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Walmir Rosário | ciadanoticia@ciadanoticia.com.br
Pela leitura dos jornais do final de semana (20 a 22), em Itabuna, dá para se ter uma ideia dos rumos que têm tomado nossa sociedade. A manchete do Jornal Agora traz uma matéria na qual o presidente da Câmara Municipal de Itabuna, Clóvis Loiola, assume a condição de réu confesso e diz que o esquema de fraudes na instituição que dirige “tungou” mais de R$ 5 milhões dos cofres públicos.
Loiola vai além e confessa, publicamente, que existe a possibilidade de pagar por isso na cadeia, mas faz uma ameaça a seus pares: “posso ir preso, mas levo todos os vereadores comigo”, estampa a manchete das páginas centrais do Agora. Essa afirmação, por si só, já é um libelo de acusação, mas que vem passando ao largo das instituições que devem evitar os desvios de conduta da sociedade, notadamente o Ministério Público (fiscal da sociedade) e o Poder Judiciário.
Mais estranho ainda é que essas declarações têm sido feitas pelo ainda presidente da Câmara, Clóvis Loiola, na presença dos seus advogados, profissionais escolhidos “a dedo” pelos porões do Centro Administrativo Firmino Alves, onde se escondem alguns membros do Poder Executivo. Digo estranhar esse fato pela defesa, baseado no princípio constitucional de que um cidadão (qualquer) não está obrigado a produzir provas contra si.
Quem também está sempre presente às declarações de Loiola da sua participação na fraude do dinheiro público é o “homem” responsável pela sua apuração e condutor do setor de Recursos Humanos da Câmara (mas que trata das finanças). É outra indicação do Poder Executivo para manter o Poder Legislativo debaixo das botas.
Do alto da minha “santa ignorância”, nunca conseguiu vislumbrar as causas que despertam o interesse dos vereadores em se manter subordinados ao Poder Executivo, mesmo possuindo todas as garantias constitucionais de ser um “fiscal da administração municipal”. Como se isso fosse pouco, a Constituição Federal ainda garante “inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do município”.
Não consigo entender (e “minha burrice nesse tema chega a ser científica”, como gostava dizer o saudoso Carlito Alemão) o motivo desse complexo de “vira-latas” que assola os vereadores. Por simples submissão não deve ser, pois, como dizem os entendidos em política, nas câmaras municipais só tem gente sabida, já que os bestas não conseguiram uma vaga nesse tão seleto grupo.
Tudo indica que há nesse relacionamento mais interesses do que possa enxergar a míope visão dos entendidos políticos. Há quem diga e jure de pés juntos que o relacionamento é incestuoso, haja vista qualquer cidadão de perfeito juízo não desprezar, jogar na lata do lixo, o artigo 2º (Cláusula Pétrea, é bom que se diga) da nossa Carta Magna, que estatui: “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Passo os olhos em outro jornal, A Região, e não consigo ler notícias mais amenas; pelo contrário, além das mazelas praticadas pelos nossos bravos vereadores, vislumbramos as fraudes cometidas pelo Poder Executivo contra a Receita Federal e os coitados dos servidores municipais. A título de lembrança, trata-se de apropriação indébita cometida pelo Capitão Azevedo, oficial da Polícia Militar, que tem o dever de defender a lei e não infringi-la, o que já mencionamos aqui em artigo anterior.
Entre uma leitura e outra, me veio à mente serem todos esses desmandos fruto da consagrada (lá entre eles) impunidade que assola o país. O Executivo, acossado pela fiscalização contra o esquema de corrupção fincado no governo, “compra” a cumplicidade do Legislativo (há quem diga que não paga conforme contrato) e transfere as “baterias” da imprensa e outros organismos de pressão social para a Câmara.
É perfeitamente factível essa modesta tese, pois todas as variáveis descritas neste despretensioso artigo combinam, fecham questão. Nesse caso, além do complexo de vira-latas, teremos também a síndrome de Estocolmo, um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro. No caso em questão, a síndrome se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar a simpatia do opressor.
Já que nem o Ministério Público ou o Judiciário se mostraram dispostos a acudir a sociedade, livrando a Nação de fichas-sujas no comando dos órgãos públicos, somente resta às organizações sociais assumirem uma grande campanha de mobilização para evitar a perpetuação e institucionalização do roubo do dinheiro público. E olha que poderá vir ainda mais dinheiro para isso, por conta da CPMF.
Será uma fartura só!
Walmir Rosário é jornalista, advogado e editor do site Cia da Notícia.

9 respostas

  1. Não é burrice sua, caro jornalista..
    Burrice dos vereadores..e muito mais dos eleitores que o elegeram..
    Esses canalhas entram no poder não é para tentar mudar o destino da cidade que esta decadente..entram na camara para fz suas fortunas..
    Penso que passado isso, com qual cara essa turma vai andar na rua..todo mundo falando e apontando para o “ladrão” da esquina.. o tipo que meteu as mãos nos bolsos de todos os contribuintes da cidade.
    alem disso, tem a malfadada receita federal que me taxa na alfândega por comprar um presente importado, mas fecha os olhos para a safadeza da prefeitura..o ônus sempre recai para nós, os contribuintes..
    O judiciário e o ministerio publico nunca fizeram nada..vide a época do FG no poder..qdo a cidade esta calma, o promotor aparece na Tv, radio e jornais, falando da administração.. da dengue..do carnaval..etc..
    Agora com o CAOS na cidade, ele esta sumido..
    Deve estar dando umas voltas em salvador ou passando os feriadões na tal casa de praia da prefeitura..
    Vamos invadir a camara..melhor..vamos invadir a casa de cada um destes vereadores que surrupiaram o dinheiro publico..o nosso dinheiro..

  2. Não estaria na hora da Polícia Federal entrar no caso?
    Afinal, há dinheiro público envolvido e, certamente, oriundo do orçamento da União!

  3. Independentemente de qualquer engano quanto ao tempo dos fatos, pelo qual às vezes somos traídos, foi ainda sob a coordenação do jornalista Walmir Rosário, ocupante à época da Secretaria de Governo e Comunicação, que o governo do “capitão prefeito”, pois em marcha o “ardiloso plano” de cooptação, mediante chantagem, do vereador presidente da câmara, Clóvis Loiola.
    Foi a secretaria de governo e comunicação da prefeitura, quem pagou e conduziu a “fatídica entrevista” concedida ao jornal agora, na qual “sob livre e espontânea pressão,” Loiola (como afirmou na entrevista) jogou “merda no ventilador da câmara,” fazendo acusações dos desvios praticados pelos seus pares, contra o erário público.
    Ao se juntar a Loiola, o executivo já sabia que o vereador presidente estava atolado até o pescoço nos desmandos praticados na câmara de vereadores, mas era no momento, a única arma de que dispunha na tentativa de barrar a assunção do vereador Roberto Souza a presidência da câmara no próximo biênio legislativo.
    Como bem se pode ver, não é só Loiola que é réu confesso. Ao fazer a constatação, também o jornalista Walmir Rosário assume parte da culpa, por ter dado “asas” a um plano tosco do executivo, que de político nada tem, e, ao contrário, colocou o próprio executivo (que fez uma intervenção branca no legislativo) no centro de todo o malfeito.

  4. Quando houver mais espaço para se falar sobre cultura e arte, certamente não teremos na imprensa esse inçosso caldeirão de notícias políticas que se perdem no tempo. Sempre mais do mesmo. Há na região ótimos blogues sobre o tema, como é o caso do Diversos afins, do Fabrício Brandão, o Kartei, do professor Piligra, o Sopa de Poesia, do Gustavo Felicíssimo, Operária das ruínas, da Daniela Galdino, e alguns outros. É só buscar que encontra. Tem também o glorioso Universo paralelo aqui do Pimenta… Mas será que um dia vão querer falar sobre arte e cultura nesse programa?

  5. Zelão, ou Gerson Menezes, tanto faz, precisa se orientar melhor, dando uma busca no calendário para narrar fatos e acontecimentos.
    Não fiz e nem pratico esse tipo de coisa, e Gerson ou Zelão sabe disso (sabe, assim mesmo, pois se trata da mesma pessoa). Tenho pautado minha vida na ética e nos bons costumes, disso também é conhecedor.
    Bastaria uma olhada nas datas para ver que não tenho nada com isso, ao contrário, fui o primeiro a me insurgir contra esses fatos, em artigos publicados nos jornais e sites.
    É só uma questão de verificação, nada mais simples.

  6. EM 17/12/1914, O SENADOR RUY BARBOSA (O ÀGUIA DE HAIA) FEZ UM PRONUCIAMENTO NO SENADO COM A SEGUINTE CITAÇÃO:
    O TRIUNFO DAS NULIDADES.
    -DE TANTO VER TRIUNFAR AS NULIDADES,
    -DE TANTO VER PROSPERAR A DESONRA,
    -DE TANTO VER CRESCER A INJUSTIÇA,
    -DE TANTO VER AGIGANTAR-SE OS PODERES NAS MÃOS DOS MAUS,
    -O HOMEM CHEGA A DESANIMAR DA VIRTUDE,
    -RIR-SE DA HONRA E A TER VERGONHA DE SER HONESTO.
    … E EM UM TRIBUNAL ATUANDO COMO ADVOGADO DISSE; “DE QUE VALEM AS LEIS,ONDE FALTA NOS HOMENS O SENTIMENTO DA JUSTIÇA?”
    SRS, HOJE COMO UM CIDADÃO QUE MORA NESTA CIDADE HÁ 40 ANOS, EXPRIMO EM MEU PEITO O SENTIMENTO DO DESANIMO E A VERGONHA DE SER HONESTO, O TEXTO ACIMA CITADO POR RUY BARBOSA NUNCA FOI TÃO ATUAL.

  7. Zelão diz: – Tanto faz: – “É igual a um caminhão carregado de chineses, dirigido por um japonês.”
    Caro Walmir Rosário;
    Deixei clara a minha dúvida quanto ao “lapso de tempo” em que eclodiram os fatos envolvendo a câmara de vereadores e a sua atuação à frente da Secretaria de Governo e Comunicação. Mantenho, no entanto, que foi sob a sua coordenação que teve início a refrega, com a primeira entrevista concedida por Loyola ao Jornal Agora.
    Quanto a sua ética profissional, em momento algum do meu comentário a coloquei sob suspeição. O que tenho feito nos meus comentários é lamentar justamente que; ao permanecer por tanto tempo no “covil que hoje você, tardiamente aponta,” tenha “voluntariamente” a colocado a serviço do mesmo.

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