Do PIMENTA
A Iemanjá da Casa de Jorge Amado, em Ilhéus, foi danificada. O dano ocorreu quando a Secretaria Municipal de Cultura interditou o imóvel e transferiu o acervo dele para o Teatro Municipal, do outro lado da rua que também leva o nome do escritor, no Centro Histórico. A obra faz parte de conjunto de dez esculturas de orixás doadas ao município pelo artista plástico Osmundo Teixeira, outro gênio grapiúna.
Na coleção, Osmundinho empregou técnica conhecida como casa de abelha. “Consiste em criar paredes de barro dentro da peça para sustentar a estrutura por fora. Sendo assim, a peça é oca e não maciça”, informou a assessoria do artista à reportagem do PIMENTA.
A secretária de Cultura do município, Anarleide Menezes, confirmou que, ao ser transportada, a peça se desprendeu do suporte e caiu. Segundo a gestora, não há registro fotográfico de como a escultura ficou após a queda. A Secult a entregou a Osmundinho, que doou a coleção e vai restaurá-la de forma gratuita.
A assessoria do artista comentou o tamanho do estrago: “Ele vai tentar restaurar a peça, já que está muito quebrada. Caso não consiga, terá que ser feita uma nova para repor”. Também explicou que não é possível disponibilizar foto da obra hoje, pois o ateliê está fechado e será reaberto na próxima segunda-feira (3). Antes, no domingo (2), as comunidades dos povos de terreiro de Ilhéus celebram o Dia de Iemanjá, rainha das águas e mãe de todos os orixás.
INTERDIÇÃO
De acordo com a secretária Anarleide Menezes, que é museóloga, a Casa de Jorge Amado foi interditada no último dia 8, pois não oferecia segurança ao próprio acervo e aos funcionários da Secult, que funcionava no mesmo espaço e se transferiu, provisoriamente, para o Teatro. A gestora disse que, desde 2022, documentos atestam a insalubridade do imóvel e os riscos a quem o frequentava.
Questionada se a decisão de interditá-lo deveria ter sido submetida ao Conselho Municipal de Cultura, respondeu que o órgão tinha ciência dos problemas há mais de dois anos e não cumpriu seu papel de fiscalização. Acrescentou que a Secretaria de Infraestrutura e Defesa Civil e a Vigilância Sanitária do município vão apresentar relatórios sobre a situação do imóvel, tombado como patrimônio histórico de Ilhéus desde 1993.
A secretária enviou ao site imagens para mostrar as condições atuais da Casa de Cultura Jorge Amado (veja as fotos ao final do texto). Contou que, em agosto passado, uma pessoa sofreu acidente no local. “Uma funcionária afundou, literalmente, num desses buracos do assoalho”. O imóvel, disse, foi entregue à nova gestão com espaços tomados por excrementos de gatos. Funcionários e visitantes estavam submetidos ao aroma fétido pairando no ar e expostos a doenças como a toxoplasmose, emendou.
Falando em nome da equipe da Secult, a gestora reafirmou compromisso com a população do município. “Estamos empenhados em trazer de volta à cena cultural a cidade que tanto amamos. Devolver Ilhéus ao lugar de onde nunca deveria ter saído, como protagonista da arte e da cultura regionais”.