Mariana Ferreira é jornalista e consultora em Comunicação || Foto Arquivo Pessoal
Tempo de leitura: 2 minutos

 

Deslegitimar é o objetivo dessa agenda estrutural, que busca intimidar, hostilizar, ridicularizar, até mesmo com falsos elogios públicos que escondem atitudes misóginas nos bastidores, as poucas mulheres que decidiram e decidem enfrentar mais essa luta todos os dias, numa permanência que vive ameaçada.

 

Mariana Ferreira

É exaustivo ver a permissividade e o nível de tolerância com que é tratada a violência de gênero nos espaços de poder. Poderia aqui elencar inúmeras falas, inclusive institucionais, de evidente violência contra as mulheres que hoje ocupam esses espaços, afastando dos plenários brasileiros mulheres extremamente inteligentes e realizadoras.

A última, de Plínio Valério (PSDB), senador da República, com sua declaração em púlpito (!): “Imagina o que é ficar com a Marina [Silva] seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”, é um dos fortes exemplos da desqualificação do debate por meio de uma agressão concreta a uma mulher, que também é ministra de Estado, professora, deputada federal eleita, ex-senadora e ativista.

A lei que tornou crime a violência política de gênero completou três anos em agosto do ano passado. Ela estabelece regras jurídicas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher nos espaços e nas atividades relacionadas ao exercício de seus direitos políticos, dentre outras providências (Lei n° 14.192/2021). No entanto, isso não parece intimidá-los, e a reflexão sobre isso precisa ser feita coletivamente.

Deslegitimar é o objetivo dessa agenda estrutural, que busca intimidar, hostilizar, ridicularizar, até mesmo com falsos elogios públicos que escondem atitudes misóginas nos bastidores, as poucas mulheres que decidiram e decidem enfrentar mais essa luta todos os dias, numa permanência que vive ameaçada. A exemplo de 60,4% das prefeitas e vices brasileiras que afirmam já ter sofrido algum tipo de violência política de gênero durante campanhas ou mandatos, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM), em parceria com o Movimento Mulheres Municipalistas, que ouviu 224 prefeitas e 210 vices no segundo semestre do ano passado.

Por causa desse ambiente hostil, muitas estão pela metade em suas ambições, representações e realizações. E também pela metade está o número das que têm a intenção de permanecer na política concorrendo à reeleição, conforme esse mesmo estudo.

Não distante, um episódio de misoginia aconteceu, institucionalmente, em Itabuna, no sul da Bahia, quando o vereador Danilo Freitas (União Brasil) usou da sua palavra no plenário da Câmara de Vereadores para desqualificar a primeira-dama do município, Andrea Castro, que poucos meses antes avaliava se juntar às poucas mulheres na política para representar a região na Assembleia Legislativa da Bahia. Ele se retratou por meio de nota, mas a punição exemplar não poderia deixar de existir: ficou impedido pela Comissão de Ética da Câmara de Vereadores de se pronunciar nas sessões legislativas de setembro a dezembro de 2023 e no ano seguinte foi condenado pela Justiça a pagar indenização por danos morais.

A violência política de gênero não fica, no entanto, restrita aos púlpitos das Casas Legislativas, às chacotas de presidentes como Bolsonaro ou aos bastidores das corridas eleitorais. Está também alastrada nas redes sociais e tem sido crescente, ainda mais agora, com a recente decisão de Mark Zuckerberg de dar fim à checagem de fatos nas redes sociais da Meta. Uma vergonha, e tão perto das eleições de 2026. Que da indignação coletiva e do instinto de sobrevivência enquanto seres sociais emerjam mais mulheres para ocupar os espaços de poder brasileiros. E que estejam por inteiro.

Mariana Ferreira é jornalista e consultora em Comunicação.

Respostas de 2

  1. Mariana, seu texto é potente e necessário! Você traduziu com precisão a indignação diante da violência política de gênero e a urgência de um debate sério sobre o tema. Que sua voz continue ecoando e inspirando mais mulheres a ocuparem os espaços de poder por inteiro!

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.