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Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou.

 

Carlos Pereira Neto Siuffo

Alberto Hoisel foi o melhor epigramista que Ilhéus já teve. Era quase um gênio. Um dia chegou na cidade um sujeito que se achava muito importante e espalhou que era candidato a prefeito. Alberto publicou no Diário da Tarde: “Em Ilhéus qualquer sujeito/que quer ter notoriedade/espalha pela cidade/que é candidato a prefeito”.

Pois bem, na cidade, tinha um professor muito querido que, em toda eleição, anunciava que seria candidato. Às vezes desistia no meio do caminho. Noutras era lanterninha. A turma da maledicência procurou o lente e o convenceu que a quadrinha era para ele.

Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou. Esse era o grande problema. As palestras do professor levavam quatro horas, um latinídio só, e todo mundo dormia. Seus artigos ocupavam todas as páginas do jornal, que encalhava.

Otávio Moura procurou Alberto, contou o ocorrido e pediu para parar. Surpreso, o autor disse que o epigrama não havia sido feito para a ilustre figura, mas, se a carapuça tinha servido, o problema era dele. Aí publicou outro epigrama: “Essa gente que desista/seus gritos não fazem eco/em Ilhéus ninguém é paulista/para votar em Cacareco”. Cacareco era o nome da rinoceronte que, em 1959, recebeu quase 100 mil votos para a vereança na cidade de São Paulo.

O professor cumpriu a promessa e escreveu um artigo de seis laudas. Ocupou todas as páginas do diário, inclusive a manchete. Otávio falou para Alberto: “Eu não disse!”. De quebra, o epigramista lascou os últimos versos:  “Arrependo-me se peco/para que o céu me abençoe/se eu ofendi Cacareco/Cacareco me perdoe.”

Ao final, a pessoa a quem eram direcionados os epigramas desistiu da candidatura, e o nosso querido professor foi candidato. Novamente, ficou na lanterninha.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor da Uesc.

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