Tempo de leitura: 2 minutos

Thiago Dias

Quem frequenta o Informativo Camacan, espécie de praça digital da cidade sul-baiana no Facebook, provavelmente já viu um dos anúncios de Alberes Miranda. Na rede social, ele se apresenta como Bhetto Frio. O apelido faz referência aos serviços que oferta nos grupos virtuais da internet. “Soluções especializadas para elétrica, refrigeração e climatização”, diz uma das propagandas.

No início de 2021, Bhetto foi demitido de uma empresa de segurança terceirizada do Banco do Nordeste, onde trabalhou por 16 anos. Sem o emprego, os serviços que complementavam a renda passaram a ser sua principal fonte de sustento. “Fui procurar o que fazer”, diz ele, relembrando a atitude que tomou naquele dia 7 de janeiro.

“Sou eletricista há mais de trinta anos, trabalho com refrigeração, sou adestrador de cães. Tenho um monte de curso, mais de 30. Tô sempre procurando coisa nova”, emenda o trabalhador de 50 anos, em entrevista ao PIMENTA.

A última “coisa nova” apareceu para Bhetto como caso típico do que o materialismo histórico chamaria de influência direta das condições materiais da realidade sobre a consciência dos sujeitos e sua própria constituição histórica. Com o preço escorchante do botijão de gás, ele decidiu construir um fogão a lenha portátil. Ainda não sabia, mas estava prestes a se iniciar na que viria a ser sua atividade mais rentável, a de artesão.

Para aprender a nova arte, recorreu à internet e ativou o modo autodidata, no velho processo de tentativa e erro. A primeira versão da obra era, na verdade, um fogareiro de lata. “Não aguentava três meses de uso, desmanchava todo”, relembra.

A esposa do novo artesão, Nelciene Miranda, o encorajou a fazer um aparelho mais sofisticado, e ele aceitou o desafio. “Comecei a pesquisar na internet e vi o pessoal fazendo o de duas bocas”, conta. Aproveitou o embalo e, no grupo da família, anunciou que aceitava encomendas do fogão a lenha portátil que desenvolveu. Recebeu 13 pedidos.

“No começo, tomei logo prejuízo. A massa ficava mole, demorava, e o pessoal pedindo. Eu explicava que estava tendo muitos pedidos”, recorda Bhetto. Corria o mês de junho de 2021 quando sentiu-se seguro quanto à resistência do material do aparelho. Desde então, as vendas não pararam.

A pedido do PIMENTA, Bhetto descreveu os materiais que compõem o fogão, que pode ser usado com carvão ou lenha. “Coloco areia, cimento, ferro e açúcar. Tem pezinhos de ferro na frente e no cinzeiro, onde bota o fogo, e no fundo. É todo fechado de ferro para não abrir. [As dimensões são] 50cm de cumprimento, 30cm de largura, 30cm de altura, com duas bocas e uma chaminé. A grelha é vendida separada”.

Ele estima que já vendeu bem mais de 50 fogões nos últimos nove meses. Até pouco tempo, cada um custava R$ 100,00, agora sai a R$ 120,00. O novo preço coincide com o do botijão de gás de 13kg, que acumula alta de 83% em 15 meses. Perguntamos se a alta do gás favorece os negócios. “Está ajudando muito também. Muita gente está procurando uma segunda opção. Até o carvão aumentou de preço”, respondeu Alberes Miranda.

As vendas do artesão ultrapassaram as fronteiras de Camacan. Os fogões já chegaram a Ubaitaba, Itabuna, Aurelino Leal, Espírito Santo, Porto Seguro, Pau Brasil etc. “Minha irmã quer levar um para São Paulo”. Ele atribui o sucesso do negócio à providência divina. “Fiz vários cursos e, até agora, minha renda maior vem de uma coisa que nunca aprendi em curso. Foi uma mão de Deus em minha vida”.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *