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Allah Góes | allah.goes@hotmail.com
Em artigo publicado neste último final de semana, o escritor Luis Fernando Veríssimo fala sobre um dos grandes problemas da humanidade, que é não saber a hora de parar, a hora de finalizar uma tarefa ou de passar a outro nível na própria vida.
Veríssimo nos dá como exemplo o cantor Michael Jackson, que não soube o momento de “parar de refazer a própria cara”. Este é um caso extremo, mas que não difere, em sua essência, de outros bem próximos a nós, sendo vários os exemplos daqueles que não souberam a hora certa de parar.
No futebol, raros são os jogadores que reconhecem a hora de parar, como foi o caso de Pelé que, por ter sabido a hora certa de “pendurar as chuteiras”, mesmo em se passando mais de 30 anos que deixou de ser jogador, até hoje ainda vive de futebol.
Outro campo onde existem muitos que não sabem reconhecer a hora certa de sair do cenário é a política. E neste meio, até por conta do enorme número de “puxa-sacos”, que ficam inventando possibilidades, mais interessados na própria sobrevivência do que na viabilidade do projeto.
Em nossa Itabuna, assistimos hoje Fernando Gomes ser tentado por alguns ex-colaboradores a, mesmo a seu contragosto, se lançar como candidato, colocando seu nome como uma das opções a deputado federal, o que é uma insensatez.
Insensatez, pois para um político que já foi prefeito por quatro vezes e três vezes deputado, e finalizou seu último mandato como um dos principais artífices da vitória do atual prefeito, arriscar-se a enfrentar uma desgastante e cara eleição, é algo que pode muito bem ser dito como, sem propósito, sem necessidade.
Sim, pois o que mais teria Fernando Gomes a acrescentar à sua trajetória política? O que mais Fernando Gomes teria que provar? Ser candidato apenas para confrontar Geraldo Simões e manter-se como seu principal antagonista?
Acredito que Fernando seja bem maior que isto, e suficientemente vivido para constatar que, muito mais como “angariador de votos” que candidato (funcionando como timoneiro, e não “capitão”, nestas eleições de 2010), poderá reposicionar seu grupo político, servir de líder e provar, de uma vez por todas, que o que ocorreu nas eleições de 2008, com a transferência de seus votos, não foi apenas um acaso do destino.
Fernando Gomes de Oliveira, que acaba de completar 70 anos, tem maturidade suficiente para constatar que, mesmo conseguindo seus 20, 30 mil votos em Itabuna, mesmo saindo do DEM e indo para uma legenda “mais fácil”, mesmo assim, é muito difícil, e caro, se conseguir mais 30, 40 mil votos fora de Itabuna, o que só assim tornaria crível sua eleição de deputado federal.
Colocar os “bigodes de molho” e manter-se como líder de seu grupo, contribuindo para a eleição de deputados federal e estadual com raízes em nossa região, recebendo, inclusive, “lastro” para tal empreitada, é muito mais sensato, que arriscar seu patrimônio numa empreitada que se sabe: é difícil, cara e imprevisível.
Nunca é demais lembrar que, a exemplo de Napoleão Bonaparte e de Carlos Lacerda, o destino é sempre cruel com aqueles que, ao não reconhecer que a hora de parar chegou, continuam insistindo, e o ostracismo é sempre a paga para esta insistência.
Allah Góes é Advogado Municipalista, articulista do Jornal AGORA. E-Mail allah.goes@hotmail.com