Vista da bela e histórica Paraty com o icônico Patati Patatá, à esquerda || Imagem Google Maps
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De cara avistei entre eles, Tim Maia e sua turma. Sigo para a calçada em frente em busca de informações e fiquei sabendo que a polícia pretendia se livrar daquela galera, por motivos óbvios: perturbação do sossego e mais alguns artigos do Código Penal.

 

Walmir Rosário

Assim que passou o Carnaval do ano da graça de 1973 aporto – mesmo por via terrestre – na cidade de Paraty. Viagem a trabalho, para implantar uma frente de obras na BR-101, no trecho conhecido como Rio-Santos. Muitas imaginações passavam pela minha cabeça, a exemplo de conhecer a cidade histórica cujo nome se transformou em sinônimo de cachaça.

Por outro lado, as notícias que eu tinha sobre a cidade não eram tão tranquilas para os que iriam a trabalho, por ter um custo de vida altíssimo, pois há anos vivia do turismo. Os que iam a passeio pouco se importavam com os custos de hotel e restaurantes. O que importava, mesmo, eram bater suas fotos na cidade histórica, ao lado dos antigos e bem conservados casarões e praias.

Porém, Paraty não era apenas uma cidade dos turistas bem aquinhoados pela sorte nas finanças. Pra lá também seguiam – e ficavam por um bom tempo – os hippies de todos os matizes, desde os originários de famílias abastadas ou os chamados pés-rapados. Se viravam como podiam e se drogavam à vontade, sem qualquer repressão. Pra eles, era o paraíso!

Pois bem, assim que consegui me hospedar com todo o pessoal no Hotel Bela Vista, perguntei ao proprietário, Silas Coupê, onde experimentaria uma boa cachaça de Paraty e uns bons tira-gostos. Me indicou um barzinho (pequeno mesmo) próximo e de nome muito sugestivo: Patati Patatá. E pra lá rumei na intenção de começar bem o primeiro sábado em Paraty.

Para minha surpresa, o barzinho lotado, gente espalhada pelas calçadas. De cara, disse pra mim mesmo: Cheguei ao lugar certo para espraiar as ideias e conhecer bem a cidade e sua gente. Pedi ao dono do Patati Patatá, Luiz Papa, um paulista que trocou a pauliceia desvairada por Paraty, a melhor cachaça e tira-gosto especialidade da casa.

Enquanto vou me familiarizando no ambiente, observo uma mesa barulhenta e uma voz por demais conhecida, que aos poucos identifiquei como sendo o cantor e compositor Tim Maia. Junto a ele, uma “fauna” ligada à música, inclusive o compositor Cassiano e demais ilustres desconhecidos para mim, baiano recém-chegado.

Aos poucos fui conhecendo as pessoas, pouquíssimos paratienses, muitos paulistas, uns argentinos e uruguaios. Na grande maioria, hippies e frequentadores assíduos da cidade, alguns com casas de veraneio. Confesso que fiquei um pouco assustado, mas gostei do ambiente, pelos produtos, serviço e clientes. Guardadas as devidas proporções, a lembrança me remeteu ao Bar Caninha, na Federação, em Salvador.

Assim que a fome apertou, me informo com Luiz Papa onde poderia almoçar uma comida de sustança, se é que por ali serviria. Sem pestanejar, Luiz me indica: “Olha, logo aqui ao lado esquerdo, vizinho à Telesp, tem um seu conterrâneo, o Mário, que prepara tudo o que você quer comer, como mocotó, rabada, feijoada e essas comidas da Bahia”.

Não perdi tempo, pois não poderia deixar essas delícias à espera, ainda mais depois de experimentar a boa cachaça paratiense calçando umas cervejas bem geladas. Me apresento ao conterrâneo como um baiano recomendado por Luiz Papa. Após apertos de mãos e saudações de bem-vindo, me sento, bebo mais uma cachaça, uma cerveja e mergulho nos pratos de sustança.

Devidamente saciado e novamente pronto para qualquer eventualidade, minha intenção era dar mais uma passadinha no Patati Patatá, agradecer pela indicação e retomar o bate-papo. Assim que chego à calçada vejo um ônibus da Colitur estacionado em frente ao barzinho, pessoas do outro lado da rua olhando e alguns policiais organizando uma fila.

Ao chegar mais perto me dei conta que todos os clientes, (ao que me pareceu) estavam sendo colocados no interior do ônibus. De cara avistei entre eles, Tim Maia e sua turma. Sigo para a calçada em frente em busca de informações e fiquei sabendo que a polícia pretendia se livrar daquela galera, por motivos óbvios: perturbação do sossego e mais alguns artigos do Código Penal.

Passei a me sentir protegido por meu anjo de guarda e meu estômago, que me fizeram ausentar – momentaneamente – do Patati Patatá e me safar de um conflito em que não teria qualquer culpa no cartório. Na saída, os policiais deram ordens ao motorista do coletivo que só parasse no distrito da Ponte Branca, a 6 quilômetros, e que eles não se atrevessem a retornar.

Na sequência, Luiz Papa fecha o Patati Patatá, abre o restaurante Palhoça, do qual continuei seu cliente de todas as noites – depois com Toninho Pinto. E esse baiano se aclimatou bem em Paraty, tanto que por lá construiu amigos, se casou com uma paratiense, por lá morou muitos anos e ainda costuma frequentar a cidade.

Poucos conhecem minha passagem nessa história, agora revelada e já de conhecimento público.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Temas ligados ao meio ambiente, saúde, tecnologia e inteligência artificial são algumas das apostas de professores para a prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicada no próximo domingo (5). Além de conhecer as exigências sobre a estrutura do texto, os alunos devem estar bem informados sobre os principais acontecimentos no Brasil.

O eixo do meio ambiente é uma das principais apostas da professora de redação Roberta Panza, da plataforma de estudos Descomplica. “É um tema muito atual e, de uns anos para cá, a discussão sobre o clima tem sido cada vez mais presente”, diz. Nesse eixo, podem ser abordados temas como aquecimento global e mudanças climáticas, educação ambiental e crise climática, hídrica e energética.

Os impactos das mudanças climáticas também estão entre as apostas da professora de língua portuguesa e redação do colégio Mopi Tatiana Nunes Camara. “A consciência dos cidadãos, no que diz respeito a como manter equilibrado o meio ambiente, é o ponto de partida para que os impactos negativos sejam minimizados”, afirma Tatiana. Questões sobre insegurança hídrica, desmatamento e mudanças climáticas também são citadas pela professora Mariana Bravo, do Ateliê da Redação.

A inteligência artificial é outro tema que pode ser abordado no tema da redação, na avaliação da professora Tatiana, por ser um assunto em voga na contemporaneidade. “Há segmentos da sociedade que rechaçam os recursos criados a partir da inteligência artificial, enquanto há muitas pessoas que [a] veem como uma grande oportunidade de evolução em vários setores da sociedade, inclusive provocando impactos profundos na educação brasileira”, diz a professora, lembrando também a abordagem da exclusão digital. Para a professora Roberta, o Enem pode trazer o tema da inteligência artificial e as mudanças que o recurso pode gerar no mercado de trabalho, especialmente para a juventude.

Na saúde, é possível que apareçam temas como obesidade, sedentarismo e os hábitos de vida que levam a doenças, acrescenta Roberta. Para a professora Mariana, o tema pode vir abordando o uso de “drogas da inteligência” para melhorar a performance cerebral de estudantes e trabalhadores sem que haja diagnóstico, fenômeno chamado de “doping cognitivo” ou “psiquiatria cosmética”. A eficiência da vacinação, a importância do SUS (Sistema Único de Saúde), o combate às infecções sexualmente transmissíveis e os transplantes no Brasil são temas citados pela professora de redação do Cursinho CPV Isabela Arraes.

Entre os temas ligados à educação, as mudanças no ensino médio, a alfabetização e a evasão escolar no contexto da pós-pandemia de covid-19 são possibilidades de abordagem, segundo a professora Roberta. Outra abordagem possível é a importância da educação de jovens e adultos. “A formação escolar é importante, principalmente, em um país como o Brasil, no qual as desigualdades sociais são tão latentes”, diz Tatiana.

Outras possibilidades de assuntos para a redação do Enem deste ano são: fake newsbullying e violência nas escolas, segurança pública, violência policial, combate à fome no país e insegurança alimentar, questão habitacional no Brasil, pessoas em situação de rua, trabalho análogo à escravidão, etarismo, idosos e mães “solo”.

O Enem 2023 será aplicado nos dias 5 e 12 de novembro. As notas das provas podem ser usadas para concorrer a vagas no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e a financiamentos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).FOCO NA ESTRUTURA

Se, por um lado, muitos professores gostam de trabalhar vários temas possíveis para a redação com os alunos, outros defendem que saber o tema com antecedência não é tão importante para o desempenho do aluno. “Meu conselho para a redação é não se preocupar com o tema. O tema que vier, vamos fazer o básico para garantir uma nota alta, e se vier um tema que ele domina melhor, ainda consegue firular para garantir a nota mil”, diz a professora Carol Mendonça, do canal Português para Desesperados.

Segundo Carol, é importante credibilizar os argumentos apresentados com alguma associação artística, estatística, resultado de pesquisa, retomada histórica ou com a fala de um especialista, por exemplo. “Sempre tentar sair do campo da opinião para o campo do fato. Independentemente do que você pensa, vai colocar o que pode ser provado”, aconselha a professora.

Para o professor Luis Junqueira, cofundador da plataforma de letramento Letrus, o mais importante é seguir a estrutura da redação, fazendo uma contextualização geral, definindo a tese, e apresentando uma proposta de intervenção social. Segundo ele, os textos de apoio e as informações que estão na prova já são suficientes para dar uma base para o aluno sobre o assunto.

“Se você tem insegurança com o tema que caiu na prova, você pode traduzir as informações do infográfico. O texto vai ter que ter uma tese, um contexto e uma orientação para a proposta de intervenção social. Independente do tema, a estrutura da redação é a mesma, concentre-se nessa estrutura”, diz o professor.

Na redação do Enem, os candidatos deverão fazer um texto dissertativo-argumentativo de até 30 linhas sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política, defendendo um ponto de vista (uma opinião a respeito do tema proposto), apoiado em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão. Também deve ser elaborada uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta deve respeitar os direitos humanos. D´Agência Brasil.

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As pessoas que não conseguem liberar-se do luto permanecem enredadas em um ciclo prolongado de tristeza e melancolia. Não estão vendo suas vidas, não estão olhando para vida e sim para a morte, estão estacionando sua energia vital e seguem congeladas no trauma.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

Onde estão os entes queridos que partiram deste plano físico?

Estão nos nossos corpos físicos agora. Na nossa mente, no nosso amor, na nossa voz, na nossa obra, no nosso servir. Estão manifestados em nós!

Assisti a uma entrevista em que uma moça falava da morte sem aviso da sua mãe. E fiquei comovida com o seu entendimento e percepção diante da perda que, segundo ela, foi uma das maiores dores que sentiu. Ela disse: “minha mãe dormiu e não acordou mais em seu corpo físico. E embora a dor seja grande, eu pude aprender algo valioso: nunca mais acordei sem agradecer. Hoje quando eu acordo a minha mãe também acorda. Ela vive em mim, nunca mais acordei sozinha. Eu a sinto em mim, eu sou ela!”.

Achei isso tão bonito, porque trata-se de um entendimento que é constantemente ocultado pelo cenário do luto, quando na verdade, poderia ser óbvio! Mas é como dizem, o óbvio precisa ser dito!

O fato é que viver a nossa vida é a forma mais poderosa de honrar quem já partiu deste plano físico. Os entes queridos que partiram querem que a gente continue vivendo, homenageando-os com a nossa vida. Legitimar essa existência através de nós. A forma que temos de manter viva a memória de alguém é mantendo-o vivo dentro de nós. E se possível, fazer algo de bom com o que foi deixado por essa pessoa, através da sua vida, ensinamentos, ações, comportamentos, palavras.

Então, a partir de agora, quando alguém perguntar onde está aquele seu ente querido que deixou o corpo físico dele, não diga apenas ‘morreu’, diga: está aqui dentro. Vive em mim e através de mim, porque ele sou eu.

Dia 02 de novembro é patenteado como o Dia Internacional dos Finados, com celebrações em diferentes partes do mundo. É o dia dedicado à memória das pessoas que faleceram, é o dia de orar pelas almas que se foram, como foi designada ainda no século X, pelo entusiasta abade Odilon, de Cluny, na França. Em alguns países, este dia é considerado como expressão cultural, dia de celebrar a vida com os mortos, com danças, bebidas, músicas e histórias contadas.

No Brasil é diferente. O luto traz muita resistência, porque tem a ver com o que nós entendemos sobre a morte. A morte nos coloca em uma despedida inevitável. É uma despedida dolorosa. É natural sentir tristeza, dor, muitas vezes culpa ou raiva, da vida, do mundo ou até mesmo da pessoa que partiu. Essa dor pela ausência atinge as pessoas de forma diferente, mas há algo comum e inegociável: em qualquer uma das formas e maneiras, o luto precisa ser vivido! É necessário que se viva a dor da perda, caso contrário a pessoa pode pagar com a própria vida futura por essa negligência.

Para a Terapia Sistêmica, área da terapia em que o meu trabalho está fundamentado, se a pessoa por algum motivo é impedida de viver o luto: não pode falar, expressar, dar espaço para sentir a dor, certamente essa dor não expressa, é provável que essa pessoa vá desenvolver algum um sintoma ou doença psicossomática. Senão ela, algum descendente da sua família vai viver a dor dessa morte depois.

É comum, por exemplo, acontecer essa transferência quando uma mulher tem um segundo filho(a), mas antes passou pela perda do primeiro, e não se deu o direito de viver o luto. A criança que vem depois sente e absorve o peso da morte, por conta de um luto não vivido da mãe. Mas, atenção, não é culpa da mãe! Na verdade, na Terapia Sistêmica e nas Constelações, não trabalhamos com culpas, mas olhando os fatos além do aparente. O luto que não for vivido quando o fato acontece, mais cedo ou mais tarde virá à tona para algum membro da família.

O luto precisa de espaço e tempo para ser visto, olhado de frente, vivido e devidamente expressado! Para cada pessoa isso vai ser diferente. É importante respeitar as fases, mas é preciso atenção para perceber até onde a pessoa consegue atravessar o ciclo do luto sozinha. Muitas pessoas e até mesmo famílias inteiras precisam da intervenção de um profissional para ajudá-los nessa travessia.

As constelações familiares oferecem uma perspectiva muito bonita para lidar com a questão da perda e do que chamamos de luto. Elas desempenham um papel fundamental ao auxiliar o processo de aceitação, liberação e cura. Porque é necessário olhar para a morte de uma maneira mais ampla, além do aparente. Precisamos encarar a perda, incorporá-la, honrá-la e expressar uma gratidão, por tudo que essa pessoa representou em nossas vidas. Quando realizamos uma constelação, estamos liberando emoções, bloqueios e resistências que podem estar ligados à morte de alguém.

É através dessa liberação que adotamos uma postura diferente em relação à morte, quanto mais liberamos nossos sentimentos de luto, mas encontramos vida em nossa própria existência.

É fácil fazer isso, Rava? Não!

É por isso que terapeutas, psicólogos, profissionais como eu, desempenham um papel fundamental nessa jornada de aceitação. Através de uma abordagem sensível, compassiva e recursos eficazes, podemos ajudar as pessoas a identificar o que as mantém presas a um luto que perdura por 5, 10, 20 ou 30 anos, para então permitir que essas emoções sejam ressignificadas e se dissipem.

O luto, quando bem trabalhado, nos faz lembrar da vida e nos permite honrar a memória daqueles que se foram.

A vida tem um desejo inato de ser amada e respeitada, e a memória daqueles que partiram permanece em nós de várias formas. Por isso, ao invés de lastimar, pesar, sofrer, é sugerido que a gente aprenda a considerar o que foi. E quem sabe, aprender a celebrar quem já partiu através de boas histórias, replicar uma receita de bolo que a mãe fazia, comprar aquele aroma que faz você lembrar daquela pessoa, ou colocar a música que ela gostava e saudar, celebrar, agradecer o tempo que estiveram juntos. Existem várias formas de se fazer, não precisa ser com peso, com sofrimento e com lamentações permanentes e infinitas.

As pessoas que não conseguem liberar-se do luto permanecem enredadas em um ciclo prolongado de tristeza e melancolia. Não estão vendo suas vidas, não estão olhando para vida e sim para a morte, estão estacionando sua energia vital e seguem congeladas no trauma e criando somatizações e bloqueios emocionais e espirituais.

É curioso como a palavra LUTO tem sido utilizada. A etimologia da palavra luto vem do latim ‘luctus,us’, que significa dor, mágoa, lástima, aflição, pesar, lamentar. Quando a pessoa entra em luto ela entra em aflição, lamentação. Eu não gosto de usar a palavra’ luto’. Prefiro substituir pela palavra ‘honra’. A origem da palavra honrar vem do latim ‘honrare’, tratar com consideração e crédito. Prestar honra e respeito. Sinônimo de honrar é agradecer, enobrecer, elevar, engrandecer e valorizar.

Gosto de pensar por essa via. Ir ao cemitério faz parte da nossa cultura. Entretanto, entendo que mais importante do que ir aos túmulos, acender velas, levar flores, é saber, por exemplo, que os meus avós que já se foram deste plano físico, vivem em mim, através de mim. Nenhum pai morre, nenhuma mãe morre, porque a vida deles está dentro de nós.

Rava Midlej Duque é terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Gestacional.