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Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

Em Itabuna, os relógios marcam cinco horas da manhã e os primeiros raios de sol anunciam um dia quente e abafado. O Rio Cachoeira exala o inconfundível cheiro de esgoto sem tratamento e os mendigos começam a desocupar as marquises, escadarias e calçadas onde passaram a noite.

Eventuais arrombadores se dirigem para casa, em busca do sono reparador após uma noite de “trabalho”. Moçoilas de fino trato, que exercem a mais antiga das profissões (essas, com dignidade, pois não surrupiam ninguém) também se preparam para o merecido descanso.

A cidade centenária começa a acordar.

E José da Silva, nome fictício, se prepara para ser personagem de fatos reais, repetitivos e irritantes.

José encara a primeira fila do dia. Há pelo menos um mês tenta marcar uma consulta médica com um especialista. Quando chega ao local, a fila já é imensa, teve gente que chegou na noite anterior.

Ele espera, espera, espera. Duas horas na fila.

Não consegue marcar a consulta. Vai ter que voltar outro dia, encarar outra fila.

Da central de (des)marcação de consultas, segue para o posto onde precisa tirar a segunda via de um documento.

Descobre que chegou tarde. Ainda assim, entra na fila imensa e espera outras três horas.

Inútil, acabaram as senhas bem na sua vez de ser atendido. Fica, de novo, para outro dia.

O sol forte faz da avenida do Cinqüentenário um caldeirão, em que camelôs disputam espaço com os pedestres e pedintes e, em algumas lojas, os clientes são chamados através de megafones, como em feiras livres das cidades mulambentas do interior.

José agora está numa agência bancária. Precisa de atendimento no caixa. Nova senha, nova fila e lá se vão mais de duas horas de espera. O atendimento propriamente dito, não leva nem três minutos.

Mas, pelo menos foi atendido.

Passa numa lotérica para pagar a conta de água e fazer uma “fezinha” na Mega Sena. Mais trinta minutos de fila. “Quem me dera ganhar sozinho”, pensa, enquanto sonha com as possibilidades da vida de rico.

Entre elas, a de não precisar encarar tanta fila.

E, por falar em fila, José decide dar uma passada rápida no supermercado do shopping e comprar algumas coisas, para fazer média com a esposa, a essa altura imaginando que o marido anda aprontando alguma coisa pela rua.

Rápida? No supermercado, encara mais uma hora de fila. E José ainda tem que empacotar os produtos que comprou por um preço nem tão bom assim.

Chega em casa a tempo de assistir no telejornal local uma matéria sobre a lei que determina o tempo máximo de espera nas filas.

Num acesso de fúria, atira um cinzeiro no aparelho de televisão.

Amanhã, terá que encarar a fila do conserto.

Ou a fila do pronto socorro, já que a esposa está com um jarro pesado apontado na direção de sua cabeça…

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Daniel Thame é jornalista e blogueiro

5 respostas

  1. Se o “José da Silva” fosse disputar uma simples linha telefônica em Cuba, demoraria muito mais para conseguir, além da fila ser muito maior, e de necessitar de um “QI” (Quem indicou), …!!!

    Para comprar alimentos, teria que dar satisfação ao governo, e por aí vai, …!!!

    Se fosse na Venezuela, na “democracia do Chavez”, enfrentaria supermercados nacionalizados, com produtos sem muitas opções de escolha, desabastecimento, além de outras restrições, …, além de ter que ouvir o Presidente, que interrompe os programas de rádio e TV, de suepresa, para fazer pronunciamentos, …, além de enfrentar apagões diários, e outras restrições, …!!!

    Pelo jeito, com todas as adversidades e dificuldades, ainda temos o direito de escolha (o referido personagem bem que poderia comprar em outro estabelecimento mais perto da sua casa, não apenas no Shopping, assim como procurar dentre as diversas casas lotéricas existentes), …!!!

    O “Plano de Direitos Humanos” do governo Lula, no entanto, tenta silenciar os meios de comunicação, …, tudo em nome da “democracia”, levantando um antigo defunto, chamado Censura (seria uma “recaída”), …?!?!?!

    Quanto ao Rio Cachoeira, se alguém quiser investigar a fundo, perceberá que o odor exalado não é natural do rio, pois no período em que não choveu, não havia tal situação, …, alguém (usina de leite ou coisa que o valha) despejou substâncias químicas no rio, achando que iria chover bastante e a correnteza iria levar tudo, de forma imperceptível, mas a chuva não foi suficiente para causar uma cheia, …, daí o problema, …!!!

    Se fiscalizar, realmente, irão descobrir o que foi, que poderá ser, inclusive, rejeito, resultado da lavagem de tanques de leite com ácido sulfúrico, que causa um odor horrível, resultado da liberação de gás sulfídrico. Outra hipótese seria a liberação de gás metano, resultante do ato de despejar produtos químicos no rio, …!!!

    O odor, assim como o “caldo preto”, surgiram juntamente com a chuva, o que parece perfeitamente incoerente, paradoxal, pois empurraria a “água verde” que aí estava, mas não ficaria do jeito que está, …!!!

    Basta investigar, …!!!

    Há um córrego, que fica junto a umas quadras, existentes próximo ao posto da polícia TOR, bem na saída de Itabuna, na rodovia Ilhéus/Itabuna que, frequentemente, também passa por esse problema com odor característico muito precido com o que o rio apresenta atualmente, mas ninguém investiga e/ou toma providências, …!!!

    Isto é uma vergonha para a nossa região, …!!!

  2. falar em atendimento, já verificaram a caixa economica federal da av. do cinquentenário?
    lá, o expediente começa as 10.00 horas que já são 11.00 no sul e sudeste. de repente começa o globo esporte e tem uma tv bem atras dos caixas. eles começam a assistir a reportagem e agente tem que esperar pela boa vontade dos mesmos até o reporter encerrar aquele comentario.
    daí meu amigo, haja espera. quando chega 11.00 ou 11.30 no horário deles, saem dois pra almoçar. a viacruce continua.
    um dia desses , peguei a senha 23 e só fui atendido as 10.40 horas.
    pensem nisso. é um absurdo.

  3. Daniel Thame fala do péssimo cheiro do rio cachoeira como se isso fosse novidade… ou ele não é da terra do cacau?

    se não for me perdoe!!!

    muito fraco essa matéria postada!

  4. Zelão diz: – Zé da Silva, além de tolo é maluco.

    “Doido, é aquele que rasga dinheiro” – (filosofia popular)

    Pois é! O nosso Zé, se enquadra perfeitamente nessa categoria.

    Irritado por um longo e penoso dia enfrentando filas, Zé, surtou. O pior, é que, ao invés de se vingar nos causadores da sua fúria, resolveu “atacar” o seu próprio patrimônio, quebrando o televisor da sua casa.

    Agora, tendo que arcar com o prejuízo, ainda terá que enfrentar a fúria da esposa, que não está nem ai, para os motivos da “piração do Zé.”

    Coitado do Zé, que ainda terá que enfrentar a gozação dos amigos, que já o apelidaram de “Zé doidinho.”

  5. hahaha, gostei das críticas.Retrata a mais pura realidade, por motivos óbvios( as pessoas trabalham e estudam pela manha/tarde e dipõem mais de tempo para compra à partir das 18:00.)mesmo que coloquem mais 10 caixas, culturalmente todos(inclusivem os que nao vao mais a noite por cansarem de esperar nas longas filas)vão pensar: Oba, agora podemos ir sem “problemas” e vai gerar novo caos.Isso, estou sendo otimista, caso o bom preço contrate mais gente.Em relação a saúde, não vamos ser hipócritas, trabalho na saúde de itabuna,sei que, se a central ou postos de saúdes respectivos não têm medicamentos,ou materias de curativos ou profissionais o suficiente, é porque não são assistidos como deveriam pela prefeitura.Lógico, a culpa é da prefeitura,e seus responsáveis diretos,por mais que a prefeitura de itabuna tenha perdido a “PLena” para o Estado, o dinheiro chega até aqui, o que é feito…

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