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Efson Lima || efsonlima@gmail.com

 

É significativo se pensar que o desafio das feiras literárias é não ser apenas meros eventos. É imperativo que dialoguem com escolas, instituições de ensino superior, profissionalizantes.

 

Nos últimos anos, mesmo o Brasil sendo um país de poucos leitores e o mercado editorial em crise como a registrada em 2018, as feiras, festivais e bienais de livros têm se avolumando e semeado uma esperança literária.  Os termos “feira”, “festival”, “bienal”, “salão” e “jornada” são algumas diferentes nomenclaturas que se espalham pelos territórios brasileiros e mundiais para designar esses momentos mágicos da literatura, da produção, da difusão do livro e da chama acesa da cultura.

As bienais internacionais do livro no Rio de Janeiro e em São Paulo são marcas deste fenômeno, que tem ultrapassado os anos, respectivamente, a do Rio será a 29º neste ano e a de São Paulo caminha para a 26ª edição em 2020.  Sendo a Bienal do Rio tida como o maior do gênero no país, surgindo em 1983.

Para termos uma dimensão desses eventos, acabou de acontecer o FliPoços (Festival Literário Internacional de Poços de Caldas) em Minas Gerais. Lá, o evento alcançou a 14ª edição neste ano.  O Festival superou as expectativas, mais de 90 mil pessoas compareceram. O balanço final de vendas apontou que os 80 expositores, juntos, venderam R$ 2,2 milhões e estiveram disponíveis mais de 100 mil títulos diferentes nos estandes da Feira.

A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), talvez, na atualidade, a mais famosa das feiras e festivais literários no Brasil, já tem programação definida para sua 17ª edição. A Festa se tornou um lugar privilegiado para reviver grandes escritores, bem como possibilitar uma interação entre escritores e leitores. É também momento para possibilitar a vinda de grandes escritores internacionais.

Por sinal, o intercâmbio cultural não deve ser entendido como um problema, mas uma solução para o pensamento tacanho. É uma janela para o multiculturalismo que tem se apresentado como uma das facetas da contemporaneidade.  A FLIP neste ano homenageia o escritor Euclides da Cunha. Justiça seja feita, é oportunidade para reverenciar o livro Os Sertões, que, sem dúvida, é uma das obras primas da literatura em língua portuguesa.

Nesse cenário positivo de festivais literários, a Bahia se destaca, pois são realizados alguns eventos dessa natureza, como a Flica, FliPelô, o Flios e cada uma buscando se afirmar em um cenário de poucos recursos. É óbvio que sentimos falta da Bienal do Livro do Estado.  Mas, enquanto a Bienal não retorna, temos os eventos literários que pipocam nas praças, nas ruas, nos bares, nas cidades.

É neste cenário de feiras literárias que a Bahia celebra duas grandes ações: a Flica e a FliPelô. A primeira se aproximando de uma década, a segunda em processo de construção da terceira edição que acontecerá em agosto deste ano no Pelourinho, em Salvador. A área se transforma, os espaços destinados aos debates, palestras, lançamentos de livros são tomados pelo público. Agosto não é mais o mês do desgosto, pelo menos em Salvador, para a literatura, os escritores e leitores baianos.

A Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) desde 2011 é realizada. Ela caminha para sua nona edição. Geralmente, acontece no mês de outubro. Foi assim que a cidade de Cachoeira, no Recôncavo, ganhou alguns minutos no Jornal Nacional, da Rede Globo, no ano passado. Inclusive, a Flica é hoje o principal evento da cidade. À margem do Rio Paraguaçu, com a ponte metálica (símbolo da Feira), com as subidas e descidas dos saveiros lutando para não desaparecer e com as bênçãos senhoras fervorosas Senhoras da Boa Morte, os moradores de Cachoeira têm recebido mais de 30 mil pessoas. Clique no Leia mais e leia a íntegra do artigo.

A cidade se movimenta, os recursos financeiros ingressam, pousadas e hotéis alcançam ocupação recorde, as pessoas alugam casas, bares e restaurantes ficam cheios. A cultura movimenta a economia, permite o leitor dialogar com seu escritor, papear na esquina, na rua… no barzinho… sentado ao banco. Vamos aguardar as escolhas, as coordenadas da Curadora Kátia Borges desta edição. Estamos ávidos pelo trabalho dela, que é escritora, colunista e pesquisadora da literatura. Qualidades que transbordarão em nossa direção.

Nessa onda de festivais e feiras, o sul da Bahia não poderia ficar de fora, tem-se o Festival Literário de Ilhéus (Flios), que tem a Academia de Letras de Ilhéus como realizadora do evento e conta com o apoio da Editora da UESC e da Secretaria de Cultura de Ilhéus. Temos uma tríade liderada por três pessoas que dão sentido ao Festival regional – André Rosa, presidente da Academia de Letras de Ilhéus, que lidera a organização do evento e tem estado ligado à causa da literatura regional; Rita Argollo -, diretora da Editus e que tem feito um excelente trabalho na difusão da leitura; e Pawlo Cidade, Secretário de Cultura de Ilhéus.  É parte integrante do Flios o Prêmio Sosígenes Costa, que busca premiar poetas baianos, certamente, mais que o dinheiro é a possibilidade concreta de publicar o livro de poesias por uma das editoras baianas mais importantes, com traços editoriais primorosos da Editora da UESC. Agora, caminha para quarta edição do Festival e do Prêmio.

São verificadas também a Festa Literária de Itabuna, que teve sua primeira edição realizada em 2014 e uma segunda em 2015; o Festival de Música e Poesia de Itaparica e a Feira Literária em Mucugê, que caminha para 4ª edição. Neste ano, já foram realizadas a Festa Literária Internacional de Praia do Forte (Mata de São João) e em breve teremos outra em Barreiras, no oeste do Estado.

Boa parte desses eventos sobrevive em decorrência do apoio fundamental do Estado. A mim não resta dúvida que a administração pública deve ser indutora de política cultural. Uma geração esclarecida de brasileiros respeita a bandeira americana, mas não ajoelha diante dela, não defende ditadura e nem acredita que a diversidade de pensamento é um problema, mas um caminho necessário ao exercício de uma cidadania transformadora.

Por fim, é significativo se pensar que o desafio das feiras literárias é não ser apenas meros eventos. É imperativo que dialoguem com escolas, instituições de ensino superior, profissionalizantes. Professores e estudantes são necessários ser envolvidos, assim como a sociedade local, logo, esses eventos estarão colaborando para uma movimentação cultural permanente e justificadora da existência.

Efson Lima é advogado, coordenador-geral da pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho e coordena o Laboratório de Empreendedorismo, Criatividade e Inovação, além de ser doutorando em Direito pela UFBA. É autor do livro Textos Particulares, no prelo.

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