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Rosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br
 

Os defensores do modelo neoliberal que pressionaram e financiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff continuam operando os desdobramentos em curso, inclusive a prisão do ex-presidente Lula.

 
Estamos num ano eleitoral e diante de um país com uma série de emaranhados jurídico, político e midiático. Diversas versões sobre o ambiente político e seus personagens são apresentadas cotidianamente pelo Ministério Público Federal (MPF), Supremo Tribunal Federal (STF), pela Procuradoria Geral da República (PGR), Polícia Federal (PF) e um sem-número de delatores, que são expostas na grande mídia e cada veículo montando o enredo de acordo à sua linha editorial e compromissos assumidos com o poder político e os grupos econômicos que os financiam.
A construção dessas “verdades” busca fazer a população acreditar que o ambiente político é um só lamaçal e que os personagens de togas e a grande mídia estão imbuídos no espírito de cidadania e dedicados a salvar o Brasil das mãos da corrupção. É verdade que exista grande número de políticos que cometem crimes, assim como é falso afirmar que a maioria dos que usam togas e os conglomerados de comunicação estão preocupados com o o país.
Verdadeiro se afirmar que nos dois lados existam o joio e o trigo e um enredo baseado na luta de concepções a respeito do tipo de nação ou modelo econômico que a regerá. Nesse aspecto, a grande mídia já se posicionou e tenta agradar o mercado e os seus representantes na política, rejeitando qualquer nome que demostre simpatia com o estado interventor-desenvolvimentista que vá de encontro ao modelo de privilégio absoluto ao grande capital, e que beneficie o capital nacional – as empresas públicas brasileiras e aos menos favorecidos da nossa estrutura social. A principal luta em curso é sobre quem controlará o destino da nação, especialmente a nossa principal fonte de riqueza: o petróleo.
A grande dor de cabeça desses setores compromissados em privilegiar o grande capital financeiro e firmar a economia norte-americana como principal vetor do nosso desenvolvimento, elegendo-a novamente como parceira estratégica, é convencer a maior parcela da nossa população a acreditar nessa alternativa, vez que o inverso parece ser a opção que seduz a cada dia uma significativa parcela dos brasileiros, deixando as forças políticas ligadas ao mercado sem saída. Os defensores do modelo neoliberal que pressionaram e financiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff continuam operando os desdobramentos em curso, inclusive a prisão do ex-presidente Lula. Esse segmento neoliberal tem demonstrado desespero a cada sondagem eleitoral, com consolidação de Lula no primeiro lugar, além de outros nomes também ligados ao chamado pensamento de esquerda aparecerem bem posicionados.
A leitura do quadro eleitoral em curso dificulta ainda mais o caminho dos candidatos ligados e financiados pelos mecanismos político-jurídico-midiático.
O mercado não tem um nome competitivo e, mesmo a grande mídia criando um ambiente de positividade econômica e atacando o principal colocado nas pesquisas, com um enredo diário de denúncias, não consegue construir ou fortalecer um representante, porque a artificialidade do objetivo cai por terra quando a realidade da pobreza e do desemprego cresce no mundo real e é facilmente captada por cada cidadão que sente o efeito dessas verdades na mesa de casa Brasil a fora.
O certo é que estamos num país com a “política judicializada” e a “justiça politizada”, e a grande mídia empoderada para fazer valer as ordens do grande capital. Na resistência, o povo que foi incluído nas ações do governo a partir de Lula, que sente na pele os efeitos danosos da reforma trabalhista, os preços exorbitantes dos combustíveis e do gás de cozinha, da expectativa da reforma previdenciária, a falta de emprego, que, aliás, deu mais um salto negativo – aumentou de 11,8% no último trimestre de 2017 para 12,3% no primeiro trimestre de 2018, tendo, hoje, 14 milhões de desempregados.
A sinfonia da orquestra do golpe desafinou. O núcleo político-jurídico-midiático perdeu o sono, ensurdecido pela trilha sonora que ecoa do povo simples, bradando em voz alta pela volta de um país que o inclua na pauta de beneficiários. Essa disputa irá impor novos desdobramentos nos meses que antecedem as eleições de outubro e os acontecimentos advindos desse ambiente ainda não são claros, tudo pode acontecer, inclusive nada, diria o poeta. Ou poderão virar a mesa e não permitir que tenhamos eleição, evitando que amarguem mais uma derrota imposta pelos que estão do lado de fora do mercado, vencendo mais uma vez o núcleo do sistema financeiro nacional e a política tradicional representada e defendida por eles.
Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades

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