Celina Santos | celinasantos2@gmail.com
É lamentável saber que ainda haja quem teime em hostilizar pessoas pela cor da pele;
Desde o 13 de maio em que foi formalmente abolida a escravidão no Brasil, passaram-se 128 anos, mas o racismo caminha na mesma velocidade que guia o mito da democracia racial. A identidade nacional, cunhada exaltando elementos como o samba, a capoeira, a culinária influenciada pela África, também exibe um esforço para relegar à condição de folclore a nossa negritude.
De um lado, 54% da população carregam, seja no fenótipo ou apenas na etnia, a herança africana aqui plantada durante mais de 300 anos de trabalho escravo. De outro, permanecem fortes os resquícios da chamada “Ideologia do Branqueamento”, marcada pelo estímulo à vinda de imigrantes europeus após a Abolição. Tudo para que não predominasse no país a aparência dos afrodescendentes.
A versão contemporânea de tal ideologia pode ser comprovada no cotidiano. Apesar do discurso da miscigenação racial, da ausência de preconceito, da beleza única do nosso povo, segue o culto ao alisamento dos cabelos; ao clareamento dos fios (mesmo que a pele e a sobrancelha não combinem com as madeixas); à rinoplastia, cirurgia plástica para tornar o nariz mais parecido com o europeu, dentre tantos exemplos.
Mas a questão não se esgota no plano da estética. É lamentável saber que ainda haja quem teime em hostilizar pessoas pela cor da pele, situação que só costuma virar “caso de polícia” quando o atingido é um jogador de futebol, um ator, atriz ou qualquer outra figura que mostre a cara na televisão. Conquanto seja crime, o racismo sobrevive de forma velada e, por isso, tão difícil de ser punido.
Em relação à TV, onde predominam rostos, cabelos, olhos, enfim, uma aparência próxima do fenótipo europeu, aos poucos começam a aparecer mais personagens negros – na realidade e na ficção. A tímida mudança tem como resultado a lógica da projeção-identificação, já que um número maior de afrodescendentes é estimulado a assumir sua aparência, por vê-la representada na “telinha”.
Entretanto, as tão alardeadas – e já punidas – reações racistas pela internet, diante de uma mulher negra, a jornalista Maria Júlia Coutinho, apresentando a previsão do tempo em horário nobre, ilustram um fato: o quão estranho é ver negros naquele espaço – o que, obviamente, não autoriza ninguém a se manifestar com hostilidade frente ao que começa a assistir. O episódio, porém, foi uma vitrine do olhar de muitos brasileiros.
Como números também espelham cenários, estatísticas divulgadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) revelam: os lugares ocupados pelos “afros” traduzem um papel que pode ser atrelado, sim, à desigualdade. Para se ter ideia, das 16,2 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza no país, 70,8% são afro-descendentes. Além disso, os salários médios dos negros são 2,4 vezes mais baixos que os dos ditos brancos e 80% dos analfabetos brasileiros são negros.
Não é necessário grande esforço para entender que são históricas as raízes da desigualdade racial no Brasil, assim como o racismo não será vencido enquanto a sociedade agir de modo hipócrita ao negar a existência dele. Até aqui, o preconceito costuma ficar escondido “debaixo do tapete” (permitam-me o clichê) e permanece a negação da origem da absoluta maioria da população.
Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e Chefe de Redação do Diário Bahia.
2 respostas
Brasil quase 4OO anos em tratar o negro pior do que o burro de carga,mesmo porque o Burrinho tinha descanso e alimentação saudável,o quanto o cativo o descanso era o tronco, chicote e alimentação lavagem.
O Burrinho tinha a baia limpa pelos próprios animais negros,o homem,o quanto o mesmo viviam no meio das próprias fezes. O quanto ideias de cunho racista ainda vai pendurar por muitas gerações e séculos no Brasil.
Tal forma ideológica do PT fazer política,é racista,em separar “nós e ele” basta
fazer uma leitura da cultura indiana analisar o código de Manu,código jurídico e
verás semelhança com ocidente e Brasil.
Quantos racistas o Brasil têm,vejam a votação de Dilma? E vejam a legião que as defendem? Talvez os mesmos são incapazes de ver o quanto são racistas.
Estamos aguardando ansiosamente pela por sua reportagem sobre o crime de Cátia Cristina aqui em Camacan, inclusive se existe Direitos Humanos para essa família.