teolândia ganhou repercussão nacional. O que levou o Ministério Público a pedir o cancelamento da Festa da Banana à Justiça?

O caso é muito peculiar. Decorreu de atuação muito competente e eficiente da promotora de Justiça local. Dentro da sua independência funcional, a promotora identificou, na análise do contexto particular daquele município, elementos que a levaram à conclusão de que os gastos seriam desarrazoados e desproporcionais com a situação fática pela qual passava o município. Isso a moveu a ajuizar a ação. O desfecho todos nós acompanhamos por meio da imprensa. Ela considerou, dentre outros fatores, a situação de emergência decretada naquele município por conta das chuvas que ocorreram no final do ano passado; o porte do município; as repercussões ainda presentes daquela situação de emergência, com muitas famílias ainda vulneráveis; e o comparativo dos valores empregados [na contratação dos shows], que chamam atenção por si sós, com os valores empregados na saúde, educação e em outras áreas essenciais do município no ano passado. Portanto, foi um conjunto de fatores.

Há outra ação desse tipo em curso na Bahia?

Ainda não temos notícia de outras ações semelhantes à de Teolândia, mas o acompanhamento está sendo feito.

Quais são os critérios que o Ministério Público utiliza para avaliar a necessidade de fazer uma recomendação ou até mesmo de agir em determinado caso? 

São critérios que passamos a compartilhar com os gestores, como a eventual situação de emergência decretada em razão das chuvas, o valor expressivo empregado na contratação de artistas e estruturas e outros fatores indicativos da saúde financeira do município. Tentamos direcionar um olhar especial para as localidades que se enquadram, mais ou menos, nesse contexto. Algo que possa sugerir falta de proporcionalidade na decisão de realizar a festa e o grau de investimento. É muito importante que os próprios gestores desses municípios, que eventualmente estejam em situação semelhante, possam reunir suas equipes técnicas, reavaliar seu processo decisório e justificar, de forma pormenorizada, suas decisões, seja para revisá-las ou mantê-las. O importante é que tenhamos clareza, detalhamento e transparência sobre como estão sendo geridos os recursos públicos.

A recomendação é um dos instrumentos do MP. Sobre as festas de 2022, já foi feita alguma recomendação aos municípios?

Estamos monitorando os dados. Como regra e prioridade, sempre que possível, a estratégia estabelecida pelo Ministério Público privilegia o diálogo com os gestores, mas nem sempre é possível, seja pelo tempo ou pelo contexto específico. A gente tem estimulado essa aproximação, o diálogo. A expedição de recomendação é, na verdade, um ato que deve ser relegado a um segundo momento, quando esse diálogo não é viabilizado por alguma razão. A recomendação já é um ato unilateral, que a gente está tentando utilizar como ultima ratio. Primeiro, o contato com os gestores, diálogo, sensibilização e conscientização de que é uma responsabilidade conjunta. Importante frisar que nosso foco é mais qualitativo do que numérico, olhando para os lugares onde os gastos estão sendo mais expressivos e que podem guardar possível desproporcionalidade, considerando a situação específica [do município].

Itabuna e Ilhéus vão fazer grandes festas. Entraram no radar do MP?

A exortação do acompanhamento foi feita de forma geral aos promotores de Justiça. Em sendo [gastos] expressivos, certamente, os promotores de Justiça locais devem estar monitorando. O Centro de Apoio [caopam] está sempre à disposição dos órgãos de execução para eventual apoio na análise, na estratégia de abordagem e na eventual intervenção em cada caso concreto. Certamente, [os municípios] estão sendo monitorados e, claro, dentro da independência funcional de cada membro [do MP]. Como são municípios importantes, onde estão, aparentemente, sendo realizados gastos expressivos, a gente aproveita para apelar aos respectivos gestores que avaliem com carinho e façam suas festas dentro do parâmetro de responsabilidade com o dinheiro público. É o que o Ministério Público deseja. Não queremos inviabilizar, de forma alguma, o São João nem demonizar artistas. Muito pelo contrário. Entendemos o quão importante é a cultura para o povo brasileiro e, em especial, para o baiano. Entendemos o quanto o São João é importante para movimentar a economia dos municípios. A orientação é buscar equilíbrio.

Ainda sobre Teolândia, uma crítica à atuação do MP e da Justiça é a de que, como a festa estava prestes a começar, a ação e a decisão judicial seriam intempestivas. Como o senhor avalia a oportunidade da intervenção? 

O momento da intervenção é importantíssimo para avaliarmos, inclusive, que tipo de intervenção dedicar a esse ou àquele problema, à luz da ponderação de custos e benefícios. Esses custos não são apenas financeiros, mas de toda ordem. O custo da frustração de expectativas, por exemplo, de investimentos dos comerciantes locais. Realmente, de regra, tentamos ter o cuidado de avaliar esses custos e benefícios, mas nem sempre, infelizmente, é possível agir no momento ideal. A colega atuou da forma que era possível para ela que, inclusive, não é titular da comarca. É promotora substituta e isso dificulta muito uma atuação com essa antecedência, que seria o ideal, mas não foi possível. É importante lembrar que, em 2014, a mesma promotora conseguiu uma atuação nesses moldes de que estamos falando, no diálogo prévio com os gestores, e conseguiu reduzir em 50% os gastos da época, sem necessidade de ação [judicial].

Como isso foi possível?

Naquele contexto histórico, ela tinha circunstâncias que permitiam aquela abordagem, que foi exitosa e mostrou que existe a disponibilidade de sentar e conversar com os gestores. Essa tem sido a tônica e o nosso estímulo no Ministério Público. [No caso de Teolândia], a colega fez um exercício de ponderação de que seria mais prejudicial, no todo, deixar a festa acontecer do que intervir para tentar suspender, tanto que obteve êxito na instância extraordinária, o STJ. [A decisão] teve um efeito positivo para além do município, no sentido de colocar o tema na pauta do dia. Observe que o tema não é fácil, é complexo e controvertido até mesmo dentro do sistema de Justiça. Tivemos três instâncias decidindo de forma alternada e divergindo quanto à melhor solução.

Quais são as lições do caso? 

Ele sinaliza o quão complexo é o tema e o quanto precisamos, todos juntos, construirmos soluções de prevenção para o futuro. As melhores soluções virão do consenso, da união de todas as perspectivas envolvidas, dos gestores, empresários, órgãos de controle, da imprensa e da própria sociedade, na construção desses parâmetros mais objetivos, que confiram maior segurança jurídica para os gestores, empresários, artistas, maior segurança para a expectativa legítima do cidadão e melhores condições para o exercício eficiente da fiscalização, seja pela própria gestão ou pelos órgãos de controle. Portanto, um dos efeitos positivos da intervenção da colega, a quem nós renovamos o reconhecimento público pelo trabalho comprometido, é abrir essa janela de oportunidade. Tenho defendido internamente que a Bahia não é só um modelo de alegria, de estado que sabe promover a alegria, ela pode ser também – por que não? – um modelo para o Brasil de diálogo republicano entre as instituições, na construção de soluções preferencialmente preventivas.

Uma provocação. Outra crítica feita ao MP é a de que, às vezes, o órgão ultrapassa seu limite de atuação, tentando substituir o poder político conferido pelo voto. Para usar o mesmo exemplo, esse limite seria ultrapassado quando o MP se insurge contra a decisão política de gastar R$ 2 milhões numa festa. 

Excelente provocação. Até agradeço pela oportunidade de falar sobre o tema. Temos trabalhado muito no fomento de uma nova abordagem, que chamamos de preventiva e estruturante, que se antecipa à produção de ilícitos e danos. Isso representa, de certa forma, uma revolução cultural na forma de atuar do Ministério Público e na forma que se espera que o Ministério Público atue. Todos nós – as instituições de controle e a própria sociedade – estamos muito acostumados com essa tradicional atuação reativa e sancionatória diante de um problema já instalado. Essa atuação repressiva é muito custosa. São custos de muitas ordens: financeiros, institucionais, políticos, econômicos, sociais e pessoais. Por isso, estimulamos que ela seja excepcional, nossa última opção.

Na prática, como funciona essa outra abordagem?

O membro do Ministério Público não atua como um impostor, como um expedidor de recomendações. Quem avaliar bem as recomendações da procuradora-geral de Justiça vai perceber uma mudança de sugestão de atuação, privilegiando a abordagem do diálogo. O promotor deixa de ser alguém que vai intervir para impor determinada perspectiva, para ser um indutor de uma atuação na qual o gestor é o ator principal, porque o gestor é o legitimado, em regra, para decidir como e onde alocar os recursos públicos, ressalvando-se as matérias onde há vinculação constitucional e legal. Fora desses casos, o gestor é o legitimado constitucionalmente para definir. É arbitrário? Não. É discricionário. Devem existir parâmetros que balizem essas decisões, que elas sejam fundamentadas, racionais e publicizadas. [Quem decide] é o gestor, não é o promotor, não é juiz. O gestor é o mandatário do povo e existem limites para a intervenção do sistema de Justiça nessa discricionariedade. Nesse limite, quem deve julgar é o eleitor. É o eleitor que deve, em determinadas situações, julgar se quer aquele gestor que investe majoritariamente nesse ou naquele tipo de despesa. É uma outra forma de abordagem, que nós estamos tentando construir e priorizar.

Os gestores têm sido receptivos ao diálogo?

Temos feedbacks muito positivos de promotores que estão atuando junto aos gestores e estão encontrando, realmente, uma aceitação muito importante, avançando na solução de problemas históricos, crônicos e estruturais, de forma planejada e dialogada, considerando as dificuldades e limitações administrativas. É preciso deixar claro que nem tudo acontece ou deixa de acontecer apenas por vontade ou por falta de vontade política. Os municípios têm limitações financeiras, especialmente os menores. Todo direito depende de uma estrutura que o implemente. Isso tem um custo, tem toda uma atividade de planejamento e de gestão. Na maioria das vezes, nem tudo é feito no tempo que desejamos, tanto nós promotores quanto os gestores e, principalmente, a sociedade. A experiência que temos no Coapam tem sido muito positiva em alguns municípios e nós queremos ampliar essa nova forma de se construir a relação institucional.