Gustavo Atallah Haun | g_a_haun@hotmail.com
Há poucos dias o Brasil comemorou a triste data de 15 (quinze) anos sem o piloto automobilístico Ayrton Senna. Lembro-me exatamente da tragédia, no primeiro de maio, feriado em pleno domingo, pois assisti ao Grande Prêmio da Itália em casa, sentado no sofá, na torcida de que o corredor brasileiro pontuasse a primeira vez na temporada. Eu era mais um dos muitos fãs alucinados por Senna.
Na curva Tamborelo, nas primeiras voltas, acabou-se o sonho do tetra. O carro colidiu com o muro; a cabeça chocou-se com o concreto e o capacete nada pode fazer. Assim como o helicóptero que sumiu sem deixar vestígios do congressista Ulisses Guimarães ou o avião que espatifou-se na Serra da Mantiqueira e levava o irreverente grupo dos Mamonas Assassinas.
Quando eu cursava a quarta série do ginásio (atual quinto ano do Ensino Fundamental), com sete, oito anos de idade, assisti a um enterro pelo televisor que me chocou: uma multidão acompanhava um caixão em cima de um carro de bombeiro, pulando cercas, chorando, beijando a bandeira nacional.
Enquanto isso, uma música de Milton Nascimento (Canção da América?) era executada e as minhas lágrimas desciam copiosamente, mesmo sem entender nada do que estava acontecendo. Naquela idade eu nada sabia sobre Tancredo de Almeida Neves e a redemocratização, mas já acompanhava com sofreguidão mais um dos nossos heróis que havia sucumbido.
De uma hora para outra deixamos de conviver ou idolatrar pessoas públicas ou não que davam algum sentido de brasilidade ou irreverência, levavam alguma alegria ao nosso morno cotidiano ou um senso de cidadania a todos.
Naquela segunda-feira de luto pela morte de Ayrton, amarrei a bandeira do Brasil na cintura e a cobri com uma camisa preta. Fui à escola vestido assim, sendo olhado e criticado por muitos. Hoje entendo a minha atitude como um desabafo e uma forma de me diferenciar dos outros na demonstração da própria dor.
Mais adulto percebo o quanto é infeliz um povo que necessita de ícones ou símbolos o tempo todo para se valer, para fazer ascender a sua péssima auto-estima. Não à toa quando nos destacamos em algum setor, algum esporte, alguma novidade, descoberta, etc., temos que divulgar ao mundo, demonstrar que existimos, que também fazemos parte da aldeia global. Isso no fundo se deve à própria forma de colonização que tivemos, explorativa e oligárquica.
Não somos melhores nem piores que nenhum povo. Existimos simplesmente para sermos diferentes e, dentro dessa belíssima diversidade, fazer crescer a nossa sabedoria, a nossa fraternidade, a nossa consciência de habitante de um mesmo planeta.
Todos somos ou devemos ser herois, mesmo que anônimos, mesmo que desterrados, mesmo que explorados. Herois porque nascemos, estudamos, trabalhamos, procriamos e morremos no mesmo chão e na mesma pegada: sermos humanos em uma terra de desumanos.
Gustavo Atallah Haun é professor