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walmirWalmir Rosário | wallaw1111@gmail.com

Apesar de àquela época os tempos serem outros, quando prevalecia a força bruta, a convivência em relação à diferença de credos era por demais respeitada. Os católicos não reclamavam dos louvores da Igreja Batista Teosópolis e da Igreja Adventista, muito menos ao contrário. A convivência era perfeita entre os pastores Apolônio e Isaías e os três frades capuchinhos.

 

Deve ser o sinal dos tempos, como costumam dizer os antigos. Não sei se é apenas uma simples implicância ou a chamada intolerância (até religiosa) muito comum nos tempos de hoje. O certo, que, pela segunda vez em cerca de quatro anos a sonoridade dos sinos das igrejas católicas de Itabuna volta a ser questionada.

O alvo anterior foi a Catedral de São José, agora, a reclamação é contra a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do mesmo nome. Na catedral, contra o sino tradicional, fundido em bronze, que dá uma sonoridade ímpar a cada badalada. Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, o sino é uma versão moderna, concebida na mais alta tecnologia digital, integrada por duas “bocas” de alto-falante colocados na torre do templo.

São José e Nossa Senhora sempre foram perseguidos: naquele tempo por serem os pais de Jesus Cristo, nomeado o Rei dos Judeus, levando o temor aos romanos invasores e aos judeus palacianos. Terminou sendo julgado e condenado a morrer crucificado. Se esperavam os dirigentes de então que calariam sua voz, enganaram-se, ela tinha sido semeada aos quatro ventos.

Se me recordo bem, as reclamações contra o badalar dos sinos, o tradicional na Catedral e sua versão informatizada, na Igreja da Conceição, não partiu da comunidade. Tanto lá como cá, foram apenas duas pessoas as incomodadas com repicar dos sinos. Os protestos vieram apenas e tão somente de duas vozes, uma de cada vez, sem representatividade ou ressonância.

O silêncio dos sinos da Catedral foi denunciado no www.ciadanoticia.com.br e causou muita celeuma, inclusive com esse simples blogueiro sendo vítima de sermões negativos nas Santas Missas. Mas nada que atrapalhasse a comunicação entre esse pecador confesso e Deus, além dos santos e anjos protetores. E os sinos da Catedral de São José voltaram, garbosamente a dobrar.

Já o reclamo que tenta calar a sonoridade da versão moderna dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição tomei conhecimento num programa jornalístico de um canal de TV. Ouvida, a maioria da comunidade se manifestou favorável à tradição secular, incorporada ao cotidiano daquele bairro. Como diz o ditado: uma só andorinha não faz verão.

De minha parte, que tenho na Igreja de Nossa Senhora da Conceição uma forte referência religiosa, não consigo conceber o motivo desta contestação. É o sino quem através dos anos serve para alertar aos fiéis o horário da Santa Missa e outras cerimônias religiosas e, inclusive o horário. Em Minas Gerais, os sinos se firmaram na tradição e os sineiros e tocadores se especializaram em fabricar e fazê-los dobrar em cânticos e harmonias diversas, apropriadas para cada evento.

Mesmo longe, posso dar o testemunho de quem, ainda adolescente, ajudou a construir aquele templo, erguido com a liderança de missionários do naipe dos frades capuchinhos Justo, Apolônio e Isaías.

Mesmo longe, posso dar o testemunho de quem, ainda adolescente, ajudou a construir aquele templo, erguido com a liderança de missionários do naipe dos frades capuchinhos Justo, Apolônio e Isaías. Somente a título de lembrança, os sinos – os de bronze – foram adquiridos com campanhas realizadas e que contou com o apoio de toda a comunidade.
Ainda quando residia em Itabuna, assistia, às terças-feiras, ao lado do colega José Augusto Ferreira Filho, a Missa em louvor a Santo Antônio na Igreja de Nossa Senhora da Conceição. E nossas referências eram o tocar dos sinos, pois como chegávamos mais cedo, ficávamos no bate-papo com os amigos, até que o Frei Calazans nos convocava para a missa.

Aos mais novos e desavisados, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição é a maior referência religiosa, urbanística, histórica, sociológica e antropológica do bairro. Foi a sua construção e implantação, responsável pelo convívio social, a educação e a elevação da autoestima daquela comunidade conhecida pelo nome pejorativo de Abissínia e que passou a ser conhecida por bairro da Conceição.

Apesar de àquela época os tempos serem outros, quando prevalecia a força bruta, a convivência em relação à diferença de credos era por demais respeitada. Os católicos não reclamavam dos louvores da Igreja Batista Teosópolis e da Igreja Adventista, muito menos ao contrário. A convivência era perfeita entre os pastores Apolônio e Isaías e os três frades capuchinhos.

Não sei qual a opinião da autora do protesto contra os sinos em relação aos carros de som que fazem publicidade e dos chamados paredões, nocivos contra a saúde do corpo, ao contrário do dobrar dos sinos. Como um pastor deve cuidar de suas ovelhas, Frei Calazans, de pronto, já decidiu baixar o volume dos sinos digitais, mantendo as tradições religiosa e comunitária. O dobrar dos sinos representa a “voz de Deus”, cuja percepção transporta a alma para além das fronteiras do mundo terreno.

Walmir Rosário é um amante do som dos sinos

0 resposta

  1. Que fique o registro Walmir, que continuamos, às terças-feiras, a elevar nossas preces naquela igreja, socorrendo-nos da interferência e do prestígio do poderoso Antônio, pois como bem sabe o amigo, são muitos os pecados desse seu irmão. Que dobrem os sinos!!! ???

  2. Walmir, se tivesse o dom das palavras escreveria o texto virgula por virgula; ponto por ponto. Mas, como me falta esse dom, faço minhas as suas palavras. que repiquem os sinos!!!!

  3. Dá para entender a queixa. Já morei perto de igreja e era acordado, às 6h de domingo, pelo sinos. Eu e a vizinhança toda. Tocando à tarde, acho ótimo, bonito, uma tradição bacana. Mas nem por isso a igreja tem o direito de impedir o sono dos justos…

  4. Que tal, se minha igreja, colocar um alto-falante, externo…. para todos ouvirem! Creio, ser importante.
    Se os cristãos protestantes – evangélicos, tem, obrigatoriamente, que “curtir” a “ave-mqria”, por exemplo, os amigos catolicos, devem ouvir, “obrigatoriamente” os cantos de suas igrejas, ou não?

  5. Resido há 20 anos em frente à catedral São José e , juro a vocês, hoje eu já não ouço o tocar dos sinos de tão acostumada que estou, nunca me
    incomodou.

    graça

  6. até que emfim vejo voltar a tradição lembranças de minha época onde ajudei a carregas tijolos p a construção desta igreja,saudades de frei justo,apolonio,isais calazans e joaquim,saudades da cruzada eucaristica aonde participei e tenho saudae de maria zélia,joão dos passos,moquinha,matusael,walmir rosário,emanuel(nenéu)maria da luz,jupira,fátima,licia,os irmãos juarez e napoleão e ortros que c o passar dos tempos n lembro. obrigado walmir pela sua felicidade de me fazer recordar dos nossos velhos tempos.(carlinhos corsarios, ou da emasa seu amigo)

  7. eu acho um absurdo as pessoas implicarem com as ações da igreja. porque não tomar uma atitude para melhorar a violência os bares aberto. os chous os pontos de drogas as festas de de ruas, gente para que ta feio essa implicância com as coisas da igreja seja ela qual for

  8. Penso que ninguém – muito menos igrejas ‘católicas ou não’ – têm o direito de incomodar outrem, nem cabe às mesmas, informar horas à sua e outras comunidades, pois outros bairros da cidade também são perturbados com o barulho dos relógios.
    Que toque o sino, como era antes, convidando os fiéis para a missa e pronto!

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