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O Pimenta visitou neste sábado, 5, a belíssima Lagoa Encantada. Conheceu figuras como “Doutor” (Deúde Neres Oliveira), nascido há 45 anos neste belíssimo pedaço do território ilheense.

Pescador e presidente da Associação de Moradores, “Doutor” é figura respeitada, que tem acompanhado o processo de degradação do que hoje é oficialmente uma área de preservação ambiental. Segundo ele, o maior problema no local é a pesca predatória, com a utilização de arpões e redes, proibidos pela lei, mas permitidos pela falta de fiscalização.

“A quantidade de peixes não é a mesma de quando meu pai me criou”, afirma Doutor. Com simplicidade e sentimento, ele diz:

“Essa lagoa é nosso pai e nossa mãe, ela vai ficar velha igual à mãe da gente. Se as autoridades não tomarem a paternidade que merece tomar, nós vamos ficar sem peixe”.

Perguntado sobre quem realiza a pesca predatória, Doutor explica que é tanto gente que vem de fora como  também os próprios nativos. A necessidade de sobrevivência e a falta de oportunidades, como de praxe, são apontadas como justificativa para o uso abusivo dos recursos naturais.

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Castro: confiante na eleição.

Há uma semana, deu-se como certa a formação de uma aliança nas proporcionais entre o DEM e PSDB baianos, o que faria naufragar sonhos de muita gente, principalmente no sul da Bahia.

A assessoria da pré-campanha do tucano Augusto Castro sustenta que o manda-chuva do PSDB baiano, Jutahy Jr., não aceitará coligação na proporcional (deputados estaduais e federais). Não que se trate de uma imposição do tucano de bico longo, mas pré-acordo, algo discutido lá no início da celebração da aliança demo-tucana nesta terra.

Assim, o pré-candidato a deputado estadual espera ser eleito sem maiores dificuldades. Enquanto isso, há uma chiadeira sem tamanho na ala DEMo da aliança. O bombeiro Paulo Souto pode ser chamado para apagar o princípio de incêndio.

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Anota o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna n´O Globo, algo interessante: “O tucanato está tonto, sem motivo. A prova da falta de rumo está na insistência de José Serra em fazer oposição vigorosa… ao governo da Bolívia”.

Enquanto isso, no outro comitê de pré-campanha (veja mais abaixo), as notícias giram em torno de se criar mais um dossiê contra os peessedebistas. São os neoaloprados petistas.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

É comum biografados ou documentados segurarem filmes pelas suas presenças ou pelos seus passados. O melhor expoente brasileiro talvez seja Pelé Eterno (2004), de Anibal Massani Neto, e um exemplo recente é o Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (2009), de Emmanuel Laurent. Nesses casos, e em alguns outros, o resultado pode vir de uma preguiça do realizador, mas também de uma incontrolável intensidade daquilo tratado na tela. Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano (idem – Brasil, 2009), estreia na longa-metragem de Henrique Dantas, se encaixa muito mais no segundo caso.

O documentário, que o diretor disse ter levado 11 anos para ficar pronto, fala sobre Os Novos Baianos, grupo que, para encurtar a conversa, viu a versão brasileira da Revista Rolling Stone, em 2007, eleger seu álbum Acabou Chorare (1972) como o maior disco brasileiro da história. No entanto, o filme investe menos numa mitificação do quão bom era o grupo e mais em questões pontuais sobre ele: o porquê do nome, a relação com João Gilberto, a mudança do som, o ápice, as relações, o porquê do fim e muitos, muitos casos e causos.

Se nos primeiros questionamentos, e em todo o filme, ficamos com a ideia de alguém que sabia exatamente o que mostrar, felizmente isso não resulta em uma já pré-concebida e obsessiva mensagem a ser passada. Dantas passa a sensação de que sabia o que perguntar e soube exatamente como editar. Ele se mostra humilde ao reconhecer a importância dos entrevistados e deixá-los levar o filme, e demonstra controle do meio para dar ritmo – mesmo que ele próprio faça ressalvas o filme.

“Nós sabíamos que a maior presença do filme seria a ausência de João Gilberto”, disse após a sessão. Ele tentou contactar o compositor, mas os oito dias de insucesso se aliaram ao baixo orçamento do filme e o fizeram desistir da ideia. Baby Consuelo, outra ausência no corte final, decidiu não liberar mais suas imagens. O que se por um lado é um contra do filme, por outro não é por demérito dele, e Dantas se vira bem com o que sobra. Desde depoimentos dos outros membros até imagens de arquivo, passando por momentos brilhantes – seja para ajudar na construção do grupo com a visão de alguém de fora, seja por divagações homéricas – de Tom Zé (foto acima).

Os muitos aplausos do final, em sala super-lotada (do meu lado vi quatro pessoas sentadas no chão, em espaço que comportava três em pé), soaram como uma espécie de suspiro de um cinema que se basta por ser bem executado e ter algo a dizer. Isso porque, semana passada, o crítico André Setaro causou polêmica ao dizer (não vi o programa, apenas ouvi os comentários) que o cinema na Bahia se resumia basicamente a Edgard Navarro – que, inclusive, tem imagens de seu Superoutro (1989) aqui.

Sem entrar na controvérsia (aqui não é o espaço), enquanto não estreia O Homem que não Dormia, novo filme de Navarro, e O Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro, Henrique Dantas (homem das artes plásticas e que já trabalhou até com Manoel de Oliveira) chega com força. Sem a aparente pretensão de salvar ou revolucionar nada, mas com honestidade e qualidade sempre bem-vindas – e poucas vezes encontradas nas bandas de cá num tempo recente. Triste vê-lo sair sem nenhum prêmio do evento.

Visto no Espaço Unibanco (Panorama Internacional Coisa de Cinema) – junho de 2010.

8mm

Recife Frio

O ponto mais alto do Panorama Internacional Coisa de Cinema, e que para mim levaria todos os prêmios possíveis, foi Recife Frio (idem – Brasil, 2009), de Kleber Mendonça Filho. Após o documentário Crítico (2008), seu primeiro longa, KMF volta ao curta-metragem com aquele que talvez seja seu melhor filme. Falso documentário, ficção-científica, crítica social, histórica, política e religiosa. Quando descrito, Recife Frio tem inimaginável megalomania; quando visto, a sutileza de um poema para um diário.

Uma emissora argentina faz um documentário sobre Recife, que misteriosamente vê suas temperaturas caírem depois de atingida por um objeto, aparente motivo da mudança climática. Entre outras coisas, o documentário fala sobre a cidade e seus defeitos, e fala sobre as diferentes reações e diferentes justificativas que cada um busca para encarar o fenômeno.

Recife Frio flui com a naturalidade de um filme de gênero bem comportado e calculado, só que com a inventividade de um híbrido poucas vezes visto – e com o parêntese de que, diferente de alguns casos do filme de gênero bem comportado e calculado, aqui temos alma. Alma de alguém que, como em alguns de seus outros curtas (Menina do Algodão, Eletrodoméstica), se mostra afetado – às vezes mais, às vezes menos – por sua cidade, conhecedor de suas imperfeições, e próximo da perfeição ao se expressar sobre ela e (por que não?) o cinema, através do cinema. KMF disse que pensou em fazer arquitetura (desistiu ao pensar em matemática), mas que hoje em dia ela o interessa mais quando dá errado. Seria lindo se todo erro, uma vez irreversível, resultasse em tamanho acerto.

Pouco antes do festival de Cannes, após 12 anos, KMF abandonou a crítica. Disse que a deixava, também, para se dedicar ao seu primeiro longa. Recife Frio, mais que isso, dá a impressão de que KMF deixa parte da vida (do cinema) para fazer histórias.

Panorama

Com o VI Panorama Internacional Coisa de Cinema, que aconteceu em Salvador, decidi mudar o esquema de filmes da semana. Já que vi, no mesmo período, fora do evento, apenas Tudo Pode Dar Certo (2009), de Woody Allen, e O Escritor Fantasma (2010), de Roman Polanski, eles entram na lista dos filmes do mês. O resto entra em lista específica do Panorama.

A maior falha, além de não ter visto a todos os filmes e ter ocupações que me impedem de ser onipresente e exclusivo, foi não assistir aos da Sala Walter da Silveira – não vi, entre outras coisas, nada de Kurosawa. Por questões de diversidade, terminei acampando no Espaço Unibanco.

Ps: Recife Frio ganhou o prêmio do júri jovem. Fantasmas e Pacific simplesmente não bateram. Não assisti aos outros premiados.

Ps2: Ponto alto também, e presenciado depois de texto escrito, foi Redenção (1959), primeiro longa baiano, dirigido por Roberto Pires, restaurado (com o que restou) e com a presença de dois dos protagonistas na sala. Bom citar também Terra Estrangeira (1996) em 35mm. Por mais que a cópia tivesse lá suas falhas, filme cresceu ao ser revisto – muito bom.

Filmes do mês

10. Vidas que se Cruzam (2008), de Guillermo Arriaga (Cinema do Museu) (**1/2)

9. O Leopardo (1963), de Luchino Visconti (DVD) (**1/2)

8. De Punhos Cerrados (1965), de Marco Bellocchio (DVDRip) (***)

7. O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962), de Robert Aldrich (DVDRip) (***)

6. O Primeiro a Chegar (2008), de Jacques Dillon (sala Walter da Silveira) (***)

5. O Espírito da Colméia (1973), de Victor Erice (DVDRip) (***)

4. Traição em Hong Kong (2007), de Olivier Assayas (DVD) (***1/2)

3. Tudo Pode Dar Certo (2009), de Woody Allen (Cinema do Museu) (***1/2)

2. A Bela Junie (2008), de Christophe Honoré (DVDRip) (***1/2)

1. O Escritor Fantasma (2009), de Roman Polanski (UCI Multiplex Iguatemi) (****)

VI Panorama Internacional Coisa de Cinema:

  1. Um Lugar ao Sol (2009-PE), de Gabriel Mascaro (***)
  2. O Joelho de Claire (1970), de Eric Rohmer (***)
  3. A Fuga da Mulher Gorila (2009-RJ), de Felipe Bragança e Marina Meliande (***)
  4. Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (2009), de Emmanuel Laurent (***)
  5. Pacific (2009-PE), de Marcelo Pedroso (***)
  6. Redenção (1959-BA), de Roberto Pires (***)
  7. Filhos de João (2009-BA), de Henrique Dantas (***1/2)
  8. Terra Estrangeira (1995), de Walter Salles (***1/2)

Curtas:

9. Zigurate (2009-SP), de Carlos Eduardo Nogueira (***)

10. Recife Frio (2009-PE), de Kleber Mendonça Filho (****1/2)

11. Silent Star (2009-BA), de Alexandre Guena (**)

12. Fantasmas (2009-MG), de André Novais (**1/2)

13. Supermemórias (2010-CE), de Danilo Carvalho (**)

14. Avós (2009-SP), de Michael Warmann (***1/2)

15. Querida Mãe (2009-SP), de Patrícia Cornils (**)

16. Faço de mim o que quero (2010-PE), de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena (***)

17. Bailão (2009-SP), de Marcelo Caetano (**1/2)

18. Bike Ride (2009), de Bernard Attal (***)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

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Paulo Lima (ou Paulo Índio) não poderia ser secretário em virtude do "ranço fernandista"

O radialista Reginaldo Silva conta em seu blog que o jornalista Paulo Lima teria integrado uma lista de seis nomes submetidos ao crivo do prefeito José Nilton Azevedo para substituir Walmir Rosário na Secretaria de Assuntos Governamentais e Comunicação. De acordo com Silva, ao deparar com o nome de Lima o prefeito teria feito o sinal da cruz, gritado um “Deus me livre” e dito que o candidato teria “ranço de Fernando Gomes”  (curioso é que para alguns isso é pré-requisito).

Para o cargo, o escolhido acabou sendo o jornalista Ramiro Aquino, que assume nesta segunda-feira, 7, às 10 horas, em uma cerimônia simples no gabinete do prefeito.

Silva, porém, diz que o prefeito revelou a um grupo de comunicadores que a nomeação de Ramiro seria em caráter interino. “Ninguém entendeu nada”, afirma o radialista, com a grande pretensão de entender a “intellingentzia” do governo Azevedo.

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Embora a lei proíba qualquer tipo de avaliação em área rural invadida, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) realizou, nos últimos quatro anos, vistorias para desapropriar terras ocupadas ilegalmente.

A constatação surgiu de um cruzamento feito pelo TCU (Tribunal de Contas da União), após solicitar à ouvidoria do Incra a relação das propriedades rurais invadidas desde 2006, número de famílias envolvidas e quem comandou as invasões.

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) liderou a maioria das ações e 112 mil famílias participaram das ocupações. O TCU pediu ainda a lista de áreas vistoriadas para fins de reforma agrária nos últimos quatro anos.

A lei que vem sendo burlada é a 8.629/93, atualizada em 2000. A legislação determina que imóvel rural invadido “não será vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos seguintes à sua desocupação”.

(Informações da Agência Estado)

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Atingido pela entrevista do delegado aposentado da PF Onézimo Souza à revista Veja, o jornalista e consultor Luiz Lanzetta decidiu abandonar a campanha da petista Dilma Rousseff. Lanzeta era o responsável pela contratação dos integrantes da equipe de comunicação da campanha.

O delegado diz ter sido procurado pelo jornalista, com uma solicitação para que montasse um esquema de espionagem contra os tucanos. Ao “pedir o boné”, Lanzetta disse que o ato foi voluntário e isolado. Ele também afirmou que não chegou a existir central de arapongas e dossiês, uma vez que ninguém foi contratado.

(Com informações da Folha de S. Paulo)

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Divulgada a logomarca da Copa de 2014, a Copa em Terra Brasilis, não faltou quem a comparasse à imagem do espírita Chico Xavier psicografando. Estabeleceu-se a polêmica em redes sociais, sites esportivos e na mídia em geral. Por aqui, parece que futebol se joga com as mãos e não com os pés. Coisas da Fifa, diga-se. Acima, logo com cores diferenciadas para destacar a “lindeza” da coisa.

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O rubro-negro baiano vai para o “recesso” do Brasileirão com a cabeça menos quente. Hoje, o time conseguiu bater o Atlético Paranaense, por 1×0, no estádio Manoel Barradas (Barradão), em Salvador. O gol foi marcado aos 35min do segundo tempo. Elkeson cobrou falta e o artilheiro Schwenk meteu a cabeça para marcar.

O time fica, provisoriamente, na 14ª colocação. A rodada será completada neste domingo. As equipes voltam a jogar pelo Brasileirão somente após a Copa do Mundo.

Concluída a última rodada no “pré-Copa”, o Bahia ficou na sétima colocação da Série B do Brasileiro de Futebol.  O time deu a “sorte” de perder de 0x1 para o Duque de Caxias, ontem, e acabou sendo ultrapassado por Coritiba, Náutico, Figueirense e Portuguesa neste sábado, ao final da rodada.

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Segundo o blog Políticos do Sul da Bahia, o deputado estadual Capitão Fábio (PRP) anunciou que apoioará a reeleição do governador Jaques Wagner (PT). Foi durante encontro com lideranças regionais, no Hotel Tarik, hoje pela manhã.

O partido de Fábio, o PRP, é do arco de alianças da candidatura do peemedebista Geddel Vieira Lima. Mas Geddel e Fábio não se bicam desde a eleição para prefeito de 2008, quando o deputado desistiu da peleja para apoiar a petista Juçara Feitosa.

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O site Fala Bahia, de Salvador, narra mais um banho de sangue na noite baiana. Neste sábado (05), cinco homens de uma mesma família foram executados em Barra do Gil, localidade do município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. De acordo com informações de testemunhas, eles dormiam em casa quando oito pessoas invadiram o local e distribuíram tiros para todos os lados.

Segundo o titular da 24ª Delegacia de Polícia, Lucio Ubirace Gomes, a chacina está relacionada com o tráfico de drogas na região de Nazaré das Farinhas. As esposas das vítimas e filhos receberam ordem para sair da casa antes das execuções.

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Pesquisa Ibope realizada entre os dias 31 de maio e 3 de junho aponta crescimento da pré-candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff. Ela assinalou 37% contra 32% na aferição anterior do mesmo instituto. Já o tucano José Serra teve seu escore reduzido, de 40% para 37%, empatando com a petista. Marina Silva (PV) tem 9%.

A pequisa ouviu 2.002 pessoas e tem margem de erro de dois pontos percentuais. 9% dos entrevistados responderam que votarão em branco, nulo ou “em nenhum candidato”, enquanto os indecisos somam 8%.

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Crianças plantaram mudas e aprenderam a importância de preservar (foto Pimenta)

Centenas de pessoas participaram da comemoração do Dia do Meio Ambiente neste sábado, 5, na APA da Lagoa Encantada, em Ilhéus. Moradores da própria comunidade situada às margens da lagoa, além de residentes em Ponta da Tulha e Ponta do Ramo, envolveram-se nas diversas atividades programadas para marcar a data. As ações contaram com o apoio da empresa Bahia Mineração (Bamin).

Na programação, foram incluídos: plantio de mil mudas de pau-brasil e árvores frutíferas (graviola, pitanga e goiaba), trilha ecológica e entretenimento para as crianças, mesclado com educação ambiental. Um efetivo da Companhia de Proteção Ambiental, da Polícia Militar, comandado pelo Sargento Chagas, tomou parte no trabalho de conscientização.

As crianças da localidade aprenderam, por exemplo, a utilizar objetos recicláveis, como garrafas-pet, para produzir brinquedos, ajudando a diminuir o volume de lixo destinado à natureza.

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ENTRE A CONDENAÇÃO E A CURIOSIDADE

Ousarme Citoaian

Que meu olhar não seja de condenação, para evitar receber pedradas da CLMH (Comunidade dos Linguistas Mal Humorados), mas que possa ser de curiosidade. É que (assim como o “risco de vida”, aqui abordado recentemente), alguns neo-puristas decidiram que a expressão “entrega a domicílio” é ilegítima, de sorte que se algum infeliz a utilizar vai arder no fogo do inferno. O “certo” é “em domicílio”, proclamam os descobridores de novidades. Vamos acertar uma coisa: a língua portuguesa se alimenta do novo, mas mantém um pé na tradição, nas formas ditas consagradas, aquelas que os bons autores abonam.

EXPRESSÕES LEGITIMADAS PELO USO

“A domicílio” (condenada pelos puristas desvairados como abominável galicismo) é uma expressão enraizada na linguagem popular, que nossos avós já empregavam, e que, por ser consagrada, dispensa esses cuidados urgentes que lhe querem prestar. Os neologismos inúteis precisam ser evitados, e não aqueles se insinuam de forma natural e terminam integrantes “legítimos” da nossa fala. É o caso dos legitimados abajur (que já foi abat-jour) e piquenique (outrora, picnic). Atualmente, insiste-se em delivery de pizza (este, sim, um estrangeirismo dispensável). Contra ele temos o boa e velha “entrega a domicílio”.

INÚTIL ARTIFICIALISMO DE LINGUAGEM

A professora Maria Tereza Piacentini afirma que a regra purista manda usar “a domicílio” com palavras que indicam movimento (levar a roupa, a pizza etc.), e “em domicílio” quando sem movimento (dar aulas, cortar cabelo, fazer unhas e outros). Mas ela reconhece que “essa diferenciação está ultrapassada”, e que o uso prático recuperou (se alguma vez perdeu) a forma “a domicílio”, para ambos os casos. Portanto, vamos deixar de lado mais esse inútil e bobo artificialismo de linguagem que alguns redatores mal informados ajudam a difundir, e retomar a já brasileiríssima “a domicílio”, sem receios.

COPA DO MUNDO DE LUDOPÉDIO

Há estrangeirismos contra os quais a luta dos puristas é vã. Em certa época, tentou-se um termo “brasileiro” para piquenique, encontrando-se “convescote”. Não pegou, de sorte que os mais jovens (se não forem estudiosos de Gramática Histórica) desconhecem o termo. Só um sujeito irremediavelmente imbecil chamaria a colega de trabalho para “fazer um convescote” – e se arriscaria a um processo por assédio sexual: antigamente, moça de família só “convescoteava” depois do casamento. E tem ludopédio, do latim ludus (jogo) e pedis (pé) que quiseram pôr no lugar do anglicismo futebol. Não deu. Receio até que o Brasil, diante das patriotadas do “sargento” Dunga, jogue ludopédio, em vez de bola.

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“ARTIGO NOVIDADEIRO E INÚTIL”

Com o futebol no topo do noticiário, fortifica-se o festival de bobagens que habita o meio. Um dos itens mais notáveis é a inflação de artigos definidos que toma conta do noticiário. Em outros tempos, dizia-se que Zico ia vestir a camisa 10; atualmente, diz-se que quem vai vesti-la é o Kaká; no gol, informava-se que estaria, por exemplo, Tafarel; agora quem está é o Júlio César; a lateral direita, que em 1970 tinha Carlos Alberto Torres, agora tem como titular o Maicon – e por aí vai. “É de lamentar-se, mas todos os veículos de comunicação têm atrelado esse artigo novidadeiro e inútil em seus textos”, constata Marcos de Castro, em A imprensa e o caos na ortografia (Record – 5ª edição).

SEM CONCESSÕES AO MAU GOSTO

No começo, falar o Pelé ou o Luís Pereira (foto) era costume de algumas camadas das populações paulista e carioca, sempre em termos informais, quando ainda se mantinha maior respeito pela norma culta. Mais tarde, a televisão (a Globo, sobretudo, grande criadora de modismos) adotou algo semelhante como forma de comunicação: buscava-se uma linguagem capaz de ser entendida por todo o conjunto dos telespectadores, tendo como padrão de baixa escolaridade as pessoas de mais baixa escolaridade (se elas entendessem, todos entenderiam). Era o “coloquial bem escrito”: simples, claro e correto, sem preciosismos, mas igualmente sem concessões ao popularesco. Só que o controle se perdeu.

O BALTAZAR, O GASPAR E O BELCHIOR

“Qualquer palmeirense lembra, com saudades, de Leão, Luís Pereira, Dudu, Ademir da Guia e Leivinha. Já o bom marcador Zeca não foi tão marcante. E o Internacional de Rubens Minelli, bicampeão brasileiro? Ali fizeram história Manga, Figueroa, Falcão, Valdomiro e o lendário Dadá Maravilha. Mas ali também jogou o discreto Vacaria”, anota José Roberto Torero (Os cabeças-de-bagre também merecem o paraíso/Editora Objetiva). Em texto contemporâneo, o cronista manda sua mensagem sem gastar o estoque de artigos definidos – mostrando que não se trata de época, mas da competência de quem escreve. Há redatores por aí querendo “modernizar” o texto bíblico, dizendo que o Jesus, ao nascer, foi anunciado pelo Baltazar, o Gaspar e o Belchior.

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CHUMBO QUENTE E TEXTO REFINADO

E cá estamos, outra vez, a de western, como gênero de cinema uma paixão. John Ford, em Paixão de fortes nos faz bela surpresa, ao introduzir, quem diria, uma citação de Shakespeare, nada menos do que a cena 5 do ato III de (a tragédia de) Hamlet. Num saloon esfumaçado, um artista meio bêbado declama o To be, or not to be. Os vapores etílicos lhe atacam a memória e ele se vale de um pistoleiro “erudito” (o lendário Doc Holiday, aqui vivido por Victor Mature) para recitar o resto do texto, sob o olhar perplexo de Wyatt Earp/Henri Fonda. Improvável? Sim, mas criativo e de bom gosto.

EDGAR ALLAN POE EM PLENA PRADARIA

Howard Hawkins gostou tanto de Onde começa o inferno/1958 que fez uma refilmagem (esse hábito não estava em moda, como hoje, quando os filmes terminam dando a deixa para o próximo): é Eldorado, outra vez com John Wayne, agora liderando novo elenco (com destaque para Robert Mitchum, o xerife bêbado). Pois é nesse incrível ambiente que Hawkins introduz o poema “Eldorado” de Poe – no qual o autor ironiza a irracional corrida do ouro e dá aos versos, em Inglês, uma forma tal que o ritmo simula cavalos correndo. No filme de Hawkins, quem declama “Eldorado” é James Caan (à esquerda, na foto), um jovem e desajeitado pistoleiro de nome impronunciável.

O HOMEM EM SUA BUSCA SEM FIM

“Sozinho e errante/ um cavaleiro galante/ no sol e na sombra/ longamente viajara/ cantando, em busca do Eldorado”, recita Caan. O poema fala da eterna andança que o cavaleiro galante (noutra tradução é “elegante”) empreende em direção, talvez, à felicidade. Ele cavalga até ficar velho, sem encontrar “nenhum pedaço de chão parecido com Eldorado”. Quando está à beira da desistência, “caiu-lhe no peito uma sombra”, a quem ele, quase vencido pelo desânimo, interroga: “Onde estará essa terra/ chamada Eldorado?” – e a sombra responde: “Cavalgue, cavalgue corajosamente/ se você quer encontrar Eldorado” (combinei a tradução do filme com a de Rodrigo Garcia Lopes).

EM LETRAS, SOMOS OS BAMBAMBÃS

Do pouquíssimo que sei, acho que nossa música é a melhor do mundo, ao menos em termos de letra. O europeu é bom letrista, mas o brasileiro é melhor. Os americanos não são grande coisa. Mesmo o jazz, se cantado, não diz muito. Os europeus (sobretudo franceses, italianos e portugueses) ganham dos ianques, mas o Brasil ganha fácil deles todos. Yes, nós temos Braguinha (foto), Noel, Tom, Vinícius, Edu, Caetano, Gil, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Cartola, Dolores Duran, Orestes Barbosa – citemos poucos, para não humilhar os gringos e criar problemas diplomáticos. Orestes escreveu “Tu pisavas nos astros, distraída”, o mais belo verso da língua portuguesa, segundo Manuel Bandeira.

LANCEADO, PREGADO, CRUCIFICADO

Há uma letra que me impressiona sobre as outras: Rosa, de Otávio de Sousa, que tem coisas assim: “Se Deus/ me fora tão clemente/ aqui neste ambiente/ de luz, formada numa tela/ deslumbrante e bela…/Teu coração/ junto ao meu lanceado/ pregado e crucificado/ sobre a rósea cruz/ do arfante peito teu”. Romantismo derramado, tangenciando o barroco, de autor praticamente anônimo. O público, injustamente, identifica a canção como “Rosa de Pixinguinha”. E o grande Pixinguinha (foto), autor da melodia, não ajudou a esclarecer o mistério. Interrogado, disse que Otávio de Sousa “era um mecânico que morava no Engenho de dentro, muito inteligente e que morreu novo”.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

O MECÂNICO QUE NÃO DEIXOU RASTRO

Fazer esta letra e sumir sem deixar outro rastro na MPB é impossível. Minha versão preferida é outra: Otávio de Sousa nunca existiu, e Rosa seria de Cândido das Neves, o Índio (na verdade, negro!). O autor de Última estrofe (que todo seresteiro de respeito conhece) teria vendido os versos de Rosa a Pixinguinha e este “inventou” o mecânico. É coisa para pesquisador com P caixa alta. Os vídeos na internet estão cheios de erros na letra. Há até uma anta que canta (anta canta?) “vozes tão dormentes como um sonho em flor”, quando o poeta (seja quem for) escreveu dolentes.

ARROCHA PARA OS CAÇADORES DE ERROS

Luciana Mello comete “só” três erros. Se você descobrir algum deles, reclame no Pimenta o CD O melhor do arrocha, com a faixa-bônus “Rebolation”, na voz do Mano Cae. Mas, melhor do que caçar erros é relaxar e apreciar esse banho de romantismo, típico da MPB que se fazia no meado do século XX  – Orlando Silva (foto) lançou Rosa em 1937.


(O.C.)