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Efigênia OliveiraEfigênia Oliveira | ambiente_educar@hotmail.com

Setembro passou, outubro e novembro/ já estamos em dezembro, meu Deus, o que é de nós? (…) Sem chuva na terra, descamba janeiro, depois fevereiro, o mesmo verão (…). Apela pra março que é o mês preferido/ do santo querido Senhor São José/ Mas nada de chuva, tá tudo sem jeito (…).

O lamento épico na voz do sanfoneiro Luís Gonzaga descreve exatamente a situação atual do sul da Bahia, cujo clima em nada se assemelha ao sertão nordestino. Em crise hídrica desde agosto de 2015, que registrou um inverno de poeiras de chuva, adentramos abril de 2016 sem sinais claros de que em breve mataremos a saudade de um banho de chuveiro com água insípida. Além do banho salgado e limitado, toalhas e roupas lavadas com essa água propiciam prejuízos, ao organismo humano, e aos outros organismos vivos.

Nesse cenário, Itabuna parece ser a cidade mais castigada de todas da região: falta d’água, violências várias, lixo jogado a esmo nas ruas, odor fétido por toda parte; ilhas de calor que concentram altas temperaturas, em decorrência de devastada cobertura vegetal na área urbana e entorno; concentração de gases nocivos à saúde e alta infestação de doenças provenientes do aedes.

Os rios da Bacia do Leste e bacias circunvizinhas, impossibilitados estão de matar a sede de ecossistemas e populações que vão do sul ao extremo sul do estado, todas elas atingidas pela seca persistente e atípica. Os municípios e suas respectivas sedes e comunidades regionais se encontram no mesmo problema, sem solução em curto prazo, mas estão livres da água salgada.

O dito aqui não é novidade, porém nada se diz do que passa a população ribeirinha do Almada, ao longo do trecho banhado pelas marés, até a estação de tratamento da Emasa em Castelo Novo. Não somente humanos, mas plantações, criações, fauna, flora e ictiofauna são afetadas pela água salgada que adentra o rio e afluentes, quase sem vida, atingindo severamente essas populações. Um tipo de invasão que lembra um pouco a tragédia de Mariana, uma vez que ambas as situações deveriam ter sido evitadas ou minimizadas.

Apesar de o caos se apresentar como algo estranho, ele foi anunciado, tanto pelas recorrentes advertências dos especialistas da área climática e pelos sinais de mudanças climáticas evidentes, quanto pelas demandas que abusam do uso da água, ingrediente principal da vida, cuja fórmula só existe na tabela periódica. Essa situação tem passado por décadas, ao largo das consciências que tratam as questões ambientais de jeito torto, para enorme prejuízo social.

As águas de março não vieram. Sem elas não há “promessa de vida pro nosso coração.” Nem a tradicional promessa de milho no São João. Um dia chove, é claro. Mas enquanto isso não acontece, reflitamos sobre a responsabilidade de eleitores e políticos, ambos com o dever de atualizar ideias, atitudes e ações pelo bem comum. Este é um ano de eleição. Renovar é preciso e imediato.

Efigênia Oliveira é mestra em Educação Holística.

6 respostas

  1. Nesses casos graves e emergenciais costuma-se ouvir dos gestores providências a ser adotadas em regime de urgência, urgentíssima. No caso, silêncio dos governos municipal e estadual.

  2. A única palavra que descreve o descaso do poder público com a população de Itabuna, é VERGONHA! Não consigo entender como uma cidade desse porte, como a administração permite que a cidade fique a mercê da chuva que não vem. A palavra RESERVATÓRIO Nunca foi levada a sério pelas administrações que por aqui passaram. Todos eles deveriam sentir vergonha !

  3. Parabens Efigenia querida irmã do Espiritismo.Texto excelente, tambem sendo sua criação não podia ser diferente. Beijos e saudades.

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