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Apelando para os céus, prefiro crer que Deus é brasileiro e que tem evitado que o pior aconteça, mas as perigosas incertezas nos empurram cada vez para mais próximo de um horizonte nebuloso.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

O país assiste – entre perplexidade, incredulidade, versões e fatos reais – a uma série de acontecimentos que nos projeta negativamente no mundo. As circunstâncias observadas são tão surreais que não estamos conseguindo processá-las racionalmente. Percebemos o nascimento de um movimento antidemocrático escancarado, que fere o direito constitucional da livre expressão, da livre manifestação, do estado laico. Atacam a honra e ferem de forma mortal as bases que edificam a democracia, entre elas: o respeito às instituições, independência e harmonia entre os poderes e imprensa livre. Elementos vitais para a construção de uma sociedade crítica, plural, onde os limites legais e o senso crítico devam estar presentes.

Não são animadoras as percepções que estamos tendo ao observar o protagonismo do presidente da República como fio condutor desse estado de barbárie intelectual e extrapolação de limites. A implantação de um exacerbado ideologismo ao aparelho de estado, apropriação dos símbolos nacionais e outras sandices nos remetem às semelhanças acontecidas em outras nações, que culminaram com passagens tristes da história universal: fascismo italiano e nazifascismo alemão, por exemplo.

Na semana passada, estivemos diante de mais um desses fatos: a fala do presidente da República pedindo que populares “fiscalizassem” por conta própria os hospitais para confirmação da existência de um indicativo de caos no sistema de leitos ou malversação. São tantas aberrações que a sociedade vai aprendendo a conviver com essas narrativas sem reagir. Essa passividade, no entanto, acaba por ceder frestas perigosas e, à medida que são ocupadas, permitem solidificação de bases que podem edificar atitudes excludentes e sem licitude.

Se por essas terras houvesse serenidade e harmonia pátria, certamente já estaríamos vivendo uma outra realidade. Talvez não estivéssemos assistindo aos registros que nos incomodam. O espírito mesquinho e beligerante de quem ocupa o maior posto de poder brasileiro nos aparta de registros construtivos e irriga o divisionismo e o obscurantismo.

Por sorte, ainda tivemos alguns atores no poder e parte da sociedade que buscaram saídas, ainda que tenham cometido equívocos. Apelando para os céus, prefiro crer que Deus é brasileiro e que tem evitado que o pior aconteça, mas as perigosas incertezas nos empurram cada vez para mais próximo de um horizonte nebuloso. Pensando positivo, precisamos voltar a ser uma nação, com sua miscigenação representativa, e que tudo isso passe!

Rosivaldo Pinheiro é especialista em Planejamento de Cidades (Uesc) e economista.

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