Marco Wense
É bom lembrar que Jaques Wagner tem um fortíssimo entusiasta e defensor ferrenho da sua candidatura: o ex-presidente Lula, que anda meio chateado com o governador Rui Costa em decorrência do “Lula Livre”.
Na oposição, nenhum problema. O nome de ACM Neto, além de ser consenso, é o único com viabilidade eleitoral e estofo político para enfrentar o candidato do governismo, que caminha a passos largos para ser o senador Jaques Wagner (PT).
O prefeito de Salvador, que é presidente nacional do DEM, não tem como recuar, como fez na sucessão de 2018, o que terminou provocando muita insatisfação no staff político. Muitos candidatos – deputado estadual e federal – responsabilizaram o alcaide soteropolitano pelo fracasso nas urnas. Como exemplo bem tupiniquim, cito Augusto Castro. O ex-tucano (PSDB), hoje no PSD, culpa Neto por não ter sido reeleito para a Assembleia Legislativa do Estado (ALBA).
Mas imbróglio mesmo, que tende a ficar mais complicado com a proximidade da sucessão do governador Rui Costa, é na base aliada, com o senador Otto Alencar disposto a não desistir da sua legítima e democrática candidatura ao Palácio de Ondina.
O que está escancarado é que existe uma articulação para isolar o dirigente-mor estadual do PSD, tendo na linha de frente o vice-governador João Leão (PP), a primeira liderança da base de sustentação governista a declarar apoio à postulação de Wagner. Com efeito, a candidatura do ex-governador é favas contadas, 2+2=4.
O que se comenta nos bastidores, longe dos holofotes e do povão de Deus, é que existe um compromisso de Rui Costa com Otto. Não se sabe é se Wagner tem conhecimento desse ajustamento entre o governador e o senador. Se tem, está fazendo de conta que não sabe de nada, dando uma de “João sem braço”, como diz a sabedoria popular.
O PP e o PSD vêm travando uma luta por mais espaços no governo. Esse pega-pega ficou mais acirrado neste segundo governo de Rui, obviamente porque o governador, com seus bons índices de aprovação, está impedido de disputar o terceiro mandato consecutivo, à re-reeleição.
A pergunta oportuna e pertinente não pode ser outra: Como irá se comportar Otto Alencar diante dessa articulação para tornar sua pré-candidatura cada vez mais enfraquecida? E o pior é que Rui Costa começa a dar os primeiros sinais de que não tem outro caminho que não seja o de seguir a cartilha do seu criador. Qualquer atitude contrária pode ser interpretada como uma gigantesca ingratidão.
Cabe ao senador Otto, se quer realmente tornar sua pretensão viável e não ser sucumbido eleitoralmente, procurar se aproximar de outras legendas da base aliada, sob pena do sonho de ser o morador mais ilustre do Palácio de Ondina virar um irreversível pesadelo.
O PCdoB, de Davidson Magalhães, e o PSB, de Lídice da Mata, dificilmente tomariam uma posição que contrariasse o chefe do Executivo. São legendas tidas como obedientes, longe de qualquer ato de rebeldia. Já o PDT de Félix Júnior não pode ficar como eterno coadjuvante do petismo, não sendo reconhecido na sua importância, sendo tratado com desdém, como uma legenda de segundo escalão.
É bom lembrar que Jaques Wagner tem um fortíssimo entusiasta e defensor ferrenho da sua candidatura: o ex-presidente Lula, que anda meio chateado com o governador Rui Costa em decorrência do “Lula Livre”.
Para uma análise mais consistente, vamos esperar o comportamento de Otto Alencar diante dessa já iniciada fritura.
Marco Wense é articulista do Diário Bahia.