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professor júlio c gomesJulio Cezar de Oliveira Gomes | advjuliogomes@ig.com.br

Jesus foi caluniado e tentado, para que, acusando-o, o pudessem matar, como na ocasião em que lhe perguntaram se deveriam pagar impostos com a moeda romana.

Torço, sinceramente, para que Jesus tenha vivido uma noite de amor carnal sob as estrelas. Não se trata de diminuí-lo, nem de desejar que sua natureza humana se sobrepusesse à grandeza de seu espírito. Não é isso, absolutamente.
Jesus foi homem em todos os sentidos. Foi parido e nasceu em meio a uma viagem, sob as precaríssimas condições existentes em sua época. Sua família teve de fugir e refugiar-se por anos a fio em terras distantes, porque o rei dos Judeus, Herodes, ordenou a matança dos primogênitos do sexo masculino, o que segundo a bíblia efetivamente ocorreu naquela localidade. Assim, Jesus não se entendia como pessoa, mas já carregava o fardo das perseguições políticas e do poder sem limites que os maiorais de seu tempo detinham.
Sem ser de família rica, Jesus e seus familiares trabalhavam a cada dia para garantir seu sustento, e em uma época na qual os filhos seguiam o ofício dos pais, decerto que ainda menino ele tanto ajudava aos genitores quanto aprendeu – na prática do trabalho duro – a ser marceneiro, tal como seu pai.
Jesus sofreu toda a sorte de injustiça, acusações, incompreensões e agressões morais e físicas possíveis. E o pior, sofreu-as injustamente.
A pregar em sua cidade (ou aldeia) natal, Nazaré, foi discriminado e desacreditado, o que o levaria a dizer eu ninguém é profeta em sua própria terra. Saiu de lá quase fugido, para evitar que ocorressem confrontos que poderiam levá-lo à morte antes do devido tempo.
Por todos os lugares onde pregou, os poderosos, sobretudo os Judeus como ele, o viam e tratavam como uma ameaça à Religião Judaica e aos seus privilégios de econômicos e políticos, inerentes às altas funções de sacerdote monopolizada por aquelas abastadas famílias.
Em virtude disto Jesus foi caluniado e tentado, para que, acusando-o, o pudessem matar, como na ocasião em que lhe perguntaram se deveriam pagar impostos com a moeda romana, o que o levou, num rasgo de inteligência e profunda sabedoria, a dizer que se deveria dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Finalmente, quando os sacerdotes conseguiram prendê-lo em Jerusalém, após sofrer pérfida traição por parte de Judas – e qual de nós humanos não traiu nem foi traído? – Cristo veio a ser espancado, interrogado sob violência, condenado, torturado e executado, mesmo sendo inocente quanto às acusações a ele imputadas.

Entretanto, nada disso nos escandaliza tanto quanto a possibilidade de Jesus ter vivido uma noite de amor à beira do Mar da Galiléia, sob aquelas mesmas estrelas que antes e depois dele testemunharam as venturas e desventuras de todos os demais homens.
Ora, será que Jesus só pôde ser homem para sofrer? Será que, ainda jovem, não pôde, ao menos uma única vez, namorar como qualquer outro mortal? Será que associamos o sexo ao pecado e o sofrimento à purificação de maneira tão radical que não admitimos sequer a possibilidade de uma noite de amor?
Não quero esmiuçar a vida íntima de Jesus, nem tenho do direito de fazê-lo, como também não o tenho em relação às demais pessoas. Isso é da conta delas, e não da minha. No caso de Jesus, ainda faltariam fontes históricas para tal.
Entretanto, pelo amor e admiração que tenho ao Jesus homem, desejo-lhe tudo de bom, mesmo com meus limitadíssimos conceitos humanos. Desejo que tenha comido bem, pois sei que deve ter passado fome; desejo que tenha sentido o vendo da noite em seu rosto, que tenha se banhado em águas refrescantes após um dia de trabalho, ou de pregação; que tenha deitado nem uma cama ou gramado o melhor possível para aquela época, para dormir o justo sono de quem cumpriu sua missão a cada dia.
E, por que não? Desejo que um dia, caso ele o tenha desejado, pois como foi homem decerto desejou, possa ter de alguma forma vivido sua sexualidade, mesmo tendo plena consciência de que a paternidade e a formação de uma família eram incompatíveis com sua missão.
Desejo que, da terra, ele não tenha levado só os espinhos, mas que também possa ter sentido o perfume das flores.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

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