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A produção de chocolate é um dos caminhos para reposicionar o sul da Bahia no cenário nacional, quiçá, internacionalmente. Entretanto, sentimos falta de ruas e de mais lojas especializadas em chocolate em Ilhéus, por exemplo.

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

A Bahia é um dos estados maiores produtores de cacau do Brasil e o escritor Jorge Amado se tornou o grande divulgador do cacau e de seus elementos socioculturais por meio da literatura no mundo ao colaborar para a temática alcançar diferentes países. É sabido também que a região de Ilhéus e os municípios adjacentes concentraram a maior produção de amêndoas de cacau do País, entretanto, o sul da Bahia plantava, colhia e exportava-as ao longo do século passado, ocupando assim a posição de grande produtora de commodity . No fim dos anos 70 do século XX, indústrias multinacionais de moagem se instalaram, especialmente, em Ilhéus, com objetivo de beneficiar o cacau, mas não produziam chocolate. Após o processamento, a produção é escoada para outros lugares.

A produção de chocolate no Litoral Sul voltada à comercialização em escala tem iniciativa com Hans Schaeppi, quando implanta em Ilhéus a primeira fábrica com esse propósito. A partir dos anos 2000, cresce um movimento em favor do cacau fino. Em Ilhéus, no ano de 2007, é realizado o primeiro festival internacional do chocolate, inclusive, colaborando para difundir conhecimentos técnicos sobre a produção de chocolates e fomentando intercâmbio entre produtores locais e internacionais. Surge assim um ambiente propicio à produção do chocolate, confirmando as perspectivas de Nelson Schaun e Eusínio Lavigne que defendiam a produção do chocolate no sul da Bahia, como estratégia para o desenvolvimento econômico e social da região. Atualmente, o Litoral Sul possui mais de 100 marcas de chocolates e o número de fábricas de chocolate é crescente no território.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com apoio da SETRE e com colaboração do Cesol Litoral Sul, realizou estudo sobre a produção de chocolate no sul da Bahia, em 2022, cuja pesquisa indicou que 80,6% dos produtores de chocolate iniciaram suas atividades entre 2011 e 2021 e segundo eles, a principal fonte de renda está associada à produção de chocolate, conforme apontou 64,5% dos entrevistados.

O estudo apresenta uma série de dados interessantes sobre esses produtores: renda, escolaridade, composição etária, gênero, renda entre outros aspectos. Não resta dúvida que a produção de chocolate aumenta o valor agregado do produto, consequentemente, o melhoramento da renda dos trabalhadores. Outro fator preponderante é a produção sustentável desse chocolate e o impacto que essa produção exerce na melhoria de vida dos produtores locais. Ademais, a produção cuidadosa e preocupada com a natureza possibilita combinações exclusivas de barras de chocolate.

Em 2023, o Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, implantou uma fábrica-escola, no campus da UESC, para a produção de chocolates, sendo a primeira no Brasil, na área da economia solidária. Os números da produção e da comercialização da Chocosol, cooperativa de produtores locais, se mostram expressivos com base nos dados fornecidos pelo Centro Público de Economia Solidária (CESOL) em seminário realizado na própria UESC.

A Chocosol merece uma análise à parte, bem como a região precisa consolidar a sua identidade para a produção de chocolate. Poucas áreas no mundo conseguem estabelecer um conjunto de fatores tão necessários à sustentabilidade do negócio: cultivo de cacau e beneficiamento, preservação da natureza, turismo e literatura e produção de chocolate. A produção de chocolate é um dos caminhos para reposicionar o sul da Bahia no cenário nacional, quiçá, internacionalmente. Entretanto, sentimos falta de ruas e de mais lojas especializadas em chocolate em Ilhéus, por exemplo. Talvez, a Rua Antônio Lavigne de Lemos em breve alcance esse lugar.

Efson Lima é doutor em Direito (UFBA), advogado e membro das academias de Letras de Ilhéus (ALI) e Grapiúna ( Agral).

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