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Caso ouvisse meu conselho, por certo recomendaria amotinar os guardas municipais, os fiscais de posturas e, quem sabe, poderia, ainda, recrutar alguns dos fiscais do Sarney para conter os meliantes.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Confesso que estou morrendo de curiosidade – e diria até de inveja – por ainda não ter transposto, atravessado a nova ponte de Ilhéus sobre o rio Cachoeira, que recebeu a justíssima homenagem de ostentar o nome do itabunense Jorge Amado. Além dos benefícios viários para Ilhéus e região, o equipamento, por si só, é uma maravilha no centro das maravilhas compostas pela baía do Pontal e a cidade alta.

Mais que ver de perto a imponência da ponte estaiada – a primeira da Bahia, como anunciam – me apraz dar uma olhada na sinalização horizontal e vertical de trânsito, com a precípua finalidade de tirar uma dúvida. É que nos grupos de Whatsapp que participo me enviaram um vídeo com a primeira leva de privilegiados ao cruzar a ponte, assim que o Governo do Estado passou o bastão à administração municipal.

Tenho dúvidas da autenticidade do vídeo que deve ter sido uma inauguração lá pela Inglaterra, China, Índia, ou quaisquer outros países que adotaram a chamada mão inglesa, onde a mão é na pista da esquerda. Pelo que me consta, por falta de prerrogativas, Ilhéus não firmou nenhum tratado internacional com a Inglaterra para adotar esse tipo de comportamento.

Na minha científica ignorância cheguei a pensar – me perdoem se estiver errado – que tenha sido obra de algum assessor do alcaide querendo demonstrar conhecimento internacional ao justificar tal absurdo comportamento. Já perguntei a um monte de conhecidos se tal fato era verdade, mas somente sossego quando ouvir a palavra abalizada de José Nazal, pra mim a maior autoridade ilheense desta refinada ponte.

E tenho uma série de motivos para levantar minhas suspeitas. A começar pela atitude pachorrenta dos antes lépidos agentes de trânsito ilheenses, que assistem, passivamente, a tal tresloucada direção perigosa. E lá iam os ilheenses em seus veículos comemorando e filmando a travessia com aparelhos celulares. Assisti ao vídeo com bastante atenção para observar se na comitiva vip estaria meu amigo Gláucio Badaró. Decepção.

Assim que deixarem eu romper a inconstitucional barreira dita sanitária – que apenas proíbe o ir e vir – nem que seja de posse de um competente habeas corpus concedido pelo poder judiciário, garanto que também terei meu dia de glória. Antes, porém, estacionarei num posto de combustível para tomar ciência em qual pista trafegar para não infringir o Código de Trânsito Brasileiro e ter que arcar com uma pesada multa.

Quando digo que algumas leis pegam e outras vão para o ostracismo, estou cercado de razão. A todo o momento que vejo alguma lei desrespeitada me pergunto o motivo de serem consideradas chinfrim. E olha que sou um leitor compulsivo dos diários oficiais da união, estados e municípios, com medo de infringir algum artigo e tomar um esporro da autoridade: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.

Hoje mesmo pela manhã resolvi tomar um sol na praia – pois soube que o covid-19 corre do astro-rei como o satanás da cruz – e aproveitar para colocar os ossos e nervos em dia voltando às caminhadas. De repente, passa por mim um cavalo selado, rodeado por um séquito composto por uma matilha de cães, como se estivessem numa estrada rural ou na grande fazenda de um político qualquer.

Como confessei ser leitor contumaz dos diários oficiais, veio imediatamente em minha lembrança um decreto aditado pelo prefeito de Canavieiras anos atrás, justamente proibindo o passeio ou desfile desses animais pela praia da Costa. Para não dizer que se tratava apenas de perseguição aos garbosos cavalos e cães, o competente decreto também proibia fazer churrascos e beber cerveja em copos de vidro e garrafas.

Aproveito esse espaço a mim concedido nesta mídia, para, em nome da defesa das leis e da população praiana, dar ciência ao prefeito para que tome providências imediatas contra o infrator, aplicando todos os rigores da lei. Justamente nesses tempos de pandemia, não poderemos nos descuidar de todas as precauções, mesmo sendo sabedores que esse vírus chinês não é transmitido por animais ditos irracionais.

A bem da moralidade pública, compete à autoridade municipal reunir os meios legais que dispõe e travar uma luta sem quartel contra os desobedientes e transgressores das leis, decretos e portarias. Caso ouvisse meu conselho, por certo recomendaria amotinar os guardas municipais, os fiscais de posturas e, quem sabe, poderia, ainda, recrutar alguns dos fiscais do Sarney para conter os meliantes.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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