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A palavra pode não ter poderes mágicos para garantir bênçãos ou maldições. Porém, a palavra tem o poder de ser inclusiva ou excludente. Afinal, como diz o já consagrado provérbio do mestre Stan Lee, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.

Karoline Vital || karolinevital@gmail.com

“Cuidado, menina! A palavra tem poder”! Minha mãe sempre me falava isso, quando eu falava que algo poderia sair errado. Era o modo dela me alertar sobre o peso de tudo aquilo que se diz. Tudo bem que vinha carregado de uma aura meio mística, tipo um encantamento capaz de atrair a energia do que foi proferido. Falar “desgraça”, então…  Pior do que soltar o mais cabeludo dos palavrões. “É o nome da pelada”. Embora minha mãe nunca soubesse me explicar quem era a tal da pelada nem o que faria de tão desgraçado.

Hoje em dia, minha compreensão do poder da palavra vai além de se evocar sobrenaturalmente algo negativo ou positivo. A função de ser benção ou maldição está atrelada ao sentido político daquilo que se diz. Nada de política partidária, mas política de posicionamento, de ideologia, de como enxergar a si e ao outro.

A turma defensora do mundo mais chato após o politicamente correto é um excelente exemplo de como a palavra revela posicionamentos. Dia desses, caí no perfil de uma professora de português que se dizia sem paciência para vocábulos como “empatia”, “gratidão” e “empoderamento”. Em linhas gerais, classificava o uso dos termos como modismo. Infelizmente, essa atitude dela apenas revelou um vazio que carregava em si. Isso porque, apesar de ostentar elegância e uma condição financeira abastada, a professora era incapaz de refletir sobre o que motivava o uso dessas palavras ou os contextos. Usando uma expressão da moda, a profissional apenas “cancelou” porque não fazem parte da sua realidade nem estava disposta a compreender as motivações.

Muitas lutas, para serem tomadas como legítimas, exigem empatia de quem não vivencia as violências ou privações. O empoderamento vem de dar protagonismo, vez e voz a quem é invisível ou silenciado. Já “gratidão”, apesar de parecer apenas coisa de bicho-grilo que aplaude pôr do Sol, demonstra o sentimento de ser grato por algo ou alguém. Isso porque as raízes do “muito obrigado” estão na obrigação de se devolver o favor, bem na cultura do velho “toma lá, dá cá”.

Revisar vocábulos com origens racistas, sexistas ou que remetam a qualquer tipo de preconceito não é se tornar chato. É se tornar consciente sobre como palavras podem reforçar estruturas opressoras, as quais não cabem numa sociedade da era da informação. A palavra pode não ter poderes mágicos para garantir bênçãos ou maldições. Porém, a palavra tem o poder de ser inclusiva ou excludente. Afinal, como diz o já consagrado provérbio do mestre Stan Lee, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.

Karoline Vital é jornalista.

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