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professor júlio c gomesJúlio Gomes | advjuliogomes@ig.com.br
 

Os professores, e mais ainda as professoras, se queixam do linguajar utilizado, onde os piores palavrões surgem a todo o momento com naturalidade chocante.

 
Confesso que fico assustado quando ouço os relatos de meus colegas professores que dão aula para alunos de quinta a oitava série do primeiro grau (sexto ao nono ano), nos turnos matutino e vespertino, não só no que toca à má qualidade da educação pública – o que não é novidade – mas, sobretudo, no que diz respeito ao comportamento dos alunos em sala de aula.
Queixam-se estes colegas da mais ampla falta de respeito dos alunos não só uns com os outros, o que, em tese, seria um problema somente deles. Mas do comportamento em relação aos professores e às demais pessoas que trabalham na escola.
Os professores, e mais ainda as professoras, se queixam do linguajar utilizado, onde os piores palavrões surgem a todo o momento com naturalidade chocante. Queixam-se do tipo e do nível das conversas. Queixam-se do comportamento promíscuo – a palavra é esta mesmo, promíscuo – de muitas moças adolescentes, já que em nossa sociedade e cultura a promiscuidade masculina sempre foi tida como sinônimo de virilidade, portanto aceita e incentivada.
Queixam-se estes professores e professoras de que, a todo o momento, precisam fazer de conta que não estão escutando o que efetivamente ouviram, mesmo porque há comentários que deixariam desconcertados até mesmo aos operários da construção civil, e mais ainda a professores, que decerto não são santos, mas que tentam, em sua maioria, manter em sala uma postura adequada ao exercício da profissão e ao desenvolvimento do aprendizado.
Gostaria de dizer a estes colegas professores que tentem – até onde for possível – manter o respeito dos alunos senão para com os colegas e a Escola, para com o profissional que ali está ministrando a aula. Sei que não é fácil. Sei que as vezes não é nem mesmo possível, pois no Brasil qualquer iniciativa disciplinadora é vista como antiquada, repressiva e discriminatória. Mas a verdade é que sem disciplina e respeito não se vai a lugar nenhum.
Sei que os pais, em percentual significativo; e as direções das escolas, quase sempre preocupadas em agradar o político que a colocou naquele cargo, estarão, muitas vezes, contra o professor que tente de fato obter um mínimo de respeito e disciplina em sala para criar as condições de aprendizado, para cumprir o seu dever de ensinar.
Mas os alunos que querem aprender – sim, eles ainda existem, e são a razão de nós existirmos – esses agradecerão, aprenderão, lembrarão e levarão consigo a formação que você conseguir fazer com que eles queiram adquirir, pois, como diz Paulo Freire, o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender.
Não tenhamos medo de parecer, por vezes, um pouco distante ou mesmo sério demais. O aluno compreenderá que você está ali para ensinar, e você ganhará o respeito e a admiração dele por isso.
Quanto àqueles que não querem aprender de jeito algum, que se esmeram em xingar e ameaçar, que se orgulham em dizer que não respeitam a ninguém, nem mesmo aos pais dentro de casa, deixemos eles entregues à própria ignorância, já que as direções escolares quase sempre se omitem ante uma atitude mais disciplinadora.
Infelizmente estes tipos de alunos, e de pessoas, terão de aprender com o mundo, com a polícia, com o criminoso que mata impiedosamente por uma dívida de cinco reais, enfim, com aqueles que não irão respeitá-lo, porque ele mesmo não se deu ao respeito.
Eles aprenderão, da pior forma possível, que seria melhor se vivessem em um ambiente de respeito mútuo.
Como se diz popularmente, quem não aprende com o amor, aprende com a dor.
Júlio Cezar de Oliveira Gomes é professor de História e advogado.
 
 

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